FH afirma que tentou fazer tudo pelas Forças Armadas e agradece










FH afirma que tentou fazer tudo pelas Forças Armadas e agradece colaboração
BRASÍLIA. Num momento em que os candidatos à Presidência se reúnem com militares em busca de apoio, o presidente Fernando Henrique disse ontem que as Forças Armadas nunca faltaram ao seu governo. Apesar de saber das críticas entre os militares quanto aos cortes no orçamento das Forças Armadas, Fernando Henrique agradeceu a compreensão e os sacrifícios do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Ele disse ainda que tentou fazer o máximo pelas Forças Armadas:

— Se mais não fiz é porque mais não pude. E sei que muita coisa precisa ser feita.

Numa deferência às Forças Armadas, o presidente fez uma cerimônia para receber a Ordem do Mérito da Defesa, no grau de grão-mestre. Ele estava ao lado do ministro da Defesa, Geraldo Quintão, e do chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Alberto Cardoso, além dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica.

A solenidade ocorreu num momento em que os militares estão insatisfeitos com o corte de verbas e com a possibilidade de o traficante Fernandinho Beira-Mar ser transferido para uma prisão militar. Depois da cerimônia, Quintão se reuniu com o presidente e disse que os militares não querem se envolver no combate ao narcotráfico.

— Quero agradecer o espírito de compreensão, de colaboração do Ministério da Defesa e das várias forças singulares, que nunca faltaram ao país, ao governo e nunca faltaram a mim, pessoalmente. Se há um corpo do Estado brasileiro que, dentro das regras da democracia, tem funcionado de uma maneira absolutamente impecável, é o Ministério da Defesa — disse Fernando Henrique.

Durante a semana, os candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Grande Aliança (PSDB-PMDB), José Serra, se reuniram com militares da reserva, no Rio de Janeiro.


Serra convoca aliados para guerra mas eles pedem mais munição
BRASÍLIA. Na reunião com o tucano José Serra ontem, candidatos a governador, senador e deputado federal foram recrutados para uma guerra. Mas saíram de lá reclamando da pouca munição. Dentro e fora da reunião, os aliados de Serra se queixaram da falta de material de campanha e alertaram para o que chamaram de onda Lula, referindo-se ao crescimento do petista nos estados. Todos admitiram ter dificuldade para mobilizar prefeitos e para usar o tempo de que dispõem na TV para pedir votos para Serra, já que as disputas estaduais estão muito acirradas.

Lembrando ser candidato de oposição na Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima pediu material de campanha.

— Todos aqui são candidatos do governador ou candidatos à reeleição. Eu não. Não posso produzir material pró-Serra — afirmou Cássio, dizendo que é muito difícil neutralizar o crescimento de Lula.

— Faltam material e dinheiro para a campanha nos estados — queixou-se o senador Nabor Júnior (PMDB-AC), candidato à reeleição.

“Está difícil, mas não impossível”, diz Maciel
Vice-líder do PFL na Câmara, Pauderney Avelino (AM) admitiu dificuldades para a convocação de prefeitos para a guerra. Segundo ele, falta dinheiro, além de ser forte, na Região Norte, a impressão de que Lula vencerá no primeiro turno. Presente à reunião, o vice-presidente da República, Marco Maciel, concordou:

— Está difícil mobilizar os prefeitos. Mas não impossível.

Favorito na disputa pelo governo do estado, o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin (SC), advertiu para o crescimento das candidaturas do PT nos estados, como produto do avanço de Lula.

— Até em Santa Catarina poderá haver segundo turno porque o candidato do PT cresceu — disse Amin, que sugere a campanha mais estadualizada.

Dependentes do apoio do PT num possível segundo turno ou já agora, alguns candidatos a governador demonstraram constrangimento ao falar, em público, da nova estratégia da campanha de Serra.

Embora tenha apoiado a proposta na reunião — chegando a lembrar que os petistas votaram contra o Fundef — o candidato do PSDB ao governo de Minas, Aécio Neves, foi um dos que preferiram não endossar a idéia:

— Essa é uma decisão formada pelo comando da campanha de Serra. Não cabe a mim comentar. Cada um é responsável pela campanha que faz — desconversou.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se mostrou contrariado:

— O centro de uma campanha não pode ser contra, tem que ser a favor. Tem que falar de proposta, de futuro.

Os governadores ou candidatos também resistiram à idéia de conceder tempo de TV nos estados para Serra.

— Só tenho sete minutos. Estou numa briga no estado. Não posso ceder meu tempo — ponderou Cássio.

— Serra já tem tempo demais no programa nacional. E tempo demais atrapalha — disse o governador do Pará, Almir Gabriel.


FH ataca denuncismo ‘de borbulho’
BRASÍLIA. Ao discursar em cerimônia comemorativa dos dois anos do chamado governo eletrônico — sistema pelo qual a União põe na internet todas as informações relativas à administração pública — o presidente Fernando Henrique condenou ontem o denuncismo político. Reagindo ao procurador da República no Distrito Federal Luiz Francisco de Souza, o presidente atacou os que apresentam denúncias apenas “para fazer borbulho”.

Sem citar o nome de Luiz Francisco, o presidente disse que há pessoas que querem usar as denúncias “puramente para fazer política” e que é preciso desmistificá-las.

Segundo ele, as denúncias são usadas de forma irresponsável e resultam em infâmias. Luiz Francisco ajuizou ação de improbidade administrativa contra o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira que já trabalhou nas campanhas eleitorais do candidato do PSDB à Presidência, José Serra.

O presidente disse que esses casos de denúncias são mencionados com muita irresponsabilidade e assegurou que o comportamento do governo federal em relação a denúncias é completamente diferente. Ele explicou que a controladora-geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, publica na internet toda denúncia recebida pelo governo. Segundo o presidente, isso evita que se usem denúncias de forma política.

— Até para desmistificar os que usam a denúncia como forma puramente de fazer política, sem ter o objetivo efetivo de aperfeiçoar as instituições, de aprimorar, e menos ainda de punir alguém. Querem apenas fazer borbulho. Esse borbulho vai acabando já que hoje existem mecanismos diretos de acompanhamento das centenas de casos que são mencionados às vezes com muita irresponsabilidade — disse Fernando Henrique.

Nesse momento, ele voltou a citar Anadyr, que há poucos dias apresentou denúncia envolvendo o candidato a vice na chapa de Ciro Gomes (Frente Trabalhista), Paulo Pereira da Silva, em irregularidades no uso de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Para Fernando Henrique, esse tipo de prática evita “por um lado, a infâmia e, por outro lado, o descaso”.

FH: quem defende atraso é conivente com corrupção
Fernando Henrique ainda criticou de forma indireta os candidatos Ciro Gomes e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente disse que quem defende o atraso acaba sendo conivente com a corrupção.

— Quanta gente faz discurso, às vezes de boa-fé, às vezes demagógico, sobre corrupção! Quanta gente é conivente com o atraso! E a conivência com o atraso é a base da corrupção. O que adianta fazer discurso irado contra a corrupção se, ao mesmo tempo, se mantém o atraso? — perguntou.

Em mais um ataque a Lula, Fernando Henrique ainda ironizou a proposta de orçamento participativo defendida como uma das principais bandeiras do PT. O presidente disse que muitos falam em orçamento participativo quando o governo federal é muito mais transparente ao colocar todas as informações do Orçamento e da compra de materiais na internet, sendo que esses dados podem ser checados pelo Sistema de Administração Financeira (Siafi).

— Vejo tanta gente fazer propaganda de orçamento participativo. Aqui não é só orçamento não, tudo é participativo. Só que, como somos maus de propaganda, talvez o país não saiba o quanto já avançou — disse.

Numa crítica indireta a Ciro Gomes, Fernando Henrique ainda defendeu as privatizações realizadas em seu governo. Ciro levantou dúvidas sobre o uso dos recursos obtidos nas privatizações. O presidente disse que sem a privatização das telecomunicações, por exemplo, não teria sido possível implantar o governo eletrônico.

O presidente também disse que, finalmente, o Congresso havia aprovado “sem picuinhas partidárias” o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), cujos recursos são aplicados em pesquisas científicas.


Lula usa carteira de trabalho para fazer provocação a Serra em comício
SÃO PAULO. O candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, usou o comício realizado pelo partido ontem à noite em Guarulhos (SP) para provocar o candidato do PSDB, José Serra, mesmo sem fazer menção aos tucanos. Lula falou sobre o número de pessoas sem carteira de trabalho para ironizar o programa do tucano na TV, que apresenta esse documento como seu carro-chefe.

Dirigindo-se a uma platéia estimada em 40 mil pessoas, Lula pediu que as pessoas que tivessem emprego com carteira assinada levantassem a mão. Cerca de 10% dos presentes o fizeram. Depois, pediu que levantassem a mão as pessoas que não tinham emprego ou que, mesmo empregadas, não tinham carteira de trabalho assinada. A grande maioria levantou a mão.

— Em todos os lugares aonde eu vou acontece isso. As pessoas não têm emprego e, quando têm, não têm carteira assinada. E isso não é só aqui em São Paulo. Acontece em todo o país — disse Lula.

"Sempre respeitamos Mário Covas", diz Mercadante
Em seu discurso, o candidato ao Senado pelo PT de São Paulo, Aloizio Mercadante, afirmou que o PSDB e Serra desrespeitam Mário Covas, em referência às imagens pela agressão sofrida em 2000 pelo governador, já falecido.

— O PSDB e o Serra estão desrespeitando o Mário Covas ao usar as imagens do programa eleitoral — disse.

Segundo Mercadante, o PT sempre respeitou Covas.

— Sempre respeitamos Mário Covas, tanto que o apoiamos no segundo turno (em 1998) — afirmou o candidato, lembrando que Covas apoiava o ex-governador do Ceará Tasso Jereissati (PSDB), e não Serra, para presidente.


‘Lulinha Paz e Amor’ sob fogo cerrado
Contra o “Lulinha paz e amor”, muita munição. Normalmente poupado nos debates na TV e até então alvo muito discreto da campanha tucana, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, foi anteontem a estrela do programa de José Serra. Abaixo 21 pontos do petista, o tucano, sempre usando um locutor, bateu como nunca em Lula e vendeu a idéia de que o PT tem medo de disputar com ele o segundo turno. Foram tiros para todas as direções: desde a crítica à falta de diploma do petista até a tentativa de vincular a agressão de professores em greve em São Paulo, há dois anos, ao PT. Chamando o PT de arrogante, no rádio um locutor afirma que o partido não estava preparado para uma batalha com Serra. Os tucanos também fizeram críticas aos apoios já conseguidos por Lula, como o do ex-presidente José Sarney e do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia.

— Agora, eles tentam fazer você acreditar que vão ganhar no primeiro turno. Imagino que vão até tentar convencer o Ciro a renunciar. Para quem sai de mão dada com o Quércia e afaga o Maluf, tudo é possível.

Esta tentativa reflete o receio de enfrentar o Serra num segundo turno, onde não mais poderá contar com línguas de aluguel — afirmou o locutor.

Os tucanos querem colar em Lula a imagem de um candidato que foge ao debate. A tecla que eles insistem em bater é a discussão sobre a criação de empregos. No rádio e na TV, a letra de uma música diz: “Você diz que é vermelho/eu sou azul/você quer gerar emprego/eu também/eu te mostro que é oito, e você diz que é dez/rebater não machuca ninguém. Tá no rádio, na roda de bar/o assunto é emprego nessa terra/eu quero saber quem vai resolver/se é Lula ou se é Serra”.

Serra tentou mostrar que foi deputado mais atuante do que Lula, ao citar as emendas à Constituição aprovadas pelos dois quando eram deputados. Ele afirmou que Lula apresentou 41 emendas e aprovou sete, enquanto ele apresentou 208 emendas e aprovou 130.

Através de uma nota de seu porta-voz, André Singer, o candidato do PT rebateu a afirmação de Serra de que ele era favorável à bomba atômica.

“Lula e o PT sempre foram, e continuam a ser, pacifistas. Contrários, portanto, à construção de bombas atômicas, seja pelo Brasil ou por qualquer outro Estado”.


Garotinho: ‘Serra não tem pudor para atacar’
CHAPECÓ (SC) e CAMPO GRANDE. O candidato a presidente Anthony Garotinho (PSB) classificou ontem como desespero os ataques que o tucano José Serra tem feito a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no horário eleitoral. Para Garotinho, Serra “não tem o menor pudor” na busca de seus objetivos.

— O candidato do governo está desesperado. Essa briga entre eles só serve para mostrar o perfil do candidato, ou seja, que ele (Serra) não tem o menor pudor, não tem o menor limite para atacar seus adversários, para atingir seus objetivos — disse Garotinho, que cancelou a caminhada programada para o fim da tarde em Chapecó por causa da chuva e foi diretamente para Blumenau.

Garotinho disse acreditar que ultrapassará Serra. Um indício, segundo ele, de que o tucano está preocupado com sua candidatura foram os ataques que recebeu nos programas de rádio do horário eleitoral do tucano há uma semana.

— Ele está apavorado, sentindo que será ultrapassado por mim nos próximos dias — disse Garotinho.

Ao falar ontem no aeroporto de Chapecó sobre sua proposta de criação de empregos, Garotinho fez novas críticas ao candidato do PSDB.

— Ninguém vai criar emprego colocando Chitãozinho e Xororó ou Gugu Liberato na televisão. Isso é achar que o povo não é inteligente — disse, referindo-se ao programa de Serra.

Mais cedo, em Campo Grande, Garotinho dirigira suas críticas a Lula. Ele disse que espera disputar contra Lula as eleições no segundo turno, momento em que pretende usar seu tempo na TV para fazer uma pergunta ao petista:

— No segundo turno, quando terei o mesmo tempo que Lula nos programas e nos debates, quero fazer a ele uma pergunta: do que ele vive nesses oito anos, já que não trabalha? Um presidente não pode chegar e dizer de público que há oito anos não trabalha. Há oito anos Lula só faz campanha política.


Artigos

Sem solução
Rogerio Rocco

A violência, no Brasil e especialmente no Rio de Janeiro, é um tema dominante nessas eleições, dividindo atenções com o desemprego. Nenhum candidato será levado a sério se não apontar medidas firmes e imediatas para combater esses problemas.

A menos de um mês das eleições, candidatos e candidatas ao governo do Rio procuram, então, apresentar soluções. Mas, na verdade, são ações não muito diferentes das já prometidas e adotadas em governos anteriores. É claro que ninguém ousa, como fez um governador em passado recente, dizer que a polícia não subirá os morros. Assim como não arriscam mais o extremo oposto, defendido por outro governador, de prometer acabar com a violência em seis meses.

O discurso atual é sofis ticado e tecnocrático, como se a violência fosse um problema surgido no governo anterior. Uma candidata promete dobrar o número de policiais nas ruas. Outra assegura que irá promover uma “ocupação permanente” das principais favelas. Tem também o candidato que diz que irá “tratar bandido como bandido” (?) e que sua meta é encarcerar 40 mil criminosos.

A apatia com relação a essas promessas é grande, porque um pouco disso tudo vem sendo feito nas duas últimas décadas, mas a violência só tem aumentado.

Na verdade, o tráfico de drogas ganha, nos dias atuais, a mesma estrutura de gestão do mercado oficial: torna-se dinâmico, mais violento, mais lucrativo, e perde suas características originais, pois fica sem rosto e sem alma. Não é por acaso que diminuiu o apoio das comunidades às quadrilhas do tráfico. As facções posteriores ao Comando Vermelho, como o Terceiro Comando e a ADA – Amigos dos Amigos, não investem tanto em “soldados” das comunidades. Preferem trazer pessoal de fora. E marcam seu domínio cada vez mais pela ação despótica e violenta, visando ao lucro a qualquer preço.

Nenhuma medida prometida pelos candidatos será suficiente para controlar esse mercado ascendente. Isso já está comprovado. A única saída para diminuir a violência seria a legalização das drogas, mas o Brasil é signatário de convenções internacionais que não permitem tal opção. Então, estamos fadados a conviver com esses índices de violência e rezar para que nós, nossos amigos e familiares não venhamos compor as novas estatísticas de vítimas da ação do crime. Nos moldes do atual sistema legal, o Rio não tem solução — e é lamentável chegar a essa conclusão.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

Começa o 2 turno
O candidato tucano José Serra retoma o confronto com Lula hoje na televisão. O filmete associando o presidente do PT, José Dirceu, às agressões físicas sofridas por Mário Covas foi proibido pelo TSE. Já o programa em que as trajetórias de Serra e Lula são comparadas será reprisado mas com um corte: a referência ao fato de o petista não ter curso superior. No papel de vítima, talvez ele até aumente suas chances de ganhar no primeiro turno.

Fora isso, a reunião de Serra com seus aliados ontem reafirmou a opção pela antecipação do segundo turno através do isolamento dos outros candidatos e de uma aposta absoluta na desconstrução do que os tucanos chamam de “novos mitos petistas”. O mais importante deles, a confiabilidade, a idéia de que Lula e o PT amadureceram e não representam perigo. Neste sentido, algumas linhas do confronto foram reajustadas.

Primeiro, não bater diretamente em Lula, não tratar de assuntos pessoais e não voltar ao assunto do diploma, que parece ter sido mal recebido pelos que participaram de pesquisas qualitativas que avaliaram (positivamente, segundo o pessoal de marketing) o programa exibido na terça-feira e mostrado ontem aos aliados, que também o aprovaram.

Embora alguns se preocupem com a vitimização, em sua fala o próprio Serra disse que a campanha não pode se deixar intimidar por isso, ainda que Lula recorra a este papel. Insistiu muito em dizer que numa democracia não se pode cercear a exploração das diferenças entre candidatos, que Lula está se escondendo e evitando o debate.

A linha então é continuar batendo, e com vigor, no que chamaram de “entorno de Lula”, não limitado aos altos cardeais petistas. Por exemplo, mostrar militantes do MST participando de invasões com bandeiras do PT. Recordar o comportamento da bancada petista, como sugeriu Aécio Neves, em votações de matérias hoje aprovadas pelo próprio partido, como o Fundef e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Explorar negativamente o encontro de Lula com os militares, mostrando que o petista disse tudo o que eles queriam ouvir, em suposta dissimulação do que realmente pensa, para ganhar a eleição. E, mais do que tudo, desmontar a idéia de que Lula está para vencer no primeiro turno. Para isso, disseram todos, não basta a televisão, será preciso colar a campanha nacional com as estaduais e ter muita presença nas ruas. Foi neste momento que Rita Camata fez uma intervenção exaltada e queixosa. Ela e Serra vão aos estados, cria-se uma boa vibração mas parece que, quando viram as costas, não se fala mais neles.

Vamos então para o segundo turno no primeiro, como já previsto aqui quando a campanha começou a mostrar seu caminho. Faltam mais de 15 dias para a eleição e nesta reta final é que os movimentos decisivos acontecem. Os tucanos jogam tudo. Podem levar Serra ao segundo turno mas podem também antecipar a decisão para o dia 6.Início de julho, calorosa discussão entre tucanos. O presidente FH e outros dizem a Serra que o alvo é Lula. Ele prefere Ciro. Agora pode ser tarde, recordava um deles ontem.Enquanto isso, no PT

Administrando com a maior discrição a possibilidade de vitória no primeiro turno, dirigentes petistas têm feito sucessivas reuniões com líderes empresariais paulistas, discutindo um day after na economia e, principalmente, como evitar a turbulência. Segundo fonte que participou de um encontro desses, eles ocorrem “sem estresse”.

No interior paulista, prefeitos malufistas estão aderindo abertamente à campanha de Lula.

Enquanto for possível, Lula será poupado de confrontos diretos com José Serra. Mas há um debate pela frente, o do dia 3 na TV Globo, e o comando petista confirmou sua presença.

Segunda divisão

No PPS é assim. Ciro Gomes é solidário com o PT (de quem já cobrou deserção quando foi atacado), chamando de fascistas os ataques de Serra a Lula. Para Roberto Freire, presidente do partido, Serra presta um serviço à democracia, chamando o petista para o debate. O clima na Frente Trabalhista é de Quarta-Feira de Cinzas. Já os pefelistas que não teriam vez nem com Lula nem com Serra apegam-se ao grande papel que esperam ter. O de maior partido da oposição. Vão ter que treinar muito.O GOVERNADOR Esperidião Amin (PPB-SC) dizia estar saindo muito animado da reunião dos aliados de Serra com o candidato. “Vou ganhar no primeiro turno, ele vai para o segundo e vão nascer cabelos em minha careca”. Percebendo o que disse, corrigiu-se: “Brincadeirinha, não vão publicar isso”.

JOGO DE EMPURRA instalado na campanha: o PT empurra Serra para os braços do governo; Serra tenta empurrar Lula para seu eleitorado histórico, insuficiente para uma vitória em primeiro turno.


Editorial

MARCHA UNIDA

A proposta de legalização das drogas tende a ganhar adeptos toda vez que há explosões de violência provocadas pelo tráfico. Nessas horas são lembrados os US$ 27 bilhões gastos a cada ano pelos Estados Unidos na repressão à indústria da cocaína e similares, dentro e fora do país, sem que haja grandes vitórias a comemorar nessa guerra sem fim. Se os americanos não conseguem, quem conseguirá?

A falta de respostas positivas à pergunta reforça a suspeita de que, como no caso das bebidas alcoólicas nos Estados Unidos, no início do século XX, só a legalização poderia desestabilizar as organizações criminosas que se fortalecem e se expandem em torno das drogas enquanto corrompem instituições como polícias, Justiça, parlamentos etc.

A tese é tão lógica que o prêmio Nobel e ponto de referência no pensamento econômico liberal, o americano Milton Friedman, a defende. O mesmo ocorre com a influente — e também liberal — revista inglesa “The Economist”.

Países como o Brasil, porém, não podem dar o primeiro passo. Sem que os principais mercados consumidores — Estados Unidos à frente, por óbvio — decidam tornar legais as drogas, antecipar-se a um possível movimento futuro nessa direção significaria para o Brasil converter-se no paraíso das organizações criminosas que se pretende eliminar. O tiro sairia pela culatra.

Por fazer fronteira com as mais importantes regiões produtoras de cocaína, e estar nas rotas do tráfico, o país seria transformado num centro dos cartéis das drogas. Ou o mundo caminha junto nessa discussão, ou atos isolados significarão suicídio.


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09/19/2002


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