FH: ‘Não vai acontecer nada’










FH: ‘Não vai acontecer nada’
Ao discursar ontem na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o Brasil tem instituições fortes que permitirão que a transição para o próximo governo seja feita dentro da democracia. Em tom enfático, Fernando Henrique disse que fica irritado quando há especulações sobre quem vencerá a eleição — Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou José Serra (PSDB) — relacionando o futuro do Brasil ao resultado das urnas. Tendo o presidente do PT, José Dirceu, e o candidato a vice na chapa de Lula, José Alencar, na platéia, Fernando Henrique discursou na cerimônia de posse da nova diretoria da CNI.

— As instituições estão cada vez mais fortes. Tão fortes que fico até irritado quando ouço aqui e ali: “Mas se ganhar fulano ou beltrano”? Se ganhar fulano ou beltrano, não vai acontecer nada! Vai continuar o caminho que é nosso, da sociedade brasileira, um projeto nacional de continuação do crescimento do Brasil dentro da democracia — disse.

O presidente falou sobre a eleição quando ressaltava que o governo está fazendo transformações dentro da democracia.

— E há o reconhecimento de que estamos fazendo as transformações dentro da democracia. Se ganhar um ou outro, é natural. Mas queremos, mais que tudo, que ganhe o Brasil. E ganha quando tem auto-estima, quando deixa de falar do que falta — afirmou.

“O analfabetismo é moribundo no país”
O presidente aproveitou para criticar o que chamou de poeira do pessimismo em relação ao futuro e às ações do governo, principalmente na área social. Fernando Henrique citou como avanços sociais as mudanças na educação:

— O analfabetismo hoje é moribundo no país e essa é a primeira forma de inclusão social. Não podemos deixar que o pessimismo nos impeça de ver o que já aconteceu.

O presidente disse ainda que é preciso manter os investimentos e promover o crescimento.

— Desejo que os novos governos possam nos fazer ficar mais próximos de nossos sonhos — disse.

O presidente Fernando Henrique afirmou ainda que o Brasil não precisa ter medo de conversar com outros países. Mas alertou que o país não pode ser arrogante.

Fernando Henrique disse que o Brasil cresceu 30% nos últimos nove anos, rebatendo as críticas de estagnação da economia em seus oito anos de mandato. Para o presidente, a “poeira do pessimismo” não pode impedir que as pessoas vejam os avanços que estão ocorrendo no país.

— Estamos num projeto nacional de crescimento, estamos num projeto nacional de integração do país e não é só o crescimento, ao contrário, é mais do que o crescimento. Esse projeto que eu ouvi pela boca dos senhores, eu diria que ele é consensual. Eu diria que hoje, na briga política, uns vão dizer uma coisa, outros vão dizer outra. Mas o projeto é consensual — disse.



“Na direção de uma sociedade coesa”
Em seu discurso, o presidente Fernando Henrique falou ainda sobre a exclusão social:

— Há um sentimento no Brasil todo de que é preciso seguir nesta direção de uma sociedade mais coesa, de uma sociedade mais igualitária, mais educada, que acabe com a exclusão. E também é consensual. Aí sim, já há até reconhecimento de que estamos fazendo estas transformações dentro da democracia.


Ibope: Lula tem 60% dos votos e Serra, 31%
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, tem quase o dobro das intenções de voto do candidato do PSDB, José Serra, e está 29 pontos à frente do adversário, de acordo com a primeira pesquisa do Ibope realizada após as eleições do último dia 6 e divulgada ontem pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo.

Lula tem 60% e Serra, 31%. Os indecisos somam 5%, enquanto 4% afirmaram que pretendem votar em branco ou anular o voto.

Ao se considerar apenas os votos válidos (excluindo-se os votos em branco, nulos e indecisos), Lula tem 66%, 20 pontos a mais que sua votação no primeiro turno. Serra ganhou 11 pontos e passou de 23% para 34%.

A consulta foi realizada entre sábado e segunda-feira, quando começou o horário eleitoral do segundo turno. Lula, que exibiu em seu primeiro programa as declarações de apoio de Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (Frente Trabalhista), abocanhou uma parcela maior dos eleitores dos dois candidatos que não conseguiram passar para o segundo turno. O petista é o preferido de 44% dos eleitores que votaram em Garotinho; Serra tem os votos de 39% desse segmento. Entre os eleitores de Ciro, 45% declararam voto em Lula e 38% em Serra.

O Ibope ouviu três mil eleitores em 203 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.

Lula: pior com as mulheres
Entre os homens, Lula obtém seu melhor resultado e amplia sua vantagem para 39 pontos, vencendo por 66% a 27%. Mas entre as mulheres a diferença diminui para 20 pontos: Lula está com 54% e Serra com 34%. O petista também consegue um resultado acima de sua média no eleitorado mais jovem, de 16 a 34 anos, no qual tem 63% das intenções de voto. No entanto, cai para 56% no eleitorado acima de 50 anos. O candidato tucano tem um desempenho mais uniforme pelas faixas etárias e obtém o seu melhor resultado (32%) entre os eleitores de 35 a 49 anos.

No eleitorado menos instruído (até a quarta série do ensino fundamental) o candidato do PT registra o seu desempenho mais fraco e cai para 57%. Nesse segmento, Serra tem o seu melhor resultado e aparece com 33%. Na faixa do eleitorado com ensino médio, a situação se inverte: o petista obtém seu melhor resultado e sobe para 64%, enquanto o tucano cai para 27%. Entre os eleitores de nível superior, o resultado é igual ao índice geral da consulta: 60% a 31%.

Nas regiões do país, Lula tem o seu melhor desempenho no Nordeste, onde abre 34 pontos de vantagem sobre Serra e vence por 64% a 30%. Já o tucano obtém seu melhor resultado no Sul, onde reduz a diferença para 16 pontos. Nessa região, Lula ganha de Serra por 54% a 38%. O pior índice do tucano é registrado no Sudeste, onde ele está com 27%, contra 61% de Lula. No Norte/Centro-Oeste, o petista vence por 57% a 36%.

Lula também está mais forte nas capitais, onde tem 65%, contra 25% de Serra. No interior, registra-se a menor diferença: 58% a 34%. Na periferia, o petista vence o candidato tucano por 62% a 27%.

Maioria diz que não muda voto
A pesquisa mostra ainda que 81% dos eleitores que citaram um candidato consideram sua decisão definitiva, sem possibilidade de mudança, e 10% dizem que se trata de uma decisão firme, mas que poderá mudar.

Apenas 5% dizem que é uma escolha momentânea e que também poderão mudar, enquanto 4% afirmam tratar-se de uma preferência inicial.

O índice de rejeição de Serra é quase duas vezes maior do que o de Lula. O tucano é rejeitado por 46% dos eleitores que dizem que não votariam nele de jeito nenhum, enquanto 24% afirmaram que não admitem votar no candidato do PT.

A administração do presidente Fernando Henrique Cardoso é aprovada por 23% dos eleitores, que a consideram ótima ou boa, e rejeitada por 36%, que a classificam como ruim ou péssima; 40% a consideram regular.

Entre os que aprovam o governo, 56% votam em Serra e 37% em Lula. Já entre os que reprovam a gestão de Fernando Henrique, 77% votam em Lula e apenas 14% declaram voto em Serra. Na parcela de eleitores que avalia a administração do presidente como regular, Lula tem 59% e Serra está com 31%.


Petistas rebatem estratégia da propaganda de Serra
BRASÍLIA. O líder do PT na Câmara, João Paulo, disse que a idéia de que o candidato Luiz Inácio da Silva provoca medo “não vai pegar” nessa eleição presidencial. O de putado disse que o PT administra estados e municípios do Brasil inteiro e já governa, segundo ele, 50 milhões de pessoas. João Paulo comentou a participação da atriz Regina Duarte na propaganda do candidato tucano, José Serra. No programa eleitoral do adversário do PSDB, veiculado ontem à noite, a atriz deu um depoimento dizendo que “não se pode jogar o que foi feito na lata do lixo” e que tem medo “do outro candidato” (Lula).

— Não acho que a Regina Duarte cause medo. Ela é uma boa atriz, mas medo de bicho papão é meio demodé.

Esse negócio de medo não pega. O povo conhece o Lula. O Garotinho tem medo do Lula? O Luiz Henrique tem? — afirmou João Paulo, citando o candidato derrotado à Presidência da República pelo PSB e o candidato ao governo de Santa Catarina pelo PMDB. — Então o povo votou errado? É isso o que a Regina Duarte quer dizer? O povo não sabe votar?

O deputado também rebateu a idéia de que o candidato petista esteja fugindo dos debates previamente marcados na TV. Ele disse que existe pouco tempo de campanha no segundo turno e muitos compromissos nos estados.


Lula: ‘Faço a campanha da esperança’
NATAL, JOÃO PESSOA E RECIFE. Durante visita ontem a Natal, João Pessoa e Recife, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, reagiu à estratégia de campanha adotada por seu adversário, o tucano José Serra. O programa do PSDB na TV vem exibindo um depoimento da atriz Regina Duarte no qual ela afirma estar com medo de que Lula traga de volta a instabilidade econômica.

— Enquanto eles fazem a campanha do medo, eu faço a campanha da esperança — respondeu Lula em João Pessoa, sem criticar a atriz.

Comando da campanha petista também reage
Em Recife, Lula afirmou que Serra dissemina o medo “por ser este o único argumento que tem”. Para o petista, Serra não “quer reconhecer que as elites brasileiras fracassaram” na condução do país.

No comando de campanha do PT, a reação seguiu o mesmo tom. O coordenador-geral, Antonio Palocci, disse estar convicto de que o discurso tucano não surtirá efeito.

— O povo não está com medo. A instabilidade é produto da atual política — disse.

Num comício que reuniu 70 mil pessoas no Parque Solon de Lucena, segundo os cálculos da Polícia Militar, Lula discursou ao lado do governador Roberto Paulino, candidato à reeleição pelo PMDB, apoiado pelo PT no segundo turno. Lembrou que até o dia 27, data da eleição, percorrerá 14 estados e por isso só participará de um debate, dia 25, na Rede Globo.

De forma jocosa, atribuiu a persistência de Serra no tema a problemas do candidato para conseguir aliados:

— Enquanto meu adversário não tem palanque, porque ninguém quer apoiá-lo, ele fica na televisão: “quero debate, quero debate, quero debate!”

Mais tarde, em entrevista, voltou a ironizar a insistência de Serra em pedir debates.

— O conselho que dou a meu adversário é: vá para a rua fazer campanha, porque dentro de casa ninguém ganha eleição.

Lula chegou a João Pessoa por volta das 11h, depois de visitar Natal, onde fez comício na noite de segunda-feira. Do aeroporto, ele percorreu 25 quilômetros em carreata, até o centro da cidade, onde fez o comício.

Em Natal, no primeiro grande comício do segundo turno, o candidato petista deixou de lado o estilo paz e amor e atacou o governo Fernando Henrique:

— Depois de oito anos de Fernando Henrique Cardoso, a gente constata que o Brasil andou para trás.


Lula pede ao TSE para gastar mais R$ 12 milhões
BRASÍLIA. A coligação Lula Presidente (PT-PL) pediu ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para alterar para R$ 48 milhões o limite de despesas da campanha do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva. Num sinal de que as contribuições de campanha cresceram no segundo turno da disputa presidencial, a coligação solicitou elevar em R$ 12 milhões os possíveis gastos. A previsão inicial de despesas era de R$ 36 milhões. No fim do dia o plenário do TSE aprovou o pedido do PT.

Isso significa um aumento de um terço no valor declarado em julho. Em uma petição de duas páginas, a coligação de Lula sustenta que a alteração é necessária “em face aos gastos complementares com organização e divulgação” da campanha do segundo turno.

A solicitação foi examinada pelo ministro Carlos Madeira. A resolução 20.987, que trata da arrecadação de recursos e gastos de campanha, prevê mudança no limite de gastos desde que fundamentada.

Com o aumento da previsão de gastos da campanha de Lula, a diferença entre o limite de despesas do petista e de seu oponente, o tucano José Serra, cai de R$ 24 milhões para R$ 12 milhões.

Coligação de Serra previu gastos de até R$ 60 milhões
A coligação Grande Aliança (PSDB-PMDB), que apóia Serra, previu até R$ 60 milhões em despesas da sua campanha. O novo limite de R$ 48 milhões será mais de três vezes maior do que o valor máximo de gastos estimado em 1998 pelos cinco partidos que integraram a Coligação União do Povo Muda Brasil, que apoiou Lula.

Há quatro anos foi estimado um gasto máximo de R$ 15 milhões. No entanto, as despesas nem chegaram a R$ 4 milhões, valor inferior ao gasto de 1994, que foi de R$ 4,2 milhões. Em 1998, as doações de campanha somaram R$ 3.184.838,65. O resultado foi uma dívida de R$ 735.984,31, após a derrota em primeiro turno.

Também o presidente Fernando Henrique fechou no vermelho o caixa da campanha à reeleição. O comitê tucano encerrou as atividades com uma dívida de R$ 2.903.530,56, boa parte referente a camisetas compradas da Companhia de Tecidos Norte de Minas, do empresário e senador José Alencar (PL-MG), atual candidato a vice-presidente na chapa de Lula.

Nos três meses da campanha de 1998, o PSDB arrecadou R$ 43.022.469.59 e o PFL, R$ 306 mil, que somados alcançaram um valor bem inferior aos R$ 73 milhões apresentados pelos dois partidos como previsão de limites de gastos no processo eleitoral. As despesas, no entanto, passaram R$ 45 milhões, o que provocou o rombo no cofre do comitê.


FH quer pressa para dar autonomia ao BC
BRASÍLIA. Classificada ontem pelo presidente Fernando Henrique como tranqüilizante fundamental para o mercado, a proposta de regulamentação fatiada do sistema financeiro, permitindo a autonomia do Banco Central, provocou confusão e troca de farpas entre petistas e tucanos. O porta-voz da Presidência, Alexandre Parola, informou que a regulamentação do artigo 192 da Constituição e a autonomia do BC são prioridades para o governo neste momento. Apesar de defendida pelos comandantes do PT e do PSDB, a emenda dificilmente sairá do papel até o fim do ano.

Petistas e tucanos discordam sobre a fórmula da emenda que possibilitará que as normas de funcionamento do sistema financeiro sejam fixadas em diferentes leis complementares. Hoje, o artigo 192 da Constituição determina que as regras sejam previstas numa única lei complementar. E lista os temas que devem ser abordados nela, da organização do Banco Central à taxa de juros de 12% anuais. Segundo os líderes dos partidos políticos que se reuniram ontem com Fernando Henrique, o presidente também pediu prioridade para a votação do projeto que prevê foro privilegiado para ex-presidentes.

Como são assuntos complexos para uma única lei, o PT e o governo concordam com a idéia de fatiamento da regulamentação. Mas, na proposta do governo, todos os itens descritos são revogados. Pela do PT, a lista continua.

— Manter os 12% (de taxa de juros) na Constituição em pleno século XXI é um disparate, um atraso. A emenda ficaria pior do que o soneto. Se a oposição quer dar um sinal, está dando o sinal errado — disse o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP).




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