FHC reconhece que o Brasil não anda bem
FHC reconhece que o Brasil não anda bem
Presidente critica os aspectos negativos da globalização e diz que o problema é financeiro
Em entrevista que irá ao ar amanhã, no Canal 1 do Equador, o presidente Fernando Henrique Cardoso voltou a comentar os problemas econômicos que o Brasil enfrenta. Na entrevista, o presidente critica a especulação sobre os mercados sul-americanos e a própria globalização.
Além disso, ele reconhece que a situação financeira brasileira não é das melhores e que essa é uma limitação para o processo de integração continental.
"Os estados têm dificuldades. Sempre temos alguma dificuldade. Não se pode negar que a situação financeira, não a econômica, mas a financeira, do Brasil não é a melhor dos mundos. Então é uma limitação. A despeito disso, pode-se levar adiante o processo integrador. Estamos longe de ter uma situação ideal, muito longe, mas estamos trabalhando nessa direção”, disse o presidente. Ele considera real a turbulência, mas ressalta que é "conseqüência da percepção dos centros financeiros do mundo sobre os mercados sul-americanos. Uma percepção, a meu modo de ver, equivocada, mas uma profecia que se auto-realiza. Tem a ver com a dinâmica da globalização".
O presidente lembrou também a necessidade de um ajuste do sistema mundial, que está sem controle: "Temos hoje em dia um problema muitíssimo mais grave que o de pensar que é um problema, pelas crises aqui, na Argentina, Paraguai, Equador, onde seja, é um problema de ajuste do sistema mundial, que está sem controle, ou seja, o sistema produtivo está globalizado, os mercados financeiros se globalizaram, mas as regras não se redefiniram, então permite um amplo espaço à especulação”.
Eleitores desconhecem eleições para senador
Pesquisa aponta que apenas 1,5% sabia, no interior de São Paulo, que haverá escolha para o Senado
Uma eleição que envolve alguns dos políticos mais importantes do País, responde pelo equilíbrio entre os Estados no Congresso, define quem pode julgar as autoridades máximas do governo e ainda concede um mandato de oito anos a seus vencedores está sendo ignorada pelo eleitor. Até agora, a disputa por 54 das 81 cadeiras do Senado – renovação de dois terços – só tem mobilizado os candidatos. É o que mostra uma pesquisa do instituto Datanexus com 2.545 pessoas, em 100 municípios de São Paulo, no início de junho. Desses entrevistados, apenas 1,5% sabia que haverá eleição para duas vagas no Senado.
Em outra questão mais específica – quantos senadores serão escolhidos –, o resultado não foi diferente. Apenas 9,5% citaram dois, enquanto 10,9% responderam um, 1,9% arriscaram três e nada menos que 4,4% acharam que haveria quatro ou mais vagas em disputa. A grande maioria (73%) não soube ou não quis responder.
Senado abriga os velhos caciques
Em todos os Estados, as vagas ao Senado constituem moedas de inestimável valor nas negociações entre os caciques da política. Eles disputam as 57 cadeiras disponíveis nestas eleições com admirável apetite, o que contrasta enormemente com a apatia do eleitorado. Em alguns Estados, como Bahia e Pernambuco, a corrida pelo cargo de senador promete ser mais animada do que a de governador.
Para entender melhor o valor dessa moeda, é bom lembrar que o Senado transformou-se, em grande parte, numa espécie de frigorífico para armazenamento de ex-governadores, caciques da política estadual. Da lista dos candidatos às vagas daquela Casa este ano, constam os nomes de 37 ex-governadores. Vão desde o histórico Leonel Brizola (PDT), que já governou gaúchos e cariocas, e hoje disputa uma das duas vagas concedidas ao Estado do Rio, ao para lá de folclórico Geraldo Bulhões (PFL), ex-governador de Alagoas. Famoso pelas surras de toalha molhada que recebia da primeira-dama alagoana, Denilma Bulhões, ele tenta chegar ao Senado com o apoio de Fernando Collor de Mello, candidato ao governo estadual.
Na Bahia, entre 11 concorrentes, quatro são ex-governadores: Antonio Carlos Magalhães (PFL), César Borges (PFL), Waldir Pires (PT) e João Durval (PDT). No Maranhão há três: Edison Lobão (PFL), Epitácio Cafeteira (PDT) e Roseana Sarney (PFL).
Entre composições e compensações
Embora os Estados citados acima apresentem a maior incidência de ex-governadores, não se trata de um fenômeno exclusivo do Nordeste. De acordo com as listas de nomes registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Estado por Estado, só em dois deles - Amazonas e Pará - não aparecem ex-governadores. Pelo menos, diretamente. No caso paraense, a candidata com maiores chances de se eleger é a deputada Elcione Barbalho (PMDB), ex-mulher de Jader Barbalho, com quem ainda mantém um casamento político. O ex-governador e ex-senador, que concorre à Câmara, apóia a candidatura dela, num arranjo da política local.
A escolha dos nomes quase sempre é feita por arranjos destinados a acomodar as diferentes forças locais. Veja-se o caso do ex-governador Tasso Jereissati, do Ceará, cujo sonho era a Presidência da República. Preterido pelo PSDB, que preferiu apostar em José Serra, ele não aceitou a hipótese de limbo político, sem nenhum cargo, e negociou o direito de disputar o Senado. A dois meses das eleições, conta com 76% das intenções de voto no Estado, segundo o Ibope.
Em Minas, o desejo do ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB) era retornar ao Palácio da Liberdade. Atropelado pela astúcia política de Aécio Neves, que conquistou até o apoio do imprevisível Itamar Franco, atualmente no governo, Azeredo aceitou o prêmio de consolação: está pronto para ocupar uma cadeira no Senado.
Arranjos com feições comuns
Os arranjos da cacicagem têm feições comuns. O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, diz que uma delas é o acerto que se faz entre o governador, ou futuro governador e o pretendente ao Senado. Veja-se o caso de Roseana Sarney (PFL). Depois que torpedearam sua fantasia de sair direto do Palácio dos Leões, em São Luís, para o Alvorada, ela costurou um acordo para ir ao Senado – onde deverá legislar ao lado do pai, o ex-governador José Sarney.
Na costura também ficou acertado que o candidato a governador do Maranhão será José Reinaldo Tavares, que ocupava o cargo de vice. "Dessa forma fica garantido o apoio mútuo, entre governador e senador", diz Fleischer. "É muito conveniente para os candidatos ao Senado, que têm pretensões de voltar ao governo estadual e não querem receber críticas assim que viram as costas."
Esse figurino o todo-poderoso Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) conhece de cor. Ele indicou para o cargo de governador seu apadrinhado político Paulo Souto - que já lidera a corrida sucessória e pode até ganhar no primeiro turno.
Com a retaguarda garantida, ACM ficou com mais tempo para se dedicar à corrida senatorial. Aumentaram suas chances de ganhar e de voltar à casa de onde teve de sair sob suspeita de falta de decoro parlamentar. Mais do que isso: ACM pode arrastar com ele o outro candidato a senador pelo seu partido, o também ex-governador César Borges.
Os políticos que deixam o governo estadual não querem ir para a Câmara dos Deputados. Seria como rebaixar-se, no entender deles. Daí a busca pelo Senado - enquanto preparam novos vôos. Nesse movimento, contam com uma vantagem extra: oito anos de imunidade parlamentar.
Em alguns casos, ela se estende por mais tempo. Desde que se despediu do governo do Acre, em 1987, e conquistou uma vaga no Senado, Nabor Júnior não quis mais sair de lá.
País poderá recorrer ao FMI
Os fundamentos da economia estão em ordem, as reservas de US$ 40 bilhões "dão de sobra", disse o presidente
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse on tem, no Equador, que vai avaliar nesta semana a necessidade de buscar ou não recursos adicionais no FMI (Fundo Monetário Internacional). Ele disse que as conversas com o Fundo são permanentes, mas negou que esteja havendo negociações formais.
"Não é que estejamos negociando, nós estamos sempre conversando. Não interessa a nenhum setor sério do mundo que a economia brasileira sofra um desaguisado (desordem) pelo qual ela não é responsável".
O presidente reiterou que os fundamentos da economia brasileira estão em ordem, que as reservas somam US$ 40 bilhões ("que dão de sobra") e a inflação está baixa. "Não há sintoma de moléstia alguma. Não obstante o médico, ou seja, o mercado, que agora se investiu da qualidade de médico, vem e diz: 'Ah, não, mas pode ser que morra'. Bom, aí, só Deus, né?"
FHC repetiu que o país buscará recursos no FMI quando julgar necessário. "Mas não marque uma data porque senão o mercado, não sei baseado em quê, tem uma decepção com ele próprio, e quem paga é o povo, porque, quando o mercado sofre as decepções das ilusões que ele mesmo criou, ele cobra é do povo."
Essa foi uma referência à reação negativa do mercado à entrevista dada anteontem pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. Segundo FHC, o mercado imaginou que Malan fosse fazer algum anúncio espetacular, como um acordo com o FMI, e ele simplesmente ia explicar algumas questões. "Não se faz uma negociação dessas assim de repente, sem mais. Esperavam que o Malan desse um aviso impossível".
Menos risco, mais incerteza
Sobre a informação de que o Brasil pode vir a pedir até US$ 10 bilhões ao FMI, divulgada ontem por um jornal paulista, o presidente afirmou: "Se a imprensa divulgou, a responsabilidade é da imprensa, não é minha, porque eu não tenho essa informação e não houve uma negociação numérica. Não sei de onde saiu esse número. Pode ser que sim, pode ser que não, vamos ver no decorrer do tempo".
Segundo FHC, o País não passa por uma asfixia de pagamentos. "Há uma espécie de falta de ar dos que operam nos computadores do mercado e dos analistas que estão na loja e que fazem análise de risco. Como eu já disse, hoje não é uma questão de risco, é uma questão de incerteza, e, na incerteza, apertam."
FHC participou em Guaiaquil do segundo encontro de presidentes da América do Sul.
Propostas mesquinhas
Fernando Henrique classificou de "mesquinhas" as propostas da União Européia nas negociações comerciais com o Mercosul, em reunião realizada no Rio de Janeiro na última terça-feira. "As propostas da Europa foram muito pequenas, muito mesquinhas. Ou seja, eu não vi grandes progressos. O presidente também se queixou do progresso das negociações da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Ambulante vira empresário de sucesso
Driblando as dificuldades do mercado informal, eles abriram suas empresas e até exportam produtos
Carrinhos de cachorro-quente, bancas de doces e biscoitos, pessoas vendendo óculos nas ruas. Não importa qual seja o produto, nem mesmo sua origem, trabalho de ambulante tornou-se comum nas principais ruas do País. A justificativa é, geralmente, a mesma. O serviço é a alternativa encontrada por quem ficou desempregado. No Distrito Federal, quase 200 mil pessoas estão sem trabalho. Alcançar êxito nesse tipo de atividade não é algo fácil. Hoje, o Jornal de Brasília apresenta três histórias de sucesso. Pessoas que começaram como ambulantes e agora geram empregos, constituíram empresas próprias e até exportam.
Gláucio Aurélio Coutinho, 60 anos, é dono do Churros do Tio, no Pier 21. A lanchonete, aberta há dois anos, vai ganhar a primeira filial na semana que vem, no Conjunto Nacional. E uma segunda estará funcionando em breve no Taguatinga Shopping. O negócio, hoje regularizado, começou em 1976, quando a situação financeira de Gláucio não era das melhores. Ele, que sempre foi comerciante, havia deixado a cidade cinco antes para tentar a sorte no Nordeste.
Sem sucesso. Voltou a Brasília e abriu uma loja de armarinhos. Outra tentativa frustrada.
A essa altura, um amigo lhe ofereceu uma máquina para fazer churros. Sem ter como pagar, Gláucio prometeu honrar a dívida com salgados (outra especialidade dele). O comerciante acoplou a máquina a uma kombi e começou a vender o doce nas portas de alguns colégios da cidade. Foi assim durante quase 20 anos. Mas por conta da lei que impede o uso irregular de áreas públicas, Gláucio teve que parar de vender nas portas de escolas. E por isso decidiu investir num ponto fixo.
Assim começou o Churros do Tio. O sucesso, contudo, ainda é conquistado com dificuldades. "O preço do churro é muito baixo. Em compensação, as despesas são muitas, principalmente o aluguel, que é muito caro. Isso dificulta o crescimento", queixa-se Gláucio.
Trabalho em casa dá renda às famílias
Quando se divorciou, Neuza Couto, 39 anos, precisava encontrar uma fonte de renda que a deixasse independente do ex-marido. Com dificuldades para encontrar um emprego, decidiu apostar naquilo que mais sabia fazer: cozinhar. Começou a fazer doces e salgados variados para vender no Plano Piloto, com a ajuda da filha. Apesar de trabalhar o dia todo, as vendas eram poucas, o que levou Neuza a tomar uma atitude ousada.
Ela contratou algumas meninas para que a ajudassem. O objetivo foi atingido. O lucro, conseqüentemente, cresceu. Dez anos depois, a moradora de Vicente Pires vive uma situação curiosa: tudo o que vende é produzido dentro de casa. Ao todo, emprega seis pessoas. E não constituiu empresa. É a informalidade gerando empregos. Descontadas as despesas com pessoal (cada funcionária recebe R$ 200) e com material (R$ 600 por semana), Neuza lucra cerca de R$ 1000 ao mês.
Embora precisasse de uma renda extra, Magda Faria de Melo não pretendia usar os conhecimentos de artesã para ganhar dinheiro vendendo licores caseiros e pinturas em pedra. O negócio começou por acaso. A filha havia viajado para o Nordeste e levou um dos licores feitos pela mãe. Uma pessoa provou e encomendou mais. A propaganda boca-a-boca foi fundamental para aumentar os pedidos. Hoje, ela faz 33 sabores diferentes de licor.
Magda também faz pinturas em pedras e telhas. Esses trabalhos são comercializados, alguns, inclusive, vendidos para o exterior. Mas Magda não pretende abrir uma empresa. "Está tudo indo bem assim. Tenho medo de formalizar o negócio e começar a dar errado", comenta. O dinheiro que ganha complementa a aposentadoria. A renda total sustenta a família: além dela, moram mais três netos na mesma casa.
O trabalhador é quem perde
Se os números mostram que a informalidade acaba sendo o melhor caminho para o pequeno e médio empresários, para o empregado, o trabalho regularizadopode ser mais interessante.
O advogado especialista em Direito do Trabalho, Ricardo Quintas, lembra que a principal diferença entre o trabalhador formal e o informal está na CLT. "O formal está sob a proteção dos direitos garantidos pela lei. O informal não pode contar com ninguém". Segundo Quintas, essa proteção deve ser garantida pela empresa e pelo sindicato. Os principais direitos são o 13º salário, férias, previdência social, garantias à saúde e, no caso de mulher, licença-maternidade.
O advogado explica que o informal também pode ter aposentadoria, mas nesse caso, ele contribui ao INSS sozinho, como autônomo. No caso do emprego formal, trabalhador e empresa contribuem juntos para a Previdência.
Fernando Brites acredita que os riscos que os empregadores informais correm são poucos. "O dinheiro que deixam de gastar com a carga tributária poder ser usado para o pagamen to de uma previdência privada e um plano de saúde particular", argumenta.
Informalidade está crescendo
Segundo dados da última Pesquisa de Emprego e Desemprego do Distrito Federal (realizada em maio), dos cerca de dois milhões de habitantes do DF, 750 mil exercem alguma ocupação. Considerando a quantidade de pessoas desempregadas, a população economicamente ativa (em condições de trabalhar) é calculada em 950 mil pessoas. Não se sabe, contudo, quantas dependem do trabalho informal para sobreviver. Justamente pela falta de registros, os números sobre essa economia são poucos. Mas pelo que se pode observar nas ruas, a informalidade está crescendo. E na maior parte dos casos, para o pequeno e médio empresário, vale mais a pena ser informal do que ter uma empresa regularizada.
Se a causa mais comum do trabalho informal é a falta de trabalho, na origem do desemprego estão outras razões. De acordo com o presidente da Associação Comercial do DF, Fernando Pedro Brites, de novembro do ano passado até junho, 872 empresas fecharam as portas em Brasília. Outro dado: aproximadamente 60% das pessoas envolvidas com comércio estão na informalidade. Para Brites, o motivo determinante é a elevada carga tributária cobrada pelo governo federal. São 61 impostos (dentre os quais alguns dos mais comentados como o ICMS, PIS e Cofins). A cobrança de tributos representa quase metade das despesas de uma empresa e mais de um terço do faturamento. "Hoje, o dinheiro que resta no caixa é menor do que o que vai governo. Para se ter uma idéia, em 2002, 37% do PIB (Produto Interno Bruto) virá da cobrança de impostos", argumenta Fernando Brites.
Qualificação é escassa no DF
O presidente da Associação Comercial aponta outra explicação. Enquanto o trabalhador formal deve prestar contas a diversos órgãos governamentais, o informal não tem a mesma exigência. "Se você monta um bar em uma rua qualquer, a Vigilância Sanitária pode aparecer e fechar o teu estabelecimento. Mas ninguém perturba quem monta uma barraca de salgados no Setor Comercial Sul. E você não sabe a origem daquela comida", exemplifica Brites.
O secretáio de trabalho e direitos humanos do Distrito Federal, Vatanábio Brandão, acrescenta outras razões para o aumento da informalidade. Além dos baixos salários pagos no mercado formal, Brandão acredita que a falta de qualificação profissional, aliada a adoção de novas tecnologias, elimina muitos postos de trabalho. "As pessoas se vêem obrigadas a buscar outras alternativas", afirma.
Há oito anos, o GDF desenvolve o Programa de Microcrédito. Trata-se de uma linha de crédito, que vai de R$ 50 até R$ 10 mil, voltada para o trabalhador informal que deseja expandir o próprio negócio. "É uma aposta que nós fazemos na informalidade. Muitas vezes, o que falta é um pequeno incremento no capital de giro para que a pessoa possa crescer e regularizar a empresa", explica o secretário de trabalho. Quatro mil pessoas já utilizaram o programa. Uma das vantagens apontadas por Vatanábio Brandão é a pouca burocracia exigida.
Inflação abaixo do esperado
O grande impacto dos reajustes de tarifas públicas na taxa de inflação esperado para a segunda quinzena deste mês ainda não aconteceu. Segundo a Fipe, os preços subiram 0,43% nos últimos 30 dias até o dia 23. Na prévia anterior, até o dia 15 deste mês, o aumento tinha sido de 0,27%.
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) prevê uma taxa de inflação para este mês em torno de 0,85%. Mas, segundo o coordenador-adjunto do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe, Juarez Rizzieri, é pouco provável que a taxa aumente tanto, ao ponto de dobrar, na última semana do mês.
Para julho e agosto, a instituição espera o repasse ao consumidor do reajuste de energia, gás, telefone, gasolina, pedágio e água.
Até agora, o impacto das tarifas foi pequeno. Apenas os aumentos do gás (3,92%), da gasolina (2,29%) e da conta de telefone fixo (1,07%) refletiram na inflação -com contribuição no índice de 0,03 ponto percentual, de 0,06 ponto percentual e de 0,02 ponto percentual, respectivamente.
O lado ruim de o IPC ainda não registrar o aumento das tarifas é que em agosto o impacto poderá ser maior. Para o próximo mês, a previsão da taxa de inflação da Fipe também é 0,85%.
Para Rizzieri, além do aumento da inflação, agosto será um mês volátil e muito especulativo. Devido a incertezas políticas, não há, segundo ele, como o Banco Central agir agora no mercado de câmbio. No mês que vem, a "presença de Armínio Fraga [presidente do BC] para segurar o dólar será muito forte", principalmente após o início do horário eleitoral gratuito, em 20 de agosto.
Questionado sobre a pressão do dólar nos preços, Rizzieri explica que, na conjuntura atual, sem uma grande demanda, nenhuma empresa irá reajustar seu preço pela alta do dólar, porque, se o fizer, não vai conseguir vender.
Obesos em estado de alerta
Empresas começam a questionar os gastos e queda de produção causados por funcionários acima do peso
A obesidade já atinge 11,1 milhões de brasileiros, ou 6,4% da população, estimada em 174,6 milhões pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde colocam em evidência a obesidade, uma doença crônica, definida como um excesso de gordura corporal que, apesar da maior prevalência nas mulheres, atinge todas as camadas da população, em todas as faixas etárias e níveis sócioeconômicos e culturais.
A doença, que se expande no País, está colocando algumas empresas em estado de alerta. A preocupação se explica pelos gastos originados pelos problemas de saúde dos obesos. Segundo o Centro de Recuperação e Estudos da Obesidade (Creeo), os custos diretos com a saúde destes trabalhadores variam entre 2% a 8% do gasto total com tratamentos de saúde.
Existem, ainda, os custos indiretos provocados pela perda de produtividade, faltas ao trabalho (duas vezes maior do que dos demais empregados), piora dos fatores de risco, aumento no número de consultas médicas ambulatoriais e dias de internação hospitalar, decorrente das doenças provocadas pelo excesso de gordura.
O problema da obesidade mórbida, que ocorre quando o excesso de gordura é extremo, levou o Ministério da Saúde a incluir entre os serviços prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a cirurgia de redução do estômago (gastroplastia) e cirurgias plásticas corretivas para retirada do excesso de pele após o emagrecimento. Para se ter uma idéia do problema, entre 1999, quando o procedimento cirúrgico foi incluído no SUS, até agora, foram atendidos 1.075 pacientes, a um custo de R$ 2,66 milhões.
Atentas, as empresas estão investindo na melhoria da qualidade de vida dos funcionários. A Brasil Telecom, por exemplo, desenvolve, desde março, no DF e em suas dez unidades, o programa Viva Mais, que contempla, entre outras ações, atividades esportivas. A meta não é eliminar a obesidade na empresa, mas esta tem sido uma conseqüência constatada entre vários funcionários.
Em outros estados, empresas como a Perdigão e a Editora Abril, por iniciativa da companhia ou dos próprios funcionários, estão desenvolvendo ações diretamente direcionadas para o problema da obesidade.
Empresa incentiva funcionários
Vanderli Frare, gerente de projetos esportivos e qualidade de vida da Brasil Telecom, registra casos de funcionários que já perderam mais de dez quilos desde o início do programa Viva Mais. São pessoas que estão participando do treinamento de maratonas, caminhadas e corridas promovidos pela empresa com acompanhamento técnico.
Os exercícios se tornaram uma regra na empresa, a ponto de os elevadores terem sido desligados no prédio da matriz em Brasília, fazendo com que todos tenham que usar as escadas e ra mpas para chegar aos quatro andares do edifício. Apenas um elevador permanece ligado, para atender àqueles que, por algum motivo, não possam subir pelas escadas. A empresa mantém, ainda, convênios com várias academias.
"Nosso foco não são os obesos e sim o bem-estar dos funcionários, mas naturalmente eles estão sendo beneficiados e contagiados pela onda de boa forma", afirma Vanderli. Para se ter uma idéia, a Brasil Telecom promove aos sábados uma caminhada com café da manhã. Na última delas, participaram 2,8 mil dos 6 mil funcionários da empresa.
Algumas empresas estão contratando o Centro de Recuperação e Estudo da Obesidade (Creeo), do Rio Grande do Sul, para auxiliar no processo de emagrecimento de seus funcionários obesos. O centro forma grupos de emagrecimento dentro das companhias e trabalha com terapia voltada para o emagrecimento (grupos de apoio) e o acompanhamento de uma equipe de saúde, que envolve médicos, nutricionistas, psicólogos e profissionais de educação física. Cada funcionário recebe um Plano Alimentar individualizado e participam das reuniões que ocorrem durante a semana. O programa pode, de acordo com a empresa, ser acompanhado do exercício físico.
Segundo Lígia Henriques Ferreiro, nutricionista do Creeo, dessa forma as empresas diminuem os gastos com a saúde dos funcionários, reduzem o número de faltas e aumentam a produtividade. De acordo com ela, esta, porém, é uma preocupação bem recente das empresas, que vem ocorrendo de cerca de um ano para cá.
Preconceito camuflado
O preconceito não é declarado, mas os próprios gordinhos e alguns representantes do setor empresarial admitem que ele existe. Na hora de contratar um funcionário, muitos se baseiam, entre outros fatores, na aparência. Dependendo da atividade, os obesos acabam perdendo chances de trabalho.
O empresário Edmilson Andrade Nascimento, mais conhecido como o Rei Momo do carnaval brasiliense, nunca foi discriminado, mas admite o problema. Como sempre trabalhou como autônomo, dirigindo negócios da família e, depois, próprios, nunca precisou enfrentar diretamente o mercado de trabalho.
Ele, porém, já constatou a restrições a alguns amigos. "Como tenho contato com muitos empresários, às vezes alguém pede para dar uma força. Mas, quando toco no assunto e explico para quem é o emprego, é comum os possíveis empregadores mudarem de assunto", conta.
O próprio Edmilson já enfrentou problemas com a clientela na pizzaria. "Tinha gente que chegava e, depois de olhar para mim, acabava desistindo da pizza", conta, com bom humor. Para ele, pior do que a discriminação no trabalho, são os problemas enfrentados no dia-a-dia. "Não posso andar de ônibus, suo muito e não posso sentar em qualquer cadeira", explica. Mesmo assim, como praticou caratê por 14 anos, Edmilson tem boa agilidade. "Sambo bastante no Carnaval", diz.
João Ronaldo Moreira, assistente da Galeria do Trabalho no Plano Piloto, diz que em quatro anos na função nunca se deparou com casos de discriminação a obesos. Ele, porém, sabe que profissionais com essa característica não se adequam a determinadas atividades.
Lourival Dantas, presidente da Federação das Indústrias de Brasília admite que o excesso de gordura pode gerar custos para a empresa e reduzir a produtividade do funcionário, mas afirma não ter conhecimento de restrições declaradas a profissionais obesos. "Depende da função. A gente olha mais a qualificação profissional", explica. Lázaro Marques, presidente do Sindicato do Comércio Varejista, acredita que existem restrições, mas diz que isso não é declarado. "Principalmente para quem vai trabalhar atrás de um balcão, é exigida boa aparência", ressalta.
Artigos
Um novo imortal
Paulo Pestana
A imortalidade de Paulo Coelho na Academia Brasileira de Letras é a redenção da plebe, é a vitória da revolução popular contra a tirania da crítica literária, é um exemplo para o Brasil. Nos 15 anos em que se destacou como o escritor mais lido do País e se transformou num popstar das letras pelo mundo, Paulo Coelho esteve diante de pelejas muito mais árduas das vividas pelos místicos personagens de seus livros, enfrentando a pedância e a impertinência de gente que gosta de manter os livros afastados do povo, como se fossem objetos sagrados, reservados aos eleitos, aos poucos. A entrada de Paulo Coelho no panteão dos imortais resgata até a história da Academia, fundada por um escritor popularíssimo em sua época, que a exemplo de Paulo Coelho publicava romances em trechos nos jornais.
Foi a pressão popular – a qual nem mesmo os imortais estão imunes – quem pôs o escritor entre os acadêmicos. É uma pressão legitima, diferente da exercida por políticos poderosos que constrangeram os imortais com seus fardões de encomenda no passado. Numa Academia na qual são aceitas pessoas que jamais escreveram um livro, a entrada de um escritor popular como Paulo Coelho soa como uma redenção do verdadeiro papel da literatura, que não é para estar limitada a tertúlias e deve ser massificada. Os talebans vão sempre lembrar que a qualidade dos livros de Paulo Coelho não merecem o título imortal, mas estaremos diante de um velho costume nacional, que é o de desdenhar quem sobe na vida.
Há uma herança falsamente católica que trata o sucesso pessoal como peso, que prega a igualdade a partir da mediocridade. Trata-se de interpretação rasteira de ensinamentos ancestrais de que devemos ser todos generosos, ter oportunidades iguais, mas não necessariamente trilharmos o mesmo caminho. Paulo Coelho fala de um planeta diferente, de sentimentos baratos e emoções fáceis; mas constrói boas histórias, cria alternativas na maneira de pensar de cada um, expande mentes.
Não sou um fã de Paulo Coelho, prefiro outras leituras; mas não fujo dos livros do mago imortal. Não acredito que ele faça chover ou que o Universo conspire contra ou a favor de alguém, assim como tenho dificuldades em compreender um ser que tudo sabe e que está em todos os lugares, mas não tenho condições de duvidar de um Criador. Mas nada disso depõe contra ele; não conheço nenhum outro escritor que faça chover. Alguns críticos tentam desqualificar Paulo Coelho apenas porque ele encontrou uma maneira de contar suas histórias de um jeito que as pessoas – pelo menos a maioria delas – gostam. No fundo são os mesmos que chamam de cult a literatura pulp de décadas atrás.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Serra deu bronca em Bonner
Após sua entrevista ao Jornal Nacional, há duas semanas, José Serra reclamou, irritado, dos apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes, que apenas cumpriram o dever de formular perguntas. Disse que não foi "tratado com isonomia", porque os demais candidatos não tinham sido tão cobrados. Ele se queixou das perguntas sobre dengue, Ricardo Sérgio de Oliveira e outros esqueletos de seu armário. A reação de Serra pegou muito mal na redação e na direção da TV Globo, e vinha sendo mantida sob sigilo.
Melhorou
A queixa de Serra a Bonner e Fátima Bernardes foi um avanço: ele gosta mesmo é de pressionar empresas para demitir jornalistas que não controla.
Chulé palaciano
Alguém muito importante no Palácio do Planalto deve ter um chulé insuportável. Secretaria de Administração da Presidência da República adquiriu R$ 4.559,00 em meias sociais pretas. A compra à empresa Confecções Metro Ltda, cujo comprovante está em poder da coluna, teve uma particularidade: foram exigidas meias com "proteção antiodor".
O problema é o peso
O governo pode mesmo ajudar José Serra, ao revogar ou segurar aumentos de combustíveis, como o gás de cozinha. Mas convém lembrar que com gás caro ou barato, o botijão continuará muito pesado.
Itamar no muro
Itamar Franco continua cortejando Lula e Ciro Gomes simultaneamente. Mas já avisou aos mais íntimos que pretende acompanhar a sucessão de cima do muro. Não se sabe se dali ficará neutro mesmo ou se acabará esbarrando no candidato do PSDB. Afinal de contas, muro é lugar de tucano. Em se tratando de Itamar, tudo é possível.
Mercado arisco
O mercado se agitou, primeiro, com o risco Lula. Agora é o risco Ciro. O mercado está tão nervoso que é capaz de tremer até com risco de giz.
Tira o bode
O banco JP Morgan, que avalia o risco Brasil todo dia, não aceita entrar no grupo de risco da falida Enron, à qual forneceu generoso pancake contábil. Considera-se "bode expiatório". É hora de tirá-lo da nossa sala.
Freud bancário
Deu na TV que na sexta-feira o dólar "rompeu uma barreira psicológica". Ah, sei: nosso bolso agora está na cabeça.
Mestrinho vai cirar
O senador Gilberto Mestrinho (PMDB), candidato ao governo do Amazonas, deve trocar o palanque de José Serra pelo de Ciro Gomes, no qual já está seu arquiinimigo Amazonino Mendes. É que, apesar de apoiar Serra, ele não consegue nomear o chefe do Dnit (sucedâneo do DNER) no estado. Mestrinho providencia o prontuário do personagem, Wellington Lins (irmão do deputado pefelista Átila Lins) que, segundo ele, é considerável.
Tá difícil
Anne Krueger, a feiosa do FMI, volta aos Estados Unidos sem ver a paisagem que gostaria de ver, mas é remota: Serra da Boa Esperança.
Fidel exe.
Não mandem e-mail para a embaixada cubana ([email protected]) em Brasília: está com vírus. Contaminou mensagens de apoio ao físico cubano Juan López Linares, que tenta ver o filho de três anos em Cuba. E voltar ao Recife, onde estuda.
Dias contados
Se Ciro Gomes vencer a eleição, pouco adiantará o lobby do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC): o candidato do PPS planeja acabar com a boca livre dos free-shops, lojas que vendem importados sem pagar impostos, nos aeroportos. Ciro quer free-shops vendendo produtos "made in Brazil".
Caro blablablá
O Planalto (e não o Ministério dos Transportes, curiosamente) pagou R$ 375.685,00 a uma empresa, Protran Engenharia, para fazer "estudo técnico-analítico (...) que identificará as motivações que regem o novo perfil de deslocamento da população urbana brasileira" blablablá etc. Traduzindo: a Viúva gasta uma baba para ter certeza que o povo está insatisfeito com os ônibus que usa. Sairia mais barato consultar a seção de cartas dos jornais.
Direito da criança
O pai de um deficiente físico no Rio confirma que o mandado de segurança 2002.700.005.591-5 foi retirado de pauta, onde estava há três meses, pelo juiz Kleber Ghelfenstein, do 6º Juizado Especial Cível. O Ministério Público deu parecer favorável ao menino, autista, que quer continuar nadando, como outras crianças, num hotel da Zona Sul carioca.
Todo mundo nu
Antigamente, as modelos se despiam no camarim e se vestiam para o desfile. Hoje, elas se despem na passarela e se vestem no camarim. O difícil é saber que tecido elas ajudam a vender.
Embromação genérica
O país de José Serra não deve ser o mesmo onde vive uma leitora carioca: precisando baixar o colesterol, gastou R$ 56,55, com três caixas de 10 comprimidos de Zocor 40mg, para um mês. Se optasse pelo genérico Sivastatina, gastaria R$ 76,68, com duas caixas de 30 cápsulas de 20mg. Daria para 15 dias. Saúde, ex-ministro.
Poder sem Pudor
Maldade cearense
Por falta de palanque, o candidato José Serra não tem ido ao Ceará. Convém não ir mesmo. Como ele ainda tem 7 pontos no Ibope local (contra 49 de Ciro e 34 de Lula do PT), a turma de Tasso Jereissati parece disposta a reduzir ainda mais o seu desempenho no estado. Eles espalham que a primeira providência de Serra, caso eleito, será dinamitar a estátua de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. O povão está revoltado.
No Ceará, Serra vai chegar ao final da campanha devendo pontos no Ibope.
Editorial
COMBATE NA FONTE
Iniciativas como o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) servem de alento no momento em que o País se encontra atônito com o avanço do tráfico e com a ousadia do poder paralelo dos traficantes. O Proerd é uma adaptação de um programa norte-americano que tenta ensinar estudantes a dizer não às drogas.
Com visitas de policiais e especialistas, os jovens tomam contato com o clima de violência gerado pelas drogas. É uma forma interessante de abordagem, já que o combate ao consumo não se dá apenas mostrando os efeitos nocivos que as drogas exercem sobre cada cidadão, mas abordam os prejuízos para a coletividade.
A melhor maneira de engajar as pessoas no combate às drogas é mostrando como elas fazem mal a todos. O dinheiro que o consumidor paga ao traficante para comprar sua dose volta sobre seus amigos e familiares sobre forma de armas, balas perdidas e corrupção de menores. Volta na forma de desemprego, de desmando e de falta de consciência social.
Ensinar isso a nossos jovens é um desafio possível. Mais ainda porque as drogas se multiplicam e muitas vezes os viciados acham formas de conseguir substâncias mais perigosas para se entorpecer. Que o Proerd cresça e ajude o País a vencer o flagelo do vício e do crime organizado.
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07/28/2002
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