Financiamento para estudantes negros é defendido por Mozarildo Cavalcanti
Ao criticar a proposta que estabelece cotas para negros nas universidades, o senador Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) defendeu que intervenções no sistema de ensino para diminuir a disparidade na educação de brancos e negros devem ser feitas no ensino médio. Para isso, sugere a criação de um financiamento especial a fim de que estudantes negros possam ingressar na universidade tão preparados quanto alunos brancos.
- Se é necessário, e não nego que seja, algum tipo de ajuste para aumentar o número de negros na universidade, esse ajuste precisa ser feito antes do ingresso no ensino superior. Desse ponto de vista, não posso deixar de concordar com o ministro (da Educação) Paulo Renato, que propõe o estabelecimento de "cursinhos pré-vestibulares" especificamente para negros. O Banco Mundial já demonstrou interesse em financiar essa iniciativa - opinou.
Apesar de admitir a "nobreza" da proposta de instituição de cotas, Mozarildo entende que o mecanismo não seria eficiente para reparar a defasagem na educação de negros e, pelo contrário, poderia criar novos tipos de discriminação.
O senador apontou que faltam vagas no ensino superior para receber todos os alunos que concluem o ensino médio. Esse problema, disse, tornou-se ainda mais grave com o aumento observado nas matrículas no ensino médio nos últimos anos. Em 1994, havia 4,5 milhões de alunos nessa fase de ensino, número que cresceu 86%, chegando a 8,4 milhões em 2001. A maioria desses estudantes (87%) freqüenta escolas públicas.
- Ainda não existem vagas suficientes para absorver todos os que concluem o antigo segundo grau. E, mesmo que a meta do governo federal seja, em uma década, passar a atender a 30% da população entre 18 e 24 anos no ensino superior, estamos longe de chegar à universalização - ponderou.
Além disso, Mozarildo registrou que a maior parte das vagas (65%) está em faculdades privadas. Ou seja, além de ter que vencer a barreira do vestibular que poderia ser solucionada pelo sistema de cotas, os estudantes negros também precisariam enfrentar a barreira econômica e dispor de recursos para pagar as altas mensalidades cobradas. Ele destacou que as políticas de cotas na universidade pouco adiantariam se não fossem seguidas de políticas sociais destinadas a ampliar o acesso de negros ao mercado de trabalho.
- Verificamos ainda que, no seio da comunidade universitária, há muitas divergências sobre a adoção da política de cotas. Entre os próprios universitários negros, metade deles rejeita a proposta - afirmou, citando estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que indica que 57,4% da comunidade acadêmica discorda da medida.
05/04/2002
Agência Senado
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