Futebol como Patrimônio Cultural do Brasil: estudo exploratório sobre possibilidades de Turismo
O futebol brasileiro faz parte de nosso folclore, é uma importante manifestação cultural e tem potencial para incrementar o turismo no País. Partindo destes pressupostos, Sérgio Miranda Paz defende que ele deve ser incluído nas disciplinas de Cultura Brasileira do ensino superior. O engenheiro elétrico, bacharel em ciências da computação, também formado em Educação Física e Turismo, levou esse assunto tão a sério que produziu a tese de doutorado O Futebol como Patrimônio Cultural do Brasil: estudo exploratório sobre possibilidades de incentivo ao Turismo e ao Lazer, apresentada na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.
Fanático desde pequeno, armou-se de sua coleção de mais de 150 títulos de livros, 300 artigos de jornais e revistas, inúmeros discos, CDs, filmes e documentários dedicados ao tema e elaborou um verdadeiro inventário do que é o futebol no Brasil, o que ele representa para a população e como deveria ser mais bem explorado, do ponto de vista cultural e turístico. Miranda contabiliza cerca de 500 partidas assistidas in loco, em estádios brasileiros e de nove países. “Fui a todas as Copas do Mundo a partir de 1994 e me chamou a atenção o quanto o Brasil é reconhecido lá fora pela qualidade de seu futebol”, conta.
Pessoas e histórias
Ele dividiu o trabalho em quatro partes, como num jogo propriamente dito: primeiro e segundo tempos, prorrogação e pênaltis – esta última, a conclusão. Na primeira, descreve os personagens que o futebol brasileiro produziu, pessoas e tipos que se tornaram parte do folclore popular. Do goleiro ao árbitro, do atacante ao massagista, passando por cartolas, filósofos e os lendários “passarinho” e “rei”, Garrincha e Pelé, respectivamente. Ele lembra, por exemplo, que Bellini foi o primeiro capitão a levantar a taça Jules Rimet, na Suécia em 1958, iniciando uma prática até hoje difundida entre esportistas das mais variadas modalidades, para comemorar a vitória.
Conta também o que deixou o massagista Santana, do Vasco, famoso: era pai-de-santo e creditava as conquistas de seu time aos "trabalhos" que fazia fora de campo. Célebres pensadores e suas “filosofias de botequim” também estão presentes na tese: o técnico Neném Prancha – que proferiu “futebol é muito simples: quem tem a bola ataca, quem não tem, defende” – ou Dadá Maravilha, responsável pela famosa “podem vir com a problemática, que eu tenho a solucionática”.
A cultura futebolística
No “segundo tempo”, Sérgio resgata o espaço que o futebol conquistou na sociedade. O pesquisador acredita que o esporte começou a ganhar espaço na década de 1950, com a peça A falecida, de Nelson Rodrigues, que teria denunciado “a alienação da intelectualidade brasileira em relação a um fenômeno que já fazia parte do cotidiano de todo o brasileiro”. Mas foi a partir dos anos 1980 que a elite intelectual passou a mostrar mais interesse pelo tema. Hoje, por exemplo, já existem núcleos de pesquisa em grandes universidades, como USP, PUC-SP e UERJ, que estudam o futebol em todos os seus aspectos.
Entre as canções reunidas pelo pesquisador, há aquelas que homenageiam clubes, jogadores ou copas do mundo, as que foram interpretadas por jogadores, além dos hinos. Na literatura, biografias, históricos, ficções e poesia; nas artes visuais, de pinturas, fotos e esculturas ao cinema ficcional ou documental, teatro, dança, e, por fim, espaços dedicados ao esporte no rádio, televisão e impressos, novelas, enredos de escolas de samba e cartoons. Segundo ele, o mercado futebolístico também movimenta outros setores da economia, como a moda, a indústria de brinquedos e colecionáveis, a arquitetura – como o caso de um torcedor do São Paulo cuja casa tem o formato do distintivo do clube –, e o entretenimento, com bares e parques temáticos.
Turismo
Por fim, na “prorrogação”, o pesquisador propõe que haja maior exploração turística em cima do esporte, com roteiros diferenciados e especialização de agências. “Em algumas cidades, é plenamente viável a criação de roteiros inspirados no futebol, que incluiriam visitas a estádios, clubes [memoriais, salas de troféus e lojas], centros de treinamento, museus e bares ou restaurantes temáticos”, justifica.
Ele sugere, inclusive, o tombamento do “Futebol Brasileiro”, a instituição do “Dia Nacional do Futebol”, próximo ao aniversário de Pelé (23 de outubro), a inclusão do tema em disciplinas do ensino básico ao superior e a criação do Museu do Futebol. “Há muitos pontos turísticos que foram tombados, edifícios, até o samba carioca foi tombado como patrimônio histórico. Da mesma maneira, o futebol deveria ter alguma proteção, para não se perder lá fora”, finaliza.
Da USP
11/02/2007
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