Governantes homenageiam Daniel









Governantes homenageiam Daniel
Com um minuto de silêncio em homenagem ao prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, o 2º Fórum de Autoridades Locais pela Inclusão Social foi aberto ontem à noite, no centro de eventos do Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.

Administradores de todos os continentes foram saudados pelo governador Olívio Dutra e pelo prefeito da Capital, Tarso Genro, antes da palestra de abertura, a cargo do ex-presidente de Portugal Mário Soares.

Depois de lamentar ser o único presente a não ter experiência em gestão municipal, “lacuna grave que agora não tem remédio”, Soares disse que sua vida pública como opositor da ditadura salazarista durante 30 anos, deputado, ministro, primeiro-ministro e presidente o autoriza a falar sobre o tema do encontro: globalização e exclusão social. Em trechos de um artigo do ex-presidente norte-americano Bill Clinton, publicado no dia 15 de janeiro no jornal francês Le Monde, o socialista buscou fundamentação para expor as mazelas da globalização. No artigo, Clinton reconhece que a economia global constitui problema e não solução, que metade da população da Terra vive com menos de US$ 2 por dia e um quarto nunca teve acesso a um copo de água potável.

Para Soares, o fosso entre pobres e ricos aprofundou-se perigosamente, com conseqüências inimagináveis para o futuro do mundo. Os atentados do dia 11 de setembro em Nova York seriam uma encruzilhada para os governantes, que teriam de optar entre “seguir no mesmo rumo ou aproveitar a oportunidade para construir uma nova ordem mundial”.

Os prefeitos de Roma (Itália), Walter Veltroni, de Paris (França), Bertrand Delanoë, de Buenos Aires (Argentina), Anibal Ibarra, e de São Paulo, Marta Suplicy, encerraram o painel iniciado por Mario Soares. Em meio a problemas de segurança pública, que ganharam notoriedade nos últimos dias com o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, Marta disse que o acirramento das diferenças sociais provocado pela globalização acaba aparecendo sob a forma de violência na vida das pessoas.

Citado por quase todos os convidados na cerimônia, o crime contra o prefeito paulista dominou o encontro. Ao fundo do auditório, duas faixas – assinadas pelos prefeitos do Grande ABC e pela Câmara Regional do Grande ABC – lembravam Celso Daniel. Em uma delas, as frases: “Celso, vamos fazer do ABC o que você imaginou. Seu exemplo será sempre nossa inspiração”. Uma mensagem da Organização das Nações Unidas (ONU) aos participantes do Fórum foi lida pelo coordenador do programa Habitat para a América, Yves Cabannes.

No discurso inaugural, Olívio Dutra classificou o Orçamento Participativo, implantado por ele na Capital há 13 anos, como instrumento de resistência aos padrões neoliberais:
– A solidariedade é mais que um princípio de administração pública, deve nortear as relações humanas e o futuro da humanidade. Mais do que isso, responde no contraponto a uma das premissas neoliberais, que é a apologia do egoísmo. Ao promover a inclusão social, se contrapõe a uma das marcas do neoliberalismo, que é a exclusão.


Boas-vindas aos participantes
Uma estrutura especial foi montada no aeroporto Salgado Filho para recepcionar os convidados do Fórum de Autoridades Locais, que se iniciou ontem, E do 2º Fórum Social Mundial e do Fórum Mundial de Juízes, que começam no dia 31. Voluntários e funcionários do Porto Alegre Turismo trabalham desde o início da manhã até a chegada do último vôo – por volta de 2h – na recepção dos convidados e os levam aos hotéis. Mas delegados ou observadores que chegam à Capital também recebem orientações: kits são preparados para quem vem participar do encontro. Ali eles encontram apas, roteiros culturais e dicas de pontos de visitação. Cerca de 20 seguranças acompanham o traslado dos convidados.

– A equipe também administra a chegada de pessoas que, por exemplo, não tenham encontrado. É o caso de uma índia do Equador, que não tinha ninguém esperando e levamos até o Partenon – contou a presidente do Porto Alegre Turismo, Marutschka Moesch.

Os elogios à recepção acabam sendo um estímulo. A estudante de Turismo Carolina Bueno, por exemplo, contou que o indiano Jai Sen, fez elogios à recepção:
– Eles são bem amistosos.


O socialista bonachão
Poucos conseguiriam tomar o café da manhã com Brizola, almoçar com Fernando Henrique e jantar com Lula. E tratar dos mesmos assuntos com todos eles, do futuro do socialismo às alternativas para combater a pobreza no mundo. O bonachão Mário Soares, 77 anos, estrela do Fórum de Autoridades, consegue.

Soares tem afinidades com Brizola, como companheiro da Internacional Socialista e seu anfitrião durante parte do exílio. Admira FH, com quem concorda que a especulação financeira e o protecionismo dos países ricos passaram dos limites – até publicaram um livro, O Mundo em Português, em 1998, com um diálogo gravado no Brasil. E tem simpatia por Lula, com quem jantou há dois meses em Lisboa, num encontro solicitado pelo petista.

Soares foi primeiro-ministro de 1976 a 1978 e de 1983 a 1985 e presidente reeleito de Portugal de 1986 a 1996. Hoje, preside a fundação que tem o seu nome e se dedica a eventos culturais, “nos domínios dos direitos humanos, da ciência política e das relações internacionais”. Mas gosta mesmo é de fazer política, agora como pensador, para defender seu socialismo reciclado.
Ontem, em entrevista coletiva, repetiu:
– Sou socialista, sempre fui socialista, não deixarei de ser socialista. O socialismo é a grande solução para os problemas da injustiça social.

Mas que socialismo seria este?
– Um socialismo compatível com a economia de mercado. Mas economia de mercado, sim, sociedade de mercado, não. Um socialismo com liberdade e pluralismo e que reconheça as diferenças.

Bem-humorado, só franziu a testa quando insistiram para que falasse do governo FH e de Lula. Mas consentiu sobre FH:
– Tem tido muitas dificuldades, mas é uma pessoa de convicções e de grande mérito cultural e político.

E sobre Lula:
– Ele tem hoje uma preparação incomparavelmente superior à que tinha no passado.
Elogiou os governos do PT no Estado e na prefeitura de Porto Alegre – “uma experiência interessante, com reconhecimento no mundo inteiro” – e atacou o neoliberalismo, as multinacionais, o FMI e o Bird, que viraram as costas para a Argentina, “o terrorismo de Estado de Israel” contra os palestinos, o terrorismo islâmico e, claro, a campanha dos Estados Unidos no Afeganistão:
– A intervenção (americana no Afeganistão) foi excessiva. O tratamento aos prisioneiros afegãos está fora das regras dos direitos humanos. Não posso aceitar, como jurista, que julguem pessoas sem direito a recursos em tribunais militares, mesmo que sejam terroristas e criminosos.
Mário Soares concede a entrevista e atravessa a rua com as mãos nos bolsos. Num tempo em que os carimbos metem medo, lá vai um socialista desacanhado.


Bové não descarta participação em protestos
Detido no ano passado por destruir lavoura de transgênicos, o militante francês voltou ontem a Porto Alegre

O líder da Confederação Camponesa da França, José Bové, que se tornou conhecido dos gaúchos no ano passado ao destruir uma plantação de soja transgênica no norte do Estado, disse ontem que poderá participar de ação semelhante este ano.

Bové desembarcou pela manhã em Porto Alegre para participar do 2º Fórum Social Mundial como delegado da organização camponesa Via Campesina.

– Não sou eu quem decido. Não vim para nenhuma ação específica, mas participarei se for contra os transgênicos e se houver uma decisão do Movimento dos Trabalhador es Sem Terra ou da Via Campesina – afirmou Bové.

Em 2001, no início da primeira edição do evento, Bové, junto com integrantes do MST e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), depredou uma plantação experimental da empresa Monsanto, em Não-Me-Toque. Ontem, sem descartar a possibilidade de uma nova invasão, Bové afirmou que comparece ao Estado com outro espírito:
– No ano passado, vim como professor. Agora, sou aluno.
O francês aterrissou na Capital gaúcha por volta das 11h e ganhou uma carona da prefeitura de Cachoeirinha para o Hotel Plaza São Rafael, na Capital. Segundo o prefeito José Luiz Stédile (PT), irmão do dirigente do MST João Pedro Stédile (que também atuou contra a Monsanto), Bové chegou no mesmo vôo que trouxe franceses mantenedores do Centro Luiz Itamar, localizado no município da Região Metropolitana. A entidade abriga 50 crianças carentes. Todos ficaram hospedados no Plaza, com diárias custando entre R$ 210 e R$ 310. Bové negou estar em Porto Alegre a convite do MST, mas como delegado da Via Campesina. Outros militantes da entidade estão abrigados no Convento dos Capuchinhos, no bairro Partenon. No total, a Via Campesina trouxe 17 pessoas para Porto Alegre.

Às 14h, Bové seguiu para o Palácio Piratini, onde participou da reunião do Comitê Internacional do Fórum. A Confederação Camponesa é fundadora da Ação pela Tributação das Transações Financeiras e Apoio aos Cidadãos (Attac), uma das principais organizadoras do Fórum e mais importante braço europeu do encontro. No Piratini, Bové recebeu uma credencial do comitê gaúcho do Fórum e foi conduzido ao Galpão Crioulo, onde cerca de 150 pessoas discutiam a temática do evento que ocorre de 31 de janeiro a 5 de fevereiro. O governador Olívio Dutra saudou os participantes da reunião às 9h. Segundo sua assessoria, Olívio e Bové não chegaram a se encontrar.

Escoltado pelo presidente da Attac e editor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen, Bové, sempre de sandálias e com uma sacola a tiracolo, retornou ao hotel às 18h20min. Os dois se dirigiram em seguida para a abertura do 2º Fórum de Autoridades Locais, no Centro de Eventos do Plaza.

O líder camponês deverá regressar a Paris no dia 3, para uma audiência na Justiça francesa. O ativista antiglobalização tornou-se réu e mundialmente famoso ao destruir lanchonetes da rede McDonald’s e laboratórios de pesquisa sobre transgênicos.


Protesto contra o G-8 e futebol na agenda do prefeito de Roma
Um grande protesto contra a atual composição do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia) deverá ser uma das mais importantes conclusões do Fórum de Autoridades Locais, aberto ontem à noite no Centro de Eventos do Hotel Plaza São Rafael.

A proposta vem justamente de um dos países ricos: a Itália. O prefeito de Roma, Walter Veltroni, do Partido Democrático da Esquerda (PDS, sigla em italiano, sucessor do Partido Comunista Italiano), veio a Porto Alegre propor aos demais prefeitos que pressionem seus governos a não mais sentar à mesa do G-8 se o grupo não for ampliado à participação de países da África e da América Latina.

– Essa é a única garantia de discutirmos as grandes questões da pobreza, da fome e das doenças – disse Veltroni ontem, em entrevista coletiva.

Para o prefeito de Roma, a melhor forma de se promover a globalização deve ser a partir da expansão do G-8. O prefeito de Roma é o idealizador do C-15, criado no ano passado e cuja primeira reunião está marcada para junho deste ano, em Roma. O C-15 reúne as 15 cidades mais importantes do mundo a partir da visão do desenvolvimento social e da contrariedade à exclusão. Do Brasil, apenas Porto Alegre e São Paulo integram o C-15.

Torcedor do time italiano Juventus, Veltroni aproveitou o primeiro dia na Capital para realizar um sonho: conhecer o ex-jogador Paulo Roberto Falcão, estrela do Roma nos anos 80. O ex-jogador foi o convidado de honra de um almoço oferecido pelo prefeito. Por sugestão de Falcão, o almoço foi um churrasco na churrascaria La Brasa, mas o tema do dia foi o futebol.


Paris e Capital assinam protocolo
A assinatura do Protocolo de Paris pelas prefeituras da capital francesa e de Porto Alegre não teve nada de protocolar. Foi realizada na tarde de ontem na Federasul, na mesma sala reservada na qual almoçaram os prefeitos da Capital, Tarso Genro, e de Paris, Bertrand Delanoë.

– Cada cidade fez o que estava querendo: unir esforços – disse Delanoë, depois de brincar com o protocolo escrito em português.

As principais intenções do Protocolo de Paris são promover o intercâmbio de experiências relacionadas ao Orçamento Participativo, à descentralização administrativa e à cultura. O último tema parece atrair a atenção de Delanoë. Depois de um almoço com brie ao molho de iogurte, medalhões de filé mignon e soutê de legumes, o Mercado Público, um dos símbolos de Porto Alegre, foi o local escolhido para um passeio.

– Caminhando pelas ruas de Porto Alegre, tudo parece tranqüilo e muito simpático. Mas não sei, sou suspeito. Quem sabe às 23h as coisas mudam – declarou, ao ser questionado sobre a violência no Brasil.


Serra apresenta plano de governo em solenidade
O ministro prometeu a redução da mortalidade infantil

Durante uma solenidade de comemoração dos 10 anos do Programa de Agentes Comunitários de Saúde, realizada ontem, em Recife, o ministro da Saúde e candidato à Presidência da República, José Serra, aproveitou para lançar a primeira das metas do seu plano de governo: a redução da mortalidade infantil no Nordeste.

Acompanhado do presidente Fernando Henrique Cardoso e de integrantes do primeiro escalão do governo federal, Serra fez um discurso de 30 minutos para uma platéia de aproximadamente 3 mil agentes comunitários, de vários municípios de Pernambuco, que chegaram em caravanas, com ônibus cedidos pelas prefeituras.

O ministro disse que pretende reduzir a mortalidade infantil dos atuais 52 para 30, a cada mil nascimentos. Em 1990 essa taxa era de 93 para mil. Segundo o ministro, para vencer esse desafio será preciso fazer um grande investimento no saneamento básico:
– Eu quero deixar esta convocação como meta pela vida: reduzir a mortalidade infantil e elevar para 60% o saneamento sanitário que hoje chega a 38% das casas no País. O país precisa ter continuidade dos investimentos criados pelo presidente Fernando Henrique.

Num discurso de improviso, o presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou a competência do ministro José Serra. Com bom humor, o presidente disse que embora se declare economista, Serra, na verdade, é seu médico particular, pela eficiência que tem demonstrado no ministério.
FH fez um discurso voltado para a área social, dando números dos avanços obtidos pelo governo nas áreas de saúde, educação e de reforma agrária. O presidente afirmou que os agentes “estão ajudando a fazer a história do país”. E o reconhecimento desse trabalho, segundo ele, foi o envio ao Congresso do projeto de lei que cria a profissão de agentes de saúde.

Também presenciaram a cerimônia em Recife o vice-presidente da República, Marco Maciel, e os ministros do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, e de Minas e Energia, José Jorge.
Serra, encerrou a solenidade condecorando a agente de saúde Severina Ramos de Santana Rodrigues, que representa o agente de número 150 mil.


Fiesp propõe metas aos candidatos
As propostas a serem apresentadas aos candidatos à Presidência da República pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que serão divulgadas pelo presidente da entidade, Horacio Lafer Piva, prevêem o crescimento médio anual do PIB de 4% a 5% entre 2003 e 2006.
A entidade reivindica a desoneração dos investimentos produtivos e de fende a geração de no mínimo 4,8 milhões de empregos no país entre 2003 e 2006. Os empresários da indústria defendem também a redução do nível de pobreza absoluta do país de 34% (verificado em 1999) para no máximo 28% em 2006.

As propostas que serão apresentadas aos candidatos à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso reivindicam o aumento da escolaridade média dos brasileiros no Ensino Médio de 32,6% para no mínimo 58% até 2006. Também serão apresentadas propostas para redução da mortalidade infantil e de uma reforma tributária que elimine os impostos em cascata da cadeia produtiva.

No documento da Fiesp, é solicitado ainda que o futuro governante tenha consciência fiscal, gerindo a política fiscal do país para obter resultado primário que impeça a dívida pública de exceder a 60% do PIB no curto prazo e para abaixo de 50% no longo prazo.


Bebida pode ter confundido empresário
Amigo do prefeito Celso Daniel tomou uma garrafa de vinho no jantar antes do seqüestro

O empresário Sérgio Gomes da Silva tomou uma garrafa de vinho sozinho durante jantar com o prefeito Celso Daniel, em 18 de janeiro, dia do seqüestro.

A informação é do deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), que assistiu à gravação do circuito interno do restaurante Rubayat.

No jantar, Celso Daniel consumiu quatro latas de refrigerante. Segundo a assessoria do deputado, as imagens mostram uma “conversa descontraída”. Para Greenhalgh, o consumo de uma garrafa de vinho, somado ao nervosismo no momento em que os seqüestradores atiraram, pode ter provocado contradições no depoimento do empresário.

– Há contradição, não vou negar, mas o empresário não é considerado suspeito – disse Greenhalgh.

Em seu depoimento, Silva disse que, no dia do seqüestro, a trava e o câmbio da Pajero on de estava com Celso Daniel falharam. A perícia apontou que não houve falha elétrica ou mecânica no veículo.

Para o deputado, não há problemas no fato de o empresário ter trabalhado como segurança de Celso Daniel e, no momento do seqüestro, não ter reagido:
– Existem diversos policiais que são treinados para situações específicas e, no momento da ação, erram.

Greenhalgh, designado pelo PT para acompanhar as investigações da morte do prefeito, aguarda resultados da perícia feita em objetos apreendidos em um cativeiro em Embu, Grande São Paulo.
Na casa, de propriedade de um dos responsáveis pelo resgate de dois presos em Guarulhos com um helicóptero, foram encontrados um Santana azul, semelhante a um dos carros usados para levar Celso Daniel no dia de seu seqüestro, um envelope com o logotipo do restaurante Rubayat e um pedaço de pano bege, cor da calça usada pelo prefeito no dia do crime. O prefeito foi seqüestrado depois de jantar no Rubayat.

No porta-malas do carro foram encontrados fios de cabelo brancos. Celso Daniel era grisalho.


PF ouve testemunha
A Polícia Federal ouvirá amanhã o depoimento de uma mulher considerada testemunha-chave no caso das ameaças encaminhadas por e-mail a parlamentares do PT, com a assinatura da Força de Ação Revolucionária Brasileira (Farb).

Segundo o delegado Cássio Guimarães Nogueira, ela dava assistência técnica ao carcereiro Edson Simões Amparo, de 51 anos, preso no sábado por ser o principal suspeito pelo envio das ameaças de sua residência, em Guarujá (SP).

O carcereiro, que teve a prisão temporária decretada pela Justiça, afirmou que não sabia mexer em computadores. A justificativa do policial, afastado do serviço público há cinco meses para tratamento psiquiátrico, não convenceu a PF.

No dia 9, Amparo havia usado um idêntico argumento para se livrar da acusação de que partiam do computador dele as ameaças feitas ao prefeito do Guarujá, Maurici Mariano (PTB). As mensagens foram passadas entre meia-noite e 3h.


Namorada reconhece jeans de prefeito
Detalhe intriga polícia e família, uma vez que Daniel vestia traje social antes de seqüestro

Em depoimento à polícia, a namorada do prefeito morto de Santo André, Ivone de Santana, 38 anos, reconheceu ontem como sendo de Celso Daniel a calça jeans que ele vestia quando foi encontrado caído baleado, sem vida, numa estrada de terra em Juquitiba (distante 70 quilômetros de São Paulo).

O detalhe acrescenta mais um mistério no seqüestro do prefeito, uma vez que, segundo a polícia, ele foi filmado saindo do restaurante Rubaiyat vestindo calça bege social, minutos antes de ser levado como refém, acompanhado do amigo Sérgio Gomes da Silva.

Segundo o primeiro depoimento de Silva, Daniel poderia ter sido levado porque vestia “roupa social”, em vez dele, que usava jaqueta e calça comum, parecendo ser o motorista. Quando a polícia encontrou o corpo, dois dias após seu sumiço, ele vestia calça jeans azul, camisa e tinha um moletom.

Na sexta-feira, policiais tentaram fazer o mesmo tipo de reconhecimento com a empregada de Celso Daniel, mas ela se confundiu e não passou confiança aos peritos do Instituto de Criminalística de São Paulo. No dia seguinte, agentes federais tentaram saber no prédio onde o prefeito morava, em Santo André, se algum estranho havia passado por lá após o seqüestro. Também procuraram reunir nomes e horários em que parentes e amigos estiveram no local.
Para a família de Celso Daniel, o fato de a calça poder pertencer ao prefeito torna ainda mais confusas as circunstâncias de seu seqüestro.

– As peças não se encaixam – disse Bruno Daniel, irmão mais novo do prefeito, acrescentando que a família não foi ao local em que o corpo foi encontrado e não levou roupas para vestir o corpo.

A informação de Bruno descarta outra hipótese: a de que Celso, eventualmente encontrado nu, tivesse sido vestido a pedido de parentes. O irmão também diz que, além do apartamento em Santo André, não sabe de nenhum outro imóvel que pertença ao prefeito, no qual possa ter passado para trocar de roupa após sair do restaurante:
– Desconheço a existência de outro imóvel. O que sei é que ele tinha um apartamento, onde morava. Mas em algum momento alguém vai ter de cuidar do inventário e isso, se houver, aparecerá.

Ontem, peritos descartaram que a segunda Blazer, encontrada queimada sexta-feira, tivesse sido usada no seqüestro do prefeito. O carro não tinha motor e o incêndio se deu há, no mínimo, 25 dias atrás. A segunda Blazer, localizada numa favela de São Paulo também queimada, ainda passa por perícia para saber qual era sua cor e se há relação com os pigmentos achados nas batidas da Pajero – veículo em que o prefeito seguia como passageiro.


Irmão diz não saber o que houve
O médico oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do ex-prefeito, discorda da socióloga Ivone Santana:
– Não acredito em crime urbano em hipótese alguma. A família, nesse caso, não tem a menor idéia do que tenha ocorrido com ele.

O irmão do prefeito concedeu entrevista ontem para falar a respeito da conta bancária que mantém no Exterior e que despertou suspeitas da polícia.

Contou que possui, desde 1999, uma poupança, no total de US$ 89 mil, na agência Sudameris de Miami (EUA). A conta bancária foi alimentada por João Francisco entre 1999 e 2000.

– Nós, da família, verificamos com indignação ilações a respeito da minha vida e da do meu irmão na imprensa, o que não vamos tolerar. A história da minha conta bancária foi uma colocação eleitoreira feita na última campanha política vencida por meu irmão – declarou João Francisco.
Em agosto do ano passado, contou o médico, ele apresentou à Polícia Federal a documentação sobre sua aplicação financeira e também as declarações de Imposto de Renda desde 1997.

– Na época, meu irmão não foi chamado no inqué rito aberto pela polícia – disse.
João Francisco afirmou ainda que conseguiu o dinheiro depositado em Miami após vender uma casa de sua propriedade no condomínio Costa Verde, na praia de Tabatinga, em Caraguatatuba.


Projeto prevê revista de advogados
O governo vai enviar ao Congresso proposta que submete advogados a detector de metal e a revistas durante visitas a clientes nas penitenciárias.

O governo também quer restringir os direitos de presos que participam de rebeliões, como, por exemplo, diminuindo suas visitas íntimas.

Essas são duas das cinco novas medidas que tratam de segurança pública que o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, apresenta hoje aos presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS).

As novas propostas serão enviadas ao Congresso em forma de projeto de lei ou medida provisória. No total, o governo quer prioridade para 26 propostas, a maior parte delas já tramitando no Congresso.

Mesmo que os parlamentares queiram rapidez na aprovação dos projetos, não devem votar qualquer um deles antes da metade de março. Se depender do presidente do Senado, a aprovação do projeto que proíbe o uso de armas e do que unifica as polícias Civil e Militar em todos os Estados serão a prioridade no Congresso. Tebet também citou o projeto que autoriza o governo a construir prisões federais e o que reduz a idade para responsabilidade penal de 18 para 16 anos.


Artigos

Forunzinho
Ricardo Santos Gomes

O que desejam os organizadores do Fórum Social Mundial ao realizar o chamado Forunzinho Social Mundial?

Aqueles que levam o FSM a sério deveriam estar questionando a realização desta versão infantil do encontro. Diga-se por quê.

A interação das crianças com o Fórum só pode ter dois objetivos: trazer o que a criança pensa para o âmbito do FSM ou levar às crianças o que o FSM pensa. Ora, este é o fulcro do problema. Trazer o que as crianças pensam para dentro do Fórum seria trazer a um evento de estudiosos, cientistas sociais e pensadores elementos acientíficos, carentes de embasamentos empíricos e doutrinários. Seria a importação da infantilidade para um espaço onde deveria reinar a consciência e a maturidade ao tratar de assuntos sérios, como a paz no mundo e a miséria humana.

Definitivamente, trazer o pensamento das crianças para o Fórum não pode ser uma boa idéia.
O que dizer, então, do outro objetivo. Levar o que o FSM pensa às crianças é o mais puro ataque à democracia. A liberdade de escolha destas crianças está prestes a ser ferida de morte. Serão treinadas a pensar como seus professores/instrutores. Isto, infelizmente, é a triste reprodução do que temos encontrado em muitas escolas municipais e estaduais do Rio Grande do Sul.

Nada mais é do que a criação de futuros militantes através de métodos que não são honestos intelectualmente

A própria página, na Internet, do Forunzinho, descreve que as atividades do encontro devem ter caráter lúdico e cultural, e voltadas à socialização das crianças. Nada mais é do que a criação de futuros militantes através de métodos que não são honestos intelectualmente. A indução cultural a determinado raciocínio foge às regras do convívio democrático.

O pior é que a verdadeira finalidade do Forunzinho é a conjunção dos dois objetivos explanados. É, no fim das contas, trazer o modo de pensar das crianças ao grande público, e o resultado do “pensamento” do Fórum às cabeças das crianças.

Assim, estar-se-ia agindo de acordo com tudo o que a extrema esquerda vem fazendo no Brasil e fora dele: um movimento de desconstrução do raciocínio lógico e organizado. As crianças são especialistas neste modo de “pensar” aleatório, sem compromissos com a verdade e com os resultados mediatos de suas ações. Têm, portanto, o que levar ao FSM, na visão dos seus organizadores.

E o FSM poderia, assim, levar às crianças o que pensa do mundo. Talvez um dia possa se dar ao luxo de dispensar debates e argumentações a favor do que pensam, pois todos, desde pequenos, poderiam “perceber” que a verdade está nas mãos da esquerda.

Já tivemos em Porto Alegre um Fórum Social Mundial e um fórum voltado a profissionais da educação. E agora teremos um voltado às crianças. Todos estão sendo treinados. Treinados para quê?

Quando o Brasil vai perceber o que se passa?


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Fórum e segurança
Os dois encontros que debatem a globalização se realizam nesta semana em Nova York e Porto Alegre sob a síndrome da segurança. Os organizadores dos dois eventos não querem que atos de violência tirem o brilho das discussões acadêmicas e da troca de experiências bem sucedidas que pretendem, sob ângulos ideológicos opostos, melhorar o mundo. O Fórum Econômico Mundial, que está em sua 32% edição, foi transferido excepcionalmente este ano de Davos (Suíça) para Nova York. Foi um gesto de solidariedade com a cidade abalada pelos atos terroristas do dia 11 de setembro passado, quando dois aviões derrubaram as torres do World Trade Center, considerado um símbolo do capitalismo.

Segundo as autoridades de Nova York, 3,5 mil policiais foram convocados para assegurar tranqüilidade aos participantes.

A possibilidade de manifestações violentas não acontece somente em relação ao Fórum Econômico Mundial, uma tribuna aberta para as grandes questões mundiais relacionadas a economia, saúde, educação, cultura, integração, terrorismo, crime organizado, narcotráfico e até temas sobre espiritualidade, mas também ameaça a segunda edição do Fórum Social Mundial, um encontro criado sob a inspiração do editor francês Bernard Cassen, presidente da Associação pela Taxação de Transações Financeiras Internacionais (Attac), e encampada pelo governo do Rio Grande do Sul. Na primeira edição, o ativista francês José Bové liderou a destruição de dois hectares dos campos de pesquisa com soja transgênica da Monsanto, em Não-Me-Toque. Também uma loja McDonald’s foi atacada em Porto Alegre e, no mesmo mês do Fórum, o Greenpeace invadiu a Siderúrgica Gerdau.

A Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul recebeu pedido oficial da Monsanto para evitar que, neste ano, se repitam os atos de vandalismo. Vários empresários manifestaram preocupação com os aspectos da segurança durante o Fórum Social Mundial, relatou o assessor de imprensa da Fiergs, Nikão Duarte. O porta-voz da entidade reafirmou a posição da diretoria, que “também concorda que um mundo melhor é possível”. A implementação dessa nova ordem, porém, deve ser feita com um debate pluralista e democrático, concluiu o representante da entidade, lembrando que a responsabilidade pela segurança dos participantes e das empresas alvo dos ativistas é do governo do Estado, promotor do grande evento.


JOSÉ BARRIONUEVO

Aparente coincidência
O Ministério Público decidiu anunciar na tarde de hoje o destino da denúncia da CPI da Segurança Pública contra o governo do Estado, realizada no ano passado. Em meio ao fervor do Fórum Social Mundial, muita gente anda apreensiva com o desfecho da novela. Se for favorável a Olívio Dutra, o resultado será tão festejado pelos petistas quanto uma vitória nas urnas. É esperar para ver o que será anunciado às 17h no prédio da Rua Andrade Neves, em Porto Alegre.

Olívio foi denunciado no relatório da CPI por improbidade administrativa e crime de responsabilidade. A expectativa é igualmente grande entre os deputados de oposição e no lado do governo.

Pratini não comenta
Em palestra no Instituto de Estudos Empresariais, ontem pela manhã, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, mais uma vez fugiu de questio namentos sobre sua aproximação com a candidata do PFL à presidência da República e governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Pratini admite que tem encontro marcado com Roseana, mas sempre que pode evita comentários mais profundos sobre o assunto.

– Este é o momento de muitas conversas entre todos os partidos, mas qualquer decisão só ocorrerá em junho, nas convenções – repete.

A decisão referida pelo ministro pode vir a ser um acerto para que o PPB dispute a eleição com o cargo de vice-presidente.

Antigos companheiros
O ex-presidente português Mário Soares fez o que pôde para evitar comentários sobre a política e os políticos brasileiros, em entrevista ontem à tarde. Reagiu quando alguém perguntou sobre Lula:
– Não quero entrar na política partidária brasileira, particularmente em ano de eleições, ou o senhor me transforma numa espécie de bola de bilhar entre os partidos brasileiros.
Como já havia elogiado o governo do PT no Estado e seu amigo Fernando Henrique Cardoso, foi cobrado e cedeu. Também elogiou o petista. Mas o português mantém vínculos históricos mesmo é com Leonel Brizola, com quem convive na Internacional Socialista. E quando um jornalista quis saber se o governo do PT no Estado teria alguma feição socialista, Mário Soares saiu pela tangente:
– Bem, pelo menos tem iniciativas de grande abertura e quer encontrar um caminho alternativo. Isso é verdade.

Mosquinhas
O presidente estadual do PPS, deputado Nelson Proença, tem encontro marcado para hoje com a direção do PT. Tem políticos que gostariam de se transformar em mosquinhas para sobrevoar a sala onde Proença estará conversando com o presidente do PT, David Stival.

Mais uma
Tarso Genro conquistou mais uma corrente para o rol de seus apoiadores. A Força Sindical, criada em 1989 e liderada por Renato Guimarães, abriu apoio ao prefeito na disputa interna “em nome do consenso”. Na eleição de 1998 a corrente apoiou Olívio. Mudou de lado.

Cada qual
O Sindipejus, Sindicato dos Servidores Penitenciários, avisa que a greve não está sendo convocada por eles.
A manifestação parte da associação, que tem bem menos representação do que o sindicato.

Rapidez
O candidato do PPB a governador, Celso Bernardi, não perde tempo para responder ao secretário da Justiça e da Segurança, José Paulo Bisol:
– Se o secretário Bisol fosse atrás dos responsáveis pela insegurança das famílias gaúchas teria que prender a si mesmo. O governo não trabalha contra a criminalidade, mas contra a polícia e a Brigada Militar.

Boa vizinhança
O vice-governador Miguel Rossetto e o chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii, estiveram reunidos ontem com o presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Zambiasi (PTB). Foram pessoalmente convidar o vizinho da Praça da Matriz para participar do Fórum Parlamentar Mundial.

Em tempo
A coluna embaralhou as letrinhas na edição de ontem. É claro que o ministro José Serra é do PSDB, que terá seu congresso estadual no sábado. Será no Hotel-Fazenda Três Figueiras, em Imbé. Perdão, leitores.

Amigo Britto
Antônio Britto insiste em que não é candidato, mas seus apoiadores ignoram. Ontem à noite, o ex-governador deparou com faixas em São Leopoldo encorajando sua candidatura a governador pelo PPS. Uma delas dizia “Britto, o Rio Grande está com saudade de ti”. Tudo embalado pela canção Amigo, do rei Roberto Carlos.

Emoção
Britto disse que defende um nome novo para a candidatura pelo sabor da novidade, mas não resiste e lembra do passado de governador:
– Sim, eu gostava de ser governador. Para uma pessoa que é jornalista, classe média, conseguir chegar ao governo é uma coisa! Todo dia que vejo o diploma de governador na parede, me emociono.

Cadeira vazia
A Fiergs decidiu se integrar ao Ciclo de Colóquios para Entender o Brasil, hoje à noite, na reitoria da UFRGS. Nenhum representante do PT confirmou presença, mas parece que suas cadeiras ficarão vazias em sinal de protesto dos organizadores. O Ciclo de Colóquios se inicia às 19h e representa um contraponto ao Fórum Social Mundial.

Lançamento
O anti-PT Olavo de Carvalho estará hoje no saguão do Ciclo de Colóquios autografando seu livro Jardim das Aflições. O teor do livro dispensa comentários.


ROSANE DE OLIVEIRA

O bom debate
Os críticos do Fórum Social Mundial por certo encontrarão pencas de motivos para tentar desqualificar um encontro de maioria esquerdista – se é que ainda se pode confiar nas definições de esquerda e direita. Quem deixar a má vontade de lado acabará por concordar que o Fórum é bom para o Estado e para a cidade, não só porque movimenta a economia nesse período de férias, mas muito mais pela oportunidade de se ouvir pessoas da qualidade de alguns conferencistas e debatedores.

De Porto Alegre não sairá uma receita acabada para o mundo melhor que os participantes consideram possível, mas a discussão é saudável. Os sem-ONG reclamam porque não puderam se credenciar e os adversários do PT criticam o uso de recursos públicos na montagem da infra-estrutura e no pagamento das despesas dos hóspedes oficiais, os liberais atacam a falta de vozes discordantes. O fato é que o Fórum Social Mundial colocou Porto Alegre e o Rio Grande do Sul no mapa múndi. Seria insensatez esperar unanimidade.

Não é pouca coisa reunir um intelectual como Noam Chomsky, ganhadores de prêmios Nobel, prefeitos de cidades como Roma e Paris e juízes com o currículo de um Baltasar Garzón em meio a cidadãos de todos os cantos do planeta.

Para que o brilho do Fórum não seja ofuscado por manifestações violentas de grupos radicais, os organizadores e os responsáveis pela segurança terão que redobrar a atenção. No ano passado, o francês José Bové roubou a cena quando comandou a destruição de uma lavoura de soja transgênica, mas neste ano tudo o que os organizadores esperam é moderação. Há coisas mais importantes em pauta do que as ações barulhentas do francês, condenado por comandar a destruição de uma loja do McDonald’s em seu país.

A segunda edição do Fórum será maior e, provavelmente, melhor do que a primeira. O Fórum de Autoridades Locais, que começou ontem à noite, deve terminar amanhã com a apresentação de propostas concretas para o combate à miséria. Até o dia 4, Porto Alegre será uma Babel globalizada.


Editorial

SEGURANÇA NA PAUTA

Sob diferentes pontos de vista, o Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e o Fórum Econômico Mundial, que se realiza excepcionalmente neste ano em Nova York, têm pelo menos um ponto comum, além da data da realização: a preocupação com a violência urbana e a perspectiva de paz num mundo conturbado pelo terrorismo. Tanto entre os organizadores, preocupados em assegurar a integridade dos participantes e das cidades-sede dos encontros, como nos debates agendados, segurança promete ser a questão-chave entre os dias 31 de janeiro e 5 de fevereiro. O objetivo é evitar nas ruas a repetição de enfrentamentos como os registrados anteriormente em cidades como Seattle, nos Estados Unidos, e em Gênova, na Itália, resultantes de protestos contra organismos internacionais. E, em conseqüência, permitir que das duas visões antagônicas da violência no mundo globalizado surjam propostas complementares para um problema comum à maioria dos países.

Seja sob a forma de insegurança urbana, em conseqüência do crime organizado, seja sob a forma de atentados terroristas, paradoxalmente justificados até mesmo em nome de religiões, o desrespeito à vida humana constitui hoje um flagelo em muitos países. Antes mesmo da abertura dos trabalhos oficiais em Porto Alegre, a violência já permeia a pauta do Fórum de Autoridades Locais, que contaria com a participação do prefeito ass assinado de Santo André, Celso Daniel. A abordagem direta do tema ficará por conta do juiz espanhol Baltazar Garzón, notabilizado pelo processo contra o general chileno Augusto Pinochet, e que no encontro de prefeitos vai abordar a relação entre corrupção e crime organizado com a globalização.

Ambos os encontros dariam uma grande contribuição se apontassem caminhos para a violência sob todas as suas formas

A mesma globalização que, de alguma forma, gerou atentados como os de 11 de setembro, é a que estaria favorecendo o crescimento do crime organizado. Comum a todo mundo, essa realidade chama a atenção particularmente em países de instituições mais vulneráveis, como os não desenvolvidos. Nem entre os participantes do encontro que se realiza há mais de três décadas em Davos, nem entre os que se reúnem pela segunda vez em Porto Alegre, predomina a idéia de que seja factível um mundo livre de guerras. Ambos os encontros, porém, dariam uma grande contribuição para a humanidade se apontassem caminhos viáveis para a violência sob todas as suas formas. É este o caso tanto da criminalidade urbana que ameaça transformar a sociedade em refém – risco presente no Brasil –, como de conflitos bélicos por motivações diversas que se multiplicam a cada dia.

Pela primeira vez desde os ataques a Nova York e Washington, portanto, representantes de países de todo o mundo têm diante de si uma oportunidade única de buscarem saídas para a paz em seu sentido mais amplo. Em ambos os casos, os resultados serão mais concretos se forem direcionados para saídas pragmáticas e complementares na busca de maior equilíbrio nas relações entre países ricos e pobres, na redução das desigualdades entre pessoas e de maior harmonia entre os povos.


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01/29/2002


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