Governo de SP e empresários debatem como expandir produção do etanol



Formação de mão-de-obra capacitada para o setor sucroalcooleiro foi um dos temas abordados no evento

Especialistas, industriais e autoridades governamentais iniciaram debate em busca de soluções para a falta de energia, prevista para ocorrer em 2011, e concluíram que a alternativa ao petróleo (mais poluente e esgotável) está no aumento da produção de bioenergia, em especial o etanol. Para viabilizar a produção desse recurso limpo e renovável, os empresários afirmam ser necessário financiamento para a aquisição de novos equipamentos, desenvolvimento e uso de tecnologias inovadoras, formação de profissionais capacitados e logística de transporte e distribuição, entre outras necessidades.

No primeiro dos oito encontros programados – centrado no tema “Cadeia Industrial de Biocombustíveis” – o segundo vice-presidente da Fiesp, João Guilherme Sabino Ometto, declarou que “não se faz desenvolvimento sem energia”. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, afirmou que “a solução está no bagaço da cana-de-açúcar”. O diretor de tecnologia e desenvolvimento da empresa Dedini S/A, José Luiz Olivério, acrescentou que a solução para uma crise energética passa pela chamada revolução das três bios (produção integrada de bioeletricidade, bioetanol e biodiesel).

Os próximos seminários (veja abaixo os temas, datas e locais) abordarão todos os aspectos para o desenvolvimento de bioenergia: do financiamento até o produto chegar ao consumidor. Promovidos pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento, os seminários cumprem dois objetivos: servem para a Comissão de Bioenergia do Estado (criada em abril e composta por 14 grupos multidisciplinares) apresentar os trabalhos elaborados aos industriais do setor sucroalcooleiro e para que os empresários apresentem propostas, sugestões e alternativas para expandir a produção do etanol.

Expansão da cana

A meta da Comissão de Bioenergia é conduzir a expansão da produção de cana-de-açúcar (aumentar a produção em 50% até 2013), informa o coordenador da comissão, professor José Goldemberg. Ao final das consultas aos empresários e especialistas e do trabalho da equipe do governo, a comissão elaborará relatório (a ser entregue em outubro ao governador do Estado) com um conjunto de recomendações e propostas para a ampliação da produção de bioenergia. No momento, a Comissão estuda 56 projetos de expansão da produção do etanol.

Para Goldemberg, o aumento é boa para o Estado, desde que não tenha conseqüências ambientais, econômicas e sociais para São Paulo. Segundo ele, o desafio é usar a mesma área de produção com ampliação de produtividade e eficiência: “São Paulo produz dois terços do etanol brasileiro, e a cana ocupa área de 4,2 milhões de hectares. Se for necessário aumentar a área agrícola, isso será feito com a ocupação de região de pastagem (com adensamento de gado), sem comprometer a produção de grãos e mantendo as florestas intocadas”, diz Goldemberg.

O diretor do departamento de Infra-estrutura da Fiesp, Luiz Gonzaga Bertelli, diz que é preciso acabar com a “falsa acusação de que a expansão de cana prejudica a produção de alimentos (soja, feijão, milho). A cana ocupa área de 4 milhões de hectares e a área agriculturável brasileira é de 60 milhões de hectares. É uma aberração, também, dizer que haverá plantação no Pantanal e na Amazônia. Isso não é possível, porque a cana precisa de áreas secas”.

Melaço, bagaço, palha

Bertelli ressalta que é preciso buscar saídas a curto prazo para a escassez de energia, já que o consumo de eletricidade superou todas as marcas históricas. “Se continuar assim, um apagão em 2011 será inevitável”, alertou. Diz ainda que o Brasil não é auto-suficiente em petróleo (o consumo está em 2,1 milhões diários de barris e a produção não passa de 1,8 milhão).

Olivério informa que é preciso tirar o máximo proveito da cana aproveitando o bagaço, palha e co-produtos como a vinhaça. “Hoje há perda de 2,5% na extração e 8% na fermentação”. Além de tornar esses pontos eficientes, ressalta, é preciso investir em três tecnologias que terão impacto revolucionário para o setor: bioeletricidade (bagaço excedente), bioetanol (bagaço e palha) e biodiesel. A moagem de uma tonelada de cana produz 153 quilos de melaço (açúcar ou etanol), 276 quilos de bagaço e 165 quilos de palha.

A produção deve ser integrada (produtor e usina com práticas agrícolas, máquinas e dispositivos unificados). “O que se faz hoje é muito primário: joga-se a palha no chão e depois uma máquina faz a coleta do produto. Aí, junto com a palha, colhe-se areia, que estraga a caldeira (provoca abrasão). Solução péssima! É preciso integrar as operações, de modo racional e eficiente”, diz Olivério. Para ele, o primeiro passo seria o financiamento para modernização das usinas – passos que já estão sendo dados na Europa e nos Estados Unidos. De acordo com Goldemberg, para isso os empresários deverão contar com recursos do BNDEs.

Alcoolduto

O físico Laurício Junqueira, especialista em logística urbana, lembra que falta encontrar solução para o escoamento da produção, já que a riqueza do interior flui por três vias (marginais Pinheiros e Tietê e Rodovia dos Bandeirantes) recordistas em trânsito. “Passam por elas 1,1 milhão de veículos diariamente”.

Como parte da logística de transporte, José Goldemberg adianta que está em estudo a construção de um alcoolduto para escoar o etanol até os portos. São dois estudos: um seria uma tubulação (nos moldes de um gaseoduto) saindo da região de Ribeirão Preto. O outro usaria a Hidrovia do Tietê. Ambos com participação da iniciativa privada.

Num ponto, os empresários do setor concordam: todos pedem a formação de profissionais mais capacitados. “Falta mão-de-obra qualificada, de soldador a engenheiro”, avisa Aubert. Olivério é enfático: “Para São Paulo ser referência mundial em álcool precisamos ter a Universidade da Energia. Sem investimentos na educação corremos o risco de perder essa onda”. Goldemberg garantiu que novas unidades de Escolas Estaduais Técnicas irão atender a formação de mão-de-obra especializada.

Próximos encontros 

De acordo com a agenda elaborada, foram realizados quatro encontros sobre bioenergia. Os próximos:

11/09 – Zoneamento Socioeconômico e Cadeia Agrícola – Secretaria de Agricultura e Abastecimento

12/09 – Pesquisas científicas e tecnológicas – Fapesp – a confirmar

13/9 – Logística de transporte e mercado (tributos) – Fiesp

24/9 – Qualidade – IPT

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial

(I.P.)



09/11/2007


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