Humberto sai em defesa do ICI









Humberto sai em defesa do ICI
Secretário de Saúde não vê problema na contratação de uma empresa de Curitiba para informatizar a pasta, ao custo de R$ 21 milhões

Indiferente às críticas da oposição e de alguns aliados quanto à possível contratação do Instituto de Curitiba de Informática (ICI) para informatizar a Secretaria municipal de Saúde, o secretário Humberto Costa não poupou elogios à empresa. Ontem, durante entrevista, Humberto – potencial candidato do PT ao Governo do Estado – argumentou que o ICI já tem competência comprovada.
“É claro que a Prefeitura tem que manter o compromisso com o empresariado local, mas ela é cliente e tem que escolher o que já tem êxito comprovado no mercado”, enfatizou em seu primeiro dia de trabalho, após um descanso de 15 dias. O projeto do ICI está orçado em R$ 21.176 milhões (antes eram R$ 29 milhões) para serem gastos em três anos.

Humberto ressaltou que a informatização da Saúde é prioridade indiscutível da gestão petista. “Realizaremos o projeto queira o PFL ou não”, disparou em referência às críticas feitas pelo vereador Roberto Andrade, presidente municipal do partido. O secretário de Saúde acrescentou, porém, que a forma jurídica para a contratação da empresa não está definida, que dois projetos estão em análise e um terceiro está sendo aguardado pela PCR.

Em estudo estão a polêmica proposta do ICI e uma preparada pelo consórcio de empresas locais liderado pela Softex e orçado em R$ 22,9 milhões. Já a terceira opção é a empresa paulista SISP Tecnology, que ainda não encaminhou a proposta, mas desenvolve trabalho semelhante nas prefeituras paulistas de Santo André (PT), Guarulhos (PT) e São Caetano (PTB).

A polêmica em torno da possível contratação do ICI levou Humberto a admitir, pela primeira vez, a possibilidade de realizar uma licitação. “Não vou iniciar um projeto para ser impugnado. Poderemos analisar as três propostas e decidir que o melhor é a licitação. Tudo está em análise.”

Ele acrescentou, no entanto, que a empresa municipal de informática (Emprel) atuará apenas como gerente do projeto. “A Emprel está ciente que somente a longo prazo estaria em condições de realizar esse trabalho. No contrato queremos que a Emprel seja a detentora do know how do projeto, após a sua implementação.”

O descontentamento das empresas locais é visto como infundado pela Secretaria de Saúde. Segundo Humberto, a PCR teria oferecido cerca de 65% do trabalho ao empresariado local. “Eles não aceitaram, querem desenvolver tudo porque pretendem comercializar o know how”, argumentou.

Em nova defesa explícita ao ICI, Humberto diz que a empresa levou cerca de seis anos e investiu R$ 30 milhões para desenvolver o software que a PCR deseja. “Não é um processo fácil. O mercado local só tem idéias no papel. A prática é diferente.”

O projeto de informatização da Saúde deveria ter sido implementado até o final do ano passado. Porém, apesar da urgência não há nem mesmo um novo prazo para a PCR decidir o modelo jurídico que irá guiar a escolha da proposta vencedora. Tudo será decidido quando o prefeito João Paulo retornar das férias, na próxima segunda-feira.

O secretário assegurou, ainda, que o também criticado contrato com a Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), da Universidade de Brasília, no valor aproximado de R$ 5 milhões, será mantido. A empresa está responsável por prestar uma consultoria de gestão.


“Não há nenhuma escolha pessoal”, diz o secretário
Entre os principais argumentos apresentados pelo secretário municipal de Saúde, Humberto Costa, para a informatização da pasta está a redução de 30% nos gastos com farmácia e almoxarifado e nos contratos com a rede privada. A medida, segundo o secretário, representará uma economia anual da ordem de R$ 12,9 milhões. “Haverá uma racionalização dessas despesas. Atualmente, o controle de remédios e material praticamente não existe”, declarou.

Quanto ao elevado valor do projeto, o secretário avalia que o retorno é garantido. “Os R$ 21 milhões serão gastos ao longo de três anos. O orçamento previsto para a Saúde este ano é de R$ 140 milhões, dos quais cerca de R$ 65 milhões são da PCR e o restante é do SUS. Com a implementação do projeto estaremos investindo cerca de 5% do orçamento durante três anos”, contabilizou. Humberto acrescentou ainda que a informatização é necessária para que o município tenha condições de realizar atendimentos de alta complexidade, como determina o Ministério da Saúde.

Ainda segundo o secretário, o modelo do Instituto de Curitiba de Informática foi avaliado por uma comissão formada por representantes do Conselho Municipal de Saúde e vereadores de oposição. “O ICI está atuando numa cidade governada pelo PFL. Estamos sendo criteriosos, não há uma escolha pessoal”, enfatizou.

Quanto à legalidade para dispensa de licitação, Humberto declarou que tanto o ICI, a Softex e a Sisp Tecnology estão vinculadas a instituições sem fins lucrativos. “A lei 8.666 prevê dispensa de licitação nesses casos”, justificou.

LIXO – A PCR decidiu ontem adiar para o dia 11 de março a abertura dos envelopes do chamado “Edital do Lixo”. De acordo com o secretário de Serviços Públicos, José Ailton, as empresas solicitaram maior prazo para preparar as propostas. Para não prejudicar o recolhimento do lixo, a PCR manterá o contrato emergencial com a Cael e Andrade Guedes, além de firmar um novo com a Enterpa. Cada contrato tem validade de 180 dias. Participam da disputa as empresas Vega, Locar, Enterpa e Cael.


Roseana diz que não cede cabeça de chapa ao PSDB
Citando as pesquisas, presidenciável do PFL considera “impraticável” seu partido ceder a cabeça da chapa em uma possível aliança com os tucanos. Já o PT critica a pefelista lembrando o Governo Sarney

SÃO PAULO – A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), pré-candidata à Presidência da República, disse ontem, em São Paulo, considerar “impraticável” seu partido abrir mão de encabeçar a chapa presidencial, em uma possível aliança com o PSDB, se os índices atuais de pesquisa se mantiverem. “Não sei nem se vou sair candidata a presidente. Agora, se sair e tiver 21%, e o outro (o ministro da Saúde José Serra) 7%, acho impraticável (o PFL ser vice)”, afirmou.
Apesar da afirmação, a pefelista disse ainda considerar possível uma aliança com os tucanos.

“Nada é impossível em política. Depende muito da conjuntura futura. Vamos aguardar”, afirmou.
A governadora disse que vê com naturalidade o lançamento, hoje em Brasília, da candidatura do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), à sucessão de FHC. “O ministro Serra tem total direito de se candidatar. Qualquer cidadão brasileiro tem. Estou esperando boa sorte para o ministro Serra.”
Roseana afirmou, ainda, que não acredita que o quadro pré-eleitoral mudará em função do lançamento da candidatura de Serra. “Não acho que mude. Acho que é um partido (o PSDB) político forte e, evidentemente, teria um candidato. Pelo menos, um pré-candidato à Presidência”, afirmou, acrescentando acreditar que mais adiante PSDB e PFL “deverão conversar”.

A governadora negou que tenha criticado seus adversários no programa do PFL, que foi ao ar anteontem. “Não teve crítica. Eu apenas expus meu ponto de vista”, afirmou. No programa de TV do PFL, Roseana fez referência indireta a Serra e ao pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a inserção comercial, exibida em rede nacional de TV, Roseana afirmou que um presidente “não pode ser presidente da República de São Paulo, da República da CUT e da Repúbli ca do MST. Tem de ser presidente da República do Brasil”.

Em outra propaganda, disse que os eleitores “não deveriam votar em políticos cujas promessas sejam impossíveis”, lembrando o colapso financeiro argentino, relacionando o PT ao caos social naquele país. “Também disse que não podia ser presidente da República do Maranhão. Eu não estou atacando ninguém. Não faz parte da minha biografia a destruição de pessoas, nem de coisas”, disse.

No entanto, ontem o PT reagiu ao pronunciamento de Roseana. Num prenúncio da sua estratégia de campanha, os petistas incluíram no contra-ataque uma referência ao Governo de José Sarney (1985-90), pai da presidenciável. A governadora ocupou o cargo de assessora da Casa Civil no mandato do pai. “Roseana é a última pessoa que pode falar o que falou. Ela era a principal personalidade do Governo Sarney depois do presidente, conselheira direta dele”, declarou o presidente nacional do PT, José Dirceu.

“Tudo o que Roseana está falando da Argentina aconteceu no fim do Governo Sarney. Quando o Governo terminou, o País estava dividido, os políticos desmoralizados. Ela precisa explicar isso”, afirmou Dirceu.


Garotinho fortalece candidatura no Recife
SÃO PAULO – O governador do Rio de Janeiro e pré-candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, chega hoje ao Recife para reforçar seu projeto eleitoral no Estado. Na agenda terá compromissos de candidato, a começar por uma reunião no Diretório Regional do PSB, onde apresentará o esboço do seu programa de Governo.

À noite, Garotinho participa de um evento de música gospel que será realizado na Praça do Marco Zero, Bairro do Recife. Ele congrega boa parte do eleitorado entre os evangélicos, por integrar a Igreja Presbiteriana.

No próximo domingo, o governador do Rio deverá se reunir com o senador José Alencar (PL-MG) e com o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto (SP), para discutir a sucessão presidencial. Alencar descarta que o encontro seja para articular uma possível candidatura sua ao cargo de vice na chapa de Garotinho. Segundo ele, irá tratar de uma possível coalizão entre as oposições para o lançamento de um candidato único à disputa.

“Estou trabalhando pela unidade das oposições. Nenhum partido, por maior que seja, consegue eleger um presidente da República isoladamente”, disse Alencar. A assessoria de Garotinho confirmou o encontro.

O senador, que já foi cogitado por diversos partidos, entre eles o PT, como um forte candidato a vice-Presidência, disse que não irá aceitar nenhum dos convites. “Não quero nada. Meu mandato vai até janeiro de 2007 e só quero participar de um projeto para o País”, disse o senador.

Na segunda-feira, o senador estará em São Paulo, para conversar com o possível candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. O assunto será a tentativa de união das oposições.
O PL, que abriga diversos políticos ligados a igrejas evangélicas, já havia ensaiado uma aproximação com o PT.


José Serra oficializa candidatura
BRASÍLIA – O ministro da Saúde, José Serra, lança hoje às 12h a sua pré-candidatura presidencial, na Câmara dos Deputados. Além da Executiva do PSDB, deverão estar presentes os seis governadores do partido, com destaque para Tasso Jereissati (CE), cuja presença ainda era uma incógnita. A única dúvida é Dante de Oliveira (MT), que se recupera de uma infecção intestinal.

O governador cearense deverá fazer uma aparição relâmpago, só para tentar roubar a cena e ofuscar o brilho de Serra. Em suas declarações, Tasso não esconde que apoiará o ministro apenas por uma questão partidária. “Meu compromisso é com o PSDB. Se essa é a decisão do partido, eu estarei desse lado”, disse.

É esperada ainda a presença da família Covas e de parlamentares tucanos. O presidente Fernando Henrique Cardoso não vai comparecer porque só retorna hoje à noite da viagem à Rússia e à Ucrânia.

Além de Tasso, outro ex-pré-candidato tucano, o ministro Paulo Renato (Educação), também confirmou presença. Tucanos que apoiavam a candidatura de Tasso, como o senador Geraldo Melo (RN) e os ministros Pimenta da Veiga (Comunicação) e Arthur Virgílio (Secretaria Geral), prestigiarão o evento.

O ministro fará um discurso no qual deverá evitar ataques a adversários e o detalhamento de seu plano de governo. Irá priorizar sua biografia e a disposição de suceder FHC na Presidência. Ele não pretende conceder entrevista após o discurso. Serra passou o dia de ontem em sua casa, em Brasília, e evitou dar entrevistas.

COMPROMISSO – O primeiro compromisso político de José Serra será no Nordeste. Menos de 24 horas depois de se lançar na corrida presidencial, em Brasília, Serra desembarcará amanhã no Rio Grande do Norte. De Natal, seguirá direto para Mossoró, a segunda maior cidade do Estado, onde vai lançar o Programa Bolsa-Alimentação e inaugurar uma nova ala do hospital Tarcísio Maia. Encerrado o compromisso de trabalho, o ministro encarnará o candidato, testando a receptividade de seu nome na convenção municipal do PSDB.

“A agenda do ministro já estava pronta, mas a visita a Mossoró depois do lançamento da candidatura é uma boa coincidência”, diz o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA). Ele se refere ao fato de o ministro prestigiar, logo na primeira viagem, o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN), reconhecido como um dos partidários da candidatura de Tasso Jereissati.


Itamar admite pela primeira vez aliança com governistas
BELO HORIZONTE – O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), admitiu ontem, pela primeira vez, uma eventual composição, para a eleição deste ano, com o ministro da Saúde e pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ou com a governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL, Roseana Sarney. A possível aliança de Serra, com Itamar na condição de vice, foi sugerida na semana passada pelo empresário paulista Antônio Ermírio de Morais. O governador também não descartou acordos com outros candidatos, como o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

Depois de encontrar-se com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), com o qual debateu as prévias do partido, marcadas para março – nas quais disputará a indicação para concorrer à Presidência com o senador Pedro Simon e com o ministro Raul Jungmann –, Itamar deu entrevista durante passeio pelos jardins do Palácio da Liberdade.

Questionado sobre um suposto acordo com Serra ou com Roseana, disse que “tudo é possível”. Itamar afirmou ainda que sua principal preocupação, no momento, não é com a oposição, da qual vem fazendo parte desde que assumiu o Governo de Minas, mas sim “com a outra margem do rio”. Ele se referia ao próprio PMDB – onde haveria governistas dispostos a minar sua candidatura à Presidência – e ao PFL e ao PSDB, onde estão Serra e Roseana Sarney. “Às vezes, para atravessar o rio faz-se uma pinguela”, disse.

“Eu como engenheiro sei fazer pontes, mas lá (do lado do Governo) também há bons engenheiros, que fariam uma boa ponte”, acrescentou, reforçando a idéia de que pode se aproximar das forças de situação.


Jungmann convoca Itamar e Pedro Simon para debates
BRASÍLIA – O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, comunicou por carta ao governador de Minas Gerais, Itamar Franco, e ao senador Pedro Simon (RS), sua decisão de disputar as prévias do PMDB, nas quais será escolhido o candidato do partido à Presidência da República.

Na carta, Jungmann explicou que o motivo de sua candidatura era “discordar da possibilidade de uma gestão conservadora, que não representasse as correntes políticas de centro-esquerda no Brasil”.

No documento, o ministro formalizou a proposta para que sejam realizados debates entre eles antes da prévia do dia 17 de março. O ministro sugere que sejam realizados três debates: em Belo Horizonte, em Porto Alegre e no Recife.

Após ter sido criticado por setores do próprio PMDB, do PFL e do PSDB depois do lançamento de sua pré-candidatura, Jungmann diz na carta que o partido precisa “recuperar o gosto pela disputa do poder”. “O PMDB não pode ser mero coadjuvante no debate para a escolha do presidente da República, aceitando o prato frio do que lhe servirem”, alega o ministro, propondo que o partido lidere a formação de uma chapa para a disputa sucessória.

A candidatura de Jungmann surpreendeu o próprio PMDB e não faltaram teses políticas sobre a possibilidade de o ministro ser uma espécie de “laranja” de José Serra. Ou seja, ao atacar o PFL, levantou-se a hipótese de que o objetivo da candidatura de Jungmann é beneficiar o ministro da Saúde e viabilizar no PMDB uma coligação com o PSDB.


Artigos

O padre Vieira e a Prefeitura
Gustavo Krause

O sermão é uma prédica religiosa. Espécie da oratória sacra que exerce a mediação entre a verdade revelada e o povo de Deus, o sermão, também, usa a palavra para interpretar a correspondência entre os cânones evangélicos e a narrativa histórica; conclama os fiéis para viver em consonância com a mensagem providencial e profética cuja realização são atos e fatos históricos da ordem humana.

O padre Antonio Vieira, jesuíta longevo, 89 anos (1608/1697), numa época em que a expectativa de vida não ultrapassava os trinta anos, foi o mais eloqüente pregador da Igreja contrarreformista bem como o autor da obra mais extensa e de conteúdo mais diversificado e profundo.

Entre outras coisas, a produção de Vieira foi marcante por conta do tipo de reflexão que fez, ao se apropriar dos fatos naturais e históricos, sem perder o modelo sacramental dos sermões, um instrumento – como já foi dito – de mediação entre a ordem divina e a ordem humana.

Um dos mais respeitáveis estudiosos da obra de Vieira, Alcir Pécora, assinala que: “No modelo sacramental dos sermões, não somente se acentuam os sinais da divindade no mundo das criaturas, mas também a propriedade delas na condução do governo deste mundo. Tais atos se constituem, então, como verdadeiro ‘documento aos príncipes’, como razão de Estado que convém ser conhecida mesmo por aqueles que, como os príncipes e os políticos, agem menos pelo voluntário da fé do que pelo prudente da razão”.

Dito isto, vale, pela notável atualidade e valor universal, mencionar algumas passagens na pregação de Vieira que bem poderiam constituir uma cartilha dos políticos e, mais especificamente, dos governantes.

Ao ensinar que “Não há fim sem meios” (ainda que, para ele, os meios fossem tão “Providenciais” quanto os fins), uma diabólica tentação retórica poderia aclamar Vieira como o mais maquiavélico dos jesuítas e o mais jesuíta dos maquiavélicos ou, numa medida mais justa e não herética, classificá-lo como o mais racionalista dos cristãos e o mais cristão dos racionalistas.

De fato, para Vieira, a “política do Céu” não repugna a “política de obras” o que confere ao governante a virtude de usar a arte da política como uma técnica justa e racional dos meios.
No Sermão de São Roque, 1644, ele trata do funcionamento da máquina como o foco especial no Tesouro – a “coisa quase sagrada” –, ao ensinar: “Quiseram luzir quando haviam de poupar, e vieram a mendigar quando haviam de luzir. Apagaram as luzes quando haviam de luzir, porque não souberam estreitar os cintos; não souberam poupar antes, não puderam luzir depois”.

Não faltaram, também, conselhos para o voraz apetite dos gestores de impostos (aqueles da equipe econômica, por exemplo, que querem aumentar a CSLL e estropiar a pequena empresa prestadora de serviços): “Não sejam os remédios particulares: sejam universais; não carreguem os impostos sobre uns, carreguem sobre todos”.

Entre os ensinamentos que servem para todos, há um que cai como uma luva sobre a atual gestão da Prefeitura do Recife, atarantada diante dos indicadores de fraco desempenho administrativo, que diz o seguinte: “A peste do Governo é a irresolução. Está parado o que havia de correr, está suspenso o que havia de voar, porque não atamos nem desatamos, não debalde escolhe Cristo para o governo de sua casa um homem tão resoluto como Pedro” (grifos meus).

Não foi João, nem Paulo, foi Pedro, o apóstolo resoluto, o escolhido para decidir, fazer e construir a monumental obra de uma Igreja, hoje, milenar.

Melhor faria o prefeito do que criar comissão anti-burocracia, do que contratar competentes “marqueteiros”, do que importar, a um preço salgado, talentos de outra praça, se exercesse a atribuição inerente a quem governa que é resolver, decidir e fazer acontecer.

Para tanto, Vieira, o sábio jesuíta, sairia mais barato: um consultor que se contentaria, lá do céu, com os modestos óbolos doados a uma paróquia recifense.


Colunistas

PINGA-FOGO
Paulo Sérgio Scarpa (interino)

Campanha na rua
O PSDB parece que despertará de um sono letárgico ao lançar, hoje, a candidatura de José Serra, ministro da Saúde, à Presidência da República. Dessa forma, o Governo FHC contará, a partir de agora, com um porta-voz credenciado para responder às inúmeras críticas da oposição e assumirá, de vez, que a campanha eleitoral de 2002 já está nas ruas.

Por certo, o gesto do PSDB repercutirá nos Estados onde o partido, como ocorre em Pernambuco, não é governo mas integra aliança que dá sustento ao Governo do Estado. E os tucanos poderão, enfim, ficar mais calmos, mas nem tanto, quanto a uma debandada de correligionários para o ninho de Roseana Sarney (PFL). Mas a rota do vôo dependerá apenas do comportamento de Serra nas pesquisas eleitorais.

É significativo, porém, a presença de Serra no Rio Grande do Norte, amanhã, na primeira viagem como candidato oficial do presidente tucano FHC. No Nordeste estão, hoje, grande parte dos recursos do Ministério da Saúde, principalmente do Projeto Alvorada, que promete sanear os municípios do Interior. Se faltar, então, munição ou mesmo carisma ao candidato tucano, pelo menos José Serra poderá cobrar todos os recursos que já enviou aos hospitais, hemocentros e setores da saúde.

Raul visita municípios
Candidato nas próximas eleições, o secretário de Educação, Raul Henry (PMDB), retorna das férias para iniciar, imediatamente, visitas a vários municípios. Ele está explicando as bases do Programa Recursos nas Escolas em Catende, Limoeiro, Caruaru, Araripina, Petrolina e Serra Talhada. O programa conta com R$ 20 milhões do Projeto Alvorada e R$ 10 milhões da venda da Celpe. Para diretores, professores e funcionários decidirem onde e como aplicar o dinheiro em cada escola.

Para todos
Os 14 prefeitos do Grande Recife apelaram ao vice Marco Maciel para viabilizar o acesso dos recursos do Projeto Alvorada (saneamento básico) a todas as prefeituras da Região Metropolitana. Quando o PSDB conseguir trazer a Pernambuco o presidenciável José Serra, o pedido poderá ser feito diretamente ao ministro da Saúde.

Fora da campanha
Eduardo Campos (PSB) não confirma a participação do diretor Guel Arraes, da TV Globo, na campanha de Anthony Garotinho. “Ele nem pode fazer isso por contrato”, explica. Dudu lembra que Guel “deu alguns pitacos” em dois programas do PSB a pedido do pai, Miguel Arraes. Sugeriu mudança no roteiro para dar mais ritmo ao programa.

Câmara devolve R$ 51 milhões, diz Severino
A Câmara dos Deputados devolveu ao Tesouro R$ 51 milhões que sobraram do orçamento de 2001. “Reduzimos custos e per centuais dos contratos com fornecedores”, revela o 1º secretário Severino Cavalcanti (PPB).

PFL acha que Magalhães ainda está no partido
O site do PFL insiste em manter Roberto Magalhães no partido. O seu nome consta ainda da lista dos membros do Conselho Consultivo 2000. Só que Magalhães deixou o PFL em setembro de 2001 para entrar no PSDB.

Contador de votos
Inocêncio Oliveira entusiasma-se pela candidatura Roseana Sarney (PFL). Na impossibilidade de citar números de pesquisas eleitorais, diz que está contando votos para ela. Em Águas Belas, surpreendeu-se com a cotação da governadora: Lula continua na preferência do povo, mas Roseana está logo em seguida, diz ele.

Sigilo mantido
A comissão especial que trata das indenizações a ex-presos políticos determinou sigilo total para tudo o que for discutido e decidido em suas reuniões. A partir de agora as informações só serão reveladas após o encerramento do processo e ainda assim com autorização da família. Embora o dinheiro seja público.

João Paulo e Luciana Santos deram sinal verde para a criação de uma escola municipal, em tempo integral, em Peixinhos, que será mantida pelas duas administrações. Idéia dos secretários Edla Soares (Recife) e Horário Reis (Olinda). Promete ser a primeira de uma série de parcerias entre as duas administrações.

Não é apenas Inocêncio Oliveira que considera Roberto Freire (PPS) uma boa aquisição para a aliança PMDB/PFL. O deputado José Mendonça (PFL) diz considerar o senador um “bom quadro”, mas se exime de dar qualquer palpite sobre a ampliação da aliança. “Isso é coisa para o governador”, adianta.

O presidenciável do PSB Anthony Garotinho é o entrevistado de hoje de Geraldo Freire, às 11h, na Rádio Jornal. Depois, almoça com a imprensa no Galo de Ouro; reúne-se com a cúpula do PSB na Câmara Municipal e segue para o Sindicato dos Jornalistas para ouvir as queixas dos servidores da extinta Sudene.

O prefeito Fernando Bezerra Coelho (PPS) só vive em reunião e até seus assessores não conseguem mais falar com ele. Deve ser influência petista, começam a dizer. Mas o prefeito de Petrolina parece sofrer mesmo influência da vizinha Bahia: mães-de-santo irão “purificar” as ruas de Petrolina com incenso e água de cheiro no Carnaval.


Editorial

A CHUVA E A SAFRA

De acordo com os entendidos em agricultura desta Região, só garantem boas safras no semi-árido nordestino as chuvas bem distribuídas, no tempo e no espaço. Mas a natureza não age de acordo com os interesses e planos humanos. As enxurradas que têm caído em todo o Estado são atribuídas a uma frente fria que vem do Sudeste, mas, na verdade, coincidem com o calendário pluviométrico do Sertão, cujo período chuvoso vai de janeiro a abril.

Barreiros, açudes e cisternas estão cheios, mas só isso não assegura a boa colheita. Em matéria publicada neste jornal, no último dia 11, Mariana Camarotti divulga as opiniões dos técnicos agrícolas, que afirmam serem as precipitações este mês favoráveis ao plantio, mas que só teremos uma boa safra se chover também durante a germinação e floração, que ocorrem em fevereiro e março, no Sertão; em março e abril, no Agreste; e maio e junho, na Zona da Mata. A expectativa é muito grande, principalmente depois da queda da última safra de alguns produtos, em função da seca que já vinha de anos anteriores, quando vinte mil agricultores de 47 municípios pernambucanos produziram pouco, por falta de chuvas, alguns perdendo suas lavouras de milho, feijão e até de mandioca.

O Governo do Estado iniciou há poucos dias a distribuição de 286 toneladas de sementes para os agricultores familiares (os que cultivam até um hectare de área) no Sertão Central e do São Francisco. Para os do Agreste, da Zona da Mata e do Sertão do Araripe serão distribuídas outras 1.773 toneladas de sementes de feijão, milho, algodão e sorgo. Sabe-se que se novas chuvas, mais moderadas, não caírem nos períodos de germinação e floração, a maior parte desse dinheiro (R$ 4,2 milhões) estará perdida. Mas, é preciso arriscar nesta Região de estações incertas, onde a rotina é a imprevisibilidade. E não só o camponês, que faz isso há séculos, deve arriscar suas economias. O Estado, também, precisa arriscar em soluções tradicionais.

A reportagem citada informa que apenas nos dez primeiros dias de janeiro choveu 33% do que estava previsto para todo o ano de 2002. A água causou alegria, mas também mortes, inundações, desmoronamento de casas. Nem todas as 1.835 cisternas anunciadas para Pernambuco no programa federal “Um Milhão de Cisternas para as Famílias do Semi-árido Brasileiro”, anunciadas em agosto de 2001, foram construídas. Ainda assim, houve uma grande captação de água pelos sertanejos, pois cada cisterna, de acordo com o plano, teria condições de armazenar 16 mil litros.

Chuvas torrenciais e intensas, em períodos muito curtos, segundo ensinam os agrônomos, tendem a empobrecer, mais ainda, o solo não protegido por vegetação. O coordenador de uma pesquisa sobre a natureza do solo regional feita sob o patrocínio da Universidade Federal de Pernambuco, agrônomo Ignacio Hernam Salcedo, explicou em entrevista a este Jornal que as áreas cultivadas no Semi-Árido têm de 30% a 50% menos matéria orgânica do que as áreas cobertas com vegetação nativa. Disse ainda o pesquisador que “a chuva forte numa encosta arrasta todos os nutrientes, concentrados nos dez centímetros superficiais do solo”. Informou que os principais desses nutrientes são o carbono, o nitrogênio, o fósforo e o potássio.

Para aqueles que vêem na irrigação a solução para os problemas de falta periódica de chuva, a má notícia é a tecnologia moderna, aplicada em solos rasos, precipita a salinização. Conforme vem pregando há anos o agrônomo Jorge Coelho, da extinta Sudene, e agora é repetido pelo seu colega mais moço Manuel de Jesus Batista, “regiões com menores precipitações são climaticamente mais susceptíveis de terem seus solos salinizados pela irrigação”. Todas essas questões começam, agora, a ser repensadas, depois das chuvas torrenciais caídas no Sertão, neste mês de janeiro.


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01/17/2002


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