Inclusão digital não pode ocorrer somente onde dá lucro, diz dirigente da ANID



Para mudar a realidade de isolamento dos excluídos digitais, é preciso mudar a lógica de investir somente onde há retorno garantido para as empresas. Foi o que disse Percival Henriques, presidente da Associação Nacional para Inclusão Digital (Anid), durante audiência pública que discutiu a Inclusão Digital como Fator de Desenvolvimento Regional, realizada nesta terça-feira (28).

Segundo Percival, os governos, as operadoras e a sociedade têm de participar de um esforço coletivo. Pequenas empresas devem ter facilidades de financiamento para ofertar acesso à internet a localidades menores e mais distantes.

- O excluído digital está para a tecnologia como a mosca que bate no vidro da janela tentando sair. E a exclusão digital é silenciosa. Quem passa fome pede, faz barulho, mas para quem é excluído digitalmente, as oportunidades vão passando e ele não vê - declarou, avaliando que a privatização da telefonia teve a "lógica perversa" de concentrar a oferta nos grandes centros.

O processo da privatização, segundo disse, tinha a inovação como ideia primeira. Para ele, porém, mas se não houver foco na socialização do conhecimento, de nada adiantará a inovação. A senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), autora do requerimento de realização da reunião, defendeu as privatizações, que, segundo disse, foram responsáveis pela democratização e inclusão a um serviço que não era acessível à população de baixa renda.

Prioridade

Para atestar que a inclusão digital está no centro das preocupações do governo Dilma Rousseff, foi criada em maio uma Secretaria de Inclusão Digital, no âmbito do Ministério das Comunicações, explicou por sua vez a secretária Lygia Pupatto. O órgão busca fazer a articulação das políticas de inclusão digital de todo o governo e aumentar o acesso, com qualidade e velocidade e em todos os lugares do país, mesmo os mais longínquos, para superar os números de 2009, quando se aferiu que somente 30% da população brasileira têm acesso à internet.

- É um desafio criar uma cultura digital no país, que a sociedade tenha acesso a ela e entenda os benefícios que isso pode trazer - disse.

Desde o governo passado, disse a secretária, já receberam auxílio do governo 14.580 equipamentos públicos, como escolas, bibliotecas, espaços comunitários. Segundo Lygia Pupatto, foram instalados telecentros e conexão com a internet e implementada a formação de agentes de inclusão digital. Para o futuro, entre outras ações, estão a formação e pagamento de bolsas para agentes de inclusão digital, recrutados dentro das próprias comunidades; o investimento na criação de "cidades digitais" e a expansão da banda larga, que prevê investimentos em quase de 4.400 municípios brasileiros até 2014.

Um dos responsáveis pela condução do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) é a Telebrás, que foi representada na audiência pública pelo gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, Paulo Eduardo Kapp. O PNBL deve massificar, até 2014, a oferta de acessos banda larga e promover o crescimento da capacidade da infraestrutura de telecomunicações do país.

- A banda larga traz vantagens econômicas, sociais, administrativas e de serviços - explicou.

Com o plano, será possível fomentar o desenvolvimento, gerar emprego e renda, principalmente no interior e na periferia dos grandes centros e aprimorar a máquina governamental, com geração de conteúdo para a rede administrativa, e para educação, saúde e segurança pública, prometeu Kapp.

Cidade digital

A cidade de Canela, no Rio Grande do Sul, que tem quase 40 mil habitantes, é considerada uma das cidades digitais modelo no país, como rede de internet desenvolvida em parceria entre o município, o governo federal e a iniciativa privada. Estão conectadas prefeitura, secretarias, câmara de vereadores e escolas, explicou Roberto Basei, secretário municipal de Fazenda.

Pela internet, acessível em telecentros e via wi-fi, podem ser checadas informações educacionais, como histórico escolar e controle de merenda, e informações de saúde, como o prontuário do cidadão. A idéia foi elogiada pelos senadores Eduardo Amorim (PSC-SE), que presidia a reunião, e Cícero Lucena (PSDB-PB) e Ana Rita Esgario (PT-ES). Informações para os turistas, responsáveis por 60% da economia do município, também estão reunidas, com guia de visitações e eventos. O morador pode acompanhar ainda as contas governamentais.

O painel "Inclusão Digital como Fator de Desenvolvimento Regional" foi o segundo realizado no Ciclo de Debates da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) destinado a examinar os entraves existentes ao desenvolvimento regional no Brasil, tais como logística, inclusão digital e guerra fiscal.



28/06/2011

Agência Senado


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