Ingresso da Venezuela desloca epicentro do Mercosul, diz embaixador




Empresas de regiões menos desenvolvidas do Brasil terão oportunidade de crescer, afirma Ruy Pereira

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O ingresso definitivo da Venezuela no Mercosul desloca para o norte o epicentro geográfico do bloco, disse nesta quinta-feira (17) o embaixador designado para representar o Brasil em Caracas, ministro de primeira classe Ruy Carlos Pereira. Com isso, empresas sediadas em regiões menos desenvolvidas do Brasil também terão mais oportunidades de crescer por meio do comércio e dos investimentos, disse o diplomata, cuja indicação foi aprovada pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e será agora examinada em Plenário.

Com a participação da Venezuela, ressaltou o diplomata, o Mercosul estende-se agora da Patagônia ao Caribe e reúne 70% da população e 80% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul, além de contar com 20% das reservas provadas mundiais de petróleo – sem contar o pré-sal brasileiro – e recursos naturais como a extensa biodiversidade e grandes recursos hídricos.

Depois de firmar com o país vizinho uma aliança estratégica, observou, o Brasil multiplicou por oito suas exportações para a Venezuela, que fornece ao país seu segundo maior superávit comercial, depois apenas da China. Em 2012, o Brasil exportou US$ 5 bilhões – dos quais 65% em produtos industrializados, de alto valor agregado – para a Venezuela e importou apenas US$ 1 bilhão.

- O mais relevante é que o Mercosul desloca para o norte seu epicentro geográfico, agregando interesses, negócios e oportunidades ao Norte e ao Nordeste do Brasil. A primeira empresa exportadora do Brasil para a Venezuela está no Pará. Quatro das seis maiores exportadoras para a Venezuela estão no Norte do Brasil. Tudo isso trará um conjunto enorme de oportunidades para uma das regiões mais carentes do Brasil – afirmou Pereira.

Segundo o embaixador, empresas brasileiras encontram-se em boa posição para se beneficiar do processo de “despetrolização” da economia da Venezuela, uma prioridade do governo daquele país. Ele recordou que 97% das exportações venezuelanas são de petróleo e derivados e que o país vizinho importa "quase tudo", abrindo “oportunidades extraordinárias” para uma “potência industrial e de agribusiness como é o Brasil”.

Pereira informou ainda que pretende ampliar a cooperação com o país vizinho na área da cultura. Ele citou a necessidade de se ampliar a “dimensão indígena do processo de integração” e de aproximar afrodescendentes dos dois países, uma vez que a população negra do Brasil teria “conexão íntima” com os afrodescendentes do Caribe.

Integração

Relator da mensagem presidencial de indicação de Pereira, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) defendeu uma “integração mais efetiva” entre parlamentares dos dois países, para maior conhecimento mútuo. O senador José Agripino (DEM-RN) disse ter desconfianças em relação ao futuro do Mercosul e observou que países com economias mais abertas, como o Chile, a Colômbia e o Peru, estariam obtendo resultados mais favoráveis no comércio internacional.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) pediu ao embaixador explicações sobre os motivos que teriam levado a Venezuela a desistir de sua participação na construção, em Pernambuco, da refinaria Abreu e Lima. Por sua vez o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) defendeu maior participação de empresas de Roraima, estado que faz fronteira com a Venezuela, no comércio bilateral. O senador Jorge Viana (PT-AC) defendeu maior aproximação entre os povos dos dois países, além do fortalecimento do turismo. E o senador Romero Jucá (PMDB-RR) alertou para o risco de desabastecimento de energia em Roraima, devido a problemas enfrentados pela usina hidrelétrica de Guri, na Venezuela.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) demonstrou preocupação com a inflação crescente e a “violência generalizada” na Venezuela. Por sua vez, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) considerou ser necessário obter maiores informações a respeito da oposição política e da “dinâmica futura” do quadro político da Venezuela. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) elogiou a Venezuela por haver erradicado o analfabetismo e obtido avanços consideráveis no seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos últimos 15 anos. Ao final da sabatina, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) ressaltou a vantagem de Pereira ser indicado para representar o Brasil na Venezuela após ter sido representante permanente do Brasil junto ao Mercosul, em Montevidéu. A reunião foi presidida pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).



17/10/2013

Agência Senado


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