Inquérito vai apurar denúncia de corrupção no Congresso



 





Inquérito vai apurar denúncia de corrupção no Congresso
BRASÍLIA - A oposição se articula para instaurar um inquérito e apurar a formação de um consórcio de donos de agências franqueadas dos Correios para pagar R$ 2,2 milhões a deputados federais pela aprovação do projeto de lei 5682/2001, que renova por cinco anos seus contratos de exploração. O Jornal do Brasil revelou ontem que os franqueados do Rio se reuniram, em 25 de abril, para acertar a arrecadação de R$ 286 mil - 13% do montante nacional -, em três parcelas. A denúncia teve grande repercussão entre os deputados.

Até líderes do governo mostraram-se chocados com os fatos e admitem a abertura de uma investigação.

Para o procurador da República Alexandre Camanho, o caso é grave. Ele declarou que todo o procedimento legislativo adotado pelo Congresso para tratar da renovação das concessões está maculado. ''A renovação é contrária ao espírito da Constituição'', criticou. ''Essa renovação é congenitamente inconstitucional, ainda mais com esses ingredientes financeiros, que deixa o Congresso sob suspeição.''

O deputado José Genoino (PT-SP) quer que a denúncia seja investigada pelo Conselho de Ética da Câmara. ''O PT vai apresentar um requerimento para investigar essa história'', declarou. Genoino não se mostrou surpreso. ''A gente já tinha ouvido falar desse boato de que dinheiro estaria saindo para parlamentares'', disse.

O líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira (RJ), considerou o caso ''da maior gravidade''. ''O Ministério Público Federal certamente vai instaurar um processo, mas a Câmara também deve abrir um inquérito específico'', disse. Ele declarou que se a Mesa Diretora da Câmara não tomar a iniciativa de apurar a denúncia, que envolve a Associação dos Correios Franqueados do Estado do Rio de Janeiro (Acoferj) e a Associação Brasileira das Franquias de Correio (Febrafranco), ele próprio vai apresentar o requerimento. ''Essa é uma história que não pode acabar sem a prisão de algumas pessoas'', avisou.

Para Miro, ''se a denúncia de corrupção for verdadeira, os parlamentares responsáveis têm de ser condenados e presos'', disse. ''Se for apenas um caso de estelionato de alguém que pretende tapear cidadãos a pretexto de recolher dinheiro para si mesmo, o autor da trama precisa ir para a cadeia.''

O ministro das Comunicações, Juarez Quadros, informou que não concorda com a prática adotada pela associação nem tinha conhecimento do assunto. Quadros vai analisar a questão para saber que providência tomar.

O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), disse ter ficado indignado com a denúncias. É um conjunto de insinuações, suposições, mas o PSDB não tem complacência com este tipo de denúncia.'' Aníbal defende uma investigação sobre o assunto.


Cresce pressão para investigar Ricardo Sérgio
Deputados da Oposição e Ministério Público tem novos elementos

BRASÍLIA - A denúncia de que a propina de R$ 15 milhões, supostamente exigida pelo ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira ao empresário Benjamin Steinbruch, teria sido parcialmente paga, reforçou a disposição da oposição no Congresso de investigar o caso. A semana começa com os parlamentares do PT, na Câmara e no Senado, batendo pé sobre a necessidade da convocação de Ricardo Sérgio, Steinbruch, o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e do ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. "Depois do que saiu neste fim de semana, o governo não pode querer barrar o convite para que compareçam ao Senado", disse o senador José Eduardo Dutra (PT-SE). Na semana passada, a Comissão de Fiscalização e Controle do Senado aprovou requerimento da oposição convidando os quatro a prestarem esclarecimento sobre o caso. Mas não marcou data. "A bola está na mão do presidente da comissão, Amir Lando (PMDB-RO), que precisa encaminhar os convites", disse o senador petista.

As reportagens das revistas Veja e Época, deste fim de seman a , denunciando pagamento parcial da propina por Steinbruch a Ricardo Sérgio, levaram o PT a se preparar para deflagrar uma nova ofensiva. "Se o convite ficar parado, vamos apre-sentar um requerimento convocando Paulo Renato a depôr", avisou Dutra.

Enquanto cresce a gana da oposição no Senado, o Ministério Público detona hoje a abertura de mais dois inquéritos no âmbito da Polícia Federal. O procurador da República Luiz Francisco de Souza, que vem investigando há quase um ano as atividades de Ricardo Sérgio, anunciou ontem que requisitará à PF a abertura de um inquérito para apurar toda as suspeitas sobre a privatização da Vale do Rio Doce, quando teria ocorrido o pedido de Ricardo Sérgio a Steinbruch.

O empresário liderou o consórcio que arrematou, por R 3,4 bilhões, a ex-estatal. Ricardo Sérgio atuou na montagem do consórcio, garantindo que a Previ entrasse com parte do dinheiro. Mas Luiz Francisco quer mais. "Vamos pedir também a abertura de outro inquérito para apurar as condições do empréstimo concedido pelo Banco do Brasil ao empresário espanhol Gregório Marin Preciado (contraparente do candidato tucano à Presidência José Serra)", anunciou o procurador. De acordo com denúncia da Folha de S. Paulo, publicada na última sexta-feira, as empresas de Preciado - a Gremafer e a Aceto - teriam recebido, graças à intervenção de Ricardo Sérgio, desconto de R 73,7 milhões do Banco do Brasil, na renegociação de dívidas que ambas mantinham com a instituição desde 1993.

O presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), jura que o governo não teme uma investigação. Ele defendeu a apuração das denúncias sobre pagamento de propina na privatização da Vale, relatadas na semana passada por Veja e novo alvo de denúncias no último final de semana.


''O lugar de Serra é na rua''
BRASÍLIA - O sotaque baiano é indefectível. A verborragia também. Aos 43 anos, o líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Geddel Vieira Lima, faz de tudo para arrastar o partido para a aliança com o tucano José Serra na disputa pela presidência da República. Afinadíssimo com o candidato, defende que se deixe de lado a politiquice de Brasília e o papapá-pepepé das supostas ligações de Serra com Ricardo Sérgio de Oliveira. Engrossa argumentos do ex-ministro da Saúde e diz que é preciso mergulhar na campanha para escapar da manobra arquitetada pela direita conservadora. "Tem que ter mais rua, mais gente com Serra e sair um pouco da Ilha da Fantasia que é Brasília", sugere. Diz que essas enúncias "vazias" são muito comuns em períodos eleitorais e que Lula e seu compadre Roberto Teixeira, que teve contratos com prefeituras do PT questionados, sabem muito bem o que é isso.

- O senhor conhece Ricardo Sérgio de Oliveira?

- Não. Nunca tive a oportunidade de conhecê-lo.

- O senhor ter empréstimo no Banco do Brasil?

- Não. Minhas relações com o Banco do Brasil são apenas com o cheque ouro.

- Dá para imaginar aliança PMDB-PSDB com denúncias atingindo a candidatura Serra, que ainda
enfrenta problemas nos estados?

- No caso específico de José Serra, não estou vendo denúncia alguma. Só um levantamento de diz-que-me-diz-que. Serra tem biografia inatacável.

- Mas as suspeitas estão servindo de pretexto para o PMDB protelar a indicação do vice?

- Não. O PMDB ainda não indicou o vice porque estamos resolvendo legítimas disputas regionais. É uma realidade que precisa ser resolvida. E está sendo. Para que, quando esse vice for apresentado, seja sem nenhuma turbulência e, sobretudo, representado a maioria do partido.

- O adiamento não foi motivado também pela desconfiança do mercado financeiro em relação ao candidato?

- Questõe s regionais não são pretexto. O PMDB percebe que há em relação a Serra uma tática oriunda do que há de mais conservador na direita. Ele tem mostrado que não vai ter a sua cabeça feita nem seu discurso alterado, nem sua postura, nem sua vestimenta decidida por um marqueteiro qualquer - por mais qualificado que o seja. Ora, se alguém aceita ser mudado por um marqueteiro, o establishment de direita imagina que será, caso eleito, um presidente fraco. Que poderá estar mais sujeito às suas vontades. Serra, se eleito, será um presidente intransigente. Foi assim quando ministro da Saúde, combatendo a questão das patentes, a dos genéricos e confrontrando as poderosas indústrias farmacêutica e tabagista.

- Quem é esse candidato maquiado por marqueteiro?

- É o Lula.

- Nizan Guanaes não é reforço na campanha justamente para maquiar Serra?

- Nizan vai fazer com que o Serra se comunique melhor com a população. Vai encontrar a linguagem para mostrar que Serra é o mais preparado e o mais competente para manter o país no rumo e corrigir eventuais pecados cometidos no governo do presidente Fernando Henrique. E só. Não creio que Serra seja um homem que aceite ser maquiado ou mudar suas posturas e idéias em função de interesses eleitorais.

- Lula presidente é perigo para o Brasil?

- Em absoluto. Não acredito numa vitória do Lula. Mas o considero um rapaz esforçado, um homem que galgou muitos degraus, o que mostra que o Brasil é um país democrático na oferta de oportunidades a seus filhos. Se for essa a decisão do povo brasileiro, nenhum perigo à democracia. Pode trazer alguns perigos como o insucesso de um eventual programa de governo.

- Riscos de argentinização?

- Não sei se uma argentinização. Lula defende um projeto de governo, que não me motiva a nele acreditar.

- A desconfiança em relação ao candidato do PSDB pode continuar agitando o mercado financeiro e ameaçar as metas do governo?

- Devemos ter cuidado com essa história de toda hora o mercado estar nervoso e ter como justificativa boatos.

Alguém está sendo vítima, perdendo muito dinheiro. Os mais espertos estão ganhando muito dinheiro em função de boatos que se comprovam absolutamente risíveis logo em seguida.

- José Serra enfrenta problemas semelhantes aos que tiraram Roseana Sarney da disputa?

- Não há o que comparar. Esse tipo de denúncia que tentam contra o Serra só costuma surgir em períodos eleitorais. No passado, era o compadre do Lula, o Roberto Teixeira, envolvido em contratos com prefeituras do PT. Mas no caso específico e no caso do Lula não vejo nenhuma densidade.

- Mas em um passado bem recente, o senador Jader Barbalho (ex-presidente do PMDB) teve que deixar o Senado por conta de denúncias que diziam ser vazias, requentadas.

- Jader teve que deixar o Senado. Antonio Carlos Magalhães teve que deixar o Senado. José Roberto Arruda também. Todos por conta de denúncias que envolveram justiça, análise de Polícia Federal. Era outro tipo de coisa. Não disse que as denúncias contra o Serra são requentadas. Eu disse que são sem fundamento.

Denúncias sem fundamento surgem a todo instante, sobretudo em época eleitoral. Lula e seu compadre sabem disso. O PSDB acusou o golpe e já admite que o candidato possa cair nas próximas pesquisas. Pesquisa não é problema. O Serra subiu de 7% para 18%. O problema é ritmo de campanha. Não é questão de número ou de defeito de Serra. Quero a campanha mais volumosa.

- O senhor acha que a campanha está paralisada?

- Não está paralisada. Só quero ela mais movimentada.

- Menos poliquice e mais ação. É isso?

- O que caracteriza José Serra é o fato de ele ser diferenciado na competência. Então não quero ficar escravo desse papapá-pepepé, desse converseiro próprio da Ilha da Fantasia que é Brasília. Eu quero ver o Serra no país mostrando porquê ele é o melhor.

- O senhor põe a mão no fogo por José Serra?

- Considero José Serra um homem absolutamente correto do ponto de vista pessoal e poria a mão no fogo por ele, sem nenhuma dúvida. Se eventualmente, em algum instante da minha vida, descobrir que Serra não corresponde a isso... a mão sapecará toda.


Em nome da objetividade
Advogados temem politização da indicação de Gilmar Mendes para o STF

Brasília - A Associação Brasileira dos Constitucionalistas, em nota oficial, pediu ao Senado ''objetividade'' na apreciação da indicação do advogado-geral da União, Gilmar Mendes, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo a nota, a associação tomou essa posição ''em face da ameaça de transformar-se a escolha de um membro para a Suprema Corte num pleito político (no mais pejorativo dos sentidos do adjetivo)''.

Os membros da Associação Brasileira dos Constitucionalistas, depois de listar os títulos e obras que atestam ter Gilmar Mendes ''notável saber jurídico'', salientam: ''Por outro lado, nos cargos que ocupou, bem como naquele que ocupa, sempre se destacou por sua capacidade, coragem e lealdade. Certamente, é isto o motivo de sua indicação desagradar a todos que põem interesses partidários e pessoais acima do interesse público''.

O reitor da Universidade de Brasília (UnB), Lauro Morhy, enviou ofício ao presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), lembrando que Gilmar Mendes graduou-se e fez mestrado na UnB, antes de se tornar doutor pela Universidade de Münster, na Alemanha. Mendes ainda voltou à UnB, como professor, aprovado em concurso público.

''Afigura-se absolutamente extraordinária a possibilidade de esta universidade registrar, quando da comemoração de seus 40 anos, um ex-aluno de graduação alçado à condição de membro da mais alta Corte do Judiciário'', afirma o reitor da UnB.


PF prende 19 por fraude em concurso
Brasília - Eles não foram tão geniais assim. A Polícia Federal prendeu ontem 19 pessoas em Brasília envolvidas em fraude do concurso da Polícia Rodoviária Federal. Procura os dois ''gênios'' que resolviam as questões para repassar os resultados aos candidatos que se dispunham a comprar um cargo de patrulheiro rodoviário.

Os dois ''gênios'', um em Uberlândia e outro em Brasília, entraram nas salas de aula e repassaram os resultados para dois ''mentores'' do golpe em Brasília. Só não contavam com um problema: as provas tinham quatro gabaritos cada, e ocorreu uma grande confusão.

A PF identificou, apenas em Brasília, 17 candidatos que se prontificaram a comprar os resultados das provas.

Pagariam entre R$ 4 mil e R$ 20 mil, cada, se passassem no concurso, depois de uma ''entrada'' de R$ 300 por aluno. A fraude teria ocorrido no Maranhão e em Minas Gerais.

Segundo o superintendente da PF em Brasília, delegado Euclides Rodrigues da Silva Filho, os dois mentores são João Luiz Salviano Gomes e Stanley Pinheiro Porto, funcionários da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Ambos recebiam as informações das respostas por telefone e repassavam o gabarito para pagers dos alunos. Tudo pela Internet. A provedora do serviço de pagers é de São Paulo e colaborou para chegar à quadrilha.

A PF recebeu a informação sobre as fraudes há 15 dias e mobilizou mais de 40 agentes. O maior problema foi justamente a trapalhada na hora de repassar o gabarito. Quando souberam que haviam quatro provas diferentes, os fraudadores começaram a passar resultados confusos.

Os alunos começaram a duvidar do material que recebiam. Uma mulher que se dispôs a pagar R$ 10 mil se recusou a falar na PF. Todos os alunos responderão em liberdade por estelionato. Só os dois mentores da fraude deverão ficar presos. Podem ficar até cinco anos na cadeia. O concurso é disputado por 540 mil pessoas em todo o País e o salário chega a R 2,7 mil. Para o superintendente, não há motivos p ara anular o concurso.


Índígenas lutam por biodiversidade
Os índios brasileiros se cansaram de ser explorados. Representantes de povos e entidades indígenas brasileiros se reuniram durante quatro dias no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) para aprender a proteger sua biodiversidade. É o início de um processo de discussões para encontrar a melhor maneira de preservar da biopirataria os conhecimentos tradicionais de plantas medicinais que as reservas abrigam.

“Viemos adquirir armas para nos defender, aprender a usar os instrumentos dos brancos”, explica o líder indígena Marcos Terena.

A iniciativa pretende dar a líderes e advogados indígenas informações que servirão para definir a atuação mais adequada de combater o que chamam de “saque” de recursos. O grupo estuda se patentear as plantas é de fato a melhor solução. O custo é alto, e a burocracia exige farta documentação científica, o que tornaria necessário o apoio de instituições de pesquisa. Há também a dúvida quanto à validade do registro. “A legislação não reconhece conhecimento coletivo; os registros de patentes têm sentido individual”, diz Joenia Batista, advogada indígena.


Artigos

Contas de pré-primário
Joaquim Francisco de Carvalho

Consultor em energia elétrica
Relatório de uma equipe da USP chefiada pelo professor Ildo Sauer demonstra que o racionamento não causou prejuízos às empresas distribuidoras de eletricidade, tendo apenas diminuído seus lucros. E se tivessem tido prejuízos, aquelas empresas deveriam transferi-los a seus acionistas, pois não é justo que sejam beneficiadas quando os consumidores, que arcaram com as conseqüências do racionamento, em vez de benefícios, receberam aumentos de tarifas. O relatório do professor e de sua equipe quer apenas que prevaleça uma regra básica das economias de livre mercado, qual seja a de que os empresários devem arcar com os riscos de seus investimentos.

Vamos fazer algumas continhas de jardim-de-infância, para entender a questão.

Multipliquemos o valor do consumo total de energia elétrica que, segundo a Aneel, está em torno de 310 milhões de MWh por ano, pela tarifa média de fornecimento (das distribuidoras aos consumidores finais), que é da ordem de R$ 140,00/MWh. Com essa conta, vemos que o faturamento conjunto do sistema elétrico brasileiro é da ordem de R$ 43 bilhões por ano. Considerando que as distribuidoras compram a eletricidade das geradoras por algo em torno de R$ 45,00/MWh, conclui-se que a geração bruta de caixa do segmento de distribuição atinge a quantia de 29 bilhões de reais, por ano.

Ora, em praticamente todas as médias e grandes cidades brasileiras as malhas de distribuição já existem e estão no final de seus prazos de depreciação contábil, de modo que é muito baixa a incidência do capital em seus custos. No tocante a novos aportes, essas malhas requerem apenas investimentos marginais em expansão (cerca de 10% do faturamento) e, evidentemente, em operação e manutenção (cerca de 15% a 20% do faturamento).

Salta pois aos olhos que o potencial lucrativo do conjunto das empresas de distribuição de eletricidade brasileiras chega a cerca de 20 bilhões de reais por ano. Isso aliás explica a voluptuosa cobiça dos grupos que empurraram a atual administração para o abismo da privatização das empresas de eletricidade.

Seja como for, o governo deveria promover uma auditoria minuciosa e transparente para calcular os verdadeiros lucros das empresas de eletricidade, antes de oferecer-lhes ''ajudas'' para aumentar ainda mais esses lucros, que certamente são muito maiores do que a soma dos lucros que aparecem nos respectivos balanços.

Vejamos o que aconteceu com o racionamento. Em primeiro lugar, como diria o Conselheiro Acácio, se o racionamento foi de 20%, as distribuidoras venderam apenas 80% da eletricidade que esperavam vender. E o senhor De La Palice acrescentaria que, nesse caso, elas compraram menos 20% de eletricidade das geradoras, além de terem diminuído (porém não linearmente, é verdade) algumas despesas de operação e manutenção.

Então onde está o prejuízo?
Mas a principal crítica do professor Ildo Sauer foi ao aluguel, por 6,7 bilhões de reais, de termelétricas de emergência (na verdade, ferros-velhos embarcados) que entrariam em operação - e aí a despesa subiria para 11 bilhões de reais - somente se a seca se prolongasse, o que era pouco provável.

À guisa de moral da história, seria apropriado dizer que, por mais dotados que sejam os nossos mandatários do belo sentimento da generosidade, não é razoável que cheguem ao extremo de distribuir dinheiros, pertencentes a um povo paupérrimo, para serem pródigos com empresas que foram compradas na bacia das almas por grupos sediados em países riquíssimos.

Palmas portanto para o professor Ildo Sauer e vaias para a Câmara de Gestão da Crise Energética.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

De parafusos todos soltos
A cena era uma tristeza: sentados à cabeceira de uma mesa, com os semblantes sorumbáticos, três integrantes do primeiro escalão da campanha presidencial tucana, sexta-feira à tarde, tentavam convencer uma dúzia de jornalistas de que tudo anda na mais santa paz na seara da candidatura José Serra, na qual reina também o mais absoluto entusiasmo.

Um desavisado que entrasse ali sem saber que a reunião comandada por Pimenta da Veiga havia sido convocada para comunicar boas novas, seria assaltado de imediato pela impressão de que algo de muito grave estava se passando.

Ainda que não houvesse a distância entre as palavras de tranqüilidade que buscavam abafar o disse-me-disse a respeito dos problemas internos e o desânimo evidente na aparência de cada um, ainda assim, a mera decisão de comunicar oficialmente que tudo vai bem, mostra que muita coisa vai mal. Tal e qual técnico de futebol no auge do prestígio.

Razões objetivas, os tucanos não teriam para fornecer aos adversários mais esse incentivo à agenda negativa que tomou conta da campanha. Afinal, dispõem de um candidato posto entre os considerados em condições de disputa. Mas cometem erros táticos e estratégicos tão primários que, nesta batida, terminarão por fazer eles mesmos cumprir a profecia cuja execução, em tese, seria tarefa para os inimigos.

Como se José Serra já não dispusesse de adversários a mancheias - notadamente entre a direita mais conservadora e o establishment mais atrasado, que se supõe capaz de manipular Luiz Inácio Lula da Silva com mais facilidade -, o tucanato alia-se ao baixo-astral, puxando a campanha para trás no lugar de fazê-la deslanchar.

Ficam ali com aquelas caras de paisagem culpando o alheio por todos os males que os assolam, como se ignorassem o que lhes passa bem debaixo dos narizes. Voltemos ao exemplo da entrevista de sexta-feira: os solertes tucanos nada tinham a dizer, a não ser comunicar que o comando, antes nas mãos de Pimenta da Veiga, agora seria diluído em novos pólos de poder, cuja função não sabiam ainda direito quais seriam. O ex-senador José Richa foi anunciado como novo integrante, mas de missão ainda desconhecida.

Ora, nesse caso, qual a utilidade de se exporem na defensiva? E pior, sem ter do que se defender, em alguns casos, e, nos outros, sem dispor de argumento consistente para dirimir dúvidas. Não nos parece uma ação exatamente afirmativa, um coordenador de campanha qualificar de ''bobagens'' denúncias que envolvem o candidato que teoricamente teria de defender. Se são ''bobagens'' que se explique o por quê e se enterre o cadáver de uma vez por todas.

Inadmissível também a ausência de resposta firme à indagação sobre as razões que levaram dois tucanos a sustentar report agem contra o referido candidato. ''Isso já foi suficientemente explicado'', disse Pimenta, sem ao menos se considerar na obrigação de repetir a suficiente explicação. O ar blasé denota arrogância e esconde insegurança.

Isso sem contar uma pérola da esquizofrenia eleitoral produzida ante uma indagação aparentemente acaciana sobre se José Serra seria ou não o candidato oficial. O coordenador disse que não. Na visão dele, o presidente da República teria ''afinidades'' com Serra, coincidentemente sua opção eleitoral. Bem, se o fato de o presidente conferir apoio a ele, ex-ministros comandarem a campanha e atuais titulares de ministérios declararem ao PSDB seus votos, não faz de Serra o candidato oficial, o que é Serra, uma ONG?

Mas, para que não nos prendamos a um episódio isolado, tomemos algumas atitudes do próprio candidato. De percepção tão acurada, ele ainda não foi capaz de perceber que alguém cuja marca é a do preparo intelectual e administrativo não pode usar expressões como ''tititi'' e ''trololó'' para responder a questões que lhe são postas.

Se é assim, o eleitor estará autorizado a concluir que falta ao candidato paciência para construir um pensamento mais elaborado - inadmissível, ainda que considere o assunto uma tolice. Ou, pior, que sua capacidade verbal nada fica a dever às generalidades que até Lula abandonou quando deixou de se apresentar como um santo guerreiro ''contra tudo isso que está aí'', com ênfase no combate às ''maracutaias''.

Há mais para apontar. Por exemplo, a história a respeito da troca do candidato. É certo que Aécio Neves e Tasso Jereissati sempre enfatizam apoio a Serra e zero intenção de lhe tomar o lugar. Mas, por que é mesmo que ninguém acredita a ponto de a movimentação que mantêm essas versões vivas partirem de dentro do próprio PSDB?

Sempre se poderá dizer que o PFL é que alimenta os boatos. Mas que força têm os pefelistas, se eles próprios levaram um corretivo em regra de Marco Maciel, um correligionário que tentaram fazer de balão-de-ensaio?

Pode ser só impressão, mas, aliado à já explícita ofensiva da direita mais atrasada contra José Serra, algo de muito esquisito se passa nas entranhas do reino do tucanato. Se é incompetência, leniência ou inapetência, com perdão da rima paupérrima, alguém precisa tomar uma providência. Só não vale dizer depois que a cigana se enganou.


Editorial

REFORMA JÁ

TRIBUTOS
A reforma tributária foi um dos pontos consensuais no encontro dos principais candidatos à Presidência da República, promovido pela CNI. Todos concordam que os impostos oneram o investimento e a indústria. E trazem na ponta da língua propostas para reduzir a carga tributária. O que é excelente sinal e motivo de otimismo por parte do setor produtivo. Já que existe consenso, por que não ganhar tempo e dar início imediatamente à reforma?

Os candidatos certamente exercem influência sobre seus partidos. Como a Câmara tirou a reforma da geladeira e retomou a tramitação do projeto, manda a lógica que os aspirantes à Presidência se adiantem e pressionem as respectivas bancadas pela aprovação. Do contrário, deixarão a impressão de que suas promessas são para inglês ver.

Se a reforma tributária não saiu do papel até hoje, foi por absoluta falta de interesse da União, dos Estados e dos municípios. Apesar de admitirem que a fonte privada está exaurida, os entes federativos fazem corpo mole quando se trata de mudar a estrutura de impostos. Promovem reuniões sem fim, falam em rever o efeito cascata e as contribuições sociais. Mas voltam atrás na hora H.

O tema está mais do que maduro. Serra, Lula, Ciro e Garotinho prometem empenho total em torno da reforma tributária. O candidato do PSB chega a anunciar extinção de alguns impostos. O certo é que o Brasil não pode mais esperar. Reforma tributária já.


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05/13/2002


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