Integração por setores teria evitado 'dores de cabeça' do Mercosul, diz Sarney
A adoção de um processo gradual de integração econômica, por meio da inclusão paulatina de setores industriais, poderia ter evitado as "dores de cabeça" causadas nos últimos anos pelo Mercosul. A avaliação foi feita pelo presidente do Senado, José Sarney, durante entrevista à TV Senado e à Agência Senado, que vai ao ar neste sábado (30), às 20h, e domingo (1º), às 13h, no programa Mercosul Especial 20 Anos.
Durante o programa, Sarney recordou os primeiros passos que deu - juntamente com o então presidente da Argentina, Raúl Alfonsín - em direção à integração regional. Uma das primeiras medidas de seu governo, ressaltou o senador, foi o envio a Buenos Aires do então ministro das Relações Exteriores Olavo Setúbal, para propor ao país vizinho a superação de divergências históricas e a construção de uma nova relação bilateral.
O encontro com Alfonsín em Foz do Iguaçu (PR), poucos meses depois, abriu espaço - segundo o relato do senador - para o início da construção de uma aliança entre os dois países que estaria na base do futuro Mercosul, criado em 1991. Mas os sucessores de ambos presidentes, Fernando Collor e Carlos Ménem, optaram, como lembrou Sarney, por um outro modelo para a construção da integração da América do Sul.
- A partir da década de 90, quiseram fazer uma zona de livre comércio. Não fizeram a integração por setores, e então começaram a surgir os problemas que vivemos até hoje. Mas o fundamental foi feito: acabar com a divergência com a Argentina e criar um novo tipo de relação, uma nova visão da América do Sul. Uma ideia generosa não para, não morre, só tende a crescer - disse Sarney.
Na opinião do presidente do Senado, "refundar o Mercosul", como tem-se proposto diversas vezes nos últimos anos, deveria ser o equivalente a retomar o projeto original de integração, baseado no que chamou de "step by step", ou passo a passo. Ele elogiou, por exemplo, a recente decisão de se adotar um modelo único de carteira de identidade para os habitantes dos países do bloco, mas lembrou que, já na sua época como presidente, se lançou o projeto de viajar ao país vizinho sem passaporte, apenas com a carteira de identidade.
Sarney defendeu ainda, durante a entrevista, a ampliação do Mercosul, com a incorporação de outros países sul-americanos. Em sua opinião, a América do Sul poderá ter sua grande oportunidade ao longo do século 21. Isto porque, como observou, a região já consolidou o regime democrático e não enfrenta problemas religiosos ou raciais, como ocorre em diversos países considerados emergentes.
- Dizem que este século será da China, da Índia. Mas não tenho dúvida que este será o século da América do Sul. Nossas riquezas minerais estão quase intocadas. E já atravessamos o gargalo político, que outras nações não atravessaram. Nossos problemas são gravíssimos, em áreas como educação, saúde e infraestrutura. Mas não temos problema racial ou religioso - observou.
29/04/2011
Agência Senado
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