Intervenção ronda o Espírito Santo
Intervenção ronda o Espírito Santo
Governo federal aprova e encaminha pedido que espera ver aprovado nas próximas semanas
BRASÍLIA - Em decisão classificada pelo próprio ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior, como ``inusitada'', o governo federal aprovou ontem o pedido de intervenção no governo do Espírito Santo e na Assembléia Legislativa do Estado. A medida depende ainda da chancela do Supremo Tribunal Federal (STF), que está em recesso este mês, e do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas Reale acredita que deva sair em agosto, por decreto presidencial. O ministro justificou o pedido de intervenção dupla, o primeiro em sua avaliação na História brasileira, ao declarar que a Assembléia presidida pelo deputado José Carlos Gratz (PFL) ''é um dos focos irradiadores do clima de absoluta insegurança'' no Estado.
A intenção do governo, afirmou, foi proteger autoridades e testemunhas, ameaçadas pelo crime organizado, que vivem sob a tutela da Polícia Federal. A intervenção foi aprovada em reunião do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), na qual Reale, que o preside, alertou as autoridades do Espírito Santo para eventuais represálias contra a integridade dos protegidos.
''Qualquer ato que seja produzido contra estas pessoas será gravemente reprimido, será apurado e ao mesmo tempo será a demonstração da necessidade de aprofundar esta intervenção para garantir os direitos humanos'', avaliou o ministro Miguel Reale Júnior.
A tramitação do pedido de intervenção do Governo e na Assembléia Legislativa do Espírito Santo deverá ser rápida. O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a quem caberá analisar o documento encaminhado pelo CDDPH antes de seguir para o Supremo, antecipou que ''a tendência'' é aprovar a proposta nas próximas semanas. Brindeiro, que participou da reunião como membro do conselho, explicou que este tipo de intervenção não necessita de aprovação do Congresso. O procurador-geral disse que em 1996 o STF negou pedido de intervenção no Mato Grosso, após o registro de uma chacina. Mas comparou que, no Espírito Santo, ''são vários casos'' de denúncias de desrespeito aos direitos humanos.
A medida, segundo Reale Júnior, tem como objetivo investigar a atuação do crime organizado no Estado, incluindo narcotráfico, lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. O CDDPH defende a prisão dos acusados de pertencerem à Escuderie Le Cocq, espécie de grupo de extermínio que conta com a participação de policiais. Também serão investigados casos de assassinatos de advogados que atuavam em ações na Justiça contra as redes criminosas.
O deputado José Carlos Gratz , atual presidente da Assembléia Legislativa, foi indiciado pela CPI do Narcotráfico em 2000 por envolvimento com o crime organizado e sonegação fiscal.
O processo começou com um pedido da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), alarmada com as ameaças que seus associados vinham sofrendo. Ontem, a Ordem divulgou nota na qual classifica a aprovação do pedido como um momento histórico. ''Ele terá efeito para conter a violência e a impunidade que faz a sociedade se tornar refém do terror'', diz o texto, assinado pelo presidente Rubens Approbato.
A intervenção é considerada fundamental pelo ministro da Justiça também para a questão da imagem externa do país. ''É importante a reafirmação do Brasil no seu compromisso perante si próprio e perante a comunidade internacional'', afirmou Reale Jr.
De acordo com o ministro, a intervenção federal não impõe restrições ao processo eleitoral. Segundo Reale, um interventor nomeado pelo presidente da República, ''isento politicamente'', reformularia o governo do Espírito Santo, especialmente a área de segurança pública. O interventor indicaria ainda um nome para presidir a Assembléia Legislativa. Em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a candidata a vice na chapa do PSDB na sucessão presidencial, deputada Rita Camata, que é do Espírito Santo, comentou a medida. ''Se esse é o entendimento fundamentado e eu tenho convicção de que é por aí, que aconteça o melhor para o Estado que realmente vive um momento constrangedor''.
Prestígio no Congresso
Aécio lidera lista dos parlamentares mais influentes
BRASÍLIA - O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) divulgou ontem a lista dos dez congressistas mais influentes. O top 10 reflete o aumento do poder de influência da Câmara e a perda de espaço do Senado. Nove são deputados, incluindo o presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG). O único senador é o presidente Ramez Tebet (PMDB-MS). ''O Senado entrou num processo de autodestruição após o episódio envolvendo Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA)'', diz o analista político do Diap, Antônio Augusto de Queiroz.
Os dez políticos mais influentes, escolhidos por outros cem parlamentares, são: Aécio Neves, Ramez Tebet, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), Delfim Netto (PPB-SP), Arnaldo Madeira (PSDB-SP), Geddel Vieira (PMDB-BA), Miro Teixeira (PDT-RJ), Walter Pinheiro (PT-BA), José Genoino (PT-SP) e Aloízio Mercadante (PT-SP).
''Todos são ou foram líderes de seus partidos'', observa Queiroz, explicando que Delfim Neto, apesar de não ser líder de direito, é procurado pelo líder oficial Odelmo Leão (PPB-MG) antes de qualquer decisão.
Único parlamentar carioca na lista, o deputado Miro Teixeira (PDT) ficou feliz com a lembrança. ''Sou o primeiro na lista da oposição também'', brincou, para emendar em seguida: ''Bobagem, isso é uma gentileza dos colegas.'' Para Miro, Aécio e Tebet traduzem estilos bastante parecidos de conduzir as Casas. ''Ambos privilegiam o conjunto. É isso que vale no Congresso: o conjunto dos 594 deputados e senadores'', opina.
Queiroz avalia que a presença de Aécio no topo da lista é resultado da gestão do tucano mineiro como presidente da Câmara, período em que foram votadas a regulamentação da edição de Medidas Provisórias e a quebra da imunidade parlamentar, além da instalação do Conselho de Ética.
Orçamento sem explicação
Critério demográfico não justifica dinheiro que Rio deixou de receber da União
BRASÍLIA - O governo federal não soube explicar ontem a razão da disparidade na distribuição de recursos do orçamento entre Estados governados pela oposição e por aliados. Segundo dados revelados pelo Jornal do Brasil, o Tesouro liberou, até o fim de junho, em torno de 2% do autorizado este ano para administrações petistas do Rio, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Acre. São Paulo, cujo governador é do PSDB, recebeu 60% do autorizado. O Ministério do Planejamento informou que só estabelece limites e não trata de repasses. ``Não temos ação-fim, apenas intermediamos o processo'', afirmaram assessores.
Procurada pelo JB, a Secretaria do Tesouro Nacional informou que os critérios são definidos pelo Tribunal de Contas da União (TCU). ''As cotas têm como base o censo demográfico elaborado pelo IBGE'', explicou o chefe de gabinete da secretaria, Paulo Márcio Neves Rodrigues. Segundo a Secretaria do Tesouro, São Paulo recebe 60% porque teria uma população maior. Ele não explicou porque, diante deste critério, o Rio de Janeiro recebeu apenas 1,47% dos investimentos da União.
O Ministério dos Transportes, dono de um dos maiores orçamentos para investimentos, também nega o uso político dos recursos. Os técnicos informaram que os repasses da pasta seguem duas variáveis: a extensão da malha rodoviária e a existência de obras do projeto Avança Brasil. O Estado do Rio teria recebido menos porque não tem nenhuma obra do projeto sendo executada neste momento.
No Rio, a governadora Benedita da Silva afirmou, ontem, que as discrepâncias em inves timentos da União nos Estados sempre acontecem quando há ''uma ruptura dos critérios técnicos''. Benedita lembrou que como parlamentar participou diversas vezes de uma ação integrada , ''suprapartidária'' da bancada do Estado do Rio, visando liberar os recursos necessários.
''Vou continuar firmemente empenhada na obtenção de mais recursos. É uma necessidade vital do Estado, porque estamos lutando com imensas dificuldades em todos os setores'', afirmou a governadora.
No Acre, o governador Jorge Viana (PT) mantém bom relacionamento pessoal e político com o presidente Fernando Henrique Cardoso e por isso conseguiu uma série de liberações de verbas para o Estado. Mas agora também se queixa:
''Este ano temos encontrado dificuldades na hora de conseguir a liberação dos recursos aprovados. A justificativa que recebi foi dificuldade na aprovação da CPMF. Sinceramente, espero que o presidente da República não deixe que alguns de seus auxiliares transformem a relação entre Federação e Estados em moeda política às vésperas da eleição''.
O candidato José Serra também saiu em defesa do Rio. Se houve discriminação, afirmou, ''foi um erro. O Rio merece receber de acordo com sua população e importância para o País''.
Heloísa sai e força mudanças no PT
BRASÍLIA - Com a desistência da senadora Heloísa Helena de disputar o governo de Alagoas, anunciada ontem, o PT local será obrigado a redefinir toda sua composição para a disputa estadual. Decidida a não aceitar a coligação com o PL, imposta pelo comando nacional do PT, Heloísa levou com ela quatro dos nove candidatos a deputado federal, cinco de 12 postulantes à Assembléia Legislativa e um dos nomes para o Senado.
''Sou vítima da imposição de meu partido. Não vou me juntar aos desqualificados da política alagoana'', afirmou a senadora, ao anunciar publicamente sua retirada. A decisão não abalou a cúpula nacional petista. ''Nossa definição política já está tomada. Vamos manter a aliança'', garantiu o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP).
O substituto deve ser o vereador de Maceió Judson Cabral, que era um dos candidatos ao Senado. ''Há um indicativo disso, mas só vou aceitar se houver um compromisso do diretório nacional. A lacuna que fica é muito grande e se não houver mobilização fica difícil'', disse Cabral, assegurando, porém, que o PL não fará parte do rearranjo das disputas majoritárias.
Os próprios petistas admitem que a desistência transforma o partido em coadjuvante da disputa entre o governador Ronaldo Lessa (PSB) e o ex-presidente Fernando Collor (PRTB). ''Carisma não se compra no supermercado'', avalia o presidente da legenda em Alagoas, Paulo Fernando Santos.
Lula faz críticas a presidente do BC
Ao chegar ontem à tarde ao aeroporto de Maringá, no Oeste do Paraná, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, não quis comentar a desistência da senadora petista Heloísa Helena, que abandonou a corrida ao governo de Alagoas por não concordar com a aliança firmada com o PL. ''O problema é com o PT de Alagoas'', desconversou.
Antes de viajar para o Paraná, o candidato visitou a cooperativa Uniforja, em Diadema (SP), a maior forjaria da América Latina, e criticou o presidente do Banco Central, que sugeriu que o próximo presidente terá 30 meses para recuperar a economia. ''Vamos estabelecer nossa própria estratégia de desenvolvimento''.
Ciro Gomes, do PPS, também rebateu as declarações, em São Paulo. ''O prazo é um mero chute, sob influência do chute do Rivaldo na final da Copa'', ironizou.
Irmão de Celso Daniel é acusado
SÃO PAULO - O médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, foi acusado ontem de tráfico de influência e de atuar como lobista em favor da empresária Rosângela Gabrilli, primeira pessoa a denunciar o suposto esquema de cobrança de propina na Prefeitura da cidade. As acusações foram feitas pela ex-mulher de Celso, Mirian Belchior, e pelo ex-secretário de Governo do Município, Gilberto Carvalho. Os dois prestaram depoimento na CPI da Câmara, que apura as denúncias.
As acusações fazem uma ligação direta entre os principais autores das denúncias: Rosângela Gabrilli afirmou que pagava propina mensal à Prefeitura e João Francisco Daniel diz que os valores eram destinados a financiar campanhas eleitorais do PT. Mirian, que também é secretária de Inclusão Social do município, declarou aos vereadores que, oito dias após o assassinato do prefeito, em janeiro deste ano, foi procurada por João Francisco.
''Para minha surpresa, ele não queria falar sobre Celso, mas sim sobre problemas da empresa da família Gabrilli, a Expresso Guarará, que presta serviços à Prefeitura'', disse.
Gilberto Carvalho também revelou que recebeu um pedido de João Francisco no mesmo sentido. O ex-secretário conta que teve cinco encontros com o irmão do prefeito após o crime. ''Em uma das oportunidades, ele me entregou uma lista com demandas da Expresso Guarará'', afirmou.
Serra vai à Baixada
Tucano busca votos no reduto do rebelde Zito
Candidato do governo à Presidência da República, José Serra escolheu o Calçadão de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para seu primeiro teste de popularidade nesta campanha. Figuras desconhecidas para a maioria do público simples, que apinhava as ruas poeirentas, Serra e Rita Camata, vice em sua chapa, eram inseparáveis. Em várias oportunidades, ambos valeram-se da iniciativa da pefelista Solange Amaral, que se desdobrou em aspirante ao governo do Estado e cabo eleitoral.
O passeio pela Baixada Fluminense, como admitiu Serra, também serviu à tentativa de retomar o apoio do prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, aos candidatos da coligação entre tucanos e pefelistas, na Frente Todos Pelo Rio. Zito entregou, anteontem, seu pedido de licenciamento do PSDB.
''A deputada Andréa Zito esteve aqui, já convidei o pai dela, o Zito, para ser nosso coordenador de campanha pelo lado do PSDB. Enfim, estamos abertos, esperamos que em breve ele venha numa boa. Nós vamos retomar tudo'', acredita Serra.
O candidato comentou também o crescimento de Ciro Gomes nas últimas pesquisas de opinião. ''É um fato normal, devido à exposição à mídia. O que interessa, na verdade, é o resultado das urnas'', afirmou.
Acusado pelo candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de ''praticar o terrorismo eleitoral'', por atribuir à possível vitória do petista as turbulências econômicas que atingem o país, Serra mudou o discurso. Agora, diz ele, além da ''tensão pré-eleitoral'', o problema é que ''há muita especulação e análises equivocadas de gente que pensa que a capital do Brasil é Buenos Aires.''
Entre promessas de transformar os trens urbanos do Rio em Metrô e retomar as obras da Via Light - auto-estrada que liga a Baixada ao Rio -, Serra, Solange e Rita dividiram uma empada que custava R$ 0,50. Mais adiante, longe das câmeras, o menino Fábio, de 10 anos, não teve a sorte de ganhar uma moeda de Rita Camata. ''Estou sem um trocado aqui'', desculpou-se a vice, para a frustração do garoto.
Já o candidato do PSB, Anthony Garotinho, fez corpo-a-corpo com eleitores no Centro do Rio. Durante uma curta caminhada, ele esteve acompanhado da mulher e candidata à sucessão estadual, Rosinha Garotinho.
Artigos
E o direito do povo exausto?
Alfredo Herkenhoff
Os jogadores não tiveram culpa. A crueldade foi da suposta organização. Os craques desembarcaram no Rio pouco antes das 19h, mas demoraram demais a sair das dependências do aeroporto. O que houve? Talvez apertos de mão da Família Scolari nas famílias Varig, Arsa, Benedita, PM, Aeronáutica, Receita Fede ral etc., o principal no presidente FH, durante o espetáculo brasiliense de mútua beijação, chimarrão e cambalhotas.
Mas mais do que da desorganização, o desastre do desfile no Rio parece culpa do marketing. Por que o trio elétrico? Carnaval axé é excitante, mas no Rio só há em dois lugares: no programa Faustão e na festa fora de época hoje circunscrita ao Autódromo Nelson Piquet. O trio elétrico anima o balanço geral e foi entusiasmante na Avenida Rio Branco. Mas a Seleção não precisava disso. Em carro do Corpo de Bombeiros, como é da tradição, emociona muito mais. E o trio veio mostrando bebida alcoólica. Jogadores foram vistos com latinhas. Veio lento o caminhão, o locutor imitando Galvão Bueno, exaltando o Olodum como o ritmo da Copa. Olodum é penta, gritava o tempo todo. E Zeca Pagodinho, coitado, virou isca, vítima, como milhões de pessoas.
Não seria uma noite carioca. Mal dava para fotografar os jogadores cansados no caminhão. Em todos os ângulos havia contraluz. Só dava para enxergar direito a luz frontal nos logotipo da CBF e da cerveja do patrocinador. O guaraná sumiu.
Culminando a irresponsabilidade, o trio Patrocinador-CBF-Família pára diante do Edifício Argentina, na Praia de Botafogo, antiga mansão Guinle, depois representação diplomática platina. É uma provocação, não aos patrícios de Maradona, mas ao Rio. Felipão pega o microfone e lamenta que muita gente falava da Família Scolari de forma pejorativa. Ele, como bom pai, tinha a obrigação de deixar os filhos em casa, e estes estavam cansados. Tradução: não vai rolar a festa, como diria Ivete Sangalo, que também já não estava sobre o seu caminhão. Num instante, gritos de Romário e pedradas. Felipão, num certo sentido, havia acabado de dizer: vocês cariocas vão ter de me engolir, vão engolir essa frustração. Não vai rolar a festa.
A essa altura, os jogadores exaustos já não eram vistos. Roberto Carlos e Cafu jaziam prostrados no meio de um elenco com predominância de figurantes. A festa acabava em falta de respeito à palavra empenhada. Mais gritos de Romário, mais pedras.
Os apedrejadores merecem censura e punição, claro. Mas centenas de milhares de cariocas que foram à rua merecem o quê? Um pedido de desculpas da CBF e do patrocinador?
Os jogadores, cansados e sem culpa, ainda foram conduzidos, na mesma madrugada, à festa do governador e da prefeita de São Paulo, a desfile no sambódromo paulistano.
Viva os nossos maravilhosos pentacampeões, cansados. Mas abaixo a desorganização. Monopolizaram até o nosso direito de sofrer.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Ciro sobe, PSB fica só com fiéis
Os primeiros números de pesquisa captados depois da Copa, da entrada em vigor da legislação eleitoral e, a rigor, do início do jogo sucessório para valer, já poderão ser conhecidos a partir da madrugada deste sábado. O Instituto Vox Populi fez a coleta de depoimentos durante a semana e tabulou os dados entre ontem e hoje.
Mesmo sem dispor dos números, o presidente do Vox, cientista político Marcos Coimbra, sentia-se seguro para, com base em análise das últimas tendências, afirmar como ''muito provável'' a subida dos índices do candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes.
Durante a semana a boataria que mais uma vez serviu de justificativa ao alegado ''nervosismo'' dos que compram e vendem dinheiro, dizia que Ciro havia ultrapassado José Serra e ocupado o segundo lugar, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva.
Marcos Coimbra não confirma nem desmente. Explica apenas que baseia sua análise de probabilidade no fato de Ciro ter subido cinco pontos percentuais na última pesquisa do Vox e, entre ela e esta agora, o candidato ainda ter tido espaços no horário gratuito de TV, entre os quais um programa inteiro do PTB.
Coligado, mas não filiado ao partido, Ciro foi proibido pela Justiça Eleitoral de participar. Decidiu ignorar a proibição, obviamente depois de contabilizar os ganhos eleitorais e as perdas concretas da infração. No Judiciário há quem abrace a tese de que Ciro Gomes arriscou-se a uma impugnação de candidatura.
Mas esta é uma hipótese muito remota, sendo mais provável a punição com o cancelamento do programa no ano que vem (quando não há eleições). Então, do ponto de vista político, seguramente a conclusão foi a de que valia o risco.
E, se os números confirmarem a tendência apontada por Coimbra, de fato terá valido, não obstante o discutível confronto com a lei.
Mas, aquilo que o diretor do instituto acredita será revelado pelos dados, não inclui necessariamente a troca de lugar com Serra. ''Da última vez, quando Ciro subiu, Serra praticamente não se mexeu, foi de 20% para 21% das intenções de voto'', aponta ele. O empate, porém, é quase certo.
Na mesma mostra, Lula e Garotinho desceram na escala das intenções. Suposição de Marcos Coimbra: ''Ciro não tira votos do PSDB e, sim, da seara identificada como de oposição.'' Donde ele considera também ''bastante provável'', o candidato do PT apresentar alguma queda caso Ciro suba mesmo.
E Garotinho? Este, com os 11% registrados na pesquisa anterior, Marcos acha que não se mexe, pois teria batido em seu patamar mínimo. Explica-se: aqueles 11% que dizem que votarão no candidato do PSB apresentam alto índice de firmeza no voto. São portanto, eleitores fiéis, que não transitam de uma candidatura à outra ao sabor dos acontecimentos.
Em contrapartida, segundo Marcos Coimbra, a candidatura de Lula é a que apresenta o maior grau de volatilidade.
Muito provavelmente porque é a que tem a maior massa de adeptos, e isso desde a largada, apresentando exatamente aquela margem de acomodação que a opção Garotinho, pela exigüidade, no momento não comporta.
Esse tipo de cenário traçado por Coimbra é mais interessante para entender como as coisas funcionam na lógica das pesquisas e de votos ainda apenas intencionais, do que propriamente para estabelecer um ranking eleitoral confiável desde já.
Daí o sentido de tratarmos de uma pesquisa de números ainda desconhecidos.
Direto ao ponto
Reis do eufemismo por dever de ofício, ainda assim, às vezes, os diplomatas se superaram. Foi o que aconteceu com o embaixador e ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, um dia depois da passagem dos campeões do futebol por Brasília.
Amaral começou dizendo que assegurar a chegada da Seleção pela capital foi uma ''das mais duras e difíceis'' missões diplomáticas de sua carreira. Diante do interesse do interlocutor por detalhes das resistências da CBF, Amaral mudou os termos para a ''mais alta missão'' que já recebera, ao ser encarregado de ''supervisionar a organização'' do evento.
Valeu a tentativa do embaixador de dourar a pílula, mas, minutos antes, ao término do almoço com o presidente do México, no Itamaraty, o próprio Fernando Henrique confirmara que Ricardo Teixeira precisou ser demovido da idéia de ignorar a solenidade no Planalto, ''por causa da medida provisória do futebol, evidentemente''.
Terreno na Lua
Um dos depoentes da CPI da Corrupção na Prefeitura de Santo André disse que recolhia todo mês grandes quantias das empresas de ônibus da cidade, para ''fazer troco''. Outro afirmou que a dinheirama destinava-se ao pagamento de funcionários.
Nessa batida, não demora, entram em cena os chalés do Maranhão, que, pelo preço, já devem estar uns colossos.
Editorial
ARTILHARIA PESADA
O Banco Central acompanhou a atual disparada do dólar com serenidade de monge tibetano. Deixou os especuladores à vontade mas, ao que tudo indica, vê na cotação de R$ 3 uma barreira perigosa, que não deve ser alcançada. Anunciou a disposição de vender US$ 100 milhões por dia, en tre a próxima segunda feira e o dia 31 de julho. A operação - que amplia a liquidez do mercado - poderá custar até US$ 1,5 bilhão das reservas internacionais. Recebida com ceticismo, a estratégia surtiu efeito imediato. O dólar caiu 2,56% na quarta-feira e voltou a cair ontem.
O ceticismo, porém, não é totalmente descabido. Experientes economistas - alguns deles com passagem pelo Banco Central - temem que o mercado entenda as intervenções diárias como sintoma de fragilidade. ''Pode alimentar mais ainda o apetite dos especuladores'', alerta Carlos Thadeu de Freitas, professor do Ibmec . No enfoque pessimista, o BC corre o risco de queimar reservas e ''entregar o ouro ao bandido''. Outro especialista ouvido pelo JB, Emanuel Pereira da Silva, da Gap Asset Management, apóia a decisão, mas explica que a intervenção do BC não altera a principal fonte de pressão estrutural sobre o dólar: o impacto do risco eleitoral na decisão de investir.
Sem dúvida, parte do nervosismo é gerada pela incerteza que cerca a sucessão presidencial. O próprio Fundo Monetário Internacional reconhece a influência das eleições. Na quarta-feira, em entrevista no Bundesbank (banco central alemão), o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, afirmou que a crise no Brasil ''é um problema político''. Não se fez de rogado e deu nome aos bois: ''Os mercados e os analistas estão sofrendo de um ataque de histeria diante da possibilidade de vitória do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.
Se a sucessão de Fernando Henrique põe lenha na fogueira, seria um erro fechar os olhos a fatores econômicos reais que pesam no ânimo dos investidores. O principal deles é a crescente dúvida se o Brasil tem ou não condições de honrar seus compromissos financeiros. Afinal, a dívida pública aproxima-se de 58% do PIB. Dependendo do perfil e da qualidade do endividamento, não é um pesadelo. O nó da questão está na capacidade de geração de caixa do governo, que tem de cobrir as obrigações financeiras. Teme-se que a geração de superávit primário não seja suficiente.
O que está em jogo é a ''solvência fiscal''. Enquanto não for assegurada a geração de caixa, o país será alvo de ataques especulativos. E o Banco Central se verá forçado a utilizar artilharia pesada.
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07/05/2002
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