Itaú confirma que aplicações beneficiaram Jader



Itaú confirma que aplicações beneficiaram Jader Informação servirá de argumento para que comissão proponha processo contra senador BRASÍLIA - O Itaú confirmou à comissão de investigação do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado que o presidente licenciado da Casa, Jader Barbalho (PMDB-PA), foi o beneficiário de aplicações financeiras reforçadas por cheques administrativos do Banco do Estado do Pará (Banpará). Em pelo menos quatro operações aparecem cheques pessoais do senador, emitidos quando ele era governador do Pará. A confirmação das aplicações servirá de argumento para que a comissão investigativa proponha ao Conselho de Ética, em relatório que será apresentado hoje, a abertura de processo contra Jader por quebra de decoro. As evidências levantadas com a ajuda de técnicos do Banco Central (BC) derrubam a versão do senador, que negou em depoimento há 13 dias ter usado dinheiro do Banpará nas transações. O presidente interino do conselho, Geraldo Althoff (PFL-SC), está disposto a marcar uma sessão ainda esta semana para que o relatório seja levado à votação. A expectativa é de que o texto seja aprovado, mas os senadores favoráveis à abertura de processo terão de superar alguns obstáculos, já que o PMDB promete comandar manobras para adiar a análise do parecer. Aliado de Jader, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), um dos três integrantes da comissão investigativa, anunciou que deverá apresentar um voto em separado, pois não concorda com a tese de que ele mentiu. João Alberto pretende pedir um prazo de 48 horas para analisar as conclusões dos dois outros membros da comissão - Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM). Transação - Em depoimento dado no dia 29 e até hoje não assinado, Jader negou com ênfase especial uma das operações postas sob suspeita pela comissão investigativa. Registros dessa transação indicam um complemento de Cr$ 93 mil (R$ 141,22 mil) feito pelo presidente licenciado da Casa e um depósito de Cr$ 50 milhões (R$ 75,9 mil) realizado por meio de cheque do Banpará, além do pagamento em dinheiro de Cr$ 87,00 (R$ 0,13). O presidente licenciado do Senado questionou o aparecimento desse pequeno resíduo e colocou em dúvida toda a operação, confirmada posteriormente aos senadores pelo Itaú, onde a aplicação foi realizada. Além de explicar detalhadamente tal operação, o relatório detalha outras quatro movimentações, todas elas promovidas com cheques pessoais de Jader e cheques administrativos do Banpará. Os integrantes da comissão de investigação aguardavam a chegada, na noite de ontem, de um documento do BC capaz de comprovar que Jader, ao contrário do que afirma, sabia que seu nome estava incluído no primeiro relatório sobre o caso Banpará, produzido em 1992 pelo fiscal Abrahão Patruni Junior. O relatório da comissão investigativa terá cerca de 50 páginas e será dividido em quatro partes - explicações preliminares, apuração dos fatos, confronto das provas e as conclusões. Tuma adiantou que não será sugerida uma pena específica para o senador paraense, mas somente a abertura do processo. "Vamos às contas de Jader para ver se aqueles recursos são de um investimento privado ou se ele foi beneficiado", afirmou. Discurso - O parecer incluirá um relato sobre a Fazenda Campo Maior, comprada por Jader do empresário José Osmar Borges - acusado de ser um dos maiores fraudadores da Sudam - e não declarada no Imposto de Renda, como o senador afirmou em discurso na tribuna do Senado. A comissão também vai relatar as ameaças feitas por Jader a outros senadores, ao sugerir que eles também poderiam ser alvo de acusações relativas a atos praticados antes do início do mandato - citando Tuma, quando era diretor da Polícia Federal, e José Sarney (PMDB-AP), quando presidente da República. A acusação de que Jader teria retardado o encaminhamento de um ofício do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) pedindo informações sobre os desvios no Banpará figurará apenas como complemento ao relatório. Primo do senador também é desafio para congressistas BRASÍLIA - O primeiro teste do Código de Ética da Câmara já tem data marcada, antes mesmo de ele ser aprovado em segundo turno, cuja votação foi marcada para a semana que vem. O delegado Helbio Dias Leite, que preside o inquérito sobre as fraudes na extinta Sudam, enviará na quinta-feira ao presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG), o dossiê com o depoimento de empresários que acusam o deputado José Priante (PMDB-PA) de participar das irregularidades na autarquia. Deputados da oposição e mesmo aliados de Aécio temem que o futuro do dossiê seja o de ficar engavetado na corregedoria da Casa. A deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP) afirma que, até agora, ela e seus colegas contrários à imunidade parlamentar para crimes comuns, ficam "reféns" de casos como este. "Eles são votados e rejeitados", constata. "E quem sofre é a imagem da Casa". Para PF, projetos da Sudam 'pagavam' acordos políticos BRASÍLIA - A Polícia Federal reuniu um dossiê, com depoimentos e documentos, para sustentar que o grupo ligado ao presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), trocava financiamentos da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) por apoio político. Em vários relatos, testemunhas citaram Jader e um primo do senador, o deputado José Priante (PMDB-PA). Um ex-candidato a prefeito de Altamira (PA), por exemplo, contou que Priante ofereceu dois projetos para ele desistir de sua candidatura e apoiar o PMDB. Um documento sobre a denúncia, elaborado pela PF, será entregue na quinta-feira ao Ministério Público Federal para abertura de inquérito. Em 20 dias, a PF reuniu provas e abriu 34 inquéritos em Altamira, um dos principais redutos eleitorais do senador - onde a Sudam financiou 48 projetos, quase todos com indícios de fraudes. Os depoimentos que envolvem os parlamentares serão enviados ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, que poderá solicitar abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo testemunhas, Priante atuava como intermediário de Jader nas negociações que envolviam recursos da autarquia. Um empresário, que foi candidato do PFL nas eleições municipais do ano passado, disse que foi chamado ao escritório de Jader e recebeu um pedido para desistir da disputa. De acordo com o relato, Jader queria que o empresário apoiasse o candidato peemedebista, Domingos Juvenil - que acabou vencendo a eleição. Papéis - Pouco depois, Priante teria procurado o candidato oposicionista e repetido a proposta. "Como forma de compensação, disse que eu poderia apresentar dois projetos na Sudam e ele, Priante, lutaria pela aprovação no Condel (Conselho Deliberativo da Sudam)", disse o empresário à Polícia Federal. O deputado paraense esteve, segundo o mesmo depoimento, na casa do candidato derrotado junto com os empresários José Soares Sobrinho e Danny Gutzeit, ambos suspeitos de envolvimento em fraudes da Sudam. O relatório sobre o caso, elaborado por quatro delegados da PF, reúne vasta quantidade de documentos - que podem comprometer ainda mais a situação de Jader. Os policiais pedirão o indiciamento do presidente licenciado do Senado e de Priante, que em alguns casos chega a aparecer mais que Jader. "São papéis bombásticos", afirma um dos delegados que participaram das investigações. Essa é a primeira vez que a PF consegue algo concreto contra o senador peemedebista. Os outros dois inquéritos contra Jader - sobre desvios de recursos do Banco do Estado do Pará (Banpará) e venda irregular de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) da Fazenda Paraíso - estão no STF à espera de documentação. O dossiê também deve ser entregue ao corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP). PMDB governista vai retaliar aliados de Itamar Grupo de Temer avisa que montará executiva 'puro-sangue', sem participação de rebeldes BRASÍLIA - A convenção do PMDB acabou, mas a briga dos rebeldes ligados ao governador de Minas, Itamar Franco, com os governistas e independentes que elegeram o deputado Michel Temer (SP) presidente do partido continua. Hoje à tarde, os membros do recém-eleito diretório escolhem a nova executiva nacional e os governistas avisam que vão fazer um colegiado "puro-sangue", deixando de fora os rebeldes, que conquistaram 37% dos votos na convenção. "A executiva representará a maioria, já que 63% querem o partido comandado por quem ganhou", afirmou o líder da legenda na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). "Depois das manobras desleais e golpes que nos aplicaram na convenção, descumprindo acertos de procedimento que fizemos por escrito, não estamos dispostos a dar nenhum posto a eles", disse o deputado Wagner Rossi (SP), que perde a vaga de vice com a eleição de um presidente paulista. Alguns peemedebistas ponderaram a conveniência de dar espaço a quercistas e itamaristas. "Quem está pensando em candidatura própria à Presidência não pode descartar uma parcela significativa do partido", argumentava o deputado Henrique Eduardo Alves (RN) em vão. "Não dá para dividir o poder com essa gente que patrocina golpes que nem um grêmio estudantil ousaria", resumiu Temer, em encontro dos governistas que definiu a estratégia da montagem da direção. Ele se referia à manobra dos rebeldes, de mudar a cédula de votação domingo à revelia da executiva. Para os governistas, a opção "puro-sangue" é necessária porque a presidência da executiva não é o único cargo estratégico. A secretaria-geral - ocupada pelo deputado mineiro Saraiva Felipe, aliado de Itamar - tem o livro de atas e o controle administrativo do partido. Além disso, os aliados do Planalto querem a hegemonia como parte da estratégia de dar ao partido feições claras no ano eleitoral. Geddel disse que Temer comandará o partido seguindo à risca o estatuto. Mas advertiu: "Michel tem dito que vai fazer valer preceitos como o da fidelidade partidária." Isto significa que, discutidas as questões e acertada uma linha de conduta, a fidelidade vai valer, forçando os dissidentes a seguirem o partido, sob pena de serem expulsos - o que, a partir de outubro, equivale a ficar fora das eleições. "A idéia é que surja um PMDB onde posições divergentes vão existir, mas sem a leniência permanente que exponha o partido quanto às posições assumidas", explicou Geddel. PDT planeja reiterar convite ao governador RIO - Derrotado na convenção do PMDB, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, ouvirá na quinta-feira que, se quiser, poderá ingressar imediatamente no PDT e já chegará ao partido como candidato à Presidência. Itamar receberá em Belo Horizonte o presidente nacional pedetista, Leonel Brizola, e o deputado federal Vivaldo Barbosa (RJ), outro articulador da formação de uma "candidatura nacionalista" na sucessão presidencial. Para a hipótese de Itamar decidir ficar no PMDB, porém, o PDT tem uma saída: formalizar logo o apoio à candidatura de Ciro Gomes, do PPS. "O governo ganhou, o grupo oposicionista está reduzido a um terço do PMDB. Mesmo que uma parte dos dissidentes fique no partido, o governador Itamar deve sair", disse Vivaldo. A saída de Itamar do PMDB resolveria o problema do PDT, que, sem ele, não tem nenhum nome na legenda para a disputa presidencial. Para Vivaldo, uma opção do governador por deixar o partido "melhora as condições para a formação do projeto nacionalista em torno de Itamar". "E esperamos que Ciro Gomes venha a fazer parte desse projeto." Embora os articuladores políticos de Itamar já tenham avisado ao PDT que é provável a permanência do governador no PMDB, Vivaldo acredita tratar-se apenas de uma estratégia política. Família de Maluf ligou para consultor na Suíça Escritório HBK, de Genebra, presta assessoria a grandes investidores estrangeiros Familiares do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) fizeram ligações telefônicas para o HBK Investment Advisory S.A., estabelecido em Genebra. O HBK é reconhecido na Europa como um dos mais importantes escritórios de consultoria a grandes investidores estrangeiros que mantêm ou mantiveram recursos depositados em instituições financeiras na Suíça. Os contatos telefônicos foram mantidos por meio de celulares e linhas fixas, segundo apurou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Pública do Município. A revelação sobre as ligações - possibilitada pela quebra de sigilo decretada pelo juiz-corregedor Maurício Lemos Porto Alves - confirma notícia veiculada pelo jornal Le Temps, que circula em Genebra. O escritório de consultoria atuava como orientador de Maluf quando o ex-prefeito ia à Suíça. O pepebista era tratado como "um príncipe", segundo o jornal. Os integrantes da CPI estão de posse das listagens fornecidas por quatro companhias telefônicas: Telesp Celular, Embratel, Intelig e BCP. Para os vereadores, as chamadas realizadas por familiares de Maluf para o escritório confirmam que o ex-prefeito manteve valores aplicados em bancos de Genebra. Além dos associados do HBK, advogados do escritório Schellemberg Wittmer, também na Suíça, teriam trabalhado para Maluf até 1997, quando ele transferiu os ativos para o Citbank da Ilha de Jersey. Ontem, os promotores de Justiça que investigam a conta no paraíso fiscal repeliram a afirmação do ex-prefeito de que eles teriam vazado dados confidenciais, inclusive números discados por Maluf e seus familiares. 'Roteiro' - O "affair Maluf", como está sendo chamado o caso do ex-prefeito na Suíça, está despertando uma grande curiosidade entre funcionários do governo, consultores financeiros e advogados em Genebra. O motivo são as suspeitas de que o caso envolva os mesmo personagens e o mesmo roteiro de outro grande escândalo de lavagem de dinheiro: o do ex-ditador da Nigéria Sani Abacha, general que está sendo investigado pelas autoridades do país. Segundo um funcionário do governo de Berna, o general - que governou a Nigéria entre 1993 e 1998 - manteve uma conta no Citibank de Genebra até 1996, quando teria transferido os seus ativos para Jersey, no Canal da Macha. Segundo as investigações conduzidas até agora, esse parece ter sido o mesmo roteiro do dinheiro de Maluf no exterior. Além das referências ao Citibank, outra semelhança é o suposto envolvimento da HBK e do escritório Wittmer, em ambos os casos. Contatado pelo Estado, o diretor da HBK, Al Caluti, nascido no Kuwait, se recusou a comentar o assunto. Jacques Wittmer, do escritório de advocacia, adotou uma posição igual. Artigos A chance das exportações SERGIO AMARAL O exame da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 277/2000 pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados oferece a oportunidade para uma ampla desoneração e promoção das exportações brasileiras, como todos desejamos. A PEC 277 tem o propósito de substituir o tributo vigente sobre a importação dos combustíveis (Parcela de Preço Específico - PPE) por uma nova contribuição e, assim, permitir a liberalização da importação de petróleo e derivados. Esta é uma meta que todos defendem. Foi igualmente concebida com o objetivo de assegurar isonomia tributária entre os bens importados e os produzidos no País, mediante a extensão às importações do PIS/Cofins e/ou Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), que já incidem sobre os bens e serviços produzidos internamente. A isonomia entre o produto nacional e o importado é antiga e justa aspiração dos empresários brasileiros. A PEC 277 merece uma avaliação cuidadosa. Do ponto de vista tributário, o empresário nacional enfrenta uma desvantagem comparativa em relação ao produtor estrangeiro, pois, em geral, o produto importado se beneficia, no país de origem, de isenção de impostos na cadeia produtiva. Os bens e serviços nacionais, ao contrário, sofrem a incidência de uma série de tributos, inclusive em cascata, que oneram a produção, retiram competividade às exportações e geram distorções no sistema produtivo. É inteiramente legítimo e necessário submeter os bens e serviços importados aos mesmos tributos que incidem sobre o produto nacional. Esse é o propósito da PEC 277. Se nos limitarmos a criar uma contribuição sobre a importação, alcançaremos o objetivo da isonomia, mas, em vez de reduzir, aumentaremos a carga tributária sobre a economia, pois muitos dos insumos importados se tornarão mais caros. Assim, a solução adequada está em atuarmos nas duas direções: criar a contribuição sobre a importação e, ao mesmo tempo, ampliar a desoneração da economia. Em outras palavras, o que se arrecada de um lado - na importação - se devolve de outro - na produção -, ampliando-se a desoneração do produtor, em particular do exportador. O grande desafio de uma reforma tributária está em que, de um lado, não devemos aumentar mais a carga tributária e, de outro, não podemos reduzir a arrecadação no momento em que o País faz um esforço considerável para equilibrar as contas públicas, de modo a fortalecer suas defesas diante das turbulências da economia mundial. A PEC 277 representa, assim, uma preciosa oportunidade para avançar na isonomia entre o produto nacional e o importado e, ao mesmo tempo, ampliar a desoneração e a promoção das exportações brasileiras. Tudo isso sem aumento da carga tributária nem redução da arrecadação. Como utilizar da maneira mais eficiente os recursos que serão gerados pela nova contribuição sobre as importações? Existem várias opções, que se dividem, grosso modo, em duas categorias: as medidas que reduzem o custo de produzir, em geral, e as iniciativas que beneficiam o exportador, em particular, a saber: Redução dos custos do produtor Diminuição da alíquota do PIS/Cofins sobre o produtor nacional; Revisão da estrutura do Imposto de Importação, de modo a compensar a elevação do custo dos insumos importados; Retirada da CPMF das bolsas de valores, decisão já adotada, mas pendente de identificação de fontes de recursos, nos termos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Desoneração e promoção das exportações Ampliação da desoneração do PIS/Cofins, na prática já assegurada à quase totalidade das etapas de produção (MP 2.202/2001, com um custo para o Tesouro da ordem de R$ 500 milhões), mas que pode ser simplificada na sua operacionalização, via desburocratização e, se possível, isenção na origem, em vez de devolução; Garantia de recursos adicionais para o Proex, tanto para equalização quanto para financiamento; Criação de um fundo de recursos para promoção das exportações e marketing; Retomada das negociações com os Estados para assegurar mais rápida compensação dos créditos do ICMS. Desta forma ganhamos em várias frentes. Reduzimos a concorrência, de certo modo desleal, do produto importado; aumentamos a competividade da empresa nacional; promovemos amplo programa de desoneração e apoio às exportações e, em conseqüência, criamos condições adicionais para a geração de saldos comerciais crescentes. O governo está pronto a sentar-se à mesa de negociação com as lideranças empresariais para alcançar objetivos que são comuns. Tenho todo o empenho nessa parceria. É preciso iniciar, desde já, uma avaliação das iniciativas mais eficientes e da modalidade técnico-jurídica de sua implementação. Algumas medidas precisam constar da PEC 277, outras, não; algumas requerem o princípio da anualidade, outras, não. Em resumo, precisamos de algumas semanas para preparar as medidas a serem submetidas ao Legislativo. Por isso, o caminho mais adequado é a votação, ainda nesta semana, da PEC 277 na Comissão Especial. No período entre a decisão na comissão e a votação em plenário, teremos o tempo necessário para preparar as supressões, isenções e modificações pertinentes à PEC, assim como definir as demais medidas legislativas necessárias. Ao assumir o Ministério do Desenvolvimento, há duas semanas, deixei claro o compromisso de me empenhar para ampliar a desoneração e a promoção das exportações. A PEC 277 oferece uma oportunidade valiosa para alcançar esse objetivo, sem ônus para o produtor nem custo adicional para o Tesouro. Não podemos desperdiçar esta chance, talvez única. Colunistas DORA KRAMER Salvaram-se quase todos O candidato dos partidos da aliança que resolver competir em populismo com os da oposição não vai se dar bem, pois o eleitor sabe muito bem que para defender aquelas idéias os outros são bem melhores do que ele Podem fazer das tripas coração para dizer que interferi no processo (do PMDB). Mas é mentira Embora no Brasil não se goste de discutir programa, a verdade é que só sou presidente porque tive uma proposta para o Brasil e ela foi aprovada O maior problema do governo no debate político é a falta de reação ao primeiro grito. Tem muito aliado aí que não responde à altura e ainda dá a entender que a oposição está certa Com um empurra-empurra entre dirigentes e os excessos de linguagem regulamentares nas palavras de ordem das torcidas, acabaram salvando-se quase todos na convenção do PMDB. Para quem viu o que viu em 1998 e não se esquece das memoráveis lutas-livres promovidas pelo MR-8 em defesa de Orestes Quércia em tempos mais remotos, o encontro de domingo saiu praticamente de graça no que tange ao custo de imagem para o partido. É verdade que, considerando-se o cerco à vizinhança do colégio onde se realizou a convenção, no lado sul do Plano Piloto brasiliense, e a quantidade da soldadesca de plantão dentro do local propriamente dito, em vários momentos havia mais policiais que convencionais. E isso, em matéria de expectativa de conduta, não se pode dizer que seja exatamente a mais satisfatória no que diz respeito a uma reunião partidária. Ou seja, se é preciso chamar a polícia para garantir previamente a ordem é porque o equilíbrio dos espíritos não dá conta sozinho do recado. Seja pela presença das fardas ou pela saudável percepção de que pancadaria e embate político são exercícios excludentes, fato é que nem o deputado Marcelo Barbieri cumpriu a promessa de "ir para o pau" nem o vice-governador Newton Cardoso levou a termo a ameaça de "baixar o nível". Os partidários do governador Itamar Franco perderam e o fizeram até com categoria, considerando-se a liberalidade de comportamento permitida numa convenção partidária, ambiente onde também não se espera que as pessoas ajam tal qual lordes em chá das cinco. De mais a mais, o PMDB é um partido com problemas profundos: está sem rumo, sem discurso nítido à população, sem projeto, sem um eixo claro de condução. Natural, portanto, que saia de um encontro nacional tão desunido como entrou. Afinal, tudo aquilo de que vem prescindindo a sigla desde que completou a condução do processo de transição entre a democracia e a ditadura, não se reconquista do dia para a noite. Toda reconstrução, ainda mais quando feita em terra arrasada, leva tempo. Se não tivermos um pouco de paciência vamos terminar por concluir que a democracia não fez bem ao PMDB. E o resultado de tal raciocínio lógico seria equivocado, dado que o regime de liberdade institucional nunca causa mal pior que o contrário dele. Eleito com 63% dos votos, o grupo liderado por Michel Temer tem agora o compromisso inequívoco, inadiável e extremamente complicado de repor o PMDB no curso da reconquista da respeitabilidade e da credibilidade. Se a tarefa for levada a bom termo, ter-se-ão salvado todos. Mas se a vitória tiver o único objetivo de manter a legenda a serviço de interesses regionais e individuais, pautados pela visão de que poder só se exerce a bordo de cargos e a reboque dos planos de quem tem o poder de concedê-los, aí realmente não haverá diferença entre o PMDB e aquelas siglas que se notabilizam por, de dois em dois anos, freqüentarem a seção dos classificados eleitorais sempre disponíveis para locações de temporada. No início, se destacará pelo tamanho, mas ao longo do tempo tenderá a perder as dimensões de hoje. Ficará pequena nos dois sentidos. O discurso dos vencedores é de quem tem consciência do perigo. Tanto que querem tratar a maioria que exibiram no domingo como hegemonia de fato, formando uma executiva nacional puro-sangue, sem concessões para o adversário, pois, na visão deles, isso perpetuará no partido não a contestação de cunho político, mas os conflitos de ordem pessoal. É um caminho. Pode dar certo se os critérios forem realmente partidários e afirmativos ou pode levar ao retrocesso se a idéia for apenas a de dourar uma pílula para assim aumentar seu valor de mercado. Considerando que certos atalhos são mais fáceis, mas nem sempre levam ao paraíso, o PMDB está, pois, diante de uma questão que o livre arbítrio resolve. Opções de Itamar Itamar Franco passou rapidamente pela convenção. Votou, nada falou, não se inebriou pelo som dos aplausos que recebeu e, assim, não piorou a derrota que sofreu. Deixou portas bem abertas e azeitadas para permanecer no PMDB. Correligionários próximos a ele não sabiam dizer o que o governador fará, mas tinham claro o que achavam que deveria fazer. O mais lúcido deles, Henrique Hargreaves, o aconselharia a ficar exatamente onde está. E por dois motivos. Primeiro, para irritar o presidente Fernando Henrique Cardoso e, segundo, porque no PMDB Itamar teria várias escolhas: a disputa da reeleição, o Senado ou ainda uma tentativa à Presidência. Em outra legenda, PDT ou PL, por exemplo, ficaria amarrado a uma candidatura ao Planalto com bastante chance de derrota. Editorial Uma análise otimista da economia global As bolsas voltaram a cair nos principais mercados, derrubadas por nova onda de pessimismo. O Brasil, como de costume, seguiu a onda mundial. No meio da tarde, ontem, o Ibovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo, estava em baixa de 2,7% em relação ao fechamento de quinta-feira, véspera do feriado. O dólar comercial era cotado a R$ 2,60, como se o País estivesse a um passo de uma crise cambial. Por que tudo isso? Duas notícias, na sexta-feira, foram recebidas como sinais de uma catástrofe iminente. Nos Estados Unidos, o desemprego cresceu, em agosto, para 4,9% da força de trabalho. Foi o pior resultado em quatro anos. No Japão, o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre foi 0,8% menor que o do primeiro. Como a Europa também está em marcha lenta, os pessimistas concluíram: é grande o risco de uma recessão sincronizada. Se as principais economias mergulharem ao mesmo tempo numa crise profunda, a estagnação poderá ser muito longa, porque nenhuma será capaz de puxar as outras. Há, no entanto, quem considere esse temor um exagero e sustente a hipótese contrária: o mundo tem condições para retomar, em breve, um crescimento liderado pela economia americana. Talvez o Japão demore algum tempo a mais para ganhar dinamismo. Sua estagnação, afinal, já dura uma década e não há sinais de recuperação a curto prazo. Mas esse é um caso particular. A crise japonesa tem causas bem diferentes da retração observada nas outras grandes economias. Essa retração está ligada, essencialmente, ao estouro de uma bolha no setor da tecnologia da informação, segundo análise do jornalista econômico Anatoly Kaletsky do jornal britânico The Times, que o Estado reproduziu no domingo. Durante anos, um montante enorme de capital foi gasto, em vários países, na compra de equipamentos de informática e de comunicações. Redes foram formadas, sociedades foram constituídas, empresas compraram equipamentos de último tipo, logo superados por outros com mais recursos, tecnologias foram desenvolvidas e uma bolsa, a Nasdaq, passou a refletir o entusiasmo dos investidores diante desse mundo. Uma expressão, "nova economia", foi criada para designar os setores de tecnologia mais avançada. Em pouco tempo, passou-se a usar essa expressão para designar não um setor da economia, mas uma nova configuração de toda a atividade produtiva. Essa nova realidade, como logo perceberam as pessoas sensatas, era uma ficção. O crescimento da "nova economia" seria limitado, como o de qualquer outro setor, pelas possibilidades do mercado. Esse limite afinal se impôs e a bolha explodiu. A crise, hoje, atinge basicamente as empresas de computadores, Internet e telefonia. Outros segmentos da economia, no entanto, continuam prosperando. O artigo menciona, de modo especial, a construção civil nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, assim como o comércio varejista e a indústria de bens de consumo. O desemprego nos Estados Unidos, pode-se acrescentar, está longe de ser desastroso, embora tenha sido, em agosto, o mais alto em quatro anos. Afinal, a economia perdeu, de fato, boa parte do impulso dos anos anteriores. Mas não afundou na estagnação. O levantamento mensal da Associação Nacional dos Gerentes de Compras dos Estados Unidos mostra que há muito dinamismo em vários setores. Que haja uma desaceleração não se discute. Que isso tenha afetado, entre outras coisas, o movimento internacional de fusões e aquisições de empresas, também é evidente. As empresas da Europa retraíram-se neste ano, e inverteu-se o fluxo de capitais: os recursos, agora, vão em maior volume dos Estados Unidos para o outro lado do Atlântico. Mas esse esfriamento não é, necessariamente, um passo para a recessão. O mais provável é que esteja ocorrendo uma grande acomodação dos mercados, depois do estouro da bolha da "nova economia". Nessa acomodação, recursos são dirigidos a outros segmentos, em que não se esgotou o potencial de expansão. A histeria dos mercados pode tornar essa acomodação um processo desnecessariamente penoso. Um pouco mais de bom senso também apressaria a recuperação econômica nas principais economias - e no Brasil também. Topo da página

09/11/2001


Artigos Relacionados


Ex-gerente diz que Jader movimentava conta no Itaú

Casal confirma pagamento de TDAs e encontro com Jader em hotel de São Paulo

Doações da Conab beneficiaram 174 mil famílias

Remédios para asma já beneficiaram 260 mil pessoas

Doações da Conab beneficiaram mais de 533.407 mil famílias este ano

Perito da PF diz que 29 candidatos nas últimas eleições se beneficiaram do esquema das contas CC-5