Jader entrega hoje a carta-renúncia



Jader entrega hoje a carta-renúncia Com a decisão tomada desde quinta-feira, senador aproveitou últimos dias para pavimentar seu futuro político no Pará O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) anunciou ontem à noite em Belém, durante programa na sua emissora de televisão, a RBA, que renuncia ao seu mandato porque não terá os instrumentos para se defender das acusações de corrupção. ''Não permaneço porque não quero correr o risco desse jogo de cartas marcadas. A renúncia é um recuo para continuar na luta'', disse. Cerca de uma hora antes, às 22h30, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), havia negado a pretensão de Jader de impedir a instauração formal do processo de cassação de seu mandato. Segundo o ministro, a defesa de Jader repetia os argumentos da liminar anteriormente negada. A petição dos advogados do senador também foi considerada tecnicamente imperfeita. Durante mais de duas horas, Jader utilizou o programa Argumento, apresentado pelo jornalista Mauro Bonna na RBA, afiliada da Rede Bandeirantes, como palanque para ratificar sua intenção de concorrer às eleições em 2002. ''Não existe uma prova sequer contra mim. Mas não vou dar a chance de me deixarem oito anos fora da vida pública, inelegível. Se eu escapei do regime militar, do senhor Romeu Tuma, que na época era do Dops... Só Deus e o povo do Pará é que vão dizer se eu devo ou não ser governador do Pará, se devo ou não concorrer ao Senado no ano que vem'', disse, acusando o senador Romeu Tuma (PFL-SP), integrante da comissão que investigou o desvio de recursos do Banpará, de falsificar documentos para incriminá-lo. Além de críticas a Tuma e ao PFL, o dono da emissora acusou a imprensa de comandar uma ''campanha de linchamento'' para tirá-lo do Senado. Segundo ele, a renúncia seria conseqüência de uma ''vingança das elites brasileiras, que não admitem a presença de um nortista na presidência do Senado''. Perguntas - Jader respondeu várias perguntas dos telespectadores e ouvintes que acompanharam sua entrevista, transmitida por mais de 20 emissoras de TV e de rádio do Pará. Embora não descarte a possibilidade de tentar voltar ao Senado em 2003, Jader tem demonstrado em conversas com seus correligionários do PMDB sua disposição de enfrentar o candidato indicado pelo governador Almir Gabriel (PSDB), que deverá ser o atual secretário especial de Produção, Simão Jatene. ''Seria uma honra para mim voltar a governar o Pará pela terceira vez'', disse Jader antes do programa. E logo em seguida emendou: ''Isso só depende do povo paraense, que aliás me coloca em primeiro lugar em todas as pesquisas para esse cargo na próxima eleição.'' Nas duas horas do programa, Jader fez, principalmente, o papel de vítima de uma ''farsa''. Itamar ainda avalia saída do PMDB Reunião com principais assessores no Rio estuda quadro eleitoral e governador deve comunicar decisão hoje em Minas Depois de garantir por carta a seu principal aliado, o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, que permaneceria no PMDB mesmo com sua derrota na convenção nacional do partido, o governador de Minas Gerais e candidato à presidência da República, Itamar Franco, voltou a estudar a possibilidade de mudar de partido. Ele reuniu-se ontem no Hotel Sheraton, no Rio, com alguns de seus assessores mais próximos para discutir a questão, mas, segundo um dos participantes da reunião o encontro terminou ''sem solução''. Segundo a assessoria de Imprensa do governador, se houver algum anúncio oficial, ele deverá ser feito hoje, em Belo Horizonte. Os boatos sobre a decisão de Itamar Franco deixar o PMDB cresceram durante a tarde como ''fogo em palha seca'', segundo a definição de Brizola, que já havia convidado Itamar para ingressar no PDT. Entre outros assessores, Itamar esteve reunido com Henrique Hargreaves e Marcelo Siqueira. Como todos estavam hospedados no Hotel Sheraton, ao final do encontro se recolheram aos quartos sem dar qualquer declaração. A reunião durou quatro horas. Começou às 16h10 e terminou às 20h15. Segundo representantes do PMDB mineiro, Itamar, mesmo desejando ficar no partido, está sendo pressionado por alguns de seus assessores mais próximos para deixar a legenda. Uma das razões teria sido a de que ele foi proibido de criticar o governo federal no programa nacional do PMDB. Esta determinação da cúpula do partido levou Itamar a optar por não participar do programa, para não ficar falando abobrinhas, como já havia relatado o embaixador José Aparecido, uma das pessoas mais próximas do governador mineiro. O governador Brizola disse ter sido informado da possibilidade da saída de Itamar do PMDB no meio da tarde e que não havia sido informado pelo governador da intenção de sair do partido. ''Quanto a nós, o partido precisa se reunir para avaliar os cenários que venham a se desenhar'' a partir da decisão de Itamar. Brizola já havia demonstrado sua preferência pelo apoio à candidatura de Itamar à presidência, mas quando o governador mineiro lhe informou da opção pela permanência no PMDB, o ex-governador do Rio descartou continuar as conversações com o mineiro. Itamar, que está no PMDB pela terceira vez em sua vida pública, é conhecido por tomar decisões de última hora. Entrou para o folclore político de Minas a opção de Itamar por disputar o Senado pelo então MDB em 1978. Ele definiu-se no último minuto do último dia. Na verdade, diz-se que Itamar atrasou o relógio para pode manter o prazo regimental e homologar sua candidatura. A derrota na convenção do PMDB para o grupo governista, ao qual faz oposição, deixou Itamar em uma situação difícil. Mas como houve a decisão de o partido ter candidato próprio à presidência e o nome do candidato será escolhido por prévias entre todos os filiados, o governador mineiro parecia decidido a ficar. A principal razão para arriscar a candidatura pelo PMDB em vez de buscar uma legenda garantida é a estrutura partidária no país inteiro e o tempo de propaganda gratuita na televisão. Rompida aliança entre Ciro e Brizola Com uma ressentida troca de cartas, Leonel Brizola (PDT) e Ciro Gomes (PPS) puseram ontem fim à possibilidade de o PDT vir a apoiar a candidatura de Ciro à Presidência da República nas eleições do ano que vem. O namoro, que começou há um ano com jeito de menàge à trois - posto que incluía a aliança com um terceiro nome, o do governador Itamar Franco - , se inviabilizou depois que o PPS gaúcho aceitou, na segunda-feira, a filiação do ex-governador Antônio Britto à legenda. ''Acho que essa aliança com o Ciro está mais do que em crise. Ela se encaminha para um epílogo previsível. É impraticável a aliança com um partido que abriga o Britto e seu grupo político, que notabilizou seu governo no Rio Grande do Sul por destruir e vender tudo que eu fiz quando governador. Nós avisamos que isso poderia acontecer, mas o Ciro escolheu o seu destino: o da direita'', disse Brizola ontem à noite ao Jornal do Brasil. Numa carta de duas laudas enviada na noite de segunda-feira a Brizola, Ciro escreveu que não aceita ''essa última exigência'' de Brizola. ''Meu partido não aceita e eu me sentiria diminuído em minha dignidade pessoal se me visse praticando uma descortesia descabida a pessoas que estão confiando a mim parte de seus destinos políticos'', escreveu Ciro, referindo-se a Antônio Britto. Ele argumenta que partidos pequenos como o PPS e o PDT têm de procurar caminhos para se fortalecer e garantir sua sobrevivência. Ressentimentos - O candidato do PPS desfiou em sua carta um rosário de ressentimentos em relação a Brizola. ''Muitas vezes tive que suportar calado manifestações públicas suas que colocava em dúvida a firmeza e coerência de minha atitude de oposição frente ao atual modelo (econômico)'', começa Ciro. ''Mais recentemente, tive que aceitar resignado à tentativa de um acordo com o governador Itamar Franco da forma que o senhor encaminhou: não houve propriamente um cuidado maior comigo. Ficou notória e pública sua primeira intenção naquele processo todo: seu predileto era o governador Itamar Franco''. Brizola mandou sua resposta por fax. ''Lamento ter causado ao senhor os dissabores e constrangimentos que menciona em sua carta (...) Deploro que o ilustre amigo só agora, depois de quase um ano, é que venha a expressá-la e de forma tão ressentida e amarga'', começa Brizola, que durante toda a narrativa conjuga os verbos no pretérito passado. Sobre Britto, Brizola é categórico. ''A conveniência de seu comparecimento à recepção por seu partido do Sr. Britto e seu grupo é algo que só pode ser avaliado pelo por sua própria consciência''. O pedetista chega a comparar o PPS ao PSB. ''Acolhê-lo (a Britto) no PPS é problema de seu partido, como foi problema do PSB de Miguel Arraes abrigar, como barriga de aluguel, o Sr. Anthony Garotinho e entregar-lhe a seção estadual do partido''. Em Porto Alegre, Ciro Gomes não pareceu convencido do fim do namoro. ''Até porque sou mais novo, faço questão de procurar o Brizola, a quem respeito muito, para prosseguir nas nossas negociações. Nem que seja para colher pessoalmente sua decisão. Assim é que os cavalheiros e homens de bem procedem. Estava previsto um encontro para o próximo dia 8, mas se puder vou antecipá-lo'', disse Ciro. Ao JB, Brizola disse que o encontro será cancelado. MST inicia marcha para fazenda de FH BURITIS ( MG) E BRASÍLIA - Cerca de 130 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciaram ontem uma caminhada em direção à fazenda Córrego da Ponte, dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Buritis (MG). O governo já deslocou para a fazenda uma tropa de 300 soldados do Exército (mais que o dobro dos manifestantes), a fim de evitar a ocupação da propriedade, e um grupo pequeno do Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal. Não está descartada a hipótese de os sem-terra tentarem uma invasão. ''Se a manifestação vai ser fora ou dentro da fazenda, a gente decide no caminho'', disse Gilmar Oliveira, um dos coordenadores da marcha. Bancos - O grupo deixou ontem a frente da Prefeitura de Buritis e só chegará na sexta-feira à fazenda Córrego da Ponte, um percurso de 70 quilômetros. Desde a semana passada, os sem-terra já ocuparam as agências do Banco do Brasil e Bradesco da cidade. ''O problema é com o governo, mas quem acaba sofrendo é a gente'', disse a vice-prefeita de Buritis, Marina Prado, do PSDB, partido do presidente. Os sem-terra querem que o governo aumente o financiamento aos assentados do Distrito Federal e entorno, de R$ 9.600 para R$ 12 mil, e pedem a regularização dos assentamentos de quase 200 famílias. O presidente Fernando Henrique lança hoje o programa Viva Terra, que estimulará contratos de arrendamento e parceria entre agricultores familiares e proprietários rurais, atingindo 250 mil famílias. Arruda veta seu apoio a Serra BRASÍLIA - O ex-senador José Roberto Arruda, recém-filiado ao PFL, está preocupado com a possibilidade de uma coligação entre seu novo partido e o PSDB para as eleições do ano que vem. ''Com o (ministro da Saúde) José Serra eu não subo no palanque. Fui líder do governo e sei de todas as reuniões palacianas onde ele fazia articulações em prol da minha cassação e para prejudicar o Tasso'', disse, referindo-se ao governador do Ceará, Tasso Jereissati. Arruda, que disputará uma vaga na Câmara Federal, deu entrevista segunda-feira a um programa local de TV, em Brasília. Voltou a dizer que o senador José Eduardo Dutra (PT-SE) viu a lista de votos da sessão que cassou Luiz Estevão. Ele também insinuou, mais uma vez, que a senadora Heloísa Helena (PT-AL) votou a favor de Estevão. MEC faz tudo para não pagar grevistas Ministro Paulo Renato pede a advogados do governo que posterguem ao máximo depósito do salário de servidores BRASÍLIA - Professores e servidores das universidades federais que estão em greve em 50 das 52 instituições públicas passaram o dia de ontem aguardando um contra-ataque do Ministério da Educação (MEC), que acabou não acontecendo. A Advocacia Geral da União (AGU) só vai recorrer das decisões judicias favoráveis aos grevistas hoje. Na segunda-feira, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a 6ª Vara Federal de Brasília determinaram o pagamento dos salários referentes a setembro, retidos nos bancos por ordem de Paulo Renato. O ministro, mesmo pressionado, não pretende repensar a decisão. ''Fiz isso para garantir que o semestre letivo e o vestibular de fim de ano não seja suspenso'', justificou. Tradicionalmente, os pagamentos são efetuados até o segundo dia útil do mês, mas, por lei, o governo tem até cinco dias úteis para repassar o dinheiro aos funcionários da Educação. Os grevistas sabem disso e, antes de decidirem o que farão para convencer Paulo Renato a recuar, preferem aguardar. ''Enquanto isso, as negociações estão paradas'', afirma Agnaldo Fernandes, presidente do Sindicato das Associações dos Servidores das Universidades Brasileiras (Fasubra). O ministro, que na semana passada havia falado em uma ''politização do movimento'', acusou ontem alguns reitores de apoiarem os grevistas. Segundo ele, muitos deles têm se manifestado em favor da manutenção das paralisações por meio de artigos de jornais. ''O reitor não pode se manifestar a favor de greve alguma, pois ele é gerente de algo que é público'', afirmou. Na lista de Paulo Renato estão os reitores das universidades federais de Juiz de Fora, da Paraíba, São Carlos (SP) e do Rio Grande do Sul. A AGU não informou se o recurso encaminhado pelo MEC à Justiça virá em forma de uma ação apenas ou pulverizada. A única exigência feita pelo ministro da Educação foi que os advogados do governo consigam postergar o pagamento pelo maior tempo possível. A esperança de Paulo Renato é que até o fim da semana se chegue a um acordo. Ontem o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Francisco Cesar de Sá Barreto, veio a Brasília para dizer ao ministro Paulo Renato que o vestibular de fim de ano da universidade só estará ameaçado caso a greve dos professores e servidores se estender até 3 de dezembro. ''Depois dessa data a execução do processo seletivo ficaria ameaçada e como nós não iremos terceirizar o serviço, o vestibular teria de ser suspenso'', garantiu. Em assembléia realizada em Belo Horizonte, entretanto, os professores da UFMG acertaram que deverão pedir ao reitor o cancelamento imediato do vestibular de fim de ano, o que seria, segundo Paulo Renato, a chegada do caos ao ensino de terceiro grau federal. A primeira fase do exame da UFMG está marcada para os dias 8 e 9 de dezembro. Na Universidade Federal de Ouro Preto, os vestibulares já foram adiados. Artigos Arpad e Vieira Mario Barata Foi com muita alegria que descobri recentemente de pé a bela casa de Santa Teresa que alugava aposentos nos anos 40, perto do antigo Hotel Internacional, hoje demolido. Era um marco da Belle Époque no Rio e em parte de seu terreno houve a criação do simpático Bairro Equitativa. Em cômodo dessa casa residiu por vários anos o casal de pintores Arpad Szenes e Maria Helena Vieira da Silva, que retornou a Paris em 1947. Ambos se naturalizaram cidadãos franceses. Ela está com importantes obras no Museu Nacional de Arte Moderna, do Centro Pompidou, adquiridas pelo Estado. Em 1961, foi Grande Prêmio da VI Bienal de São Paulo, mas não foi o prestígio do Brasil que levantou o seu valor na França. Sempre participou da Escola de Paris, primeiramente como aluna de artistas significativos e depois como criadora ela mesma. Arpad, atuando mais congenitamente no ensino - no Rio ou em Paris - está com Maria Helena na bela Fundação Arpad Szenes/Vieira da Silva, na Praça das Amoreiras, em Lisboa. Essa entidade possui o mais amplo e valioso conjunto de obras do ''período brasileiro'' do casal, do qual boa seleção se mostra na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. Esse conjunto permitiu por comparações definir que a casa antiga de Santa Teresa ainda está de pé. Sugeri à direção da Casa França-Brasil que programasse uma placa alusiva à longa estada dos dois pintores no bairro, aposta em cooperação com o proprietário da pequena edificação, que por coincidência é francês de origem e tem amor pela cultura e compreensão do assunto. Eu trabalhava como conservador-auxiliar no Museu Nacional de Belas Artes, em 1942, quando ali foi montada a exposição de obras de Vieira, que tinha como carro-chefe o forte e surpreendente quadro Guerra, hoje em Paris. Estudei então bastante as suas obras e também, na ABI, as da exposição posterior de Arpad. Amigo dos dois artistas, em 1947 e 1948 os visitei muitas vezes em Paris no seu ateliê. Jantava frenqüentemente com os dois, juntamente com o crítico Ruben Navarra. Este, ao escrever sobre Vieira, certa vez, falara do seu ''olhar interior em que a matéria parecia evaporar-se no claro escuro do seu mosaico''. Eu chamara de ''intimismo'' da artista essa possibilidade de caracterizar o seu caminho fundamental. O caminho de Arpad atingiu a beleza de um dos mais valiosos ''abstracionismos informais'' da época. Colunistas COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER Garotinho quer repetir Pelé O governador Anthony Garotinho não baixa a guarda: sempre que sente no ar um aroma algo desfavorável à sua candidatura à Presidência da República, detecta no ambiente certa má vontade e ouve aqui e ali versões de que, na verdade, não se aventurará a trocar o quase certo (a reeleição) pelo muito duvidoso, reforça a ofensiva, reafirmando sua disposição de disputar mesmo o Planalto, e ponto finalíssimo. ''Minha candidatura é irreversível, e sabe por quê?'', pergunta em tom de desafio ao ceticismo do interlocutor. ''Porque aprendi com Pelé uma lição inesquecível: é na alta que se deve fazer a retirada. O desgaste fere no presente e ainda pode inviabilizar o futuro.'' Com aprovação popular variando em torno de 75% a 80%, o governador quer eleger o sucessor e ainda deixar o povo do Rio de Janeiro com um gostinho de quero mais. Cita, para embasar sua tese, as agruras de governadores que foram um sucesso de crítica e bilheteria nos primeiros mandatos - Jaime Lerner, do Paraná, e Tasso Jereissati, do Ceará - e agora cumprem seus segundos períodos em situação bastante mais desconfortável. ''Veja o Fernando Henrique em que gelada se meteu'', avalia, desconsiderando que na concepção do presidente da República, com todas as dificuldades, trata-se de uma temperatura que lhe é tão agradável que a suportaria ao infinito. Mas Garotinho pensa diferente. Tem 41 anos de idade e pressa para seguir adiante. ''Se termino um segundo mandato com 46 e desgastado, perco o patrimônio do apoio do eleitorado do Rio e muito provavelmente a chance de me eleger presidente.'' No projeto que traçou para sua vida nota-se que a eleição para a presidência é um desejo firme, mas está longe de se configurar uma sangria desatada. ''Se não der, elejo pelo menos 50 deputados do PSB e, na direção do partido, vou ter um papel importante na política nacional para tentar de novo em 2006.'' Esse é o Plano B a ser executado ante a derrota - na opinião dele, improbabilíssima. Por isso mesmo é que dedica dias e noites (é, anda dormindo coisa de três horas) à operação do Projeto Presidência, tanto no âmbito nacional quanto no regional. Nesses dias que antecedem o prazo final de filiação partidária para os candidatos de 2002, tem rodado o país em busca de alianças. Prefere parcerias com partidos de centro-esquerda e determinou que algumas filiações passem pelo crivo do Diretório Nacional do PSB. Ele sabe como são os novos tempos: é prudente evitar folhas corridas. Nessa rodada, fechou candidaturas próprias no Ceará, em São Paulo, muito provavelmente Minas Gerais, certamente no Rio (com o nome a definir), em Pernambuco, no Maranhão, Rio Grande do Norte e em Alagoas. No resto do país, concorre em aliança, que chama de ''palanque múltiplo'', fornecendo o senador ou o vice. Quanto à arrumação do próprio quintal, está tranqüilo: diz que entrega o estado ajeitado à vice Benedita da Silva, com as finanças blindadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal, mas não deixa um só integrante da equipe para ajudar a tocar o governo. Donde se conclui, embora ele não diga, que se Bené não dispuser de quadros eficientes e cometer qualquer erro, por pequeno que seja, o resultado será fatal para o PT. Já se Benedita desobedecer ao partido e resolver deixar o governo para se candidatar ao Senado, quem assume é o presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Cabral Filho. Amigo de fé, irmão camarada, nesse caso, Garotinho deixa com ele toda a infra-estrutura já montada e ainda lhe abre a possibilidade de disputar a sucessão. Monta-se uma armadilha para Bené? ''De jeito nenhum, apenas o PT faz oposição ao meu governo e tem uma filosofia de administração inteiramente diferente.'' Ou seja, no dia 4 de abril de 2002, Anthony Garotinho deixa o governo do Rio despreocupado com seu esquema regional, pois dispõe de duas hipóteses que lhe são favoráveis. Com um sorriso de bochechas menos robustas, depois que perdeu seis quilos por causa de problemas na coluna, o governador faz olhar de quem já tem a pólvora devidamente descoberta e aproveita a brecha que esperava: ''Isso é para você ver que sou um garotinho que tem juízo.'' Publicitário e vice Nos próximos dias, Anthony Garotinho escolhe o publicitário que cuidará de sua campanha presidencial. O nome guarda em segredo, mas revela que virá de São Paulo. O escolhido já encontrará as linhas mestras delineadas por ele: pouca agressividade (''só se deve bater no homem certo, no momento correto e na medida exata''), o mínimo necessário de religiosidade, muita, mas muita exposição de experiências administrativas bem-sucedidas e empatia popular suficiente para despertar emoção no eleitorado. Garotinho acha que disputa o segundo turno com Lula, pois considera que o eleitor verá arrogância em Ciro Gomes e ineficácia, por osmose, no candidato de Fernando Henrique. Quanto à vaga de vice, entende ser importantíssima. Deixa escapar o nome dos sonhos sob o compromisso do sigilo, mas o projeto é tão ambicioso e original que vale o risco da contrariedade: mulher, nordestina, com eleitorado em São Paulo, só poderia ser Luiza Erundina. Editorial Limites Morais Na sua emissora de televisão em Belém, o senador Jader Barbalho fez um adiantamento sobre a renúncia ao mandato, a ser formalizada antes que a Mesa do Senado instaure o processo de cassação recomendado pelo Conselho de Ética. Uma vez aprovado o parecer do relator, nas próximas 48 horas, será tarde. O aparecimento do senador pelo Pará, numa rede de 20 emissoras de rádio e televisão, ficou à espera de que o ministro Celso Mello, do Supremo Tribunal Federal, negasse ou concedesse o impedimento do processo de perda do mandato. Negou. Mais uma vez o senador Jader Barbalho repetiu o que tem sustentado em vão, enquanto sua posição, do ponto de vista legal, vem piorando seguidamente. Falou sem convicção de linchamento e que ''não existe uma prova sequer contra mim'', embora se acumulem indícios que caracterizam atentado ao decoro parlamentar, mais que suficientes para a perda do mandato. A ironia ficou por conta do título do programa de televisão ao qual compareceu. Argumento. Foi o que não houve. O ex-presidente do Senado não se explicou, nem se desculpou, mas lançou sua candidatura e deferiu ao povo do Pará, para não ficar fora da vida pública por 8 anos, a responsabilidade de indicá-lo e elegê-lo em 2002. Repetiu como se verdade fosse tratar-se de ''vingança das elites'' que não admitem um nortista (ele) na presidência do Senado. Foi lisonjeiro: seria uma honra governar o Pará pela terceira vez. Assim, entende que não pode ficar inelegível: vai renunciar e se retemperar na eleição. Depois da cena retórica amazônica, ninguém se ilude mais. Jader Barbalho não está sofrendo, moral nem fisicamente, apenas leva adiante a farsa: os parlamentares que afrontam a ética renunciam para não perderem o mandato e, com isso, fazem reserva de um privilégio suspeito para contornar a punição moral. Quanto mais demorar a situação, pior para o Senado, para os políticos e, em particular, para o PMDB que misturou perigosamente a solidariedade partidária à infeliz parceria na afronta ao decoro. Esta semana o processo se acelera e deixa à vista o desfecho, que não tem alternativa: é renunciar ou ser cassado. No primeiro caso, equivale ao reconhecimento de que não produziu o mínimo de defesa capaz de criar dúvida nos recursos desviados do Banpará, quando era governador do estado, para sua conta pessoal. O tempo não apagou a impressão negativa da revelação posterior. O país não suporta mais a poluição da vida pública. Que pretende o PMDB? Quem fala pelo partido de duas faces: o senador Ramez Tebet ou o senador Jader Barbalho? Que dirá depois a legenda que fez história e dilapida o seu crédito? Tebet fala na questão social e sinaliza a inclusão como via preferencial, mas precisa propor a limpeza ética do Senado, que há dois anos patina em escândalos. Os cidadãos gostariam de saber para onde se encaminha o PMDB na sucessão presidencial, e não apenas nos estados onde se estabeleceu e se sustenta sem se lembrar do que dizia antes de chegar ao poder. Se quer dar cobertura a um dos seus senadores, que o faça com dignidade: aconselhe-o a reconhecer os limites morais da vida pública, a saber que há uma hora de entrar e outra de sair, e o acompanhe sem abrir mão da dignidade. Topo da página

10/03/2001


Artigos Relacionados


Carta de renúncia de Jader é lida em Plenário

Carta de renúncia de Jader é lida na sessão plenária

Jader renuncia hoje e alveja seus inimigos do PFL

Veja reprodução da carta de renúncia

Lida a carta de renúncia de Marisa Serrano

Gim apresenta carta de renúncia à Comissão Mista de Orçamento