Jader está pronto para renunciar esta semana



Jader está pronto para renunciar esta semana Expectativa é que ele deixe mandato antes mesmo de votação do relatório do conselho BRASÍLIA - O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) deve formalizar amanhã ou quarta-feira o pedido de renúncia do mandato. Com a decisão, a ser anunciada em pronunciamento da tribuna, o senador "resolve" sua situação política, mas não encerra as questões judiciais que enfrentará, a partir de agora, sem imunidade parlamentar. Jader passou o fim de semana no Pará preparando o discurso de despedida e analisando as implicações e desdobramentos jurídicos. A expectativa é que ele renuncie antes mesmo de a Mesa do Senado votar o relatório do Conselho de Ética que recomenda a abertura de processo por quebra de decoro. Independentemente da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o mandado de segurança apresentado por Jader para impedir a instauração do processo no Senado, o presidente da Casa, Ramez Tebet (PMDB-MS), disse ontem que indicará, até o fim da tarde de hoje, o nome do senador que relatará o pedido do conselho na Mesa do Senado. A decisão do STF também é aguardada para hoje. O presidente do Senado informou que a relatoria do caso está entre dois nomes: os senadores Mozarildo Cavalcanti (PFL-RR) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE). Se prevalecer a escolha de Mozarildo, ficaria para o PFL a incumbência de dar o veredito final sobre o destino político de Jader. Na avaliação de senadores, os pefelistas poderiam capitalizar politicamente o fato. A nomeação de Valadares garantiria neutralidade no processo. Valadares adiantou que, caso seja o escolhido, dará seu parecer em 48 horas, o que obrigaria Jader a acelerar a renúncia. O senador disse ainda que atenderia à determinação de Tebet de reduzir de 15 para 8 dias o prazo destinado ao relator. A renúncia de Jader pode produzir um fato inédito. Seus dois suplentes - o pai, Laércio Barbalho, e o ex-secretário particular Fernando de Castro Ribeiro - resistem a assumir o cargo. Laércio, com 83 anos, alega problemas de saúde, enquanto Ribeiro é acusado de ser, como Jader, um dos beneficiários do desvio de recursos do Banco do Estado do Pará (Banpará). Com isso, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) teria de fazer uma nova eleição no Pará. Inquéritos - O STF continua esta semana a analisar as pendências judiciais do caso Jader. A Polícia Federal encaminhará ao Supremo inquérito que apura as fraudes na extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). O ministro Carlos Velloso, do STF, depois de julgar o pedido de quebra de sigilo do senador, feito pelo delegado Hélbio Dias Leite, constatou indícios de envolvimento de Jader nas irregularidades. É o terceiro inquérito contra Jader que chega ao STF. Os outros dois - sobre a venda irregular de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) e os desvios do Banpará - estão em fase inicial. Para que a PF continue as investigações sobre os TDAs, faltam informações importantes sobre a movimentação bancária do senador no período em que foi ministro da Reforma Agrária. O mesmo acontece com o inquérito do Banpará, que está parado, aguardando dados sobre o sigilo bancário de Jader quando era governador do Pará, entre 1983 e 1986. Jader responde a inquéritos na PF, mas tudo será julgado pela Justiça Federal no Pará. É para lá que serão enviados os processos, com a perda da imunidade parlamentar e a conseqüente prerrogativa de foro especial. Por ironia, em um caso ele poderá ficar livre de qualquer punição: o inquérito do Banpará, que o levou à bancarrota política. Segundo procuradores, o caso prescreverá no fim do ano e, até lá, não haverá tempo hábil para oferecimento de denúncia pelo Ministério Público Federal - única forma de evitar o arquivamento do processo. O crime de peculato, do qual Jader é acusado, prescreve em 16 anos. A única ação que ainda se mantém é a de ressarcimento dos recursos desviados - uma iniciativa do Ministério Público do Pará, que depende da perícia documental requerida pelo senador. Os integrantes do Ministério Público admitem que o único processo em que Jader poderá ser condenado é o que se refere às fraudes da Sudam. CPI das Obras vai terminar sem cumprir objetivos Comissão, que foi alvo de acusações de extorsão, tem resultado apenas parcial de investigação BRASÍLIA - Alvo de denúncias, a CPI das Obras Inacabadas vai encerrar os trabalhos sem cumprir seu objetivo. "A base governista conseguiu o que queria: evitar a apuração das fraudes com dinheiro público", acusa o deputado João Coser (PT-ES), integrante da comissão parlamentar de inquérito. A CPI não quebrou o sigilo bancário e fiscal de empreiteiras responsáveis pelas construções. Consequentemente, entregará relatório parcial em relação ao que foi levantado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no detalhamento das obras federais com graves indícios de irregularidades. Entre os projetos da União que deveriam ter sido investigados estão o Aeroporto Luís Eduardo Magalhães, em Salvador, e o Rodoanel, em São Paulo. "O relator Anivaldo Vale (PSDB-PR) está em situação complicada. Terá tempo apenas para descrever as viagens da CPI a seis Estados, além de repetir as análises do TCU", disse o petista. Ele disse que a base aliada deveria ter apoiado a prorrogação dos trabalhos da CPI, mas acabou aproveitando a fragilidade da comissão em razão das denúncias de tentativa de extorsão de empreiteiros para "sepultar" uma investigação "incômoda" para o governo. "Os líderes, em comum acordo, deveriam ter apoiado a destituição de integrantes da CPI que estão sob suspeita para que fosse produzido um trabalho sério nesta Casa", declarou o deputado sobre a operação para que o pedido de prorrogação fosse rejeitado na Câmara. Coser defende o afastamento do presidente da CPI, Damião Feliciano (PMDB-PB), que teria tentado extorquir dinheiro de empreiteiros, oferecendo em troca a retirada do nome da empresa do relatório final da comissão. "Agora, não há clima para prorrogar a CPI", disse. Não é o que pensa seu colega, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). Na terça-feira, ele fará mais uma tentativa. Apresentará questão de ordem em plenário propondo a continuidade dos trabalhos da CPI por mais 120 dias. Empresário depõe sobre anúncio que cita Maluf Promotores buscam elo entre contas e falsa nota fúnebre de presidente da Andrade Gutierrez O empresário Reynaldo Andrade Costa será ouvido hoje no inquérito que apura a existência de contas em nome do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB) e de seus familiares na Suíça e na Ilha de Jersey. Sócio da RV Consultoria e Participações Ltda., Costa é responsável pela publicação em jornais, no dia 25, de um enigmático anúncio fúnebre do presidente da Construtora Andrade Gutierrez, José Rubens Goulart Pereira, o Dolly - que está vivo. Nele são citados os nomes de Maluf e de seu filho Flávio, presidente da Eucatex Indústria e Comércio S.A. Promotores de Justiça da Cidadania de São Paulo que conduzem o inquérito acham que a apuraçao pode avançar quando decifrarem a mensagem, feita e veiculada a mando do empresário Roberto Amaral, que por 28 anos foi um dos mais influentes executivos e lobistas da Andrade Gutierrez perante os governos estadual e municipal. Em maio de 1998, Amaral afastou-se da empreiteira, sendo sucedido por José Rubens, e teria acertado uma compensação financeira - passaria a receber uma soma elevada todo mês, "até o fim de sua vida". Os depósitos na conta de Amaral teriam sido interrompidos em julho, 50 dias antes do anúncio. Irritado, ele teria redigido o texto, considerando José Rubens responsável. Seu sucessor também teria decidido cortar benefícios que receberia, como pagamento de seguranças e carros. Para o promotor Silvio Antonio Marques, há indícios de "ameaça" no anúncio, que cita ainda um banco suíço e os diretores da empreiteira Gabriel e Sérgio Andrade -, que "lideraram, com fervor, o entoar de um salmo em louvor e solidariedade ao dr. Paulo Maluf e seu filho Flávio, para que terminem as persecutórias agruras que estão enfrentando". Sócio de Reynaldo Costa na RV Consultoria, Amaral está em Nova York, segundo pessoas próximas. Ele foichamado a depor dia 9 e o Ministério Público aposta que, se "abrir o jogo grandes surpresas e revelações bombásticas" vão surgir. Nas eleições de 1990 e 1992, a Gutierrez foi das maiores doadoras de campanha de Maluf. As doações foram feitas num esquema clandestino de arrecadação, descoberto pela Receita em 1993. A assessoria de Maluf afirma que ele não tem ligações com a empreiteira. Os promotores suspeitam que em sua gestão Maluf superfaturou grandes obras viárias, favorecendo empresas que financiaram sua campanha. Recursos desviados teriam abastecido suas aplicações em paraísos fiscais. O ex-prefeito nega irregularidades nos contratos com empreiteiras e afirma não ter ativos no exterior. Os promotores também ouvem hoje a secretária particular de Amaral, Yvani Gonçalves. O Ministério Público de Minas vai ouvir José Rubens Goulart Pereira e os sócios da Gutierrez. Nota - A Andrade Gutierrez divulgou nota sobre o assunto, que publica hoje na grande imprensa. O texto elogia Amaral e informa que ele se desligou em 1998, "por vontade própria", indicando José Rubens para sucedê-lo na diretoria responsável por São Paulo. A Andrade Gutierrez nega ter pago benefícios aos empresário ou que ele tenha pedido a saída do sucessor. "Ao contrário do que foi noticiado, a empresa não pagou carro ou vigilância a Roberto Amaral desde que o executivo dela se desligou", assegura. "Também ao contrário do que já se comentou, Amaral não solicitou a ninguém da cúpula da empresa o desligamento de seu atual presidente, José Rubens." FHC intervém para garantir bancadas tucanas No meio do troca-troca de legendas para eleição, presidente trabalha para atrair parlamentares BRASÍLIA - Na temporada de troca-troca de partidos, o presidente Fernando Henrique Cardoso envolveu-se pessoalmente na operação para atrair parlamentares para o PSDB e reverter a tendência de diminuição da bancada do partido no Senado e na Câmara. Depois da frustrada tentativa de ver o senador Paulo Souto (PFL-BA) e o prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi (PFL), no PSDB, Fernando Henrique abriu nova negociação: quinta-feira, esteve com o senador Gerson Camata (ES), que está de saída do PMDB, para convencê-lo a aceitar o convite de filiação já feito pelos tucanos. Para o presidente, a filiação de Camata ao PSDB serviria para fortalecer a bancada no Senado, que perdeu, há menos de um mês, os irmãos paranaenses Álvaro e Osmar Dias para o PDT. Na quarta-feira, o partido terá menos um senador: o ex-líder do partido Sérgio Machado, que assinará sua ficha de filiação ao PMDB, num evento organizado pela cúpula da legenda no Senado, para o qual foram convidados ministros e governadores peemedebistas. Também assediado pelo PPS e pelo PFL, Camata deve comunicar sua decisão ao presidente até amanhã, quatro dias antes do fim do prazo de mudança de partido para os políticos que queiram disputar a eleição do ano que vem. "O presidente disse que ficaria muito honrado se eu entrasse para o PSDB", contou Camata, que já havia sido convidado pelo prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), presidente da comissão provisória do partido no Espírito Santo. Vellozo Lucaz preparou o terreno para garantir o ingresso de Camata no PSDB oferecendo total apoio para reelegê-lo senador em 2002. Fidelidade - As mudanças de partido às vésperas do fim do prazo fixado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são uma indicação de como será difícil aprovar certos itens da reforma política. Elogiada em discursos de políticos da base governista e da oposição, a fidelidade partidária não faz parte da rotina de boa parte dos parlamentares e sua instituição como regra está longe de passar no Congresso. Curiosamente, Sérgio Machado, que vai trocar de partido, é autor de uma proposta de emenda constitucional que prevê perda automática de mandato para o parlamentar que deixar a legenda. "Não vejo nenhuma contradição, porque estou saindo justamente pela falta de força dos partidos e da ausência de democracia interna no PSDB do Ceará", justificou Machado. Sua emenda está tramitando desde 1999 no Senado. Outro projeto, apresentado pelo presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), já foi aprovado na Casa, mas está parado na Câmara. O texto estabelece que quem trocar de legenda terá de permanecer quatro anos nela para poder disputar uma eleição. Apesar de ser menos radical, não há consenso para aprová-la. "Por causa de certos interesses, o projeto dificilmente vai passar na Câmara", reconhece o líder do PT, Walter Pinheiro (BA). PPS aposta em ser campeão de novas filiações Direção comemora entrada em bloco de grupo de Britto e espera obter mais adesões logo BRASÍLIA - Entusiasmado com a conquista da adesão do ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Britto - que levou consigo do PMDB cinco deputados estaduais gaúchos (metade da bancada do partido na Assembléia), um deputado federal e uma vereadora -, a cúpula do PPS já aposta que o partido sairá consagrado, nos próximos dias, como o novo pólo de atração na política nacional. Com o encerramento, nesta semana, do prazo de filiação partidária para os candidatos às eleições de 2002, o PPS ainda espera receber mais adesões. Muito bem posicionado nas pesquisas eleitorais, em que seu candidato à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes, aparece ora em segundo, ora em terceiro lugar, o PPS conta com a força de sua candidatura para transformar em casamento dezenas de namoros com políticos de outras siglas em todo o País. Além do grupo de Britto, o partido está confiante em tirar pelo menos mais dois políticos do PMDB: o senador Gerson Camata (ES), que também foi convidado pelo PSDB e pelo PFL, e sua mulher Rita - a deputada federal que o ex-presidente do PMDB Ulysses Guimarães elegeu como "musa" do partido. Dirigentes do PPS dizem que a força da candidatura presidencial não é o único motivo a fazer da legenda uma alternativa atraente. Embora sem anunciar sua decisão, Camata parece concordar. "O melhor de tudo é que o PPS é um partido que não tem arestas e os prefeitos que nos apóiam aceitam de pronto a mudança", avalia o senador. "A Rita está encantada com o PPS." Dissidente constante do PMDB nas votações de interesse do governo, Rita foi convidada para ingressar no PT, mas seus correligionários apostam que a opção será mesmo o PPS. "O leque de forças com as quais o PPS dialoga é muito maior do que o do PT", explica o deputado Emerson Kapaz (SP), ao lembrar que trocou o PSDB pelo PPS e sente-se muito bem na nova sigla. História - "No PPS não existe patrulhamento", reforça o presidente nacional do partido, senador Roberto Freire (PE), salientando que o "exercício da tolerância" é uma prática constante da legenda, até por causa de sua própria história. Ao contrário do PT e do PDT, que costumam fechar questão nas votações importantes, o PPS prefere a prática da liberdade do voto. "Um dos grandes charmes do nosso partido reside no fato de que, depois de abraçarmos a perestroika no partidão (o antigo PCB), jogamos fora o centralismo e adotamos a democracia interna", argumenta Freire. Ele salienta que seu partido "se lançou em uma posição de vanguarda na esquerda brasileira", estimulando a conversa com os governistas de PSDB, PMDB, PFL, PPB e PTB ainda no início do primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. De acordo com Freire, enquanto o PPS preferiu participar da discussão da reforma do Estado, o PT, pressionado pelos grupos corporativistas, fechou-se contra a reforma e não quis entrar nesse debate. "O PPS consegue ser progressista sem ser radical, ocupando com competência o espaço da centro-esquerda", resume Emerson Kapaz. "O PT light nada mais é do que uma tentativa dos petistas de ficarem parecidos conosco", provoca. Tucanos já ensaiam campanha para Alckmin Em solenidades em SP, Serra e Paulo Renato afinaram discurso pela candidatura do governador Apesar da insegurança sobre a elegibilidade do governador Geraldo Alckmin, estrelas tucanas, como os ministros José Serra e Paulo Renato, o acompanharam no fim de semana, em São Paulo, com discurso afinado em defesa de sua candidatura. Na cerimônia de filiação do prefeito de São Bernardo, Maurício Soares, no sábado, o clima já era nitidamente de campanha eleitoral. Os discursos do evento pareciam uma tentativa de demonstrar a confiança do PSDB numa decisão favorável do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a candidatura de Alckmin. Também uma maneira de desmentir os rumores de que Serra teria interesse em manter uma porta aberta para concorrer ao governo paulista, no caso de não conseguir se viabilizar como candidato à Presidência. Paulo Renato foi o primeiro a discursar. Disse que o partido "haverá de se organizar" para garantir a eleição de Alckmin e do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. Serra ressaltou que o presidente da Assembléia Legislativa, Walter Feldman, é um "co-piloto em potencial". Se Alckmin conseguir a autorização para candidatar-se, o deputado poderá assumir o posto nos últimos seis meses de governo. O ministro também elogiou Alckmin: "O governador, que co-pilotava, agora pilota com discrição, sabedoria, como é do seu temperamento." Lanterninha - São Paulo poderia ser uma alternativa para o ministro da Saúde se sua candidatura à Presidência não decolar. Hoje, ele é o lanterninha das pesquisas de intenção de voto. Caso o ministro fosse o candidato ao governo paulista, Alckmin poderia concorrer à presidência pelo PSDB ou a uma vaga no Senado. Serra não esqueceu de fazer elogios a Paulo Renato. "A gestão dele é a mais marcante na área da Educação." Os dois ministros disputam a indicação do partido para a candidatura à Presidência. Recentemente, Paulo Renato não conseguiu esconder um certo "ciúme" de elogios que Fernando Henrique fez a Serra publicamente. Nem Alckmin nem o ministro da Educação quiseram discutir a possibilidade de uma candidatura de Serra em São Paulo. Limitaram-se a dizer que o PSDB não tem candidatos, tem "quadros", capacitados para disputar eleições. Serra não falou com a imprensa. Reduto - A filiação de Soares, que deixou o PPS, é importante para o PSDB. Reconhecida como uma das regiões do Estado onde o desempenho tucano é fraco e como um reduto do PT, a região do ABC concentra cerca de 1 milhão de eleitores e pode fazer uma considerável diferença num pleito. Soares deve ser o principal articulador do partido na região. Hoje, das sete cidades do ABC, cinco têm prefeituras petistas. Apenas em São Caetano do Sul, onde o PTB é eleito e reeleito, o PT não tem conseguido vencer. Maurício Soares foi suplente de Fernando Henrique no Senado e está no terceiro mandato como prefeito. Já esteve no PT e no PSDB, antes de filiar-se ao PPS. Em seu discurso, no sábado, mostrou que já compreendeu o recado do partido ao qual pertence agora: "Governador, nós vamos reelegê-lo." Serra “amplia” discurso e assume tom de candidato O ministro da Saúde, José Serra, adotou um discurso mais amplo durante a cerimônia tucana e acabou parecendo mesmo candidato a presidente da República. Ele saiu um pouco de sua seara e dos feitos de sua pasta para falar da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Um tucano paulista explica que há um consenso sobre o discurso do candidato do partido à Presidência: a área econômica, considerada o forte do governo, tem de ser defendida. É preciso vestir a camisa. Serra afirmou, no discurso de sábado, que o Brasil precisa de austeridade fiscal e de uma política industrial, de desenvolvimento. Citou o controle da inflação como uma das grandes realizações do governo: “De dezembro de 1998 até agora, o dólar subiu 120% e a inflação quase não se mexeu.” PSDB e PFL articulam alianças regionais Objetivo é ter candidato único pelo menos nos três maiores colégios: São Paulo, Rio e Minas RIO - PSDB e PFL estão trabalhando para garantir a coalizão das duas legendas nos três maiores colégios eleitorais do País: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesses três Estados estão concentrados 46,3 milhões de eleitores. São nada menos que 42,2% do total de brasileiros aptos a votar (109,7 milhões). Para tucanos e pefelistas, candidatos comuns nos Estados vão aumentar as chances de vitória regional e facilitarão a organização do palanque para um possível candidato governista à Presidência da República. Nos três casos, se for mantida a tendência atual, a coligação terá o PMDB, integrante da base governista nacional, como adversário. Coordenador da aliança entre o PSDB e o PFL no Rio, o prefeito César Maia (PFL) diz que as coalizões locais favorecem "totalmente" um candidato a presidente que una os dois partidos. Maia avalia que, ao contrário do que ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, a disputa de 2002 não terá no centro dos debates um grande tema nacional. "Sem uma locomotiva nacional, as bases regionais terão peso", argumenta. É claro que as alianças regionais dependerão do andamento dos acertos entre o PFL e o PSDB em torno da sucessão presidencial. A ascensão da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, nas pesquisas fez crescer no PFL o entusiasmo por uma candidatura própria. Ao mesmo tempo, o PSDB não aceita a hipótese de ser vice na chapa presidencial. No fundo, sabe-se que uma divisão poderá ser fatal e os dirigentes desses partidos buscarão meios de garantir a coligação no primeiro turno. A vigorar esta opção, as alianças regionais serão de grande importância. A missão das executivas nacionais de PSDB e PFL será tentar coligações governistas consistentes. Há Estados, porém, onde isso é impossível, como na Bahia, quarto maior eleitorado nacional. Lá, tucanos e peemedebistas trabalham por uma aliança para enfrentar o candidato do PFL do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Inimigo - Nas lista das alianças impossíveis entre tucanos e pefelistas, está também o Maranhão da governadora Roseana Sarney. Lá, o PSDB é inimigo histórico do PFL."Se a coligação nacional for feita, temos experiência para conviver nos Estados onde não houver aliança regional", completa outro dirigente pefelista, o ex-deputado Saulo Queiroz (MS). Nos três maiores colégios eleitorais, a situação é a seguinte: a aliança PSDB/PFL está consolidada no Rio, praticamente fechada em São Paulo e em fase de negociação em Minas Gerais. A coligação mineira será a mais demorada, uma vez que tucanos e pefelistas acreditam ter nomes consistentes para enfrentar o PMDB do governador Itamar Franco. O PSDB apresenta os nomes do ex-governador Eduardo Azeredo, do presidente da Câmara, Aécio Neves, e do ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga. Aécio saiu na frente e anunciou a intenção de se candidatar ao governo mineiro na sexta-feira passada. Já o PFL tem a opção de candidatura do ministro da Previdência, Roberto Brant, ou do ministro de Esporte e Turismo, Carlos Melles. Em São Paulo, o acordo até agora é de apoio à candidatura do governador Geraldo Alckmin, se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reconhecer sua elegibilidade. A chapa estaria completa com a candidatura à reeleição do senador pefelista Romeu Tuma. Expectativa - No Rio, o acerto é escolher o candidato a governador no início do ano que vem, entre um indicado pelo PFL e outro pelo PSDB. O grande desafio será enfrentar o PSB do governador Anthony Garotinho, que insiste na candidatura a presidente e começa a buscar o candidato socialista em seu secretariado. O líder do governo no Senado, Artur da Távola (PSDB-RJ), lembra que as alianças ainda podem ser ampliada. "Estamos esperando o PPB. E o PMDB também pode chegar", afirma o senador. Atualmente, o PMDB fluminense é aliado de Garotinho. Questionado sobre as rivalidades estaduais, o prefeito César Maia responde: "Atrapalham muito quando são adversários abertos, como na Bahia e no Maranhão." Maia acredita que o principal recado de Roseana nas pesquisas é : "a chance de o governo ter um candidato competitivo é muito grande". Quem será o candidato, é assunto para o "fim do primeiro trimestre de 2002". Pefelistas querem conhecer o 'impacto' de Roseana no Sudeste Pesquisas servirão para avaliar aparições da governadora em comerciais de TV BRASÍLIA - Novas pesquisas de opinião serão encomendadas pelo PFL para medir exclusivamente na região Sudeste o impacto das aparições da governadora Roseana Sarney em comerciais de TV. Como provável candidata à presidência da República, Roseana vem apresentando excelente desempenho em todo o País - aparece em segundo lugar, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva - mas desce a quarto ou quinto lugar, quando as pesquisas são localizadas em São Paulo, Minas Gerais, ou Rio de Janeiro. Seu bom desempenho nas pesquisas é atribuído ao excelente trabalho de imagem feito pelo PFL, já que os indicadores sociais no Maranhão pioraram nas duas gestões da governadora. Reportagem do Estado publicada ontem mostra que cresceram a pobreza, a mortalidade de menores de um ano e a evasão escolar no Maranhão. O Estado também tem hoje a maior parcela da população (62,37%) vivendo abaixo da linha de miséria (menos de R$ 80,00 por pessoa por mês) no País, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Desde 1992, o número de famílias que vivem com até meio salário mínimo aumentou 37% no Maranhão - enquanto no mesmo período diminuiu 22% no Brasil, Com as pesquisas, o PFL, que sempre enfrentou dificuldades eleitorais no Sudeste, quer saber qual a melhor postura a ser adotada pela candidata. O partido quer comparar o desempenho da governadora ao dos governadores Geraldo Alckmin (PSDB), Itamar Franco (PMDB) e Anthony Garotinho (PSB), para definir providências até dezembro, quando acredita que a candidatura de Roseana já esteja consolidada. Em janeiro, a direção do PFL deseja ver Roseana circulando pelo País, em aparições programadas e constantes. Vice - A partir de hoje, haverá novas peças publicitárias com Roseana no horário de propaganda gratuita do partido, A governadora rejeitará a idéia de figurar como vice em uma eventual aliança com outros partidos da base de Fernando Henrique Cardoso. Roseana falará textos curtos, de 30 segundos cada, tendo as praias de São Luís como cenário ou passando em revista a tropas, vestindo a faixa de governadora do Estado. Ela dirá que desde que começou a aparecer nas pesquisas com índices superiores aos "de políticos tradicionais" seu nome começou a ser mencionado como "uma boa vice" e irá refutar a idéia com argumentos dirigidos ao eleitorado feminino. "Acho que o destino das mulheres não tem que ser eternamente o de vice: vice do marido, vice do irmão, vice no emprego", teoriza, num texto escrito pelo publicitário Nizan Guanaes, que fez a campanha de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 Artigos O embarque sem volta MIGUEL JORGE Uma das fotos mais chocantes sobre o ataque terrorista contra os Estados Unidos mostra dois meninos palestinos num campo de refugiados de Beirute, no Líbano, comemorando os atos terroristas em Nova York e Washington, que causaram milhares de mortes. Numa desconcertante - e, para todos nós, incômoda e absurda - festa popular, um deles, que não tem mais de 10 anos, veste uma camisa da seleção brasileira de futebol e agita uma bandeira do Líbano. Provavelmente, minutos antes do seqüestro dos aviões da American Airlines e da United Airlines, os dois meninos estavam na escola, enquanto seus pais iam para o trabalho, como aconteceu em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. No ataque-surpresa à base de Pearl Harbor, no Havaí, em dezembro de 1941, considerado um dos episódios mais sangrentos da 2.ª Guerra Mundial, meninos jogavam beisebol e lhes parecia inexplicável ver tantos aviões voando baixo em direção à base. Ali, além dos 2.409 soldados mortos e 21 navios de guerra destruídos, morreram 300 crianças e 45 ficaram feridas. Por causa de Pearl Harbor, os Estados Unidos entraram na guerra. No Japão, no dia 6 de agosto de 1945, como hoje, a educação era obrigatória durante os oito primeiros anos e cada escola de Hiroshima, onde as aulas começavam às 7 horas, era um enorme lugar com capacidade para 2 mil crianças. Curiosamente, como lembrou certa vez Gabriel García Márquez em memorável reportagem num jornal colombiano, em Hiroshima também não havia sinais de guerra - a cidade tinha 400 mil habitantes, dos quais 30 mil eram militares e 50 mil, crianças em idade escolar. Todos sabemos o resto da história. Agora, porém, a foto que veio do Líbano informa que os meninos palestinos estavam felizes com o ataque a Nova York e Washington e que, talvez por vontade de Alá, a morte de milhares de americanos lhes parecesse um sonho maravilhoso do qual nunca se esquecerão. Claro que a foto não mostra o horror das explosões, as torres do World Trade Center em chamas, as pessoas se jogando no vazio e o desespero dos milhares de feridos. Naquela foto de um adulto aplaudindo o ataque, rodeado de crianças, todos parecem festejar uma vitória de seu time. Nada revela da tempestade de vidro, ferro, fogo e vigas de madeira que desabou sobre as pessoas; nada mostra as pessoas se precipitando para refúgios antiaéreos, como ocorria nas cidades japonesas cada vez que soavam as sirenes de alarme. Mas o que impressiona é que os dois pequenos palestinos não têm nada de particular que possa torná-los diferentes de outros meninos da mesma idade, no mundo inteiro. Ao contrário, as camisetas largas no corpo os tornam absolutamente iguais. Talvez por isso, mais que pela virulência do ataque terrorista e pela comoção mundial que causou, seja uma foto que fale mais à nossa consciência do que outras imagens das ações criminosas nos Estados Unidos. Faz pensar num mundo bárbaro, ulcerado e sangrento em que meninos de muitos países poderão viver, e, sobre isso, a reflexão mais amarga é que, infelizmente, para milhares de outras crianças árabes, a comemoração dos dois meninos palestinos é justificada e normal. Serão eles os terroristas de amanhã? A partir de que idade, como e onde estão sendo treinados e armados para, no futuro próximo, explodir aviões e matar pessoas? Jamais lhes ocorrerá - e aí está o desafio dos Estados Unidos, das nações mais ricas do mundo e das nações árabes para mudar esse quadro - que nada é mais importante que a vida. Isto é o que mais perturba a consciência dos países democráticos: saber que os festejos populares se estenderam pelo Líbano, onde há 30 mil refugiados palestinos, e por todas as demais nações cujos governos adotam ou apóiam o terrorismo; constatar que festejar a morte é um sentimento natural; verificar, enfim, que mesmo no Brasil, na fronteira com o Uruguai, moradores da cidade do Chuí descendentes de palestinos deixaram seu trabalho, saíram às ruas e soltaram foguetes para comemorar os ataques terroristas. Embora não haja dados para prever os verdadeiros efeitos de outros ataques terroristas num futuro próximo - ou alguém imagina que mesmo uma guerra total contra o terrorismo impedirá outros ataques? -, a foto dos noviços palestinos adverte, mais uma vez, que a construção da paz será um processo difícil e doloroso para todos os povos. Isso porque o mundo está em guerra declarada contra o terrorismo institucionalizado - e não se trata apenas de uma frase. Sofrerão as crianças árabes que, mal aprenderam a falar, se cobrem de farrapos nos campos de refugiados e desconhecem o paradeiro de seus pais - mortos na Sérvia, talvez? -, mas já aprenderam a usar metralhadoras e granadas. Mas também sofrerão, talvez mais, até, todos os povos que crêem na democracia e na liberdade e as praticam. Pode parecer um filme de Francis Ford Coppola ou uma peça de Beckett, como afirmou o diretor de teatro Gerald Thomas. Mas não é. Desafios do jornalismo CARLOS ALBERTO DI FRANCO As virtudes e as fraquezas dos jornais não são recatadas. Registram-nas fielmente os delicados radares da opinião pública. Precisamos, por isso, derrubar inúmeros mitos que conspiram contra a credibilidade da imprensa. Um deles, talvez o mais resistente, é o dogma da objetividade absoluta. Inscrito em inúmeros códigos empoeirados, é de um vazio surpreendente. Transmite, num pomposo tom de verdade, a falsa certeza da neutralidade jornalística. Só que essa separação radical entre fatos e interpretações simplesmente não existe. Jornalistas não são autômatos. Além disso, não se faz bom jornalismo sem emoção. A frieza é anti-humana e, portanto, antijornalística. Não se pode ouvir um corrupto com a mesma fleuma com que um inglês toma o chá das 5. A imprensa honesta e desengajada tem um compromisso com a verdade. A neutralidade é uma mentira, mas a imparcialidade é uma meta que deve ser perseguida. Todos os dias. A busca da isenção enfrenta a sabotagem da manipulação deliberada, da preguiça profissional e da incompetência arrogante. O jornalista engajado é sempre um mau repórter. Não sabe, como sublinha Carl Bernstein, que "o importante é saber escutar". Esquece, ofuscado pela arrogância, que as respostas são sempre mais importantes que as perguntas. A grande surpresa no jornalismo de qualidade é descobrir que "quase nunca uma história corresponde àquilo que imaginávamos", sublinha Bernstein. O bom repórter esquadrinha a realidade, o jornalista preconceituoso constrói a história. Todos os manuais de redação consagram a necessidade de ouvir os dois lados de um mesmo assunto. Trata-se de um esforço de isenção mínimo e incontornável. Mas algumas distorções transformam um princípio irretocável num jogo de aparência. A apuração de faz-de-conta representa uma das maiores agressões à ética informativa. Matérias previamente decididas em guetos engajados buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é sincera, não se apóia na busca da verdade. É um artifício. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: a repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca, então, pretensos especialistas para declararem o que o repórter quer ouvir. Personalidades entrevistadas avalizam a "seriedade" da reportagem. Mata-se a informação. Cria-se a versão. A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade informativa. A manchete de impacto, oposta ao fato ou fora do contexto da matéria, transmite ao leitor o desconforto de um logro. Repórteres carentes de informação especializada e de documentação apropriada acabam sendo instrumentalizados pela fonte. Sobra declaração leviana, mas falta apuração rigorosa. A incompetência impune foge dos bancos de dados. Na falta da pergunta inteligente, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: o despreparo de repórteres e a obsessão de editores com o fechamento. Quando editores não formam os seus repórteres; quando a qualidade é expulsa pela ditadura do deadline; quando as pautas não nascem da vida real, mas da cabeça de pauteiros anestesiados pelo clima rarefeito de certas das redações, é preciso ter a coragem de repensar todo o processo. A autocrítica interna deve ser acompanhada por um firme propósito de transparência e de retificação dos nossos equívocos. Uma imprensa ética sabe reconhecer os seus erros. As palavras podem informar corretamente, denunciar situações injustas, cobrar soluções. Mas podem também esquartejar reputações, destruir patrimônios, desinformar. Confessar um erro de português ou uma troca de legendas é relativamente fácil. Mas admitir a prática de atitudes de prejulgamento, de manipulação informativa ou de leviandade noticiosa exige coragem moral. Reconhecer o erro, limpa e abertamente, é o pré-requisito da qualidade e, por isso, um dos alicerces da credibilidade. Colunistas DORA KRAMER A falta que o vice não faz Está passando da hora de imprimir um pouco mais de seriedade e senso de realidade ao debate sucessório no que tange à discussão sobre a disputa da vaga de candidato a vice-presidente. Senão vejamos: quantos votos mesmo Marco Maciel deu a Fernando Henrique Cardoso e que grande contribuição o cargo de vice deu à carreira política de Marco Maciel? FHC ainda se beneficiou da estrutura do PFL, mas Maciel sofreu forte subtração eleitoral. Está como o Nestor para quem, na canção, pede-se a Antonico que lhe preste socorro: em grandes dificuldades. Deve, por isso, abster-se de disputar votos em Pernambuco para ocupar provavelmente uma vaga no Supremo Tribunal Federal. O que não desabona em nada Marco Maciel, ao contrário, foi e é o vice dos sonhos de qualquer presidente: fiel, discreto sem deixar de ser atuante. Mas no bastidor. E aí é que reside a impossibilidade real de permanecermos presos ao raciocínio de que figuras como Roseana Sarney ou Jarbas Vasconcelos possam ambicionar para os próximos oito anos (para argumentar com a hipótese permitida por lei) a condição de sombra. Os partidos, PMDB e PFL, obviamente querem o cargo. Como também é óbvio que alianças rendem ganhos eleitorais. É bastante provável que o partido parceiro de chapa agregue votos ao titular. Mas isso não guarda necessariamente relação com o nome de quem é escalado para a missão. Por mais que seja robusta uma chapa de dois grandes nomes, essa robustez, além de nem sempre ser eficaz (a parceria Lula/Brizola comprova a tese), tem prazo de validade. Que se expira no dia mesmo da posse. O eleitor não vota em vice, vota no presidente. Isso é um fato. E o vice, pela própria natureza da função, tem a obrigação constitucional e pessoal de aparecer o menos possível e atuar de público apenas quando se apresente uma necessidade específica. Ora, seria absurdo imaginar que dois partidos como o PFL e o PMDB, que estão necessitando de novas referências de imagem junto à sociedade, admitissem jogar exatamente as duas melhores figuras de que dispõem num cargo que se exerce quase às escondidas. Tanto Roseana Sarney, para o PFL, quanto Jarbas Vasconcelos, para o PMDB, só funcionam se tiverem exposição máxima. E, para isso, ou precisariam ser candidatos à Presidência ou se eleger senadores para, daquela tribuna, ajudarem a conduzir os processos de reconstrução interna, depois que a briga de Antonio Carlos Magalhães e Jader Barbalho os levou ao desgaste total. Não é por outro motivo que ambos insistem em dizer que não estão dispostos ao papel de coadjuvantes. Não se trata de arrogância de nenhum dos dois, mas de consciência do papel que representam e ainda podem representar para suas respectivas legendas. Da mesma forma, para os partidos é mais negócio preservar suas jóias da coroa e escolher alguém que some o valor específico que se espera de um vice - também não pode ser qualquer um que tenha má figura e se transforme numa arma para o adversário, tirando o foco de cima do candidato principal. Em resumo, principalmente nessa eleição, nenhum partido poderá desperdiçar os quadros de boa aceitação popular. Considerando que esse tipo de pedra preciosa anda em falta no mercado da política, para ocupar a vaga do vice a munição nem precisa ser de prata. Embora não possa também se constituir numa bala de festim. Última forma O presidente do Senado, Ramez Tebet, estava de conversa marcada para este fim de semana com Jader Barbalho. Vencidos os constrangimentos do cargo, se Tebet disser a Jader o que só anda dizendo oficialmente ao travesseiro, é possível que o senador paraense nem espere mesmo o prazo regimental de 15 dias para renunciar ao mandato. Nesse tempo, a Mesa Diretora do Senado dirá se concorda ou não com a abertura de processo no Conselho de Ética. Ramez Tebet faz uma conta simples, levando em consideração a composição partidária da mesa. Ele é o único do PMDB e, ainda assim, só vota em caso de empate. Considerando que apenas o partido de Jader lhe tem conferido votos favoráveis e todos os outros lhe fazem oposição, o resultado da decisão da mesa é mais óbvio que o produto da soma de dois mais dois. Começar de novo O PMDB na realidade está louco para que Jader Barbalho renuncie o mais rápido possível. É que na avaliação do partido o Senado só se pacifica com a saída do personagem da guerra que sobrou depois da renúncia de Antonio Carlos Magalhães. Esquecem-se, porém, de que ambos contam voltar ao campo de batalha pelo voto no ano que vem. E se o eleitor - cujos valores regionais nem sempre acompanham os critérios nacionais - deixar, vai começar tudo de novo. A oposição, que tanto se regozija com a confusão na base governista, não deve perder de vista que em 2002, se vencer a eleição presidencial, poderá ser a próxima vítima. Editorial No comércio, EUA contra o mundo Mais um capítulo da novela Estados Unidos versus Resto do Mundo entrará no ar, em breve, se for lançada mais uma negociação global de comércio. É o que se pode depreender de dois documentos concluídos nesta semana, um em Genebra, outro em Washington. O documento de Genebra é um rascunho proposto como base para a Declaração Ministerial de Doha, que deverá sacramentar, se der tudo certo, o lançamento da nova rodada de negociações sobre comércio mundial. Esse texto, preparado pelo presidente do Conselho Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Stuart Harbinson, propõe, entre vários itens de uma grande pauta, uma revisão das normas sobre antidumping, subsídios e medidas compensatórias. O documento de Washington é um compromisso bipartidário sobre acordos comerciais. Esse documento define, em princípio, as condições que o Executivo norte-americano terá de aceitar, para receber do Congresso o mandato negociador, antes conhecido como fast track e hoje rebatizado como Autoridade para Promoção Comercial (Trade Promotion Autorithy, TPA). Uma das condições é manter a eficácia das leis americanas sobre antidumping e medidas compensatórias, um poderoso arsenal que tem sido amplamente usado para medidas protecionistas. O rascunho distribuído em Genebra resultou de centenas de horas de conversações entre diplomatas dos 142 países sócios da OMC. Ainda será discutido em reuniões preparatórias à conferência ministerial. É muito vago, em relação a pontos importantes, como a questão do comércio agrícola, mas é uma base importante para a elaboração de uma pauta de negociações. Além desse documento, foi preparado também um rascunho sobre questões de implementação dos acordos da Rodada Uruguai, concluída em 1994. A aplicação desses acordos tem sido insatisfatória em vários aspectos, principalmente para as economias emergentes e para as menos desenvolvidas. Os dois textos, segundo o secretário-geral da OMC, Mike Moore, "representam um esforço de boa-fé para cobrir as diferenças que têm existido por muitos anos [entre as partes interessadas] e são uma base sólida para um avanço". Na parte sobre agricultura, a declaração rascunhada não contém sequer um esboço de parágrafo. Apresenta apenas uma lista de itens para um texto que ainda será redigido. O texto deverá mencionar, segundo se propõe, objetivos de longo prazo das políticas agrícolas e "reformas nas áreas de acesso a mercados, apoio interno e concorrência na exportação". O Brasil e outros países do Grupo de Cairns, constituído nos anos 80, defendem amplas mudanças em todas essas áreas. Mas também se propõe uma referência a "preocupações não comerciais" - uma rubrica muito vaga, que pode incluir uma porção de pretextos para medidas protecionistas. Os europeus têm sido os grandes defensores da inclusão desses temas "não comerciais" no debate sobre o comércio agrícola. Também sobre isso deverá haver discussões muito duras. O rascunho preparado por Stuart Harbinson menciona as preocupações com a proteção ambiental e com a promoção dos direitos trabalhistas, mas sem propor a criação de normas comerciais vinculadas a esses temas. Essa restrição atende às pretensões do Brasil e de vários outros países. Há o temor de que o vínculo entre comércio e aqueles temas possa facilitar ações protecionistas. O acordo bipartidário de Washington, porém, recomenda que os dois temas sejam incluídos em quaisquer acordos comerciais, com cláusulas de controle e de sanções. Também isso opõe os Estados Unidos à maior parte dos sócios da OMC. O acordo entre republicanos e democratas, no entanto, ainda não se converteu em lei. O assunto será discutido, ao mesmo tempo que os diplomatas de todo o mundo continuarão, nas próximas semanas, a discutir a agenda para a próxima rodada global. "Com boa vontade e mais criatividade e flexibilidade de todas as partes, será possível lançar a nova rodada na conferência ministerial", disse em Washington o principal negociador americano, Robert Zoellick. O teste da boa vontade e da flexibilidade, neste momento, vale principalmente para os Estados Unidos. Topo da página

10/01/2001


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