Jader se diz inocente no caso Banpará



O senador Jader Barbalho é acusado de estar envolvido em desvios de verbas do Banpará no período em que era governador do estado do Pará, no início da década de 80. A 5ª Câmara do Ministério Público Federal divulgou recentemente nota dizendo haver "veementes indícios" em documentos do Banco Central (BC) de que Jader, seus parentes e suas empresas foram beneficiados pela verba desviada do Banpará. "Se os senadores considerarem essa peça informativa procedente, pleiteem minha retirada do Senado e a substituição do Banco Central pelos assessores da 5ª Câmara", disse.

- O Ministério Público se transformou em consultoria técnica em matéria de finanças bancárias e a 5a Câmara acredita poder substituir parte das funções do Banco Central. Sentiu-se capaz de fazer afirmações que o Banco Central fez - afirmou.

A nota foi redigida pelo assessor da 5a Câmara, Carlos Alberto de Oliveira Lima, e pelo analista pericial em economia, Fernando Sanchez de Souza. Nos primeiros relatórios emitidos pelo BC, especialmente em um datado de 1992, de autoria do procurador José Coelho Ferreira, Barbalho não aparece como suspeito do desvios de verbas. José Coelho Ferreira teve o exame de sua nomeação para o cargo de ministro do Superior Tribunal Militar (STM) suspensa nesta quarta-feira (dia 15) pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), por ser autor do parecer referente ao caso Banpará. "Outras perícias foram feitas e também me inocentaram. Ainda assim, José Coelho está sob suspeição. Não conheço nenhuma dessas pessoas que emitiram pareceres me inocentando", disse Jader Barbalho.

Em relatório mais recente, o auditor fiscal do Banco Central, Abrahão Patruni Júnior, afirmou não haver dúvidas de que os beneficiários das aplicações do Banpará são o senador Jader Barbalho, seus familiares e empresas de sua propriedade. De acordo com Patruni, o desvio alcançou R$ 10 milhões, em valores atuais. O senador Jader Barbalho afirmou que o relatório de Patruni não foi acolhido como processo "porque não tinha consistência". De acordo com Jader, um documento do BC recebido por ele na terça (dia 14) mais uma vez o inocenta.

Jader informou que as denúncias de envolvimento dele no caso recomeçaram a surgir em 1996, quando participou da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava denúncias contra os bancos Econômico e Nacional (ambos receberam auxílio bilionário do BC). O senador afirmou ter documento do procurador-geral da república, Geraldo Brindeiro, afirmando que o assunto já havia sido arquivado seis vezes naquele órgão, e que a matéria estava prescrita.

Fazenda

O presidente licenciado do Senado também foi acusado de não ter declarado à Receita Federal uma propriedade rural, a Agropecuária Campo Maior, e que teria, portanto, mentido ao Senado, ao apresentar sua declaração de bens. A situação já teria sido explicada por ele em discurso no Plenário realizado no dia 16 de abril: a propriedade está declarada por pessoa jurídica da qual é cotista, a Fazenda Rio Branco. As cotas dessa fazenda, sim, estão em sua declaração de renda de pessoa física. "Uma questão tributária e fiscal passa a ser motivo para incomodar o Conselho de Ética. E se eu tivesse cometido a omissão? O decoro parlamentar chegou a esse exagero?", disse.

Jader disse não duvidar de mais nada, uma vez que um jornal publicou na semana passada denúncia de que a ex-mulher dele, Elcione Barbalho, teria sido beneficiada por procuração de uma madeireira. E Jader foi apresentado na reportagem como procurador dessa madeireira falida. Na verdade, explicou, o então casal adquiriu imóvel da madeireira em 1995 e, de forma corriqueira, foi feita procuração em que o vendedor transfere de maneira irrevogável e irretratável o imóvel, antes de lavrar a escritura. "De comprador de um imóvel, virei procurador da madeireira falida", afirmou.

- Devo estar pagando o preço de ter ousado e chegado à presidência do Senado. Passei assim a ser uma peça importante no jogo sucessório e decidiram que eu precisava ser enfraquecido - afirmou.

15/08/2001

Agência Senado


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