João Paulo é reprovado por 30% e cai no ranking




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João Paulo é reprovado por 30% e cai no ranking
Prefeito perde sete pontos na taxa de aprovação e tem o índice de reprovação aumentado em
10 pontos, descendo para a sétima posição no ranking. Marta Suplicy (PT) continua na lanterna


O prefeito do Recife, João Paulo (PT), fecha o primeiro ano de sua administração amargando uma queda de sete pontos percentuais em sua taxa de aprovação e caindo da quinta para a sétima posição no ranking Datafolha dos prefeitos de nove capitais. A nova pesquisa do instituto, divulgada com exclusividade no Estado pelo JC, mostra ainda outro dado preocupante para a primeira administração petista na capital: a taxa de aprovação (ótimo/bom) do prefeito é menor que a de reprovação (ruim/péssimo): 28% a 30%.

Na nova pesquisa, realizada de 12 a 14 deste mês, João Paulo ficou no bloco dos três últimos prefeitos do ranking. Junto dele estão César Maia (PFL), do Rio de Janeiro, e Marta Suplicy (PT), de São Paulo.

A nota média do prefeito do Recife é agora de 5,4. No levantamento anterior, realizado no final de junho, era 5,8. Com seis meses de administração, João Paulo tinha um índice de aprovação de 35% para 20% dos que desaprovavam seu Governo, mas agora enfrenta números adversos (veja quadro).

O ranking Datafolha leva em consideração, em primeiro lugar, a nota média obtida pelo prefeito. Em caso de empate, é considerado o índice de popularidade, que é a diferença entre a taxa de aprovação e a de reprovação, acrescida de 100 (para evitar a ocorrência de números negativos). O índice pode variar de 0 (reprovação total) a 200 (aprovação absoluta).

O oitavo colocado, César Maia, recebeu nota média 5,2 pelo primeiro ano de seu mandato. Um terço dos moradores da capital carioca aprova o desempenho do prefeito, 47% o consideram regular e 22% o reprovam. Em relação ao levantamento de junho, a avaliação positiva de César Maia oscilou de 28% para 27%, a negativa desceu de 26% para 22%, enquanto sua taxa de regular subiu sete pontos (de 40% para 47%).

Já Marta Suplicy manteve-se na última colocação, apesar de sua avaliação positiva ter melhorado. A nota média atribuída ao seu desempenho após um ano de mandato é 4,8. Com seis meses de Governo, era 4,2.

Para 28% dos moradores de São Paulo, Marta está fazendo um Governo ótimo ou bom, 36% o consideram regular e 34% ruim ou péssimo. Em relação à pesquisa realizada em junho, a aprovação ao desempenho da prefeita subiu oito pontos (de 20% para 28%). Em contrapartida, a parcela dos que avaliam de forma regular caiu seis pontos (de 42% para 36%). Neste levantamento, o Datafolha trocou a prefeita de Florianópolis, Ângela Amin (PPB) – que liderava o último ranking –, pelo prefeito de São Luís, Jackson Lago (PFL).



Jackson Lago lidera com aprovação de 46%
O prefeito de São Luís, Jackson Lago (PDT), incluído pela primeira vez no ranking de prefeitos desenvolvido pelo Datafolha, ocupa o primeiro lugar com nota média 6,9. Exercendo seu segundo mandato, Jackson Lago é aprovado por 46% dos moradores de São Luís, outros 41% o consideram regular e 13% o reprovam. Em setembro de 2000, antes de sua reeleição, o pedetista era aprovado por 60%. O seu índice de popularidade é de 133.

Também em seu segundo mandato, Antônio Imbassahy (PFL), de Salvador, é o segundo do ranking, com nota média 6,7. Imbassahy é aprovado por 57% dos moradores de Salvador, um terço o avalia de forma regular e 11% o reprovam. Em relação à pesquisa realizada em junho deste ano, observa-se que sua avaliação positiva subiu seis pontos percentuais, enquanto a parcela dos que o consideram regular caiu de 37% para 30%.

O prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro (PT) ocupa o terceiro lugar, com nota média 6,1. Depois de um ano de mandato, Tarso Genro é aprovado por 47%, 37% consideram seu desempenho regular e 11% o reprovam. Há seis meses a parcela dos que aprovavam seu desempenho era cinco pontos percentuais maior do que atualmente (52%) e a taxa dos que o avaliavam de forma regular subiu de 30% para 37%. O seu índice de popularidade é 136.

Cássio Taniguchi (PFL), de Curitiba, e Célio de Castro (PT), Belo Horizonte, obtiveram nota média idêntica: 5,6. Utilizando o índice de popularidade como critério de desempate, Taniguchi fica em quarto lugar com índice 125 e Célio de Castro fica na quinta posição com 118.

A avaliação do desempenho de Taniguchi mantém-se estável em relação a junho deste ano, quando foi realizado o primeiro levantamento em seu segundo mandato. Atualmente 46% aprovam seu desempenho (eram 48%), 31% o consideram regular (eram 30%) e 21% o reprovam (eram 20%). Durante seu primeiro mandato o pefelista chegou a atingir 71% de aprovação.

Célio de Castro, que está afastado da Prefeitura de Belo Horizonte desde novembro, por motivos de saúde, tem seu desempenho aprovado por 39% dos moradores da capital mineira, após cinco anos de mandato. Para 36% seu desempenho é regular e 21% o reprovam. Em relação ao levantamento anterior, houve uma queda de quatro pontos percentuais na avaliação positiva de Castro (de 43% para 39%). Há um ano, 55% aprovavam seu desempenho.

Também em seu segundo mandato, Juraci Magalhães (PMDB), de Fortaleza, ocupa a sexta posição no ranking. A nota média atribuída ao peemedebista é 5,5. Juraci obteve em setembro de 2000, no final do processo eleitoral, seu melhor desempenho. Na época ele era aprovado por 62%, em dezembro de 2000 essa taxa caiu dez pontos (de 62% para 52%), em junho de 2001, caiu vinte pontos, passando a 32% e agora ficou em 35%. Seu índice de popularidade é 106.


Metodologia
A pesquisa do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por sexo e idade com sorteio aleatório dos entrevistados. O conjunto da população acima de 16 anos de nove capitais é tomado como universo.

Neste levantamento, realizado entre 12 e 14 de dezembro de 2001, foram realizadas em São Paulo (1069) entrevistas com margem de erro de 3 pontos percentuais. No Rio de Janeiro (531), Salvador (532), Belo Horizonte (504), Porto Alegre (501), Curitiba (524) entrevistas com margem de erro de 4 pontos percentuais.

Em São Luís (419), Recife (447), Fortaleza (447) entrevista, com margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos, dentro de um intervalo de confiança de 95%. Isto significa que se fossem realizados 100 levantamentos com a mesma metolodogia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro prevista.


Presidente interino renuncia
BUENOS AIRES - O presidente provisório da Argentina, Adolfo Rodríguez Saá, renunciou, após permanecer uma semana no cargo. Rodríguez Saá, eleito por um Congresso dominado pelo seu Partido Justicialista (peronista), caiu após ser boicotado por seus correligionários. Na tarde de ontem, ele havia convocado uma reunião para remontar seu ministério, que havia pedido demissão no sábado, após mais uma madrugada de panelaço e violência em Buenos Aires. O presidente do Senado, Ramón Puerta, que já havia presidido a Argentina por 48 horas na semana passada, após a renúncia do radical Fernando de la Rúa, reassume o cargo interinamente.

Os governadores mais importantes do Partido Justicialista boicotaram o encontro, realizado na residência de verão da Presidência, em Chapadmalal (a 420 km de Buenos Aires). Dos 14 governadores de província convocados, apenas cinco compareceram. Na noite de ontem, o porta-voz da presidência, Alejandro Barrionuevo, justificou as ausências alegando mau tempo.
Rodríguez Saá atribuiu sua renúncia à falta de apoio dos governadores peronistas e culpou especialmente José Manuel de la Sota (gove rnador de Córdoba, segunda Província mais importante da Argentina). Nos últimos dias, havia rumores de que o presidente provisório pretendia permanecer no cargo até 2003, cancelando as eleições de 3 de março, o que contrariou os caciques do peronismo.

Em discurso de cerca de nove minutos, El Adolfo, como é conhecido na Província de San Luís, que governou por 18 anos, enumerou suas realizações no cargo. Disse que declarou moratória, começou um programa de criação de empregos, que reatou os laços da Argentina com a comunidade internacional. Na reunião de ontem seriam debatidos os rumos econômicos e a composição do ministério. No fim de semana, técnicos do Governo estavam estudando um novo pacote econômico, que deveria incluir a desistência de criar o argentino, moeda que co-existiria com o peso e o dólar. A criação da nova moeda foi anunciada por Rodríguez Saá no domingo (23), quando tomou posse.

Na madrugada de sábado, os argentinos voltaram às ruas para protestar contra a limitação dos saques a US$ 250 por semana e também porque alguns integrantes do Governo de Rodríguez Saá estavam supostamente envolvidos com casos de corrupção no passado. No último dia 20, os argentinos realizaram os primeiros protestos, que deixaram mais de três dezenas de mortos e provocaram a renúncia do então presidente De la Rúa.


Ex-presidente Menem faz críticas ao anúncio de moratória da dívida externa
BUENOS AIRES - O ex-presidente Carlos Menem (1989-99) disse ontem que o ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá deu “passos um pouco em falso” e criticou a suspensão dos pagamentos da dívida pública argentina, porque, segundo ele, dessa maneira se criou uma situação de isolamento internacional.

Rodríguez Saá “fez todo o possível para ajustar” a situação deixada por Fernando de la Rúa, mas “foram dados passos um pouco em falso e daí essa situação lamentável que estamos vivendo”, disse Menem em declarações publicadas ontem pelo jornal El Independiente, da província de La Rioja.

Menem, do Partido Justicialista (peronista), ao qual pertence Rodríguez Saá, criticou a decisão de declarar moratória da dívida pública argentina, de US$ 132 bilhões. Segundo Menem, bastaria ter afirmado que “a dívida externa seria negociada”.
Rodríguez Saá “tinha que ter declarado que não iríamos nos isolar do mundo. Dissemos suspender o pagamento da dívida externa, ao em vez de reenegociar”, lamentou Menem.


Tarifas da TIM e da BCP têm novos preços amanhã
Com alíquota maior do ICMS cobrada pelo Governo, as duas operadoras de telefonia celular reajustam os preços dos seus serviços em até 6%

O usuário de telefonia celular de Pernambuco iniciará 2002 pagando mais pelos serviços das duas operadoras que operam no Estado, TIM e BCP. Ambas publicaram, ontem, comunicados informando os novos valores das tarifas, com reajustes entre 2% e 6%, dependendo do serviço (ver tabela ao lado com alguns dos novos valores). A mudança decorre do aumento da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de 25% para 28%, proposto pelo Governo do Estado e aprovado pela Assembléia Legislativa. Pernambuco passa a ter agora a maior alíquota sobre o setor de telecomunicações de todo o Nordeste. As empresas que operam na telefonia fixa e de longa distância – Telemar, Vésper, Embratel e Intelig – ainda não anunciaram se reajustarão suas tarifas.

O plano básico da TIM, que opera na banda A, terá a assinatura mensal reajustada em 4,40%, passando de R$ 18,39 para R$ 19,20. Nesse mesmo plano, a ligação do celular para um telefone fixo passa a custar R$ 0,45 (2,27% de reajuste). Já a BCP, da banda B, aumentou a assinatura mensal do plano básico de R$ 13,36 para R$ 13,94, com a ligação do celular para o fixo passando para R$ 0,50 (aumento de 3,28%).

Os demais Estados nordestinos têm uma alíquota de 25% do ICMS sobre a telefonia, segundo um levantamento da BCP. De acordo com a pesquisa, a menor tributação ocorre no Acre: alíquota de 17% do ICMS para a telefonia. As mais altas ocorrem nos Estados de Goiás (26%), Mato Grosso (30%) e Pará (30%). Os outros Estados têm uma alíquota de 25 %. O Governo de Pernambuco justificou a nova alíquota como a única forma de bancar o aumento das despesas provocado pelos reajustes salariais de alguns segmentos do funcionalismo.

Alta tributação na telefonia é uma característica brasileira. O Páis tem uma das maiores cargas tributárias sobre o serviço, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas. Impostos e contribuições estaduais (ICMS) e federais (PIS, Cofins, Fundo de Universalização das Telecomunicações – Fust -, e Fundo de Desenvolvimento das Telecomunicações – Funtel) pesam na conta de telefone paga pelo consumidor. Eles representam uma carga tributária de 42,3%.
Em alguns casos, como no cálculo do ICMS pago pelo contribuinte, o cálculo é feito de uma forma indireta e isso leva o impacto na conta a ser maior do que o percentual da alíquota.Um exemplo: no cálculo feito por uma empresa da área de telefonia fixa, o ICMS tem uma alíquota de 25%, mas se isso é calculado sobre R$ 100 gastos em serviços de telefonia, esse cliente pagará R$ 33,3 de ICMS, caso a alíquota do tributo fique nos 25%. Com os 28%, o consumidor pagará R$ 38,90 de ICMS (taxados sobre serviços no valor de R$ 100).


Colunistas

CENA POLÍTICA - Ciro Carlos Rocha

A equipe do Governo João Paulo pode até ter números para argumentar que a administração avançou em algumas áreas e que vai se ajustando em outras. Isto faz parte da “guerra da comunicação” que marca qualquer balanço administrativo. Mas, pelo ranking Datafolha que o JC publica hoje, a situação é outra. Algo está errado. A luz amarela foi acesa e a primeira experiência do PT na Capital, pela frieza da pesquisa, não vai bem.
Em seis meses, João Paulo caiu sete pontos em sua avaliação positiva e teve a sua rejeição aumentada em 10 pontos, o que dá oscilação negativa de 17 pontos. Seja pela falta de uma melhor definição de sua “cara administrativa”, de uma articulação maior com a sociedade, de uma melhor divulgação/marketing de suas ações ou mesmo como reflexo das várias indecisões e recuos protagonizados pelo Governo, até agora, o fato é este: parte significativa da população está reprovando a experiência petista.

Os números do Datafolha já eram esperados até por gente da administração. Rumores indicam que pesquisas internas também apontaram índices negativos. Resta ver se, em 2002, o Governo ganha novo ritmo. Brigar com os números, nesse caso, é que não seria lógica.

Foi com medo de avião...
Presidente do Náutico que impediu o hexacampeonato do Sport, o deputado estadual André Campos (PTB) vem sendo estimulado por amigos e correligionários a disputar mandato de deputado federal. Bom camarada, agradece a lembrança, mas descarta logo. O senador Carlos Wilson, irmão de André, explicou logo: “Ele tem medo de avião. Não tem quem o faça pensar em Brasília”. Tá explicado.

Índice cruel
Para desespero dos petistas, a pesquisa do Datafolha que o JC publica hoje, com o ranking dos prefeitos, mostra um cenário nunca antes verificado no Recife, pelo menos nos últimos governos: o prefeito tem uma taxa de reprovação (30) maior que a de aprovação (28).

Magalhães
Em onze pesquisas Datafolha durante o Governo Roberto Magalhães (97/2000), por exemplo, o então prefeito sempre teve uma aprovação maior que a reprovação. O ‘pior’ momento de Magalhães foi com seis meses de Governo: 37% de taxa ótimo/bom e 17% de ruim/péssimo.

O bom cenário de Campos e João Paulo
Numa conversa com o prefeito do Recife, Eduardo Campos saiu-se com essa: “Continue destacando sua boa relação com Jarbas e eu continuarei a bater em você. Isso é bom para nós dois”. Resposta de João Paulo: “Han, ran...”

Pesquisa é como exame médico, receita Maciel
Bem ao seu estilo, sem muito alarde, o vice Maciel procura reforçar Roseana Sarney. Mesmo não gostando da comparação, ele alerta os partidos aliados: “Pesquisa é como exame médico, o resultado deve ser respeitado”. Vamos ver...

Violência I
Enquete realizada pela Prefeitura de Olinda e disponibilizada na Internet pelo site Pernambuco de A/Z (www.pe-az.com.br) coloca mais lenha na polêmica sobre os índices de violência, o principal calo do Governo Jarbas e, com certeza, mote da campanha de 2002.

Violência II
Enquanto o resultado da enquete – fruto do Orçamento Participativo – diz que os moradores apontam a segurança como maior problema de Olinda, os mapas de apuração por bairros apontam que o tema só foi dado como prioridade em cinco das 44 comunidades consultadas.

O conselheiro Roldão Joaquim dos Santos assume quarta-feira a presidência do TCE, em solenidade marcada para às 17h. Carlos Porto fica na vice, Romeu da Fonte na Corregedoria Geral, Severino Otávio na Ouvidoria e Fernando Correa à frente da Escola de Contas Públicas Professor Barreto Guimarães.

É do presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), o projeto de emenda constitucional que cria o cargo de senador vitalício, a ser ocupado pelos ex-presidentes da República. O projeto se encontra na CCJ da Câmara, aguardando parecer. Líder do PTB no Estado, o senador Carlos Wilson deve ter gostado muito da iniciativa...

O deputado Augusto César Carvalho, presidente estadual do PSDB, quer fazer um verdadeiro ‘arrastão’ entre janeiro e fevereiro. Organizando o PSDB para as eleições 2002, ele pretende visitar todas as regiões do Estado, começando por Petrolina, no Sertão, indo até Araçoiaba, na Região Metropolitana. Haja gás.

A prefeita Marta Suplicy (PT), de São Paulo, lanterninha do ranking Datafolha, está sendo chamada por alguns paulistanos de ‘Martinha da Vila’. Fala bem, tem uma conversa maneira e é, sem nenhuma dúvida, alto astral. Mas, ao contrário do cantor e compositor, ainda não conseguiu decolar.


Editorial

Um modelo carioca
Vem do Rio de Janeiro um modelo que poderia ser aplicado no Recife com repercussão na qualidade de vida do povo e no visual da cidade: os cariocas declararam guerra aos predadores que se auto-intitulam de grafiteiros e vinham emporcalhando a cidade. Como fazem com o Recife, sem que se veja qualquer esforço para impedir essa agressão visual de que gera tensão, descrença nas instituições e, sobretudo, faz de nossa cidade uma zona franca da sujeira, do que as pessoas civilizadas costumam fugir.

Não é preciso muito esforço para se ver a ação desses predadores, infelizmente mais e mais imitada por grupos que em tese deveriam contribuir para que a cidade ficasse mais limpa. Paredes, ruas, pistas, pontes, por toda parte se vê a ação dessa gente, fazendo do Recife uma cidade suja, desagradável, incivilizada, reproduzindo, em parte, no século XXI o que sentiu Charles Darwin quando desembarcou na cidade em agosto de 1836: “Pernambuco (Recife) é uma cidade de aspecto enfadonho, senão repugnante. As suas ruas são estreitas, mal calçadas e imundas”.

Já não se pode aceitar, sem protesto, discurso tão rigoroso, mas há sujeira, há imundície, e um exército de pichadores contribui para isso todos os dias. As fachadas de casas residenciais, de prédios, de estabelecimentos comerciais, as calçadas e as pontes são atacadas sob a proteção das madrugadas e o que anoiteceu limpo, recém-pintado, com freqüência amanhece com as garatujas que, se reproduzem a capacidade intelectual de seus autores, é extremamente preocupante.

Essa é uma doença urbana, em especial das grandes cidades. O Rio de Janeiro, por exemplo, que iniciou uma terapia combinando ação policial com psicologia, arte e, até, investimento, busca, a médio prazo, transformar o perfil da cidade. Como vêm fazendo grandes centros – a exemplo Bruxelas ou Nova Iorque – onde os pichadores se transformamram em artistas que criam grandes murais e embelezam o espaço urbano, em vez de degrada-lo.

O Rio de Janeiro estabeleceu como primeiro passo identificar predadores e dar-lhes o tratamento de choque inicial, acionando polícia e justiça. Se eles são contraventores, se depredam o espaço urbano e têm atitudes anti-sociais, podem ser enquadrados de alguma forma. Mas não é esse o objetivo: busca-se despertar-lhes o prazer de viver em uma cidade limpa, esteticamente agradável, com o que podem contribuir. Assim, em vez de garatujas são estimulados a manifestar sua inquietação em figuras, em cores, dando uma dimensão artística ao que era apenas agressão estética.

Não basta esse esforço transformador: ele é enriquecido com o estímulo material aos grafiteiros, de forma a tirarem proveito econômico, se transformarem em artistas das ruas, com um reconhecimento impensável nos espaços fechados dos salões de arte. A Assinatura de um grande mural pode consagrar seu autor e esse é um estímulo que as autoridades cariocas despertam para tornar a cidade mais agradável para os que nela vivem e para os que a visitam.

O Recife carece com urgência dessa medicação. É lamentável, triste, deprimente, circular pelas ruas centrais e ver paredes recém-pintadas ser cobertas de garatujas, certamente produzidas sob risadas de quem acredita estar fazendo alguma coisa importante. Seu anonimato só é quebrado pelo parceiro de artimanhas e se realimentam em suas bobagens, quando deveriam estar trabalhando por uma cidade mais limpa e mais bonita.

Não importa ser um modelo carioca, menos ainda que tenha inspiração em centros urbanos de países desenvolvidos. Importa, sobretudo, que o nosso problema é o mesmo que eles tiveram e que de nossa parte a solução talvez se faça ainda com melhores resultados. Acontece que temos um imaginário riquíssimo que pode ser materializado em cores e formas, consolidando movimentos culturais de nossa terra em grande dimensão, fazendo do Recife um salão de artes plásticas a céu aberto, beneficiado por nossa claridade natural, pelas cores exuberantes tropicais.


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12/31/2001


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