Unicamp: Universidade conquista o topo no ranking de registros de patentes no Brasil
Com 191 pedidos entre 1999 e 2003, ultrapassou a Petrobras, que havia ocupado o 1º lugar durante duas décadas e meia
Uma das mais tradicionais universidades brasileiras no campo do ensino, da pesquisa e da prestação de serviços, a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está às vésperas de completar 40 anos de existência. E tem razões de sobra para comemorar. A mais recente é que passou a liderar o ranking de registros de patentes no País, com 191 pedidos feitos de 1999 a 2003, de acordo com levantamento do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
A jovem Unicamp, criada por lei em 1962, e instalada a partir do dia 5 de outubro de 1966, não só ocupa o topo do ranking como desbancou a Petrobras, que apresentou 177 pedidos, seguida pela Arno, com 148. Detalhe: a Petrobras ocupou o primeiro lugar durante duas décadas e meia. Da lista do Inpi, duas outras universidades estão em posição de destaque: a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 10 o lugar, com 66 registros, e a Universidade de São Paulo (USP), na 13 a colocação, com 55.
A Unicamp é reconhecida como uma das principais universidades nacionais a investir intensa e significativamente no desenvolvimento das ciências. Somente no ano passado, teve 3.921 pesquisas financiadas, apresentou mais de mil linhas de pesquisas e 2.807 artigos científicos. Para a diretora de articulação do Instituto Nacional, Maria Beatriz Amoroso Páscoa, a Unicamp tem potencial para depositar número maior de patentes. Em 2005, bateu recorde histórico, com 66 solicitações de patentes. “A classificação é merecida”, diz.
Detecção de surdez – Uma das inovações é o medicamento fitoterápico para menopausa à base de isoflavonas agliconas de soja, que substitui a atividade do estrogênio. Desenvolvido no Laboratório de Bioquímica de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), da Unicamp, pelo professor Yong Kun Park, chega ao mercado ainda este mês, produzido por uma empresa paranaense, depois de cinco anos de estudo. Segundo o professor, a soja é consumida há muito tempo como alimento em razão de seu alto valor protéico.
As isoflavonas têm sido responsáveis pela baixa incidência do câncer de próstata, da mama e de redução dos índices de colesterol e osteoporose, principalmente entre os orientais, os maiores consumidores do grão. Essa orientação levou europeus e norte-americanos a desenvolverem estudos sobre as ações dos seus componentes no organismo, comenta o professor. Entre as pesquisas que têm despertado interesse de empresas e instituições públicas estão as patentes de biosensores, de eletromecânica, da área hospitalar, de embalagens, petroquímica, papel e celulose e de alimentos.
Origem genética – As patentes hospitalares vão desde o aperfeiçoamento de maca para emprego em procedimento de exame de cintilografia mamária até acionamento elétrico e controle adaptável nas cadeiras de roda convencionais, além da cadeira obstétrica, que pode ser utilizada durante a realização de partos de cócoras e exames ginecológicos. Para o inventor do equipamento, o obstetra Hugo Sabatino, da Faculdade de Ciências Médicas, a cadeira é modificável: “Se instalar um motor elétrico e modificar a sua altura, a cadeira pode ser fechada, e o bebê nasce na água”.
Um novo teste para detectar surdez, por exemplo, não só figura entre as patentes, como ganhou o Prêmio Governador do Estado, em 2001. Uma lei pode torná-lo obrigatório em unidades públicas de saúde paulista. Adaptado pela doutora Edi Lúcia Sartorato, o objetivo é diagnosticar a surdez de origem genética. De acordo com Edi, o mérito é a facilidade do diagnóstico. “A partir de um pedaço de papel absorvente – que pode ser o usual em testes de sangue ou mesmo um filtro para café – coloca-se o sangue e obtém o resultado preciso”, diz. A surdez de origem genética não tem cura, mas é possível trabalhar para que a criança aprenda a falar antes de perder totalmente a audição, explica a pesquisadora, para quem o teste para surdez pode ser feito juntamente com o do pezinho.
Usina de idéias – A investigação científica na Unicamp praticamente nasceu com a universidade. Nos anos 70, as pesquisas ali desenvolvidas foram aplicadas à rotina da população. Os exemplos ainda estão na memória: a digitalização da telefonia, a criação da fibra óptica e suas aplicações nas comunicações e na medicina, os vários tipos de laser hoje usados em larga escala no Brasil, os programas de controle biológico de pragas agrícolas, além do notável número de pesquisas na área das ciências sociais e políticas, da economia, da educação, da história e das letras. Direcionadas para a realidade brasileira, converteram-se logo em benefício social. Atualmente, no seu conjunto, representam mais de 15% de toda a pesquisa universitária brasileira, o que lhe valeu o nome de “usina de idéias”.
Pólo inovador – A Faculdade de Engenharia Química (FEQ) é sinônimo de tradição em parcerias com a iniciativa privada. Sob a direção do professor Milton Mori, tem área de prestação de serviços no Laboratório de Recursos Analíticos e de Calibração (LRAC), com equipamentos para pesquisa, análise química, avaliação e monitoramento de processos químicos e validação de métodos analíticos. A instituição de ensino mantém parcerias com empresas do porte da Petrobras, Rhodia, Basf, 3M, Du Pont e Votorantim. A Faculdade de Engenharia de Alimentos, também, constitui importante pólo inovador da Unicamp.
Recentemente, dois outros fatores impulsionaram as pesquisas: a criação, em 2001, da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp), que pretende lançar na iniciativa privada os doutores formados pela Unicamp e a Agência de Inovação (Inova), surgida há três anos, que objetiva incentivar alunos egressos da pós-graduação a montarem seus próprios negócios. Segundo Rosana Ceron Di Giorgio, diretora de propriedade intelectual da Inova, a instituição trabalha também na formulação de uma política da Unicamp para a propriedade intelectual.
A Inova estabelece regras em relação à proteção, ao licenciamento, à relação com agência de fomento, além de garantir o mesmo tratamento a todos os casos. “Contatamos os clientes potenciais para verificar quais realmente têm interesse em licenciar as patentes.” A meta, de acordo com Rosana, é consolidar dez novos licenciamentos por ano, média significativa para os padrões das universidades brasileiras.
06/14/2006
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