Jornalistas e cientistas políticos debatem os partidos brasileiros
O cientista político Luis Gustavo Mello Grohmann (UFRGS) afirmou, em debate na Conferência Internacional sobre 1º Censo do Legislativo Brasileiro,que no Brasil há uma tendência de sobrevalorização dos executivos em detrimento dos legislativos. Segundo ele, grande parte dos eleitores consideram os parlamentares como auxiliares dos chefes do Executivo. Tal característica é mais visível nos municípios, disse Grohmann, onde os vereadores têm suas tarefas subalternizadas diante das atividades dos prefeitos.
A jornalista Cristiana Lôbo (Globonews), que também participou da quarta mesa de debates, cujo tema foi os partidos políticos, citou pesquisa segundo a qual 64% dos brasileiros não se identificam com nenhum partido político. Ela atribuiu esse resultado ao fato de a população não identificar a linha ideológica das agremiações partidárias, às alianças feitas sem afinidades ideológicas, à falta de programas partidários consistentes e também ao grande número de políticos que trocam de partido por conveniências pessoais.
- O PMDB é a face mais insana dessa esquizofrenia partidária - afirmou o jornalista Rudolfo Lago (Correio Braziliense), concordando com a teoria da fragilidade dos partidos brasileiros. Ele exemplificou que, não raramente, as reuniões do PMDB terminam literalmente em socos, com as alas do partido trocando sopapos para defender suas posições. Rudolfo observou, no entanto, que a divisão interna não é exclusiva do PMDB.
Na direção oposta, o cientista político da Universidad de Salamanca (Espanha), José Francisco Sánchez López, defendeu os partidos políticos e disse que nem todos eles são iguais. Ele argumentou que desde o início do século passado se fala em crise dos partidos, em falta de unidade em cada um deles, mas até agora não surgiu uma proposta de formato melhor.
- Se tivessem encontrado outra alternativa, eles já teriam sido substituídos - disse.
Por sua vez, o cientista político David Fleischer (UnB) lamentou que a cláusula de barreira instituída no Brasil permita que sejam empossados os candidatos eleitos por partidos que não alcancem 5% dos votos nacionais e 2% em no mínimo nove estados. Ele considerou que, dessa forma, os pequenos partidos políticos brasileiros poderão continuar parafraseando o slogan utilizado há vários anos pelo Sebrae no que diz respeito às empresas: "pequenos partidos, grandes negócios".
Timothy Joseph Power, professor da Universidade de Oxford (Inglaterra), último a se pronunciar durante a mesa sobre partidos políticos, realizada no auditório Petrônio Portela, destacou que os resultados obtidos pelo censo do legislativo - quando confrontados com outras fontes de dados, como o TSE - serão úteis para esclarecer até que ponto as teorias que se aplicam no relacionamento entre o Executivo e o Legislativo no âmbito nacional valem para o municipal.07/04/2006
Agência Senado
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