José Serra pode antecipar campanha
José Serra pode antecipar campanha
PSDB discute internamente o afastamento de seu pré-candidato do Ministério da Saúde.
José Serra poderá deixar o ministério, voltar para o Senado e assumir publicamente o papel de candidato. Essa alternativa já está sendo debatida internamente pelo PSDB como resposta ao crescimento do nome de Roseana Sarney nas últimas pesquisas divulgadas. A pré-candidata do PFL situa-se em patamares que vão de 10% a 14%, enquanto os nomes do PSDB não conseguem sair da faixa dos 6% a 7%, no caso do ministro da Saúde. Estes índices deixam o PSDB em situação de desvantagem numa possível composição com o PFL e o PMDB. Não será fácil convencer os dois partidos a cederem a cabeça de chapa aos tucanos com desempenho tão aquém de seus candidatos. O partido precisa de alguém no mínimo empatado com Roseana até o início do próximo ano, quando se consolidarem as alianças partidárias. No momento o PSDB tem três pré-candidatos: Tasso Jereissati, que está na faixa de 2% a 3% nas pesquisas; o ministro Paulo Renato, quase na mesma faixa; e José Serra, que já chegou a 10% mas há quatro meses patina em patamar inferior. Serra tem controle do partido e conta com a simpatia velada do presidente Fernando Henrique. Os dois outros candidatos terão que se fazer por meios próprios, isto é, se impor ao partido para depois tentar conquistar eleitores. Paulo Renato vai insistir na sua candidatura. Tasso poderá ceder, mas ainda resiste junto ao partido. O presidente Fernando Henrique deveria ser o grande eleitor dos tucanos, mas já não há certeza de que poderá manter esta posição por muito tempo. O fraco desempenho da economia traiu o cronograma político de FHC, que sonhava com um fechamento de ouro para seu governo.
PFL se lança com Roseana Sarney
Sem a alavanca da economia, o PSDB perdeu muito de sua força. Paga o preço de ser governo por oito anos, sem os bônus de estar no poder. O ministro José Serra deixou de crescer nas pesquisas não porque cometeu erros políticos, mas porque a avaliação do governo não o ajuda. O PFL, por sua vez, que é tão governo quanto o PSDB, conseguiu com Roseana Sarney um verdadeiro achado político. É um nome do governo sem ser governista. A governadora do Maranhão passa uma imagem de independência sem ser oposição. Está sendo ajudada pelo fato de ser jovem, mulher e ter fama de boa administradora, preceitos que caem muito bem no gosto do eleitor contemporâneo.
O PFL, que há alguns meses lutava para ter um nome para indicar a vice na chapa do PSDB, operou bem politicamente. Investiu pesado em Roseana, colocando-a em todos programas de propaganda eleitoral do partido, nacionais e regionais, e tem se dado bem. O público respondeu favoravelmente a seu discurso. A governadora, que há seis meses afastava a idéia de sair candidata a presidente, preferindo a eleição garantida ao Senado, hoje está convencida de que pode ganhar o Palácio do Planalto. Os tucanos acreditam que o nome dela não terá sustentação quando sua administração começar a ser questionada nos programas eleitorais. Lula já começou a bater em Roseana.
Mas não basta ao PSDB torcer para que o desempenho da sua aliada se enfraqueça. Ele precisa ter seu próprio nome forte. Fernando Henrique acredita que quando o partido definir o candidato, provavelmente José Serra, ele começará a crescer nas pesquisas. A questão que incomoda os tucanos e o próprio Serra é a seguinte: qual será o fato novo que incluirá no seu discurso para tirá-lo dos atuais 7% e jogá-lo nos 12% ou 14%? Na busca de votos, o candidato tucano poderá ser seduzido a adotar um discurso um pouco mais próximo da oposição. E isto tem feito FHC perder o sono nas últimas semanas.
FHC terá de explicar abertura de escritório do FBI em SP
O ministro do STF, Sydney Sanches, pediu explicações ao governo brasileiro sobre as razões que o levaram a autorizar a instalação, em São Paulo, de um escritório do FBI (polícia federal dos EUA). As explicações a serem dadas pelo governo serão usadas no processo iniciado pelo deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), para o cancelamento da autorização, visto que esta deveria ter passado pelo Congresso.
Na semana passada, o governo deu sinal verde para a instalação do escritório, que investigará denúncias de cunho financeiro, em colaboração com a polícia federal, o Banco Central do Brasil e outras instituições especializadas. A autorização foi concedida pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para o deputado, o presidente da República só pode autorizar a permanência de forças estrangeiras no país – mesmo em programas de treinamento militar – com a autorização do Congresso Nacional.
Ainda assim, só poderá permanecer por motivos de assistência técnica em caso de abastecimento, reparação ou manutenção de navios e aviões estrangeiros e em missão de busca ou salvamento.
De acordo com o Minisatério das Relações Exteriores (Itamaraty), "o governo brasileiro, querendo incrementar a cooperação internacional no combate à lavagem de dinheiro e crimes paralelos, decidiu, de acordo com o princípio de reciprocidade, atender ao pedido do governo americano".
Brasília se previne contra o terrorismo
Governo federal detecta possíveis alvos de atentados e determina maior atenção no Distrito Federal.
Brasília é um alvo. Patrimônio da Humanidade e centro do poder nacional, a cidade seria um destino natural de ataques terroristas, caso essa fosse uma prática comum no Brasil. Mesmo tranqüilas em relação ao risco de atentados, as autoridades brasileiras trataram de se prevenir após a tragédia norte-americana.
A primeira preocupação do governo brasileiro foi definir os possíveis alvos de um ato terrorista. E, naturalmente, Brasília surgiu como um dos mais prováveis locais de ataque, ao lado de outras grandes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Salvador – todos grandes centros urbanos com grande densidade populacional e forte atividade econômica.
Por aqui, as vítimas, porém, não seriam os cidadãos comuns. A preferência recairia, no entender das autoridades, em grandes centros de decisão, como o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e algumas embaixadas, como as de Israel e dos Estados Unidos.
Coube a José Wilson Pereira, secretário Nacional de Defesa Civil, do Ministério da Integração Nacional, a tarefa de identificar os alvos símbolos - aqueles que representam o orgulho de uma nação, como o World Trade Center, ou identifiquem poder e riqueza. Pereira é claro ao dizer que a medida é apenas preventiva em função do cenário internacional. "Seria até leviandade ou descaso não se dar uma atenção maior a este tema em um momento como esse. Mas não acreditamos que possamos ter este tipo de problema", afirma o secretário.
O ministro da Justiça, José Gregori, reforça a tese de que é pouco provável o Brasil ser vítima de atos terroristas. "Este é um país de grande diversidade, que sabe conviver com as diferenças", afirma o ministro.
Mesmo assim, ele admite que foram tomadas algumas medidas preventivas, principalmente em relação a Brasília. Entre elas, houve reforço na segurança das embaixadas israelense e norte-americana. Além de novas medidas de vigilância foram implementadas nas fronteiras e aeroportos.
"São as medidas de sempre, mas agora com uma visão mais atenta. O momento exige vigilância e todos os esforços para que a segurança seja mais eficiente", diz o ministro.
Reunião no Ministério
Os motivos apontados por Pereira para acreditar que não haja risco de atentados terroristas no País são simples. Ele lembra que o Brasil é um lugar pacífico por natureza. "Não existe na história recente registros de atos terroristas", reforça. Além disso, ele considera não ser próprio da cultura brasileira atos de violência extrema.
Apesar disso, o assunto tem merecido grande atenção das autoridades. Tanto que nos próximos dias 8 e 9 de outubro será realizada uma reunião no Ministério da Integração com todos os coordenadores estaduais de Defesa Civil do País. O tema: A atuação da Defesa Civil frente ao terrorismo internacional.
Cidade está estruturada
Brasília não tem a estrutura apresentada pelos EUA no ataque terrorista ao World Trade Center e ao Pentágono. Mas, segundo José Wilson Pereira, secretário Nacional de Defesa Civil, a cidade e o País têm condições de enfrentar um desastre de grande porte.
Com a nova onda de terrorismo, alguns planos de emergência teóricos chegaram a ser elaborados. À Defesa Civil cabe a tarefa de planejar ações, e, para isso, é preciso ter, antecipadamente, conhecimento de todos os recursos disponíveis, como ações que podem ser desenvolvidas, órgãos mais capacitados a atuar, recursos humanos e materiais.
Na reunião dos dias 8 e 9 de outubro, será solicitado às coordenações estaduais que elaborem planos de contigência e apresentem um levantamento de seus recursos humanos. "Temos que planejar para não precisar improvisar em uma emergência", justifica Pereira.
O secretário usa os Estados Unidos como exemplo. Ele acredita que, durante anos, haverá muita discussão sobre como se permitiu a entrada de tantos homens do Corpo de Bombeiros e da polícia no World Trade Center, antes de uma avaliação de risco das estruturas do prédio. Mais de 300 bombeiros e policiais morreram no desabamento dos edifícios.
O fundamental em tragédias como a norte-americana, no entender do secretário, é ter um plano de contingência, com medidas preventivas, planos de esclarecimento da população, equipamentos de segurança e de proteção.
No caso de Brasília, Pereira afirma que a cidade está preparada para um grande desastre, por ter órgãos de segurança, inteligência e defesa civil bem estruturados. (N.C.)
Armas químicas são o maior temor
Um dos grandes temores da atualidade são as armas químicas. O presidente Fernando Henrique Cardoso, declarou, semana passada, ser revoltante a naturalidade com que grandes potências militares vêm tratando uma possível guerra bacteriológica contra o terrorismo.
A discussão parece distante do Brasil, mas as armas químicas também despertam preocupação das autoridades. Para o secretário Nacional de Defesa Civil, José Wilson Pereira, que tem participado de treinamento em todo o mundo, esta é uma real ameaça. Segundo ele, mais de 20 países estão desenvolvendo capacidade para "guerra química". Outros dez, para "guerra biológica", cujos agentes são mais fáceis de esconder.
Arsenais espalhados pelo mundo armazenam 66 mil toneladas de gases tóxicos. Só na Rússia estão 40 mil toneladas e, dessas, 4 mil toneladas são gás tóxico do tipo Sarim (mata por asfixia), utilizado em 1995 em um metrô de Tóquio, no Japão, pela Seita Verdade Suprema. "Lá eles não estavam preparados para este tipo de ação e muita gente acabou contaminada, inclusive médicos, por falta de cuidado no atendimento. É por isso que é imperiosa a capacitação e a especialização de agentes de Defesa Civil, para fazer frente a essa moderna ameaça de desastre", acredita o secretário.
Artigos
Achismo e jornalismo
Paulo Pestana
Poucos jornalistas merecem o respeito que o norte-americano Walter Cronkite conquistou durante décadas como âncora do principal telejornal da rede de televisão CBS. Ele cobriu a Segunda Grande Guerra (pousou de planador na França) e acompanhou de perto todos os assuntos relevantes nos últimos 60 anos. Aos 85 anos, aposentado, ele teve um de seus momentos menos brilhantes em entrevista a David Letterman, numa das edições do Late Show, semana passada. Segundo ele, o ataque terrorista às torres gêmeas de Manhattan teria sido conseqüência da inveja dos outros povos aos EUA.
Que os norte-americanos não enxerguem além das fronteiras é compreensível, mas Cronkite não é um cidadão qualquer. Não é sequer um jornalista qualquer para cometer um dos mais graves erros da profissão: a simplificação. O veterano repórter teve tempo para elaborar uma teoria melhor, mas respondeu como se estivesse em estado de choque. E cometeu o pecado.
A simplificação, como se vê, não é privilégio de jovens jornalistas que saem das faculdades achando que podem justiçar o mundo. Em princípio, nenhuma notícia deve ser vista e repetida sem mínima reflexão - e este é o maior problema de um veículo veloz como a internet. Um episódio como o ataque terrorista aos EUA deve ser revestido de cuidados redobrados. O historiador inglês Eric Hobsbawn já teve vergonha de dizer que gostava de jazz mas não titubeou ao afirmar que "o governo americano deve se perguntar por que os Estados Unidos são hoje odiados em grande parte do mundo".
O velho repórter foi traído pelo 'achismo', a teoria que se inventa na hora para justificar alguma coisa. Não buscou uma causa mais profunda, apostou na superfície que ele conhece e se apresentou apenas como mais um (desinformado/atarantado) norte-americano.
O mal de Cronkite é mais comum do que se pensa. Há muito de achismo nos jornais brasileiros, um pouco pela pressa, um pouco pela parcialidade, um bocado pela irresponsabilidade. Cada vez mais obriga-se o leitor a ter dois jornais à mão para que ele possa ter mais informações e menos versões para fundamentar sua opinião. No Brasil parte da imprensa faz questão de extrapolar sua função de bem informar para só depois apresentar sua opinião. Há um crescente cinismo que, somado a um tristemente tradicional ceticismo, formam um tipo de jornalismo cada vez mais rejeitado pela população. O relatório do IVC não mente: a maioria dos jornais brasileiros perde leitores a cada mês. Mas jornalistas têm uma estranha aversão ao leitor e prefere continuar errando a dar o braço a torcer e mudar para ter quem o leia. E o irônico é que ninguém tem inveja de nós.
Editorial
Mais vigilância
Os números não mentem. Enquanto estiveram em ação, os chamados pardais móveis foram responsáveis por uma grande redução no índice de acidentes de trânsito na cidade, segundo dados do Detran. Depois de uma investigação do Ministério Público quanto a legalidade dos equipamentos, eles voltam a partir de amanhã. Ainda não vão multar. O Detran decidiu por fazer um período educacional, uma boa medida para mostrar claramente que o objetivo do uso dos pardais não é a arrecadação ou a punição, mas a educação dos motoristas.
Infelizmente boa parte dos motoristas só reflete sobre sua responsabilidade enquanto está guiando um carro quando teme a multa. Nas ruas largas e retas do Distrito Federal o pedal do acelerador é uma tentação. Cabe, no entanto, à autoridade buscar a cumplicidade da maioria da população em suas ações. Isto se faz por meio de campanhas educativas que devem ser desenvolvidas com o objetivo de aumentar a consciência de civilidade de todos.
A volta dos pardais móveis é uma boa iniciativa para reduzir os acidentes, mas deve ser acompanhada de uma ampla campanha para explicar porque a medida é necessária. Nesta hora o Detran precisa ter a sociedade a seu lado e não de agir apenas como órgão punitivo. E o melhor meio para isto é a informação.
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