Justiça decreta a prisão de Jader e de mais 8 acusados
Justiça decreta a prisão de Jader e de mais 8 acusados
Ex-senador é suspeito em mais um caso de fraude à Sudam
A Justiça Federal de Mato Grosso decretou ontem à tarde a prisão preventiva do ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e do candidato a deputado estadual pelo PMDB José Artur Guedes Tourinho. Eles são acusados de fraudes na extinta Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia).
Além deles, a Justiça Federal decretou a prisão de mais sete empresários acusados de envolvimento nas fraudes na Sudam: José Osmar Borges, Ricardo Jerônimo, Alberto Cury Júnior, Mário de Mello, Mário de Mello Júnior, Pedro de Oliveira Rodrigues e Jorge Gerônimo Gonso. A Agência Folha não conseguiu localizar os empresários ontem.
Esta é a segunda vez que Jader e Tourinho, ex-superintendente da Sudam, têm a prisão decretada pela Justiça por causa de acusações de fraude na Sudam. Jader é candidato a deputado federal.
A prisão foi decretada pelo juiz da 2ª Vara Federal de Mato Grosso, Jeferson Schinaider, a pedido do procurador federal Pedro Taques. A carta precatória com o pedido de prisão foi expedida pela 4ª Vara Federal de Belém para que a Polícia Federal cumprisse a ordem. Até as 22h de ontem nenhum deles havia sido preso.
Jader estaria, ontem à noite, fazendo campanha no interior, mas haveria um acordo para ele se entregar hoje.
Os advogados de Jader Barbalho e José Artur Guedes Tourinho entraram ontem à noite com pedidos de habeas corpus no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília. Até as 23h, os pedidos não haviam sido julgados.
O advogado de Jader em Belém, Edson Messias, informou que não havia sido notificado pela Justiça ontem até as 22h.
Desta vez Jader e Tourinho tiveram a prisão decretada por envolvimento com o empresário goiano José Osmar Borges, acusado de ser um dos maiores fraudadores da Sudam. Segundo o Ministério Público Federal, a prisão foi decretada por causa de R$ 246 milhões que o grupo Pirâmide, de Borges, teria desviado da entidade. Na quebra de sigilos telefônicos de Borges e Jader, o Ministério Público encontrou mais de mil ligações telefônicas entre os dois.
Desvios
O procurador Pedro Taques informou ontem que pediu a prisão por causa do alto valor desviado. Borges é acusado de desviar R$ 133 milhões. Ele e Jader foram sócios, de 96 a 98, em uma fazenda no Pará. Os procuradores de Mato Grosso apuraram que Borges usava da influência de Jader para obter a aprovação de projetos da Sudam. Borges, preso pela PF em 2001 e depois libertado, também foi sócio da mulher de Jader, Márcia Zaluth Centeno, na fazenda Campo Maior (nordeste do Pará).
Também foi identificado em 2001 um depósito de R$ 400 mil feito em 96 por uma empresa de Borges na conta de Jader. Segundo o Ministério Público, Borges foi flagrado há dois anos fazendo dois depósitos (R$ 100 mil e R$ 50 mil) para o jornal "Diário do Pará", da família Barbalho.
Com Tourinho, o ex-senador foi preso pela PF em fevereiro, em Belém (PA), e levado a Tocantins, acusado pelo Ministério Público de comandar uma "organização criminosa" que fraudou cerca R$ 132 milhões a extinta Sudam. Este é outro caso, apesar de também envolver desvios na entidade. Jader é apontado neste processo como beneficiário de R$ 14 milhões.
Na ocasião, eles foram liberados no mesmo dia por meio de habeas corpus. Os dois negaram o envolvimento em depoimento, em março. Os dois também foram denunciados pelo Ministério Público por envolvimento em desvios de verbas do projeto Usimar.
FHC ironiza PT e denuncismo
Presidente diz que acusações contra seu governo são "borbulhos políticos" da oposição
Pela segunda vez em menos de uma semana, o presidente Fernando Henrique Cardoso usou um discurso oficial de defesa de seu governo para atacar as posições eleitorais do PT e disse, sem citar nomes, que muitos utilizam denúncias demagógicas de corrupção para fazer "borbulhos políticos", sem objetivos práticos.
FHC ironizou a bandeira petista do Orçamento Participativo, dizendo que tudo no seu governo é participativo. "Eu vejo tanta gente fazer propaganda de Orçamento Participativo. Aqui nós não temos só o Orçamento não. Tudo é participativo", disse, durante cerimônia de balanço de dois anos do "governo eletrônico", realizada no início da noite no Itamaraty.
"Não existe uma denúncia, uma, que chegue a qualquer um de nós que não vá imediatamente [ser averiguada". Até para desmistificar os que usam a denúncia como forma puramente de fazer política sem ter objetivo efetivo de aperfeiçoar as instituições, de aprimorar e menos ainda de punir alguém, querem apenas fazer borbulho", disse.
Anteontem, o candidato governista, José Serra (PSDB), acusou o procurador Luiz Francisco de Souza de "uso eleitoral" de ação protocolada na Justiça Federal contra aliados do tucano acusados de lesar os cofres do Banco do Brasil em perdão de dívidas.
Segundo o presidente, a ministra-chefe da Controladoria Geral da União, Anadyr de Mendonça, disponibiliza na internet todas as denúncias recebidas pelo governo. "Quanta gente faz discurso às vezes de boa fé, às vezes demagógica- sobre corrupção. Quanta gente é conivente com o atraso, e a conivência com o atraso é a base da corrupção", disse.
"O que adianta fazer discurso irado contra a corrupção, se ao mesmo tempo se mantém o atraso? Não adianta, não avança."
O presidente não citou casos específicos. Em alusão direta às críticas da oposição, rejeitou o rótulo de "neoliberal".
"É um ledo engano", disse Fernando Henrique. O presidente afirmou que a reforma de Estado que promoveu deixou o governo mais "competente, inteligente, ágil e transparente".
"Finalmente o Congresso vai permitir que o Fust [Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações] seja utilizado para aquilo que ele foi criado, e sem as picuinhas partidárias", afirmou. Ele elogiou as privatizações porque deixa o Estado mais voltado à sociedade e menos voltado à burocracia, o que também impediria a corrupção.
O presidente disse que acompanha com entusiasmo a informatização dos serviços do governo federal e que isso é necessário e "fundamental para o processo da democratização".
Fernando Henrique citou como exemplos do sucesso do "governo eletrônico" o Siafi (sistema de acompanhamento de gastos do governo) e as declarações de Imposto de Renda via internet.
Serra agora diz que diploma não é essencial
O candidato José Serra (PSDB-PMDB) declarou ontem que não considera fundamental a exigência de diploma universitário para que uma pessoa exerça a Presidência.
"Não acho fundamental em absoluto. Quero dizer isso com muita convicção", afirmou Serra, um dia após seu programa no horário eleitoral gratuito ter questionado a falta de diploma universitário do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No programa de Serra na TV, exibido anteontem, a apresentadora disse que a Prefeitura de São Paulo, nas mãos do PT, "exige diploma universitário para o cargo de fiscal de rua. Já o candidato à Presidência diz que, para ser presidente, não precisa de diploma".
Ontem, o candidato tucano justificou a estratégia usada em seu programa no horário eleitoral como a exploração de uma suposta contradição do PT: "Foi mostrada uma contradição entre o que se fez na Prefeitura de São Paulo e o que se postula no plano nacional".
O próprio Serra não conseguiu completar seu curso de engenharia civil na USP (Universidade de São Paulo), porque teve de seguir para o exílio após o movimento militar de 1964. Apesar de não ter se graduado, fez o mestrado em economia pela Universidade do Chile (1972) e mais tarde o doutorado, também em economia, p ela Cornell University (1977).
Serra disse que, nessa reta final do primeiro turno da eleição, a campanha tucana pretende aprofundar o debate político com o PT, ""para ajudar as pessoas a escolher o candidato". Ele nega que o programa de ontem tenha sido agressivo em relação a Lula e ao presidente nacional do PT, deputado federal José Dirceu (SP).
Na abertura do programa noturno de Serra na TV foram exibidas imagens de José Dirceu discursando para professores da rede estadual paulista em 2000: "Vamos derrotar eles nas urnas também. Porque eles têm de apanhar nas ruas e nas urnas". A propaganda associa as palavras de Dirceu à agressão sofrida dias depois pelo então governador Mário Covas. A seguir vem o slogan: "Atenção: este PT você não vê na TV".
Ontem, Serra acusou Dirceu de estar se ""vitimizando" ao reclamar de uma imagem sua no programa do tucano: ""Muitas vezes as pessoas não têm condições de sustentar o que disseram na vida pública e partem para a tentativa de se vitimizar. [...] Dizer que isso é agressão é uma estratégia de marketing".
Guerra na TV não assegura 2º turno, avalia PSDB Em reunião da cúpula da campanha de Serra, marqueteiros pedem mobilização de aliados para barrar "onda Lula"
O comando político da campanha presidencial de José Serra decidiu ontem manter os ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no horário eleitoral, mas foi advertido pela equipe de marketing do tucano de que o programa de TV não basta para levar o candidato ao segundo turno da eleição.
O alerta foi dado pelo publicitário Nizan Guanaes em reunião ampliada do comando político realizada em Brasília. Numa intervenção gravada em vídeo, Nizan disse que só com o programa de TV isso não é possível. Seria necessária a mobilização de todos os políticos para Serra ir ao segundo turno e "ganhar a eleição".
Em síntese: a campanha tucana precisou levar ao limite o programa de rádio e TV no horário eleitoral gratuito porque é preciso evitar uma vitória de Lula no primeiro turno e desde já antecipar o debate do segundo.
Há uma preocupação em não tornar Lula vítima. Por isso, Serra deve centrar fogo no entorno do petista. Leia-se, bancadas, administrações e equipe de governo.
Os programas devem lembrar que o PT votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Plano Real, o Banco da Terra, o fundo de valorização do magistério, entre outros. Imagens associando o PT ao MST também serão reprisadas. Na essência, Serra quer mostrar que Lula seria um lobo em pele de cordeiro e que o adversário e seu partido não teriam competência para exercer a Presidência.
"Existe o PT real e o PT da TV", disse ontem Serra, ao negar que seu programa esteja atacando os adversários. Ele disse que não se importaria que sua imagem e discursos fossem utilizados pelos adversários no horário eleitoral. "Cada um é responsável pelas coisas que diz ou faz", disse.
O candidato foi duro em relação ao MST: "É muito importante debater as invasões ilegais e as ligações com as FARC [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia". Isso não aparece na TV, mas é um lado do PT".
Cerca de 60 pessoas participaram da reunião. Entre outros estiveram o vice-presidente Marco Maciel, os governadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Esperidião Amin (PPB-SC) e Amazonino Mendes (PFL-AM), o prefeito do Rio, César Maia (PFL), e os presidentes do PMDB, Michel Temer, e do PSDB, José Aníbal.
O cientista político Antônio Lavareda abriu a reunião mostrando uma série de pesquisas referentes ao desempenho do candidato tucano. Serra vai bem no Sul, mas tem problemas no Norte. É grande ainda a distância que o separa de Lula em Minas.
Segundo Lavareda, há um percentual de eleitores de Lula, estimado entre 6% e 10%, passível de mudar de candidato. É esse o nicho que se dirige os programas com ataques a Lula e ao PT.
Além disso, nas cidades com menos de 50 mil eleitores há um contingente de indecisos, estimado entre 24% e 27%, dependendo a região do país, que vota de acordo com a indicação do governador, prefeito ou deputado.
A reunião de ontem serviu para Serra pedir para seus aliados no Estado um esforço concentrado na reta final da campanha em favor do candidatura presidencial.
O programa de TV de Serra com ataques a Lula, exibido anteontem no horário eleitoral gratuito, foi reprisado na reunião.
Ao final da exibição, todos aplaudiram. Alguns, como o deputado Pauderney Avelino (PFL-AM), mudaram de opinião entre a chegada e a saída. "É, eu não tinha visto o programa, gostei."
Outro item aprovado na reunião foi a realização de "supersábados" até o final da campanha. O primeiro "supersábado" será realizado já neste final de semana, quando o candidato tucano visitará 11 municípios. A possibilidade de Lula vencer no primeiro turno foi descartada por todos. Ao menos publicamente.
O candidato ao governo de Minas, Aécio Neves, considerou de "extremo risco" a tática do PT de tentar liquidar a eleição no primeiro turno. "Se eles não conseguirem vencer, entram no segundo turno em desvantagem", disse.
A empresários, Nizan diz como quer barrar Lula
Em encontro sigiloso anteontem com um grupo restrito de empresários pesos pesados, o publicitário Nizan Guanaes, marqueteiro do presidenciável José Serra (PSDB), apresentou sua estratégia para a reta final da campanha eleitoral para conseguir levar o candidato tucano para a disputa no segundo turno.
Apesar do crescimento nas pesquisas do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, Nizan teria garantido aos presentes que Serra iria para o segundo turno.
Os empresários não saíram totalmente convencidos de que irá mesmo haver segundo turno nas eleições, apesar de considerarem boa a estratégia de Nizan para esse final de campanha.
Segundo a Folha apurou, um dos empresários disse que, naquele dia, 90% das ligações telefônica que recebera foram para dizer que o petista Lula iria vencer as eleições no primeiro turno.
O encontro foi organizado pelo empresário Ivoncy Ioschpe, presidente do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). Estiveram presentes, entre outros, os empresários Antônio Ermírio de Moraes (Votorantim), Lázaro Brandão (Bradesco), Cláudio Bardella (Bardella) e Carlos Pires (Camargo Corrêa). Já Nizan estava acompanhado do publicitário Nelson Biondi e do embaixador do Brasil na Itália, Andrea Matarazzo, que coordenou a campanha presidencial de 1998 de Fernando Henrique Cardoso em São Paulo.
No encontro, os empresários assistiram a propaganda eleitoral de TV com fortes ataques ao PT no horário do candidato tucano. O marqueteiro de Serra disse aos presentes que, a partir daquele momento, a campanha tucana iria intensificar seus ataques ao presidenciável do PT.
Apoio empresarial
Os empresários apoiaram a estratégia adotada por Nizan. Segundo a Folha apurou, alguns dos empresários consideraram, no entanto, que era mais eficiente a tática de atacar as idéias defendidas por Lula no passado, como a de criar 15 milhões de empregos no Brasil, uma das bandeiras de sua campanha nas eleições de 1998, do que arriscar um bombardeio mais pesado contra o petista.
Durante o encontro, o publicitário tucano pediu aos presentes que organizassem mais encontros como aquele com empresários de apoio a José Serra.
A idéia de Nizan Guanaes, porém, não foi bem recebida. Antônio Ermírio de Moraes, por exemplo, disse que a elite do país já votava em Serra. Por isso, o que o candidato teria de fazer é se aproximar cada vez mais do público.
A Folha apurou também que Ermírio de Moraes reclamou da falta de apoio explícito por parte dos outros empresários a Serra. Ele disse que foi o único a manifestar publicamente seu apoio ao candidato tucano. Ele participou de dois programas da campanha de José Serra. Nizan disse que, em todas as vezes que o empresário apareceu no programa de TV, a audiência subiu.
PT vai responder a ataque de Serra, diz Dirceu
Presidente do partido acusa tucanos de terrorismo eleitoral, mas afirma que campanha petista não baixará o nível
O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), disse ontem que o partido vai responder aos ataques da candidatura José Serra (PSDB), mas não baixará o nível do debate, mantendo a estratégia da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Dirceu, a campanha de Serra está levando o "medo" e o "terror" ao processo eleitoral. "Retomar o tema do medo e do terror na campanha eleitoral é uma irresponsabilidade com o Brasil, com a sociedade e não conosco, porque nós sabemos nos defender, na hora adequada, com a linguagem correta e com argumentos", disse.
Ele afirmou que, quando foi chamado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, o PT trabalhou para evitar que a crise econômica se agravasse no país numa referência à reunião dos presidenciáveis no Palácio do Planalto para tratar do acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Segundo Dirceu, os ataques tucanos não vão mudar a orientação geral da campanha de Lula. Anteontem, o programa eleitoral de Serra veiculou trechos para atingir Lula alegando falta de preparo do petista e contradições entre o discurso e a prática.
"Estamos abertos ao debate político, programático. Agora, baixaria, ataques pessoais e agressões não constam do dicionário do PT", afirmou.
Para Dirceu, a sociedade vai repudiar a desqualificação das eleições, porque isso tirará a governabilidade do futuro presidente. "A situação do país é muito grave para nós querermos vencer uma eleição a qualquer preço."
O presidente do PT fez uma comparação velada entre a campanha eleitoral dos tucanos e a de Fernando Collor em 1989. Naquele ano, Collor usou no programa eleitoral informações sobre a vida pessoal de Lula para desestabilizar sua candidatura.
"Esses métodos nos lembram uma eleição que já houve no Brasil e o resultado não foi bom para o país. Do PT, a sociedade pode esperar firmeza, respostas adequadas e serenidade, porque pensamos no futuro do governo e não só em vencer as eleições", disse.
Apesar de minoritária no comando de campanha, há no PT quem defenda o uso na TV de suspeitas envolvendo pessoas com ligações com Serra, como o ex-caixa de campanha tucana Ricardo Sérgio de Oliveira e o ex-sócio de Serra Gregório Preciado.
Bomba atômica
Lula rebateu ontem as acusações de Serra de que seria defensor da bomba atômica, definindo-se como um "pacifista".
O petista, por meio de nota divulgada por seu porta-voz, tenta explicar suas declarações contra a assinatura pelo Brasil do Tratado de Não-Proliferação Nuclear durante encontro com militares na semana passada.
"O tratado, ao qual o nosso país aderiu em 1998 com apoio do Partido dos Trabalhadores, não tem garantido o efetivo desarmamento das nações que então já detinham arsenal nuclear. O resultado é que, assim, a maioria dos países fica impedida de ter acesso a determinado equipamento, enquanto outros mantêm uma capacidade de destruição quase ilimitada. Daí decorre uma desigualdade de poder, a ser corrigida, nas relações internacionais", afirma o texto.
"Lula e o PT sempre foram, e continuam a ser, pacifistas. Contrários, portanto, à construção de bombas atômicas, seja pelo Brasil ou por qualquer outro Estado", conclui a nota.
Anteontem, após encontro com militares a convite de fundação ligada à Escola Superior de Guerra, Serra havia dito que Lula é contra o tratado, "porque é a favor, em última instância, da bomba atômica". A nota petista, divulgada após reunião do comando de campanha para analisar os próximos passos da estratégia de Lula, não se refere diretamente a Serra. O partido optou por evitar a confrontação proposta pelo tucano.
TSE impõe novo veto a programa do PSDB na TV
A pedido do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Tribunal Superior Eleitoral impôs nova proibição à propaganda gratuita do tucano José Serra.
O ministro-auxiliar José Gerardo Grossi concedeu liminar ontem à noite impedindo que o PSDB repita nos próximos dias o trecho do programa que critica a exigência do diploma de curso superior em concurso realizado pela Prefeitura de São Paulo para fiscal de rua.
Desde anteontem, Lula e o presidente do PT, José Dirceu, entraram com cinco representações contra Serra.
Anteontem, o ministro-auxiliar Caputo Bastos havia concedido liminar proibindo a campanha tucana de repetir as cenas que relacionam uma declaração de Dirceu com imagens de grevistas agredindo o governador de São Paulo Mário Covas, morto em 2001.
Lula é o docinho dos banqueiros, diz Garotinho
O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, afirmou ontem, em Campo Grande, que o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva é o "docinho de coco dos banqueiros".
A crítica ocorre um dia depois da divulgação da pesquisa do Ibope mostrando que Lula atingiu 41% das intenções de votos, aumentando suas chances de vencer no primeiro turno.
"O único candidato que não se rendeu ao poderio dos bancos foi Garotinho. Todo mundo foi lá na Febraban [Federação Brasileira dos Bancos] se reunir com os banqueiros e fez concessões. O Lula agora parece o docinho de coco dos banqueiros", disse em entrevista ontem à tarde em Campo Grande (MS), onde participou de uma carreata e de um minicomício para cerca de 500 pessoas.
"O Lula se tornou um funcionário do PT, ele inclusive recebe do PT para fazer campanha. Há oito anos ele não trabalha, ele só faz campanha política. Isso vai pegar muito mal para ele quando nós tivermos a oportunidade de nos confrontar no debate", disse.
No discurso para cerca de 500 pessoas, Garotinho voltou a afirmar que estará no segundo turno com Lula e que perguntará ao petista: "Escuta aqui, o que você fez nos últimos doze anos?"
Garotinho mais uma vez criticou as alianças políticas das outras candidaturas de oposição: "Infelizmente, o Lula se entregou nos braços do Sarney, o Ciro se entregou nos braços do Collor e de Antonio Carlos Magalhães. Só o Garotinho está limpo para mudar o Brasil".
Pesquisas
Ao comentar as recentes pesquisas de opinião, Garotinho garantiu ter pesquisa interna que o coloca em segundo lugar.
"Na verdade, eu já passei o Ciro há umas três semanas. E na nossa pesquisa, nós estamos a apenas um ponto do candidato do governo", disse o presidenciável.
O candidato do PSB também colocou sob suspeita as pesquisas do Vox Populi e do Ibope, divulgadas nesta semana.
"Já saiu a pesquisa do Serra, que é o Ibope, já saiu a pesquisa do Ciro, que é o Vox Populi. Eu quero ver no Datafolha, que é isento, e eles vão mostrar que estamos numa candidatura crescente", disse.
A diretora-executiva do Ibope, Márcia Cavallari, afirmou que as críticas do candidato são um "mau hábito" de alguns políticos.
"Garotinho sabe muito bem que o Ibope é uma instituição idônea e que construiu uma credibilidade trabalhando sério nestes 60 anos", afirmou.
O diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, disse que não comentaria as declarações.
Em pesquisa por telefone, Lula tem 39%, e Serra, 24%
Petista oscila 2 pontos para baixo, e tucano mantém taxa, mostra levantamento
Pesquisa concluída ontem à noite mostra um cenário de estabilidade no rastreamento eleitoral elaborado pelo Datafolha, sem oscilações fora da margem de erro.
O levantamento é o primeiro da série realizada com eleitores que têm telefone fixo em casa feito depois do acirramento dos ataques de José Serra (PSDB) a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no horário eleitoral gratuito.
De acordo com o institu to, Lula tem 39% das intenções de voto tinha 41%; Serra manteve-se com 24%; Ciro Gomes (PPS) foi de 14% para 13%, e Anthony Garotinho (PSB), de 11% para 12%.
Os números divulgados se referem a uma "média móvel" (veja no quadro ao lado como isso é calculado) de duas pesquisas e tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos.
As taxas divulgadas hoje referem-se, portanto, à média de pesquisas feitas no domingo antes dos ataques de Serra- e ontem.
A pesquisas são feitas três vezes por semana, nos dias seguintes a exibições de programas dos presidenciáveis. A próxima será amanhã e, contando com a de ontem, medirá possíveis reflexos dos ataques feitos na terça.
O Datafolha lembra que o resultado do rastreamento representa a opinião de uma parte específica do eleitorado: os cerca de 54% que têm telefone fixo em casa. É uma parcela com mais renda e escolaridade do que a média nacional e mais concentrada no Sudeste.
Analisando os últimos três resultados, é possível afirmar que, nesse segmento dos "com-telefone", Garotinho apresenta leve tendência de alta, e Ciro, tendência de queda.
Pepessista diz que votar em Lula é 'aventura'
O presidenciável Ciro Gomes (PPS) afirmou ontem que votar em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é "tacar fogo em tudo que está aí e tentar uma aventura".
"Lula desertou da luta de oposição e produziu uma versão completamente fantasiosa, que prepara o país para uma crise", afirmou Ciro, que chamou de "mentira" o programa do petista de criação de 10 milhões de empregos.
Ciro afirmou também que escolher o candidato do PSDB, José Serra, é "manter tudo do jeito que está". Logo após os ataques aos adversários, o candidato classificou-se como a "mudança segura".
As críticas a Lula e Serra, repetidas por Ciro por pelo pelo menos cinco vezes, foram feitas em reunião com empresários do setor sucroalcooleiro na Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).
Horas antes, em evento em que recebeu o apoio da CGT (Central Geral dos Trabalhadores), o candidato do PPS havia classificado os virtuais destinos de votos a Lula como "salto no escuro" e a Serra como "ajuda para dar um terceiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso".
"Vamos derrotar de uma cambulhada [cambada] só o poder econômico, o corporativismo, a manipulação da mídia e dos institutos de pesquisa representados por essas candidaturas", disse o presidenciável.
Ao discursar para cerca de 500 pessoas da Força Sindical e CGT, o candidato pediu aos cabos eleitorais "esforço para esclarecer o povo quem é Ciro". "Nossa candidatura é de audácia e ousadia: não é só trocar Chico por Mané na Presidência, é trocar por qualidade."
Para os sindicalistas, Ciro atacou as gestões do PT. "Com raras exceções, o PT só faz desgoverno e esquece de suas promessas no poder", afirmou o candidato.
Ciro também citou os governos petistas do Rio Grande do Sul, da prefeitura de São Paulo e na prefeitura de Fortaleza (1986-1988): "Fora do poder o PT é duro, agressivo, denuncia, prometem. Mas depois esquecem o que prometem e geram desgovernos", declarou.
Site elogia e depois ataca petista
Em menos de três horas, o site do candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, elogiou e atacou um de seus adversários na disputa: Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Até o final da tarde, ao acessar o site, uma mensagem era automaticamente aberta na tela. Nela, o petista era apresentado, ao lado do próprio Ciro, como um candidato de oposição "sério, trabalhador e bem intencionado". "Você tem duas opções: Ciro e Lula."
"Agora, se você quer um candidato de oposição sério, trabalhador, bem intencionado, experiente, que já provou sua competência e que tem boas idéias, só existe uma opção: Ciro Gomes", dizia o texto em seguida.
Por volta das 18h, o conteúdo da nota foi alterado. No lugar dos elogios a Lula, a repetição das declarações de Ciro sobre o petista nos últimos dias. "Se você quer um candidato que representa um salto no escuro e uma aventura, a opção é Lula." A partir desse momento, única escolha positiva apresentada passou a ser Ciro.
Artigos
É manipulação
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - A tática (desconstruir o adversário) parece ser a mesma que a campanha José Serra adotou, com êxito aliás, contra Ciro Gomes.
Mas uma das duas salvas disparadas anteontem contra o PT muda de qualidade e invade o território da manipulação.
No caso de Ciro, o tucanato usou palavras do próprio adversário no contexto em que foram pronunciadas. Fisgou Ciro pela boca.
Mas, no caso do programa de terça-feira, a vida real foi reescrita para caber na propaganda contra o PT.
Refiro-me à exibição do discurso do presidente do PT, deputado José Dirceu, aos professores em greve, no qual fala em bater nas urnas e nas ruas o tucanato, seguido pelas cenas da agressão de professores ao então governador Mário Covas.
O próprio Serra chegou a dizer que, "provavelmente", José Dirceu não foi o responsável pela agressão a Covas. É evidente que não houve relação de causa e efeito entre discurso e agressão. Ela ocorreu porque Covas foi a um ponto de concentração de grevistas, valendo-se do inalienável direito de ir e vir, e acabou sofrendo agressão absolutamente injustificável.
Daí, no entanto, a colar discurso e agressão como cara e coroa da mesma moeda é manipulação.
Há no PSDB quem até justifique esse tipo de apelação grosseira com o argumento de que seja a única maneira de derrubar Lula do pedestal olímpico em que se instalou.
Não é eticamente aceitável (como não é aceitável, de resto, que o PT se omita sobre a tentativa, também sórdida, de envolver Serra em um caso de corrupção mesmo tendo o procurador responsável pela denúncia afirmado que não há prova nenhuma contra o candidato tucano).
Quem imaginou que um segundo turno entre Lula e Serra seria o definitivo diploma de modernidade para a política brasileira pode começar a rever os seus conceitos.
Colunistas
PAINEL
Em busca de reforço
Acusado por Serra de agir a serviço do PT, Luiz Francisco enviou cópia da ação cautelar de improbidade contra aliados do tucano a membros do Ministério Público Federal. Diz que o cronograma não é eleitoral. Colegas começaram a pedir apoio público da categoria a ele.
Agora é ruim
A cúpula do PT passou a bater em Luiz Francisco nos bastidores. Reclama que a ação movida contra aliados do candidato tucano não atingiu Serra diretamente, mas levantou suspeitas sobre a ligação do procurador da República com o partido.
Febre argentina
O PSDB voltará a usar o "terrorismo econômico" para evitar a vitória de Lula no primeiro turno. Com o dólar a R$ 3,355, os tucanos vão retomar o discurso de que o ex-ministro é o mais capacitado para enfrentar a crise internacional e que Lula trará a instabilidade.
Tiro no pé
O comitê de Serra avalia que as críticas a Lula no horário eleitoral são uma aposta de risco. Teme a migração de votos do presidenciável petista para Anthony Garotinho. A ordem é continuar a bater no candidato do PSB também.
Manter aparências
Os banqueiros com os quais Serra jantou na segunda queriam que o evento fosse na Febraban, a exemplo dos encontros com os outros candidatos. Serra não aceitou. Achou que a reunião, na reta final da campanha, poderia ser usada por adversários para carimbá-lo como "candidato dos banqueiros".
Colégio eleitoral
Considerando apenas o eleitorado da região Sul do país, Lula ganharia hoje no primeiro turno (o petista tem 53% contra 47% dos demais, segundo pesquisa feita pelo Ibope). O pior desempenho do presid enciável é na região Sudeste (está com 46% contra 54% dos outros candidatos).
Vingança nanica
Ironia do destino: o 1% de Zé Maria, candidato à Presidência pelo PSTU (sigla que se formou de dissidência do PT), pode ser decisivo para tirar a vitória de Lula no primeiro turno. "Não há chance de acordo. O PT fez outra opção. Preferiu defender o acordo com o FMI e se aliar ao PL, a Sarney e a Quércia."
Sinais internos
Blairo Maggi (PPS), em primeiro nas pesquisas para o governo de MT, sugeriu em palestra que Ciro passe a considerar a hipótese de apoiar Lula no primeiro turno, caso seja realmente possível a vitória do petista.
Outra porta
Discute-se no carlismo a possibilidade de ACM apoiar Lula já no primeiro turno. O cacique baiano, porém, tem dito que só declararia voto no petista agora se Ciro renunciasse, o que ele diz não acreditar que vá ocorrer.
Nova prioridade
Paulinho não acredita numa reação de Ciro. Tem dito na Força Sindical que se preocupará mais com a eleição do irmão, Valdir Pereira da Silva (PL), que disputa a Assembléia de SP.
Força de vontade
Geraldo Althoff (PFL-SC), por sua vez, diz estar "cada vez mais otimista", apesar da queda de Ciro nas pesquisas (que teve 28% no Datafolha e está com 15%). "Estamos no páreo."
Reviravolta
O PFL alckimista passou a orientar setores do partido a pedir voto para Maluf. Motivo: em razão da alta taxa de rejeição do pepebista (38% no Datafolha), o partido acha que Genoino (com 19% de rejeição) é um adversário mais difícil no segundo turno para Alckmin do que Maluf.
Ganhar tempo
A Federação Nacional dos Policiais Federais iniciou campanha para extinguir o inquérito policial centrado na figura do delegado. Fez uma pesquisa em 16 Estados e concluiu que, em média, apenas 10% dos inquéritos abertos têm conclusão.
TIROTEIO
De Arlindo Chinaglia (PT), sobre os ataques de Serra a Lula:
- Agosto já passou, mas a campanha tucana continua padecendo da síndrome do cachorro louco. Para proteger a população, o Ministério da Saúde deveria liberar com urgência uma vacina anti-rábica.
CONTRAPONTO
Ruído na comunicação
O presidenciável José Serra (PSDB), sua vice, Rita Camata (PMDB), e coordenadores da campanha tucana fizeram ontem uma reunião a portas fechadas no hotel Naoum, em Brasília, para discutir estratégias para a reta final das eleições.
No meio da reunião, os organizadores abriram a sala para que a imprensa fizesse imagens do encontro.
O repórter-fotográfico da Folha Lula Marques ficou atrás de Serra para fazer uma foto. Um colega gritou:
- Lula, sai um pouco daí!
Os outros também começaram a pedir a atenção do colega:
- Lula! Lula!
Sem entender o que se passava, Rita Camata demonstrou indignação com a "declaração de voto" dos jornalistas. Ergueu o punho e puxou um corinho, logo engrossado por outros tucanos na mesa:
- Serra! Serra! Serra!
Editorial
POLÍTICA DEFENSIVA
O dólar subiu ontem para o valor mais alto desde o anúncio do acordo com o FMI, há seis semanas. Muitos apontaram como causa o receio de que o oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva vença a eleição, talvez já no primeiro turno. Mas não foi só no Brasil que a tensão aumentou. As Bolsas internacionais caíram sob o impacto de novos sinais de fraqueza dos balanços das empresas e da atividade econômica nos Estados Unidos e na União Européia. Isso também pesou para o maior nervosismo no Brasil.
Esses dois fatores a incerteza política e o ambiente externo adverso- há meses mantêm o mercado financeiro tenso. O primeiro fator poderá começar a ser definido em algumas semanas, depois que a corrida presidencial estiver encerrada. Mas a incerteza internacional reforçada pela ameaça de guerra no Iraque- não tem data para começar a se dissipar. A alta aversão global ao risco, que contribui para a escassez de dólares no Brasil, pode persistir por um bom tempo.
Em meio à turbulência de ontem, o Copom manteve inalterada a taxa de juros básica e descartou reduzi-la antes de sua próxima reunião, em 23 de outubro. A decisão é compreensível e sugere a percepção de que, circunstancialmente, o manejo da taxa de juros perdeu eficácia. Dados o fechamento do crédito externo e o nervosismo doméstico, aumentar a taxa dificilmente atrairia dólares; reduzi-la poderia ser considerado voluntarismo, gerando desconfiança.
O crucial, hoje, é que o BC preserve a sua margem de manobra -seja para administrar as tensões do período de transição, seja para que o futuro governo possa assumir em condições sustentáveis. Para tanto, a chave parece ser a manutenção de um "colchão" de reservas de dólares. Esse cuidado pode ter o custo de limitar, por algumas semanas, a capacidade do BC de inibir as pressões sobre a cotação do dólar. Mas seria temerário permitir que as reservas se aproximassem demais do nível mínimo acordado com o FMI (US$ 5 bilhões), pois isso agravaria o potencial de instabilidade no início do próximo governo.
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09/19/2002
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