Livro relata negociações secretas entre bispos e militares, afirma Fernando Bezerra



A recente publicação do livro Diálogos na Sombra , do historiador norte-americano Kenneth P. Serbin, resgata a história do Brasil nos anos mais conturbados do regime militar, destacando a atuação da Igreja nas negociações secretas com os militares em defesa dos direitos humanos, segundo afirmou o senador Fernando Bezerra (PTB-RN). Para o senador, o livro, editado pela Companhia das Letras, "traz à luz, com cuidadosa e profunda análise, documentos inéditos que relatam, com riqueza de detalhes, encontros secretos entre oficiais das Forças Armadas e bispos da Igreja Católica".

- Enquanto ocorriam entrechoques entre os defensores do regime militar, de um lado, e os líderes democráticos e militantes da esquerda, de outro, travava-se nos bastidores uma nervosa luta diplomática em que, cientes das suas responsabilidades, lideranças militares e eclesiásticas tentavam vislumbrar a verdade dos fatos, muitas vezes alterada por diferentes versões e boatos, bem como estabelecer um modus vivendi entre a doutrina social da Igreja e os princípios de segurança nacional dos militares - contou Fernando Bezerra.

Entre os dirigentes da Igreja Católica, segundo o senador, destaca-se o Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, natural do Rio Grande do Norte, que "emerge nessa pesquisa inédita com todo o vigor dos heróis esquecidos", observou o senador, para quem o cardeal foi "um paladino dos direitos humanos, um herói anônimo".

Nas discussões entre os dois grupos, relatou o senador, citando o livro, ambos procuravam esclarecer as diferentes posições ideológicas e foi criada a chamada "Comissão Bipartite" que, embora autorizada pelo então presidente Emílio Garrastazu Médici, não tinha estrutura legal, ainda que fosse marcada por uma "séria tentativa de discutir e resolver os impasses entre Igreja e Governo", de modo informal.

- A importância maior desta comissão, que atravessou incólume os anos do regime militar com seu trabalho persistente e secreto, foi certamente a de estabelecer um canal de comunicação que contribuísse para amenizar os atritos entre as duas posições. Havia concessões de ambos os lados: enquanto intensificava sua força repressiva na ação desenfreada dos torturadores, o governo procurava um diálogo com as autoridades eclesiásticas. E a Igreja, enquanto desempenhava seu papel de denúncia e protesto em relação às violações de direitos humanos, aceitava a oferta do diálogo, submetida à exigência do silêncio - afirmou o senador.

20/12/2001

Agência Senado


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