LUCENA: ACORDO COM FMI PODE GARANTIR EQUILÍBRIO CAMBIAL



O senador Humberto Lucena (PMDB-PB) afirmou que o governo deve rever a falsa idéia de que recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) significa perda de soberania. Ao fechar um acordo com o organismo, segundo o senador, seria capaz de garantir uma base de liquidez ao país que permitisse a implementação, em tempo hábil, de uma minidesvalorização do real, estimada em 15%.

As medidas de ajuste fiscal tomadas pelo Executivo podem, na opinião do senador, ser inúteis para corrigir o déficit na balança de pagamentos e servirem apenas para adiar a desvalorização do Real, que acabaria ocorrendo em "um momento de grande dificuldade, com a economia em ritmo fortemente reduzido." Na visão do senador, um empréstimo "bem orientado" obtido junto ao Fundo, colocaria o país numa situação mais realista termos cambiais.

Analisou Lucena que "o Brasil demonstrou sua vulnerabilidade" diante da crise mundial, com queda da credibilidade do real. Criticou "a âncora cambial com juros elevados e incentivo às importações para forçar a redução dos preços internos" usados como fórmula para derrubar a inflação: "a vulnerabilidade cambial acentuou-se, apresentando, em 1997, um déficit de transações correntes de US$ 34 bilhões."

-Não há como negar os equívocos da equipe econômica. A tentativa do governo de resolver a crise, com a quase duplicação dos juros básicos mostrou-se inoperante, trazendo como necessidade imperiosa a edição do pacote fiscal de emergência, para amealhar R$ 20 bilhões. Mas já sabemos que o aumento dos juros determinará um impacto de R$ 28 bilhões, o que significa que o pacote mal dará para arrefecer esse problema - afirmou.

Lucena criticou duramente a maioria das medidas editadas pelo governo federal, apontando o aumento do Imposto de Renda da Pessoa Fisícacomo o ponto mais polêmico. O senador lamentou também a elevação de 62% na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que resultará em forte impacto sobre a indústria automobilística. Ele estimou um crescimento médio de 4% nos preços finais, com tendência a aumentar mais, devido ao ICMS e aos fretes que serão repassados aos consumidores pelos varejistas.

Em relação ao funcionalismo público, Humberto Lucena disse que o governo pretende é uma mudança "drástica e perversa" com o intuito de economizar R$ 210 milhões. Depois de relacionar doze medidas que considerou draconianas, afirmou que "difícilmente se soube de um governo que tratasse tão perversamente os seus servidores".

Mesmo diante da possibilidade de revisão de algumas das medidas, o senador entende que fica claro que "o modelo de estabilização adotado significa exclusão social", lembrando que, pelo quarto ano consecutivo, os servidores públicos não terão reajuste salarial. Além disso, acredita que os atingidos por essas reformas dificilmente encontrarão emprego em uma "conjuntura recessiva como a que está se estabelecendo no país".



01/12/1997

Agência Senado


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