Luiza Erundina vai concorrer ao Governo de São Paulo









Luiza Erundina vai concorrer ao Governo de São Paulo
SÃO PAULO – A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) decidiu disputar o Governo de São Paulo, informou ontem a assessoria do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB). Garotinho afirmou que recebeu a notícia “com grande alegria”. Ele foi uma das pessoas que mais incentivou a deputada a concorrer ao Palácio dos Bandeirantes.

“Recebi com muita alegria a decisão da Erundina. Sempre tive esperança e fico feliz que ela tenha aceitado o apelo do partido porque ter candidatura única em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais é fundamental para uma legenda que quer se consolidar nacionalmente”, disse.
O governador fluminense disse acreditar que a candidatura de Erundina o ajudará na disputa presidencial. A deputada foi procurada, mas não foi localizada. Garotinho afirmou, ainda, que pretende avançar na aproximação com o PL, do senador José de Alencar (MG).

Amanhã, Alencar e Garotinho têm almoço agendado no Rio. “Não vamos decidir nada agora. Mas espero, ao menos, avançar”, afirmou. O senador do PL de Minas Gerais também é cogitado para ser o candidato a vice-presidente na chapa do presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na corrida presidencial.


Brizola se recusa a falar com Arraes
Líder pedetista reage à proposta de conversar com o PSB sobre uma possível aliança e pede que o ex-governador Miguel Arraes não o procure

PORTO ALEGRE – O presidente de honra do PDT, Leonel Brizola, rechaçou ontem uma reaproximação com o governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PSB), para debater a sucessão presidencial. Brizola que evitou falar o nome do governador carioca, referindo-se como “aquele personagem que está lá no Governo do Rio”. Disse, também, que não receberá o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes como emissário de Garotinho: “Ao Arraes já aviso, através da imprensa, que mudei de endereço. Ele não perca o tempo dele. Ele teve um procedimento conosco abaixo da crítica. Então, não há nada o que conversar. Mesmo porque tenho dificuldade de entender o que o Arraes quer dizer. Ele que cuide do Garotinho e do pessoal dele, que é a melhor coisa que ele faz”.

Brizola ironizou o nome de governador do Rio. “Na verdade, o nome dele é Abdula. De garotinho não tem nada”. Ele também afirmou ter se comovido o depoimento do prefeito do Rio, César Maia, seu desafeto político. “Por ocasião agora dos meus 80 anos, Maia escreveu um depoimento no site do PDT que me comoveu. Olha, ele ganhou minhas fichas. Aliás, muita gente está dando depoimento sobre essa data. O Oscar Niemeyer, o Carta (Mino) e até o Antônio Carlos Magalhães.”

Brizola completa 80 anos no próximo dia 22 e disse que vai se isolar na data, indo para sua fazenda no Uruguai. “Será um período de reflexão. Gosto de pensar quando ponho os pés na terra.” O PDT, porém, vai aproveitar a ocasião para homenagear Brizola. Em todos os locais onde o partido tem representação haverá queima de fogos de artifício, ao amanhecer, e palestras à noite sobre o presidente de honra do partido.


Maciel não deixa crítica de Garotinho sem resposta
O vice-presidente da República, Marco Maciel (PFL), deixou de lado a habitual discrição para rebater as críticas que recebeu do governador e presidenciável Anthony Garotinho (PSB-RJ). Após participar ontem de um seminário sobre Desenvolvimento do Nordeste, na Fundação Joaquim Nabuco, Maciel associou as farpas disparadas por Garotinho - que disse ser “vergonhosa” a solidariedade do vice-presidente e do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) à extinção da Sudene - à “falta de informação”.

“Lamento que ele (Garotinho) esteja totalmente desinformado sobre o Estado e a Região. A Sudene não foi extinta, o Governo Federal só promoveu uma reformulação em sua estrutura”, devolveu Maciel.

O líder maior do PFL em Pernambuco não poupou saliva também para defender a obra mais polêmica do Estado, a duplicação da BR-232, que segundo Garotinho seria uma responsabilidade Federal “feita com dinheiro do Estado”. Maciel argumentou que a obra é de co-responsabilidade da União e do Governo estadual.

“A duplicação da BR-231 é a principal obra do Governo Jarbas e teve a participação do Governo Federal, que concluiu os sete primeiros quilômetros da estrada. Já os trechos subseqüentes estavam previstos no Orçamento estadual. Essa é uma rodovia federal exclusivamente pernambucana”, justificou.


José Serra investe no eleitorado do PFL
MOSSORÓ (RN)– No primeiro discurso público após assumir a pré-candidatura à Presidência da República, ontem neste município, o ministro da Saúde, José Serra (PSDB) mirou em um eleitor associado à Roseana Sarney: nordestino e mulher. Ele participou de dois eventos teoricamente técnicos e de uma festa política organizada pelo PSDB – onde discursou.

“Quem é de São Paulo tem uma dívida com o Nordeste, pois foram os migrantes que ergueram a indústria de São Paulo. Sou de um bairro operário de São Paulo e os filhos deles (migrantes) eram meus colegas no parque infantil”, disse, tentando combater a pecha que o governador César Borges (PFL-BA) lembrou anteontem: “Serra é da elite paulista, não gosta do Nordeste”.

Em Brasília, o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu aproveitar os últimos dias de José Serra à frente do Ministério da Saúde para prestigiar a candidatura do ministro. Fernando Henrique regressou na noite de anteontem de uma visita à Rússia e à Ucrânia e confirmou presença nas viagens que Serra fará a São Paulo e ao Recife. Lançado oficialmente candidato a presidente da República pelo PSDB, Serra deve deixar o Governo após o Carnaval.

Em São Paulo, na sexta-feira da semana que vem, o presidente e o candidato do PSDB visitarão a Associação Paulista de Cirurgia Dentária. No dia 28, os dois estarão no Recife participando de uma cerimônia de agentes comunitários de saúde.

Fernando Henrique tem afirmado que, como presidente, o Governo não tem candidato. Mas ressalvou que, partidário do PSDB, apoiará o candidato de seu partido. O presidente ainda não definiu como será a sua estratégia em relação a outros partidos da base governista. Mas avisou que não vai aceitar ataques pessoais e políticos a candidatos de partidos que apóiam o Governo. Ele se referia, principalmente, à governadora do Maranhão, Roseana Sarney, candidata do PFL ao Planalto.


Petistas atribuem ataques de Garotinho a projeto político
O dia seguinte aos esbravejantes ataques do governador e presidenciável do PSB, Anthony Garotinho, ao PT pernambucano foi marcado por uma verdadeira “operação abafa” à exposição do confronto, entre os dois partidos aliados, que o episódio provocou.

Os petistas, evitando declarações abertas, manifestaram-se em reserva e atribuíram os ataques de Garotinho, único e exclusivamente, ao seu projeto político. Segundo eles, o governador fluminense busca, a todo custo, criar palanques estaduais para a sua candidatura à Presidência da República.
Avaliam os petistas, que Anthony Garotinho é um político limitado ao estado do Rio de Janeiro e filiado a um partido nacionalmente desorganizado, para quem almeja encabeçar um projeto político presidencial.

Na lógica petista, é natural que Garotinho construa palanques estaduais porque a sua candidatura precisa encontrar um diferencial dentro no próprio universo de candidaturas da oposição.
“Além do embate com a direita, ele (Anthony Garotinho) tem um confronto com a própria esquerda. Ele precisa se confrontar com Ciro Gomes (PPS), com Itamar Franco...”, avaliou um petista.
Apesar dos “panos mornos” ao confronto exposto por Garotinho, os petistas re conheceram que a tendência do PSB será a de caminhar com candidato próprio em 2002. Embora, confessam, “eles ainda não deixaram muito claro”.


PT estadual se reúne para discutir eleições de outubro
A estratégia eleitoral do PT pernambucano para as eleições de outubro é o mote do encontro que acontece hoje e amanhã, em Aldeia. Promovida pelo diretório regional da legenda, a reunião contará com a presença dos líderes petistas no Estado – entre eles o prefeito do Recife, João Paulo (PT), e o candidato do partido ao Palácio das Princesas, o secretário municipal de Saúde, Humberto Costa (PT).

De acordo com o presidente estadual da legenda, Paulo Santana, o seminário estará focado no planejamento de um cronograma de ações internas, como o reforço das bases eleitorais do PT no interior do Estado e o desenvolvimento de um projeto de comunicação para os militantes.
Apesar de promover a arrumação da casa, com oito meses de antecedência do pleito, a Executiva Regional do PT não colocará em discussão nesse encontro o empacado processo de coligação no campo de oposição à aliança.

“Esse é um assunto (política de aliança) que trataremos mais adiante. Agora, o PT vai fazer uma avaliação para só então sentar e conversar sobre alianças.”


Artigos

Campanha municipal
Celso Rodrigues

PIEDADE – Quando foi definido, no Palácio do Campo das Princesas, meu nome como candidato a prefeito de Caruaru, nos idos de 1963, logo o governador Miguel Arraes me chamou para uma conversa reservada. Discretamente, disse-me ele: “Você não vai se incomodar se José Almino acompanhá-lo na campanha?”. A sugestão me enchera de alegria: “Doutor Arraes, o menino será bem-vindo. Gosto muito dele”, foi a minha decisão.

José Almino, quando muito com 17 anos de idade, representava para Arraes (primeiro governo) uma avaliação pessoal sobre o possível gosto do filho em torno da política. Contei, ao longo de 40 dias, com a companhia dele, disciplinado e otimista, em todos os comícios. Candidatos das cidades vizinhas levavam o garoto para suas campanhas, o que não me agradava. Um desfalque, sem dúvida, para o meu palanque.

E, na primeira noite, quando ele fazia sua estréia no bairro proletário do Vassoural, foi saudado pelo popular Geléia, candidato à Câmara de Vereadores. Vestindo, como sempre, a camisa do Santa Cruz, do qual era torcedor e legítimo representante na Capital do Agreste, Geléia somava ainda mais outros merecidos méritos: nascido e criado na Rua Preta e, no Carnaval, elegante porta-estandarte do “Clube Carnavalesco Motoristas em Folia”, quando existia Carnaval em Caruaru, um dos melhores de Pernambuco.

Lembro o início do discurso dele, entusiasmado diante da presença do filho do governador Arraes na campanha: “Não sei como um menino tão elegante, bonito e inteligente, deixa os grandes bacanais do Palácio para ouvir aqui, em Caruaru, só palavras escrotas de Draite Nejaim”.
Houve muito riso no palanque e entre o povão. Botaram na cabeça de Geléia que, naquela oportunidade, era bonito dizer bacanal, um elogio ao ilustre e jovem convidado, e que Zé Almino era feliz assim, numa “orgia” que existia com prioridade, embora inteiramente impossível, mas coisa bonita na cabeça de homem do povo tão simples e tão humilde.

Bacanal significava Palácio aberto, o povo no poder, fim do barracão, conquistas sociais, derrubada do peleguismo, sindicalismo de resultados, enfim a busca das reformas de base. Camponês com radinho de pilha, bicicleta, barriga cheia, mulher com máquina de costura e criando e plantando ao redor de casa. Outro saudável bacanal, significando um festim nos campos e/ou nas cidades. Um mutirão fraterno, humano. Não bacanal no sentido pejorativo, entendia Geléia, na saudação não compreendida pelos amigos que o ouviam. Geléia transmitia, então, o regozijo do povo de qualquer maneira.

Arraes ainda hoje me pergunta: “E o discurso do Geléia?”. Ficou no folclore e na história das campanhas eleitorais de minha terra, antes do golpe militar de 64. Daí por diante só do bacanal de torturas, de mortes,de sacrifícios dos humildes. Agora, um quintal do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.

José Almino, hoje morando no Rio de Janeiro, é escritor, tradutor, economista. Enfim, mais um intelectual do clã Miguel Arras.

2) – Felizmente, repercutiu o que, em boa hora, escreveu o escritor e ex-deputado Márcio Moreira Alves sobre o turismo em Pernambuco. Sobretudo em se tratando, também, do potencial turístico de Olinda. Parte do texto publicado pelo jornal “O Globo” foi, indiscutível oportunidade, transcrito aqui, sábado. Me telefona, depois, o professor Manuel Messias a respeito de um novo tempo para a encantadora cidade olidense. Acrecenta que estão se multiplicando ali as pousadas e os pequenos e confortáveis hotéis e restaurantes, e como reclamou Márcio, o belo e histórico Convento dos Franciscanos, já e já, deixará de viver às moscas. Olinda se veste com altivez as mesmas e belas cores de sua origem, Olinda linda, faltando-lhe apenas um esforço maior para completar sua infra-estrutura, a falta de sanitários públicos é grave, e do poder público se espera tão-só o que os eleitos prometeram sempre nas praças públicas. Acredito na charmosa prefeita Luciana Santos. E diz o caruaruense, hoje apaixonado por Olinda: “Comecei com recursos próprios e imensos sacrifícios a construção da minha pousada, que vai servir aos turistas já no Carnaval que se aproxima”.

3) – No começo da semana que passou, conversei com vários amigos, no Scotch House Whiskeria, da querida amiga Verinha, na Rua do Apolo. Boa cozinha e a fraterna companhia da proprietária do simpático restaurante da Rua do Apolo. Merece seu apoio e sua presença.


Colunistas

PINGA-FOGO – Paulo Sérgio Scarpa (interino)

O bordão oficial
A oficialização da pré-candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência tentou mostrar que o partido tucano está unido, apesar das divergências, e que todos orbitam ao redor do presidente FHC. Mas a prova final deverá ocorrer mesmo até maio quando o ministro da Saúde terá de provar que conquistou pontos significativos nas pesquisas e que soube costurar alianças até lá.
Caso contrário, a candidatura de Roseana Sarney (PFL) forçará novamente o PSDB a uma nova definição e, desta vez, será definitiva. Ela ou ele ou um candidato do PMDB, se o partido tiver, por estar na base aliada. Enquanto isso não ocorre, Serra terá de dizer a que veio e exibir idéias mais consistentes ao invés de esboços de planos como ocorreu no lançamento de sua candidatura. Por falar nisso, Roseana também está fraca em idéias e propostas para o País: pouco fala e, quando diz alguma coisa, cai no genérico.

O interessante da história, até agora, é que o presidente FHC tem a partir de agora duas candidaturas de partidos governistas nas ruas. E que disputam a mesma fatia do eleitorado brasileiro. Roseana já está passando dos 20% nas pesquisas; Serra promete crescer. Resta saber com qual dos dois FHC permanecerá de fato e não de fachada.

PPS entra na festa
Provocou euforia, ontem, no aniversário do deputado José Mendonça (PFL), em Belo Jardim, a chegada de uma caminhonete com o adesivo “Bezerra Coelho - 2002”. Foi o bastante para que se comentasse que o PPS de Roberto Freire estaria próximo da aliança PMDB/PFL/PSDB e que entraria através dos Mendonça. Mas logo se percebeu que alguma coisa estava errada: a chapa era do Rio Grande do Norte.

O troco de Arraes
Antes de retornar ao Rio, Anthony Garotinho (PSB) ironizou as críticas que está recebendo do PT por ter criticado João Paulo. “Apenas traduzi o que ouvi no Recife”. E provocou: “Agora ficam achando ruim, mas se esquecem que J oão Paulo, quando era deputado, foi quem mais criticou o dr. Arraes. E ninguém dizia que ele não podia criticar”.

Na rota de Raul
O secretário Raul Henry (Educação) foi comemorar, também, o aniversário do deputado José Mendonça, em Belo Jardim. Estava na região orientando diretores e funcionários sobre como usar o dinheiro do programa Recursos nas Escolas. Candidato a deputado estadual pelo PMDB, o secretário já prepara caminho para as próximas eleições.

Garotinho pune corrupção com broxa e tinta
O governador contou como combate a corrupção na polícia no Rio de Janeiro. Quando não consegue expulsar um policial, continua pagando salário mas manda o homem pintar muros. Se a moda pega, será o ‘Brilha Pernambuco’.

Liberato comanda ‘definição política’ de candidatos
Amigos de Liberato Costa Júnior (PMDB) concluíram, ontem, que Roseana Sarney é “produto enlatado com data de validade” e que Raul Jungmann “é o despreparado político mais bem-sucedido no País”.

Discurso profundo
De um pefelista muito bem situado em Pernambuco sobre o desempenho da pré-candidata do PFL Roseana Sarney na mídia nacional: “A coisa mais profunda que a governadora do Maranhão disse até agora nas entrevistas foi a palavra poço”. Artesiano, esclarece o pefelista. E com muita ironia.

Descrença geral
O ministro Raul Jungmann, pré-candidato às prévias do PMDB, está entre o fogo e o caldeirão. Ninguém acredita na reforma agrária nem na sua candidatura. “Precisaria ter investido mais em publicidade”, diz, “porque a reforma só é vista quando conflito”, explica. Em 2001, gastou R$ 8 milhões em dois meses.

Raul Jungmann respondeu, ontem, na Rádio Jornal, as críticas feitas a ele pelo deputado e correligionário Maurílio Ferreira Lima (PMDB), que disse que o ministro deveria pendurar uma jaca no pescoço para aparecer. “É irrespondível porque o deputado desrespeita a cidadania e desqualifica a conversa”.

A campanha presidencial tem tudo para agradar a todos em matéria de religião. Pedro Simon (PMDB) é da Ordem Fanciscana; Anthony Garotinho (PSB), evangélico; Roseana Sarney (PFL), Raul Jungmann (PMDB); Ciro Gomes (PPS) e Itamar Franco (PMDB), católicos. Lula (PT) não fala sobre religião e José Serra (PSDB) é agnóstico.

O presidenciável Anthony Garotinho mostrou, ontem, mais uma vez, que domina as ondas do rádio. Pediu ao radialista Pedro Paulo que abrisse o microfone para conversar diretamente com os ouvintes da Rádio Clube. Não deu outra: respondeu a todas as perguntas e prometeu muita coisa.

A dengue anda solta pela cidade, já deixou de cama o deputado federal Joaquim Francisco (PFL) e o deputado estadual João Negromonte (PMDB). O que se comenta, agora, é que o mosquito não teria coragem de picar o deputado e secretário Sérgio Guerra (PSDB). Ele colocaria o bichinho no partido, assim como já fez com muita gente.


Editorial

A CRISE ARGENTINA

Principal parceira do Brasil no Mercosul, rica em minérios e grande produtora de carne e cereais, depois de uma recessão que se prolonga há dois anos, a Argentina ingressou numa fase institucional tão caótica, que pareceu a alguns simplesmente ingovernável. Agora, porém, depois de recompor-se politicamente, dá sinais de poderá também reorganizar a sua economia, o que trará benefícios a toda América Latina, e não apenas a seus próprios cidadãos.

Empresas e indivíduos podem falir, mas não um país. Quando muito, um Estado entra em concordata unilateral, interrompendo temporariamente o pagamento de sua dívida externa. Mas, isso já é suficientemente perigoso. No caso argentino, o novo governo deu um primeiro passo em busca da continuidade financeira, ao reconhecer a irrealidade do modelo cambial até então adotado. Foi um gesto corajoso, porquanto a paridade entre o peso e o dólar quase que se transformou numa espécie de orgulho nacional.

No último dia seis, o governo argentino teve aprovado pelo Congresso o seu oitavo pacote econômico, em menos de 24 meses. Chamado de Lei de Emergência Econômica e Reforma do Regime Cambial, ele veio botar de cabeça para baixo o modelo econômico mantido orgulhosamente há dez anos. O fim da paridade cambial entre o dólar e o peso, com a desvalorização deste último em 40%, teve um gosto de remissão, de mea culpa. Ela foi a última pá de terra sobre o Plano Austral, implantado em 1991 para salvar a Argentina da hiperinflação, e que lhe proporcionou um crescimento econômico da ordem de 40% nos anos 90.

Foi justamente o êxito da economia, nos três primeiros anos do Plano Austral, que fez crescer, tanto nos meios oficiais quanto nas ruas, uma resistência enorme a qualquer mudança no modelo cambial, no País. Poucos levaram em conta a contínua perda de competitividade das mercadorias argentinas que estavam presas ao sempre valorizado dólar norte-americano.

Todos sabem que, no Brasil, para combater a inflação desenfreada que por tantos anos atingiu o País, a estratégia adotada foi bem diferente. Aqui, com o Plano Real, a nova moeda começou também supervalorizada, mas permitia a troca, sem maiores traumas, do sistema de banda cambial para o de câmbio livre, mais condizente com o mercado. Isto aconteceu, na realidade, no ano de 1999. Com a desvalorização corretiva de nossa moeda, nossos produtos de exportação tornaram-se mais competitivos que os da Argentina, no mercado internacional.

O então ministro da economia argentino, Domingos Cavallo, fez pronunciamentos, tempos depois, reclamou o quanto pôde das medidas tomadas pelo Brasil para garantir o aumento de suas exportações para os principais mercados do mundo. E isso quase pôs em risco o Mercosul.

Passada a fase de acusações, porém, a Argentina pretende agora que o Brasil assuma a presidência temporária do Mercosul, neste primeiro semestre, ainda que tal função lhe coubesse, no sistema de rodízio acertado tempos atrás. Em resposta ao gesto cordial, o nosso país se prontificou a ajudar o País vizinho, nesta hora difícil.

Outro aceno simpático ao Brasil partiu do próprio Congresso Argentino, que elogiou, através de pronunciamentos de vários parlamentares, o realismo e a oportunidade da desvalorização do real, em 1999. Um dos congressistas chegou mesmo a criticar, veladamente, a arrogância com que, presos à conversibilidade monetária, os argentinos “olhavam com desdém os irmãos latino-americanos com suas moedas desvalorizadas”.

Esperamos que os dois anos de crise no país platino tenham dado ao Governo e aos empresários brasileiros condições de análise para não sermos surpreendidos com novas crises que possam surgir, no mundo às vezes conturbado dos negócios internacionais. E deixado claro que economia é coisa séria, não pode ser exercício de aventura de falsos salvadores da Pátria.


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01/19/2002


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