Lula desafia Serra a debater gestões do PT








Lula desafia Serra a debater gestões do PT
Líder das pesquisas afirma que não tem nenhum temor da comparação entre os governos de seu partido e os de outras legendas

MARINGÁ - Eleito alvo principal dos tucanos nesta reta final da campanha, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem que o adversário que "falar mal" dele vai ter de arcar com "suas responsabilidades". E lançou um desafio ao candidato do governo, José Serra (PSDB), que pretende explorar as deficiências das administrações petistas no Brasil para atacá-lo. "Nós topamos, isso pode ser feito num debate: comparar os governos do PT com qualquer governo deste País. Não temos essa preocupação."

Lula destacou que a estratégia de sua campanha continua a mesma, mesmo diante do iminente bombardeio dos adversários. "Não participo da campanha de nenhum adversário, não estou preocupado com críticas e não quero fazer críticas", disse o petista, que ontem esteve no Paraná, onde gravou cenas para seu programa do horário eleitoral gratuito na Cooperativa dos Cafeicultores e Agropecuaristas de Maringá (Cocamar). "Temos de ficar tranqüilos e manter a fase 'Lula Paz e Amor', que é o que está dando certo."

Esquivando-se da possibilidade de liquidar as eleições já no dia 6 de outubro, o presidenciável do PT disse que está trabalhando apenas com a hipótese de haver segundo turno. "Trabalho com a hipótese de fazer a melhor campanha possível até 6 de outubro e esperar o resultado da apuração", disse Lula.

O fase atual da campanha, afirmou, é de "consolidar o processo de crescimento degrau por degrau, sem pressa". "A minha proposta continua intacta: vou fazer uma campanha sem atacar ninguém", disse o petista. "O tratamento que meus adversários vão dar à campanha é problema deles."

Lula recusou-se a responder aos ataques de seu adversário Ciro Gomes (PPS), que na terça-feira o chamou de "desertor da causa republicana" por estar "traindo" seu papel de oposição. "Tem gente que, para parecer oposição, faz campanha fazendo oposição. Eu não quero ser oposição. Quero ser governo e esta é uma campanha para ganhar a eleição."

O presidenciável comentou também as conseqüências políticas da megarrebelião ontem, no Presídio Bangu 1, no Rio de Janeiro, Estado governado pela petista Benedita da Silva.

Segundo o petista, o fato não poderá ser usado contra ele nestas eleições.

"Se fosse assim, teríamos candidatos que não seriam nem candidatos, tal foi a quantidade de rebeliões que houve em São Paulo, por exemplo."

Colheitadeira - Após as gravações na Cocamar, Lula foi até a fazenda de um dos conselheiros da cooperativa, Antonio Pedrini, para concluir as imagens para seu programa eleitoral. Lá, dirigiu uma colheitadeira de trigo e chegou a emperrá-la, por falta de habilidade.

"Sou o maior piloto de colheitadeira que Maringá já viu", brincou o candidato. Depois, Lula visitou o prefeito da cidade, José Cláudio Pereira Neto (PT), que deixou o hospital na terça-feira, após 80 dias de internação por causa de problemas no intestino e complicações cirúrgicas.

Ainda em Maringá, fez um breve discurso em uma praça, no centro da cidade, para cerca de 500 pessoas, antes de partir para Curitiba, onde teria um showmício com a participação da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano, à noite.


‘Serra é clone monstruoso de FHC’, diz Ciro
Ele acusa rival de utilizar “expedientes fascistas” que presidente não usa e faz pouco de pesquisas

O presidenciável do PPS, Ciro Gomes, negou ontem que pretenda renunciar e atribuiu os boatos a mais uma estratégia do seu adversário do PSDB, José Serra, a quem chamou de “clone monstruoso do (presidente) Fernando Henrique”. “Fernando Henrique, com todos os seus defeitos, e essa homenagem eu lhe faço, não é capaz de usar os expedientes fascistas que o senhor José Serra está abusado de usar em destruição de reputações, como escutas telefônicas, calúnia e agressões.”

Ciro também desqualificou as pesquisas de intenção de votos, as quais, segundo ele, têm baixíssimo nível de credibilidade. “São bilhões de reais que estão circulando por debaixo dos panos para tentar induzir votos”, afirmou.

Ele fez questão de destacar que nunca deu tanta importância para os levantamentos, mesmo quando estava em melhor posição. Segundo Ciro, as movimentações reveladas pelas pesquisas fazem parte de uma grande armação. “Eu dizia isso quando os números eram outros, porque sabia que aquilo era feito como está sendo feito agora”, disse. “Estão colocando Lula (Luiz Inácio Lula da Silva) lá em cima para depois abaixar na semana que vem, no máximo em dez dias.”

Segundo Ciro, todo o sistema no País estaria unido em torno de um mesmo ideal. “Todo o sistema do Brasil, grana, poder econômico, a plutocracia, o governo dos barões, o poder político e a corrupção, está tudo entranhado no mesmo saco de gatos para provocar uma falsa escolha entre a continuidade piorada (Serra) e um homem bem-intencionado, mas que não tem experiência nenhuma (o petista Luiz Inácio Lula da Silva) para governar o País.”

Ciro voltou ainda a cobrar uma posição do PT, que, segundo ele, o deixou sozinho com a missão de combater o candidato do governo. Em seguida, disse que essa é “a segunda decepção” que tem com os petistas, pois defendeu o presidente nacional do partido, José Dirceu, quando o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, recomendou abertura de investigação para apurar a ligação do deputado com supostas irregularidades ocorridas na prefeitura de Santo André.

“Ele (José Dirceu) me ligou e agradeceu, pois nem os petistas tinham sido tão duros e eficazes quando eu fui. Mas quando eu cresci e passei a ser uma ameaça, o PT desertou da luta republicana e passou a comemorar esses expedientes contra mim”, disse. A primeira decepção, segundo Ciro, foi quando o PT decidiu não integrar o governo do ex-presidente Itamar Franco.

Pressões – Em reunião da cúpula da campanha da Frente Trabalhista, anteontem, em São Paulo, e depois, no Rio, representantes do PTB teriam cobrado um reforço na equipe de marketing da campanha e um dos nomes sugeridos teria sido o do marqueteiro Chico Santarita. Ciro garantiu ontem que tudo não passa de boato.

Sobre a rebelião no presídio Bangu I, no Rio, o presidenciável disse que o “Brasil virou uma selva”. “O que está ocorrendo no Rio e no Brasil inteiro é puro desgoverno, pois não há dificuldade alguma operacional.”

De manhã e à tarde, o candidato do PPS gravou propostas para o setor agrícola na Fazenda Sapucaia, em Pindamonhangaba (SP), cidade onde nasceu. Ainda ontem, Ciro telefonou para a Embaixada dos Estados Unidos em solidariedade pelo aniversário de um ano dos atentados terroristas.


Bornhausen acusa Serra de 'destruidor'
Em visita ao Maranhão, senador culpa tucano por fim da candidatura de Roseana ao Planalto

SÃO LUÍS - O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), negou mais uma vez que seu partido esteja costurando o apoio a José Serra, para um eventual segundo turno na eleição presidencial entre o tucano e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Ele (Serra) não vai chegar lá, por que vou me preocupar?", respondeu Bornhausen, que esteve nesta quarta-feira no Maranhão, gravando uma participação no programa de TV de Roseana Sarney, que disputa uma vaga no Senado.

O senador também não poupou críticas ao candidato do PT, a quem chamou de "Dula". "O que tem aí é Duda Mendonça pilotando o Lula."

Ao lado de Bornhausen durante toda a entrevista, a ex-governadora do Maranhão interveio logo depois da declaração, afirmando que não se pode deixar de reconhe cer que, depois de quatro eleições, Lula já amadureceu bastante - o pai de Roseana, senador José Sarney (PMDB-AP), já declarou apoio ao petista. Mas Roseana disse que só fará sua opção no segundo turno.

"Se for Lula e o Serra, vocês já sabem para quem será meu voto. No Serra não voto de jeito nenhum."

Bornhausen criticou duramente Serra. "Não vamos permitir que o Serra vá para o segundo turno, porque ele é um destruidor. Nós precisamos de um construtor." O presidente do PFL disse, ainda, que o melhor modo de o povo maranhense responder ao fato do candidato tucano ter "destruído" a candidatura de Roseana é votando em Ciro, para não permitir que Serra fique em segundo.

Comício - Logo depois de chegar a São Luís, Bornhausen almoçou com Roseana, os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Edison Lobão (PFL-MA) e com o governador José Reinaldo Tavares (PFL). Em seguida, gravou uma participação no programa de televisão do PFL do Maranhão e participou de um comício na cidade de Miranda, a cerca de 150km de São Luís.

Ao final de sua visita ao Estado, Bornhausen voltou a insistir em que manterá seu apoio ao candidato do PPS, Ciro Gomes, até o final da corrida presidencial. E afirmou que o segundo turno será entre Ciro e Lula.


Serra responsabiliza Justiça por rebelião no Rio
Candidato culpa ainda o governo do Estado por concessão de 'liberdades' aos presos

O candidato José Serra culpou a Justiça pela rebelião no Complexo de Segurança Máxima Bangu I, no Rio de Janeiro, que ele chamou de "espetáculo sangrento". "Não é culpa do governo. Isso é resultado da legislação", avaliou. "Foi a Justiça que obrigou o Fernandinho Beira-mar a ser transferido de Brasília para o Rio", afirmou. "Temos de mudar a legislação e fazer com que os bandidos sejam tratados como bandidos e não como hóspedes de luxo, que dirigem crimes e armam espetáculos sangrentos."

O candidato também condenou o excesso de liberdades concedidas aos presidiários. Como exemplo, o candidato citou a utilização de telefones celulares pelos presos. Ele culpou o Estado do Rio, que é governado por Benedida da Silva (PT), de permitir esse tipo de "liberdade" e, com isso, perder força para o crime organizado. "No caso do Rio de Janeiro, (o Estado está perdendo força) porque quis. Não há motivos para se permitir que se usem celulares", criticou. "Bastaria anular o sinal. Como é possível não apagar o sinal, daria perfeitamente."

Provas - Como demonstrar que seria tecnicamente possível apagar um sinal, Serra disse que, no caminho entre o centro da cidade e a produtora onde grava seus programas eleitorais, na Vila Leopoldina, em São Paulo, há alguns pontos em que a ligação de celular é interrompida de forma proposital. "Basta você fazer esse trajeto durante três dias seguidos para ver como cai."

O candidato concedeu uma breve entrevista, de menos de três minutos, no intervalo das gravações para seu programa de TV.

Perguntado sobre a citação que foi levada esta tarde por um oficial de Justiça à sua casa, Serra disse apenas que não recebeu "nada". A citação refere-se a um processo movido pelo candidato Ciro Gomes (PPS), que se sentiu ofendido por uma declaração de Serra de que ele seria o "genérico de Collor". Uma oficial de Justiça foi à casa do candidato no início da tarde, mas os empregados falaram que o candidato não estava.


'Ciro caiu muito e a culpa é dele mesmo', diz Ermírio
O empresário Antonio Ermírio de Moraes atribuiu a queda do presidenciável Ciro Gomes (PPS) nas pesquisas eleitorais às declarações do candidato contra empresários paulistas e sobre o papel de sua mulher, Patrícia Pillar, na campanha. "Ele caiu muito e a culpa é dele", avaliou Ermírio, que gravou ontem mais uma participação no programa de TV do candidato tucano, José Serra. "O que ele falou contra as mulheres e contra os barões paulistas não se fala nem em pensamento."

"Fernando Henrique se elegeu duas vezes com São Paulo, será que Ciro se esqueceu disso? É uma falta de respeito.". Sobre Patrícia, o empresário lamentou: "É uma pena. Ela é uma boa moça, não é vedete, não. Ela tem seu valor."

Ermírio afirmou ainda não esperar um confronto pesado entre Serra e o petista Luiz Inácio Lula da Silva. "Vai ser uma coisa de primeiro mundo.

Cada um tem seu valor, sua filosofia de trabalho", disse. "Agora eles estão mais civilizados, têm mais treino. O que tinham de falar de bobagens, já falaram." (M.B.)


Garotinho quer renegociar logo com FMI
Candidato do PSB garante que vai para o 2.º turno e, se eleito, vai rever pacto com Fundo Monetário Internacional ainda em novembro

RIO - O candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, afirmou ontem que, se eleito, vai reabrir as negociações do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) já em novembro de 2002, para quando está marcada a primeira revisão do pacto fechado pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Sem adiantar quais pontos quer rever, Garotinho declarou que buscará condições melhores e lembrou a renegociação da dívida do Rio, após assumir o governo, em 1999. O candidato citou o presidente dos EUA, George W. Bush, que recusou o Protocolo de Kyoto alegando defesa de interesses americanos, como exemplo da atitude soberana que pretende assumir.

"Quando o presidente George Bush foi convocado para assinar o acordo de Kyoto, o que foi que ele disse? 'O acordo é ótimo, qualquer um pode assinar, menos eu, que sou presidente dos Estados Unidos. Vou prejudicar as empresas do meu país? Não posso fazer'", disse ele, na terceira entrevista promovida pelo jornal O Globo com os presidenciáveis, ressalvando não estar falando em sentido literal. "Então, existe o presidente do Brasil para quê? Para defender os interesses do Brasil. Temos de negociar de forma soberana."

Garotinho lembrou que o País foi obrigado a racionar energia apesar de Furnas Centrais Elétricas ter dinheiro para construir linhas de transmissão, porque um acordo com o FMI obrigava a contabilização dos investimentos de estatais como gastos, ou seja, que fossem colocados na conta do déficit público. "E olhem o preço que pagamos por isso", lembrou, referindo-se ao apagão. Garotinho afirmou ainda que, apesar das declarações do presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, reafirmando a disposição de cumprir contratos e negociar, essa não é a tradição petista. Ele citou o caso da Ford saiu do Rio Grande do Sul depois que o partido ganhou o governo estadual, em 1998.

"O PT não soube negociar com a Ford", afirmou. Segundo ele, os interesses de empresas americanas no Brasil dão aos brasileiros boa margem para negociar em defesa do interesse nacional.

O candidato também demonstrou ter fortes restrições à entrada do Brasil na Área de Livre Comércio das Américas (Alca), pelo menos nas atuais condições.

"Em tese, ninguém pode ser contra o livre comércio", afirmou. "Mas como aceitar a Alca sem pré-condições? A unidade européia se deu com fortes subsídios dos países mais desenvolvidos aos mais pobres, como Portugal e Espanha, que receberam muito dinheiro dos outros países, da Alemanha, da França. O que ganhamos com a Alca? Nada, absolutamente nada. No dia-a-dia, será péssima para o Brasil."

Críticas - Por várias vezes, o candidato disse que vai ao segundo turno com Lula e que vencerá a eleição. Ele criticou os três adversários, em geral com ironia, provocando risos na platéia. "O (José) Serra (candidato do PSDB a presidente) parece um candidato extraterreno", disse. "Porque ele promete fazer tudo que o governo dele não fez. Promete fazer emprego, que o Fernando Henrique não criou."

Segundo ele, Lula substituiu a política pelo marketing, tentando parecer algo que não é, o que considerou um equívoco. "O Lula diz que acumulou experiênc ia. Como experiência? Experiência de ser candidato? Qual é a experiência dele?" E Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), afirmou Garotinho, não tem o equilíbrio que o cargo requer.

O candidato afirmou que pretende cobrir o rombo que seria aberto nas contas da Previdência Social pelo aumento para R$ 280 do salário mínimo, que promete em sua campanha, em parte com recursos da rubrica Outros Gastos, do Orçamento, que tem cerca de R$ 40 bilhões e perderia 10%. Esse dinheiro seria somado ao que fosse economizado com a queda na taxa de juro. "Cada pontinho que diminui (na taxa), o País economiza R$ 5 bilhões", declarou.

Ele comparou os opositores da proposta às pessoas que, na época da abolição da escravatura, diziam que ela teria impacto negativo na agricultura.

"Pelos economistas daquela época, o Brasil devia ter escravo até hoje", ironizou.

O ex-governador do Rio, que deixou o cargo em abril para concorrer à Presidência da República, reconheceu que o chamado poder paralelo do crime existe no Estado, "como existe em São Paulo, como existe em outros Estados".

Ele afirmou ter feito muito para tentar deter o avanço da criminalidade.

"Tudo o que pude fazer, (fiz): comprar viaturas, treinar policiais, informatizar as delegacias, criar casas de custódia... Se eu não fiz mais, me perdoem, mas acho que é difícil."

Garotinho atribuiu a criminalidade, em boa parte, a problemas sociais e ao crime organizado. "Você vai lá, prende o chefe da quadrilha, e põem outro no lugar", disse. "Se não muda a estrutura (de entrada no Estado) de armas e drogas... Quantos (grandes chefes do tráfico) foram presos? Você acha que não foram substituídos?"

Para o ex-governador,o papel do presidente é "trazer esperança para o seu povo". "Hoje, infelizmente, o que a gente tem é o presidente, quase sempre, se justificando, 'Não deu para fazer isso, não deu para fazer aquilo, vamos exigir mais sacrifícios...' O próximo presidente tem de devolver a auto-estima do povo brasileiro."


Artigos

As vicissitudes de uma agressão anunciada
Antonio Amaral de Sampaio

No intervalo das sessões da conferência referente ao meio ambiente reunida em Johannesburgo, o vice-primeiro-ministro do Iraque, Tarik Aziz, comprometeu-se perante o secretário-geral das Nações Unidas, a fim de evitar a anunciada agressão militar norte-americana, a que seu governo consentiria, mediante condições por ele unilateralmente impostas, no retorno a Bagdá dos inspetores internacionais encarregados de supervisionar a destruição do arsenal de armas nucleares, químicas e biológicas desenvolvidas por Saddam Hussein, em desrespeito aos termos da resolução do Conselho de Segurança, que exigia tal iniciativa daquele país.

Para quem conhece o "modus operandi" de Saddam, tais condições seriam evidentemente formuladas com o propósito específico de frustrar o escopo das inspeções internacionais, pois o governo de Bagdá não desiste das armas de destruição maciça e procuraria agora, como já o fez em passado recente, iludir os inspetores das Nações Unidas.

Saddam Hussein pretende, pois, frustrar a cogitada iniciativa bélica de Washington, a qual persegue dois objetivos vinculados entre si, a saber: a neutralização do arsenal iraquiano de armas de destruição maciça e, principalmente, a derrubada do poder, em Bagdá, do ditador e da equipe de facínoras que o assessora na "societas sceleris" denominada Conselho de Comando das Revoluções. O segundo objetivo parece mais relevante que o primeiro, pois o presidente Bush quer mesmo terminar o trabalho deixado pela metade por seu pai, quando, em 1991, o general Schwartzkopf recebeu ordens de seu comandante-chefe, o presidente dos Estados Unidos da América, para suspender as operações de guerra contra o Iraque. Isso antes mesmo de haverem as aludidas operações atingido sua natural meta, ou seja, a deposição do tirano que assaltara no poder na Mesopotâmia e dele se serve para agredir os vizinhos e ameaçar a humanidade.

O atual presidente Bush cometeu, desta vez, à imagem paterna em 1991, outro engano: anunciou previamente o ataque ao Iraque, privando-se, dessarte, do fator surpresa, imprescindível ao êxito das operações bélicas. Compreende-se e se justifica a falha presidencial, pois, no referido episódio, era então mister obter um quíntuplo respaldo, a saber: das Nações Unidas, dos aliados norte-americanos da Otan, dos países árabes amigos (Jordânia, Egito e Arábia Saudita, plataformas indispensáveis ao êxito da planejada operação bélica), além do Congresso de Washington e também da opinião pública interna.

Aproximam-se agora, nos Estados Unidos, as eleições para a renovação de parcela do Congresso: uma vitória rápida e incruenta no Iraque facilitaria as vantagens dos candidatos do Partido Republicano. Ao revés, um ataque desfechado sem aval do Congresso, produzindo muitas baixas, incrementaria as possibilidades eleitorais do Partido Democrata.

No âmbito da Otan, Bush enfrenta oposição de seus principais aliados, pois apenas a Grã-Bretanha, agora reduzida à condição de satélite de sua antiga colônia, aceita, sem restrições, os projetos de Washington.

Entre os árabes, ofendidos com o que se afigura ser o endosso ostensivo de Bush ao expansionismo israelense, o conceito de deposição do "louco de Bagdá" encontra resistências, visto como Saddam é visto como uma esperança a fim de reverter a situação vigente naquele conflito. No Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde existe o veto russo, Washington também dificilmente conseguirá aval para a guerra preventiva contra o Iraque.

A conjuntura atual apresenta-se, assim, pouco auspiciosa para o presidente Bush: anunciada temerariamente a agressão preventiva, recuar agora seria desmoralizante e significaria trunfo a ser capitalizado por Saddam. Por outro lado, ir em frente sem os respaldos necessários, acima aludidos, poderia configurar aventura político-militar, de resultados imprevisíveis.

Até o superpoder hegemônico conhece limites; ultrapassá-los constitui exercício aleatório. Não que Washington careça de instrumentos de força para depor Saddam Hussein; nem que este desmereça ser deposto, pois já deveria, muito antes, ter sido expulso do poder e confinado a um asilo de lunáticos ou ao cárcere. Penso, porém, nas conseqüências da guerra preventiva na situação política geral do Oriente Próximo, sobretudo em Israel, que se encontra na área de ação útil do armamento de destruição maciça possuído pelo malévolo ditador.


Editorial

O NOVO PANORAMA ELEITORAL
A mais recente fornada de pesquisas sobre a sucessão presidencial e os pleitos majoritários no Estado de São Paulo assinala um inequívoco ponto de inflexão nas tendências eleitorais.

No plano federal, o cenário mais provável voltou a ser o de um segundo turno entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra, como quase todos previam até o início de julho.

Decerto seria temerário descartar a hipótese de vitória de Lula já na primeira rodada de 6 de outubro, ou até mesmo a possibilidade de que Ciro Gomes, agora em situação de empate técnico com Anthony Garotinho, recupere nestas três derradeiras semanas de campanha os votos que, em não mais tempo do que isso, migraram para outros competidores, desalojando-o do segundo lugar nas sondagens.

Afinal, não se pode desconsiderar o fato de que 1 em cada 3 eleitores ainda admite trocar de candidato. Contra as aspirações de Ciro, no entanto, pesa um dado talvez decisivo - desde o início do horário de propaganda no rádio e na televisão, cresceu sem cessar o número de eleitores que o incluem entre aqueles nos quais não pretendem votar de forma alguma. Numa reviravolta como poucas veze s se há de ter visto em tão breve período, Ciro passou da condição de menos rejeitado para o extremo oposto, isoladamente, ou com o mesmo índice negativo de Lula, conforme as diferentes pesquisas.

Na cena paulista, as principais novidades são duas: a queda de Paulo Maluf na disputa pelo governo e a ascensão de Aloizio Mercadante, do PT, no embate pelo Senado. O ex-prefeito continua líder, mas a sua vantagem sobre o governador Geraldo Alckmin diminuiu ou de 16 para 10 pontos (no Datafolha) ou de 10 para 4 (no Ibope), configurando, nesse último caso, um empate técnico. Ainda mais significativas são as simulações para o segundo turno.

Pela primeira vez, as pesquisas revelam que Alckmin superaria Maluf por 6 a 8 pontos. A eleição de Maluf seria incerta mesmo se o seu adversário fosse o petista José Genoíno: ambos ficaram tecnicamente empatados.

A competição pelas duas cadeiras senatoriais em jogo também mudou. O ex-governador Orestes Quércia, do PMDB, o mais cotado para conquistar uma das vagas - considerando-se quase certa a reeleição do pefelista Romeu Tuma - passou a correr o risco de perdê-la para Mercadante. O petista agora está à sua frente, com até 3 pontos de diferença. A se acentuarem os sintomas de fracasso das tentativas de ressurreição eleitoral de Maluf e Quércia, os paulistas é que deixarão de correr o risco de terem novamente no proscênio da administração e da política duas figuras cujas biografias remetem a tempos deploráveis.

Em relação ao Planalto, o novo panorama eleitoral é igualmente animador - por um motivo distinto.

A polarização, desde já, entre dois candidatos, no caso Lula e Serra, antecipando um confronto de outro modo reservado para o segundo turno, permitirá que a campanha enfim adquira a qualidade que lhe falta. Pois até há poucos dias o que se viu foi uma aberração. Normalmente, nos pleitos para o Executivo, em qualquer democracia moderna, o favorito nas pesquisas é, por definição, o alvo prioritário dos demais candidatos e o protagonista central dos debates eleitorais, sob duro escrutínio.

Aqui, diferentemente disso, tinha-se três candidatos de oposição, sem contar os dois nanicos da extrema-esquerda, ocupados em fustigar o governo do qual o quarto deles fez parte, tendo-se lançado com o apoio integral do seu titular. Ciro e Garotinho, partindo da premissa de que Lula "já está' no segundo turno, dedicaram-se a tentar impedir que Serra viesse a lhe fazer companhia, explorando o sentimento antigovernista de setores do eleitorado.

Com isso, Lula foi preservado numa espécie de redoma, à vontade para ser o "Lulinha, paz e amor", ou, na frase feliz de Garotinho, para "falar, sorrir e não dizer nada".

Por mais que Ciro Gomes assuma o papel de "último bastião de resistência para que Lula não seja destruído", como disse em entrevista, doravante o eleitor terá a oportunidade de enxergar com clareza, mais até do que a consistência das posições e a viabilidade das promessas do petista e do tucano, as qualificações pessoais e políticas de ambos para levar adiante os programas anunciados. Estes, sem dúvida, diferem menos entre si do que diferem os dois candidatos, em matéria de preparo, experiência, descortino e capacidade de construir bases de sustentação parlamentar que dêem ao presidente os meios para atender às expectativas da sociedade.


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09/12/2002


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