Roseana diz que não desiste e desafia Serra a "fazer 21"









Roseana diz que não desiste e desafia Serra a "fazer 21"
Pefelista ironiza índice de tucano nas pesquisas com slogan publicitário

Um dia depois de telefonar para o ministro José Serra propondo um encontro e de jantar com o presidente Fernando Henrique Cardoso no Alvorada, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), afirmou ontem que sua candidatura ao Planalto "é irreversível" e que não acredita, "de jeito nenhum", que possa haver uma candidatura única dos partidos governistas à sucessão.

Roseana aproveitou para fazer um desafio ao pré-candidato tucano: "Já que dizem que minha propaganda parece comercial de cerveja, vou imitar a propaganda da Embratel: Serra, faça primeiro um 21 e depois a gente conversa". Referia-se aos 21% das intenções de voto que atingiu na última pesquisa do Datafolha. No mesmo levantamento, Serra teve 7%.

Roseana falou com a Folha por telefone de São Paulo, durante gravação do programa de TV do PFL (leia abaixo). Ela diz que não faz sentido abandonar sua candidatura para apoiar Serra. "Minha candidatura é irreversível. Nunca vi ninguém jogar 21% dos votos e uma possibilidade de vitória pela janela", afirmou.
Ela também não acredita que venha a receber o apoio do PSDB, pois os tucanos não aceitam usar as pesquisas como critério de definição de uma candidatura única.

Roseana explicou que telefonou para Serra e jantou com FHC apenas para propor aos tucanos um pacto de não-agressão no primeiro turno. O gesto da governadora, no entanto, foi entendido pelo PSDB como uma sinalização para uma eventual candidatura única do campo governista. A intenção imediata da cúpula do PFL com o aceno aos tucanos é barrar a aproximação de Serra com o PMDB.

O armistício, segundo Roseana, propiciaria uma aliança no segundo turno, quando a governadora acredita que um dos governistas enfrentará Lula (PT). "No cenário atual, é improvável que dois governistas cheguem ao segundo turno. Por isso, precisamos conduzir bem o processo no primeiro turno, sem agressões, para que os atuais aliados possam somar no segundo turno", disse.

Flertes e namoros
Roseana duvida que o PMDB vá tomar uma decisão agora a favor de Serra. Ela tem conversado com a partido e aposta que só haverá definição em maio, em função das pesquisas. "A partir de junho nós teremos candidaturas definidas. Até lá nós vamos ter de conviver com esses flertes, namoros e noivados", disse a governadora.

Mesmo após a definição, ela aposta que a sigla acabará rachando: "Se o PMDB apoiar o Serra, tenho certeza de que o senador José Sarney e o Maranhão não irão seguir essa posição", disse.

Interlocutores da governadora, porém, confirmam que ela "sentiu o golpe" da aproximação entre Serra e o PMDB e por isso tomou a iniciativa de ir aos tucanos.

A governadora aposta que outros partidos também sairão rachados da disputa devido a conveniências regionais. No PFL, a única dissidência até agora é a do governador Siqueira Campos (TO), que manifestou preferência pela candidatura Serra.

No jantar com FHC, Roseana defendeu que o PFL continue apoiando o governo. Para isso, é preciso um "pacto de boa convivência" entre os aliados. Segundo ela, o presidente concordou com sua avaliação.
A pefelista disse que não reclamou especificamente dos ataques que sofreu de aliados de Serra, como o prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (Vitória) e o deputado Jutahy Jr: "Não entrei no mérito dessa questão, mas para bom entendedor meia palavra basta".

O Planalto avalia que a atitude de Roseana foi uma manobra hábil e profissional da cúpula do PFL. Deixou claro que é candidata e invocou a governabilidade para fixar os limites da campanha.


PFL chama Tuma às pressas e inclui a segurança no seu programa de TV
Roseana Sarney, pré-candidata do PFL à Presidência, embutiu às pressas o tema da segurança pública em seu programa partidário, que será exibido no próximo dia 31. Até então, os comerciais davam prioridade aos programas sociais implantados pela governadora no Maranhão.

O assunto ganhou especial importância nos debates de campanha deste ano após o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT). O PFL quer encampar o tema e ainda evitar que as declarações do presidente do PT, José Dirceu, que insinuou que o partido instigava o "ódio e a violência" contra os petistas, cause uma possível repercussão negativa à imagem da pefelista.

Para produzir o bloco sobre segurança pública, o PFL convocou anteontem, um dia antes da gravação, o senador Romeu Tuma (SP) e o deputado federal Moroni Torgan (CE), que foi o responsável pelo programa de segurança da legenda. Os dois são policiais.

Ontem, Tuma e Torgan passaram o dia inteiro, ao lado de Roseana, gravando as entrevistas que serão exibidas na televisão.

O partido pretende mostrar a atuação de Torgan como relator da CPI do Narcotráfico e valorizar a imagem de Tuma como o "xerife" de São Paulo -candidato à prefeitura, na eleição de 2000, o senador ostentou uma estrela dourada no peito.

"Acho um absurdo [o uso político da morte do prefeito". Mas o crime virou político porque é um político que foi morto", afirmou Tuma, que foi chamado a participar do programa, por telefone, um dia antes da gravação.
Segundo a assessoria, o programa deverá citar também um prêmio que o Estado do Maranhão recebeu da Unesco (Organização das Nações Unidos para a Educação, Ciência e Cultura) e do Instituto Ayrton Senna, em 1998, por apresentar baixos índices de criminalidade.

A assessoria da pefelista disse que o tema já fazia parte do roteiro original do programa. Afirmou, no entanto, que o tempo reservado para discutir as propostas da pefelista foi aumentado.

O PFL terá direito a 20 minutos de programa em cadeia nacional. Desse total, ainda não foi definido quanto tempo será destinado à discussão da segurança.

O marqueteiro Nizan Guanaes não participou ontem das gravações. Ele está na Espanha, de férias. A assessoria informou que Guanaes acompanhou os trabalhos por telefone.

Social
Além da questão da segurança, o partido irá explorar o Programa do Meu Primeiro Emprego e o Programa de Aceleração Escolar, implantados pela governadora no Maranhão. Nas inserções já exibidas, os dois programas apenas foram citados. Não houve uma explicação detalhada sobre conteúdo, abrangência ou resultados.

Segundo a assessoria da presidenciável, isso fazia parte da estratégia de marketing. A explicação sobre os programas será feita no horário partidário do dia 31.

A governadora deve voltar hoje cedo ao Maranhão. O retorno, previsto para ontem à noite, foi adiado por causa do atraso nas gravações.


Estratégia visa barrar ascensão de tucano
A intensa movimentação da pré-candidata do PFL Roseana Sarney (MA) neste mês é fruto de uma planejada estratégia de marketing para neutralizar o efeito do lançamento da candidatura do ministro José Serra (PSDB).
Com aparição nos programas de TV do PFL, viagens a São Paulo para gravar comerciais do partido, telefonemas a Serra, declarações sobre segurança e o jantar com Fernando Henrique Cardoso, Roseana chamou a atenção da mídia durante todo o mês em que, se dependesse de sua vontade, ficaria reclusa no Maranhão.

Roseana e o PFL temiam que o grande destaque dado ao lançamento de Serra na imprensa fizesse o ministro crescer nas pesquisas e ofuscasse sua pré-candidata. Por isso, ela e seus marqueteiros montaram uma intensa agenda, que incluiu encontro com atores da novela da Rede Globo "O Clone" -que teve cenas gravadas no Maranhão- e continua no fim de semana, com a inauguração de uma estrada ligando São Luís aos Lençóis Maranhenses.

Líderes do PFL avaliam que a missão de Rosean a, de impedir o crescimento de Serra, foi facilitada por notícias negativas para o governo nas últimas duas semanas, como a epidemia de dengue no Rio, o blecaute e, principalmente, a crise de segurança provocada pelo assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel.
Com tudo isso, o partido aposta que Serra não passará dos 10% na próxima rodada de pesquisas, enquanto Roseana deverá crescer, principalmente nos levantamentos feitos após o programa em rede nacional do partido, que vai ao ar na próxima quinta.

Depois desse programa, Roseana voltará a ocupar as telas em abril. Em uma jogada com o aval do TSE, o PFL decidiu usar só metade de suas inserções de 30 segundos em rádio e TV em janeiro: o resto será transmitido em abril. O partido terá cinco minutos diários, em inserções de 30 segundos, nos dias 9, 16, 23 e 30 de abril.

O partido temia deixar Roseana muito tempo fora da TV e dar nova oportunidade de crescimento a Serra, que ocupará o programa do PSDB de março.


Serra mantém negociação para obter apoio do PMDB
Para PSDB, não há acerto entre aliados para firmar alianças só em maio

O pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, manterá as negociações que iniciou com o PMDB para uma aliança na eleição, além de tentar o apoio de outros partidos da coalizão governista. Ele mantém entendimentos, por exemplo, com o PPB, espécie de irmão siamês do PFL.

De acordo o PSDB, não existe um entendimento prévio entre os partidos da base aliada segundo o qual as alianças somente seriam negociadas a partir de maio, como alega a virtual candidata do PFL, Roseana Sarney (MA).

Para os tucanos, o PFL estaria explorando a questão da governabilidade habilmente de modo a imobilizar as ações de Serra, cujo desafio é fortalecer sua candidatura sem desestabilizar a base de sustentação do governo. Uma camisa-de-força que Serra não estaria disposto a vestir.

O convite de Roseana para um encontro surpreendeu Serra e os tucanos. Há mais de uma interpretação no PSDB para tal atitude. A mais comum atribui a iniciativa a um certo temor do PFL de vir a ficar isolado na aliança.

Serra efetivamente propôs parceria ao PMDB, mas o mesmo tem sido feito por José Sarney (AP), pai da governadora. A própria Roseana telefonou anteontem para o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), pedindo um encontro. O deputado paulista é uma das hipóteses para vice da governadora maranhense.

Há duas outras interpretações no PSDB para a iniciativa de Roseana. Alguns tucanos acham que ela tenta fazer um cordão de segurança para se proteger de acusações, algumas delas datadas do governo Sarney (1985-1990). Outros acreditam que ela está aproveitando o momento favorável nas pesquisas para conversar em condição vantajosa.

Seja qual for o motivo que tenha impulsionado Roseana, avalia-se no PSDB que o convite foi positivo para o ministro: num momento em que sua candidatura pode sofrer as consequências do "apagão" e dos problemas de segurança, seria bom para Serra parecer assediado por PFL e PMDB.

Na conversa com Roseana, provavelmente na próxima quarta-feira, Serra manterá a porta aberta para um entendimento com o PFL. No primeiro ou no segundo turnos da eleição. Mas não vai alterar o cronograma que traçou para sua campanha.

Prova disso é que já na próxima segunda-feira o tucano vai a Recife (PE) para uma festa na qual anunciará a regularização da situação trabalhista de 150 mil agentes comunitários de saúde. O governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) é cotado para vice.

A festa tem um sentido simbólico: será mais um gesto de Serra em direção ao PMDB. Desta vez, na presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, que apóia a candidatura do ministro.

Anteontem, Serra conversou com o ex-governador Eduardo Azeredo (MG), que era um dos adversários de sua candidatura no PSDB. O pré-candidato aposta numa aliança em Minas que junte os tucanos e Itamar no palanque.

Disciplinado, Serra mantém até mesmo a data que marcou para deixar o ministério e reassumir o Senado, 19 de fevereiro, apesar de FHC ter sugerido a ele ficar até março. Ontem, Serra viajou para São Paulo, onde, à noite, deveria submeter-se a uma pequena cirurgia para tirar um quisto do couro cabeludo.


Itamar Franco defende convenção extraordinária antes das prévias
O governador Itamar Franco (PMDB-MG) anunciou ontem, em São Paulo, a convocação de uma convenção nacional extraordinária em 3 de março para a definição das regras sobre a prévia que definirá o candidato do PMDB à Presidência.

"Será necessário que conste nessa convenção que, ao vencedor da prévia, é assegurado o direito de ter o seu nome homologado como candidato do partido à Presidência na convenção de junho", declarou Itamar.
A convocação é mais uma tentativa de o governador reagir ao esvaziamento das prévias que vem sendo promovido pela cúpula nacional, defensora de um acordo com o PSDB de José Serra.

Com a medida, Itamar espera desgastar ainda mais o comando governista da sigla. Segundo pessoas próximas ao governador, ele já se decidiu pelo apoio à pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. O governador pretende apenas garantir o discurso de que foi sabotado pela cúpula do partido.

Em encontro hoje com José Dirceu, presidente nacional do PT, Itamar deverá definir as bases de sua adesão à candidatura petista.

O governador confirmou a possibilidade do encontro com Dirceu, mas negou que já tenha se decidido por Lula. "A priori não sei o que ele [José Dirceu" vai conversar comigo. Pode ser que venha apenas me dizer um bom dia."

Dizendo-se ainda inscrito na prévia, recusou-se a comentar a recente aproximação entre o PFL e o PSDB, após telefonema da governadora e presidenciável Roseana Sarney (MA) para Serra.

"Problema do PFL", declarou. "Queremos é que o PMDB mantenha a decisão já tomada, e até falada pelo presidente do partido [Michel Temer", que, ao que parece, tem esquecido um pouco disso, de ter candidato próprio."

O governador afirmou que o estatuto do partido prevê a convocação do encontro extraordinário, desde que com o apoio de pelo menos um terço dos 514 integrantes da convenção nacional.

Mesmo sem revelar números, partidários de Itamar afirmaram dispor de apoio suficiente. Para eles, a decisão da convenção extraordinária deve, obrigatoriamente, ser acatada pela Executiva.

Na avaliação do vice-presidente do PMDB em São Paulo, Airton Sandoval, há hoje o risco de que o resultado da prévia seja anulado caso pessoas impedidas de votar por decisão da cúpula do partido resolvam recorrer à Justiça.

Além de Itamar, participaram da reunião o ex-governador Orestes Quércia -que classificou como ""impraticável" a hipótese de uma aliança Itamar-Serra-, o senador Maguito Vilela e o ex-deputado Paes de Andrade.

Temer reagiu à proposta, em Brasília, dizendo que ela não será levada em conta. "Estão fazendo onda sem sentido. Itamar está marcando encontro com o presidente do PT", declarou, referindo-se ao que chamou de "lógica ilógica" do mineiro.


Programa de Lula defende proibição da venda de armas
Documento do Instituto Cidadania será apresentado em fevereiro

A versão final do programa de segurança pública de Luiz Inácio Lula da Silva, que será divulgado em meados de fevereiro, vai propor a proibição do comércio de armas de fogo no país.

A proposta segue o modelo de uma lei de igual teor aprovada pela Assembléia do Rio em 1999, a partir de projeto do PT. Poderia haver exceções para colecionadores e adeptos do tiro esportivo.

"As armas são vetores de difusão e intensificação do crime. Tornam todo conflito menor potencialmente uma tragédia. Nós defendemos a proposta mais radical possível com relação à comercialização de armas, idealmente a proibição", diz Luiz Eduardo Soares, que coordena o programa de segurança do Instituto Cidadania (ONG de Lula) ao lado de Benedito Mariano, ex-ouvidor da PM paulista, do ex-procurador-geral de Justiça do Rio Antônio Carlos Biscaia e do ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Roberto Aguiar.

Os petistas vão apresentar outras medidas para controlar o tráfico de armas. Entre elas, a proibição de exportação de armas para países vizinhos ao Brasil, de onde elas poderiam retornar como contrabando. E ainda a proibição de venda para grandes comerciantes internacionais, que acabam repassando as armas que adquirem, muitas vezes para brasileiros.

Em 1999, o governo enviou ao Congresso projeto para proibir a venda de armas, nunca aprovado.

O plano de Lula a princípio deveria ser apresentado na próxima segunda-feira, mas foi adiado em virtude do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. O mais provável é que seja divulgado entre 15 e 18 de fevereiro.

Apesar de não ser oficialmente o programa do PT, o plano do instituto servirá de espinha dorsal para a proposta partidária.

Outras propostas do plano de Lula incluem a criação da Secretaria Nacional de Segurança Pública, subordinada ao Ministério da Justiça, para coordenar ações na área. Há ainda a idéia de fazer um "pacto nacional de segurança" com os governadores, já no início de uma eventual gestão Lula.

O plano também vai tratar de forma diferenciada a violência contra os jovens. "Já é possível concluir, com base em levantamentos demográficos, que há escassez de jovens do século masculino em várias regiões do país. Isso configura genocídio, uma situação própria de países em guerra", diz Luiz Eduardo Soares.
A base do programa é vencer a atração que a criminalidade exerce sobre jovens, não apenas do ponto de vista material, mas também do "simbólico-afetivo".

"O jovem passa a ter visibilidade por ter uma arma na mão. Nosso desafio é disputar menino a menino com a criminalidade", afirma Soares. As propostas do partido incluem geração de empregos e ações na área cultural.


Artigos

O Rio sequestrado
Gabriela Wolthers

RIO DE JANEIRO - Desde que os sequestros viraram uma epidemia em São Paulo, as pessoas perguntam como o Rio de Janeiro conseguiu diminuir os casos desse bárbaro crime. A queda é realmente impressionante -de 108 sequestros registrados em 1995 para 9 no ano passado.

São muitos os motivos apontados. A pressão da sociedade fez o governo se mexer, fortalecendo a Divisão Anti-Sequestro e reprimindo com mais energia a participação de policiais nesses crimes. Os empresários também ajudaram, doando verbas e equipamentos, além de criarem o Disque-Denúncia.

Não há por que desmerecer essas ações, que, sem dúvida, contribuíram para a queda dos índices. Mas existe um dado, menos animador, que não pode ser menosprezado: o poder do crime organizado. Ele também é forte em São Paulo, mas, no Rio, já controla há anos a maioria das favelas. Não só domina o tráfico como dita regras para as pessoas que lá vivem.

A cena inesquecível do corpo do prefeito de Santo André, Celso Daniel, abandonado em uma rua de terra não é estranha a quem mora em favela. Há casos de corpos perfurados a bala, ou mesmo queimados, expostos em carrinhos de mão para servir de exemplo do que acontece com aqueles que desobedecem as leis do tráfico.

Uma dessas leis, talvez a principal, é evitar chamar a atenção da opinião pública e, consequentemente, da polícia. A menos que alguém morra durante tiroteios. Nesse caso, a regra é fazer manifestações, as mais ruidosas possíveis, na tentativa de intimidar o poder público.

A lógica "low profile" que rege o tráfico é baseada nos fundamentos capitalistas: mais polícia, menos venda de drogas. Cai a venda, cai o faturamento. E sequestro leva o poder público às favelas à procura do cativeiro. Com um faturamento estimado pela própria polícia em cerca de R$ 80 milhões por mês, para que publicidade?


Colunistas

PAINEL

Palanque armado
José Serra fará seu primeiro "comício" como candidato a presidente na próxima quarta-feira, às 21h30, em um ginásio para 2.500 pessoas em Sinop (MT). Será após o "horário do expediente" do ministro, para não contrariar a lei eleitoral.

Uma opinião
Dante de Oliveira (PSDB-MT), anfitrião do comício de Serra, afirma ter consultado um advogado que não considerou o evento ofensivo à Lei Eleitoral: "Nessa fase da campanha não podemos correr riscos".

Tela quente
Enquanto Nizan Guanaes passeia pela Europa, Nelson Biondi esteve ontem em Brasília. O marqueteiro, segundo tucanos, apresentou a Serra o programa piloto de TV do PSDB.

Sempre à direita
Em reação à aproximação entre Serra e PMDB, Roseana iniciou uma ofensiva para atrair o PPB para sua chapa. No próximo dia 4, almoçará com Pratini de Moraes (Agricultura), que se diz pré-candidato à Presidência.

Linhas cruzadas
A intenção do PFL é fechar já um acordo com o PPB, que poderia indicar o vice de Roseana no caso de o PMDB apoiar mesmo Serra. Dificuldades: Francisco Dornelles e Paulo Maluf, os caciques do PPB. O primeiro prefere Serra, e o segundo exige o apoio de Roseana em SP.

Médio prazo
Ao convidar Serra para discutir candidatura única, Roseana deixou a impressão de que não tem tanta confiança em seu projeto. Mas, com o gesto, quis amarrar o PSDB. Se não crescer nas pesquisas, o ministro ficará pressionado a demonstrar o mesmo "desprendimento".

Bater chapa
A ala oposicionista do PMDB pretende apresentar na convenção do partido, caso a candidatura própria seja enterrada realmente, uma proposta formal de apoio a Lula na eleição.

Pista da caserna
Em fevereiro, dez meses antes das primeiras ameaças aos prefeitos do PT, o Ternuma (Terrorismo Nunca Mais) -formado por oficiais da reserva do Exército e por civis defensores do regime militar- relacionou a Farb em seu site na internet como uma "organização subversiva".

Arquivo confidencial
O Ternuma diz que incluiu a Farb na relação -ao lado de notórios grupos de guerrilha dos anos 60/70, como a ALN- após encontrar uma pichação num muro de uma favela do Rio: "O comunismo não morreu. Farb".

Aviso prévio
O sociólogo Emir Sader, professor da USP e da Uerj, interpreta os crimes contra prefeitos do PT como uma tentativa da extrema-direita de amedrontar o eleitor, com mensagem do tipo "se elegerem Lula, a instabilidade do país vai aumentar".

Nova ameaça
O prefeito de São Vicente (SP), Márcio França, que chegou a ser cotado por Anthony Garotinho para ser o candidato do PSB ao governo paulista, foi alertado pelo serviço reservado da PM sobre um plano de morte e passou a andar escoltado.

Bicadas tucanas
É crescente a animosidade entre o Planalto e o Palácio dos Bandeirantes. Brasília acha que Alckmin não soube reagir à crise na segurança pública e demonstra estar um tanto quanto "perdido". SP considera que FHC deixou o governador na mão.

Casa de ferreiro
As ONGs que dirigem o comitê organizador do Fórum Social Mundial de Porto Alegre terceirizaram -processo tão criticado no neoliberalismo- uma série de serviços para empresas privadas. Resultado: as diárias dos hotéis estão mais caras e os estandes para editoras tiveram seus preços quadruplicados.

TIROTEIO

De Moreira Franco, ex-governador do Rio, que defende o apoio do PMDB a Serra, sobre os três pré-candidatos do partido à Presidência (Itamar, Pedro Simon e Raul Jungmann):
- Não há candidatura viável sem voto. A maneira de dar seriedade ao projeto presidencial é ser competitivo. Competitividade é voto. E voto é um p atrimônio pessoal que nenhum dos nossos pré-candidatos tem.

CONTRAPONTO

Ouvido sensível
O Santos Futebol Clube reuniu em sua sede, há 20 dias, cerca de 500 pessoas para a cerimônia de posse dos diretores.
No exato momento em que o locutor anunciou o discurso do presidente do clube, Marcelo Teixeira, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), um dos convidados, entrou na sala. Muito aplaudido, Suplicy "roubou" a cena e logo estava com um microfone, falando da tribuna.
Numa das primeiras fileiras do auditório, o vereador de SP e coronel reformado Erasmo Dias (PPB), adversário histórico do PT e figura controversa do regime militar, ficou indignado.
Ele virou-se para um grupo de seis amigos e falou:
- Onde ele pensa que está? No Pontal do Paranapanema, falando para o João Pedro Stedile [líder do MST]?
De cara amarrada, Dias levantou-se abruptamente e foi embora, gerando risos na platéia.


Editorial

O GOVERNISMO SE MOVE

Estão em curso mais dois lances que podem influir nas eleições presidenciais de outubro. A cúpula do PMDB, identificada com o governismo, dá claros sinais de que pende para a candidatura do ministro José Serra (PSDB). Talvez temendo o isolamento, o PFL ensaiou um contra-ataque, fazendo acenos ainda pouco claros aos tucanos. Em jogo: o tempo de propaganda gratuita na TV, as bases regionais de campanha e a divisão do poder após o pleito caso uma chapa governista o vença.

O PMDB tem três pleiteantes declarados à candidatura pelo partido. Entre eles, apenas Itamar Franco dispõe de cacife eleitoral. Na mais recente sondagem feita pelo Datafolha, o nome do governador de Minas Gerais oscila entre 6% e 7% das intenções de voto. O ex-presidente, porém, representa oposição frontal ao governo de Fernando Henrique Cardoso. Teria chances de viabilizar-se candidato peemedebista em duas situações. Na falta de alternativa continuísta viável ou na hipótese de o grupo favorável a Itamar Franco dominar a cúpula do partido. Mas as pesquisas mostram a viabilidade de uma chapa governista, e Itamar foi derrotado na convenção do PMDB, no ano passado.

Parece natural, portanto, que o comando peemedebista escolha uma das duas opções governistas no mercado eleitoral.

A opção por José Serra, se for confirmada, representará uma segunda notável vitória do ministro no terreno das articulações políticas. A primeira foi ter dobrado resistências e unido o PSDB em torno de si. Um salto precoce do PMDB na candidatura tucana poderia isolar os pefelistas. Nessa hipótese, ou o PFL se qualifica ao segundo turno com candidatura própria -o que lhe daria uma grande força- ou se verá compelido a negociar sua entrada na chapa de Serra em condições de sócio tardio -sujeito a menos regalias na distribuição do poder. Resta saber se o partido de Jorge Bornhausen estará disposto a correr esse risco. Por ora, as pesquisas conferem à governadora Roseana Sarney uma ampla vantagem sobre o ministro José Serra.


Topo da página



01/25/2002


Artigos Relacionados


Em momento de picos de alta do dólar, BC desiste de fazer operação no mercado futuro

Lula desafia Serra a debater gestões do PT

Serra, Roseana e Garotinho empatam em 2º

Serra poupa Roseana e acena para o PFL

Ibope mostra queda de Roseana e Serra

Apoio de FHC a Serra leva Roseana a faltar a reunião