Lula e Serra na batalha pelo eleitor mineiro








Lula e Serra na batalha pelo eleitor mineiro
FHC sobe no palanque de Serra. Ele conta os dias, as horas e cada minuto. Depois de 13 anos em campanha pela Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva acredita que, pela primeira vez, está a um passo da vitória nas urnas: "Basta ver meu semblante, ganhei experiência, estou tranqüilo, sorridente e sem a cara amarrada de antes porque, agora, tenho convicção", disse, na noite de sábado em Brasília, durante um comício realizado a menos de 2 quilômetros da rampa de entrada do Palácio do Planalto.

Todo candidato está sempre certo de vencer, até o fim da contagem dos votos. Ontem, por exemplo, Ciro Gomes, do PPS, repetia certezas, enquanto os aliados do PDT e do PSB o pressionavam para renunciar. No caso de Lula, porém, há uma diferença crucial: foi mencionado como o próximo presidente por 58% dos eleitores entrevistados pelo Ibope na semana passada. Sete dias antes, essa expectativa era real para 54%.

Ainda assim, Lula está cauteloso. É o favorito, segundo todas as pesquisas, mas talvez seja o único integrante do PT que evita comentar em público a expectativa de ganhar logo no primeiro turno.

É a eleição presidencial mais disputada das últimas cinco décadas e, pelo menos até ontem, não havia sondagem eleitoral confiável atribuindo-lhe mais da metade dos votos válidos.

Lula e Serra concentram agora seus esforços em Minas. Lula para levar já. Serra, com FHC no palanque, para forçar o segundo turno.


Um novo modelo para a dívida soberana
As discussões de um novo mecanismo de renegociação da dívida externa soberana tendem para o modelo das cláusulas de ação coletiva (CACs, na sigla em inglês) na emissão de bônus, que limita a possibilidade dos credores dissidentes de bloquear a reestruturação de dívida apoiada pela maioria.

O mecanismo é preferido pelo mercado financeiro, pelo G-7 (grupo dos sete países mais ricos) e também pelo Brasil à proposta de Anne Krueger, a número dois do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Ela propõe a criação de um fórum de reestruturação sob o comando do Fundo, que é criticado principalmente por não incluir a dívida interna. As discussões vão continuar até abril, na próxima reunião do Fundo.


Sopros de revitalização no setor de estaleiros
A indústria da construção naval do Rio começa a dar sinais de revitalização este ano. Gigantes mundiais do setor naval, como Jurong e Fels Setal, de Cingapura, e Acker, da Noruega, atraídos pelo aumento das encomendas, compraram ou arrendaram ociosos estaleiros nacionais. Este mês, uma nova injeção de ânimo foi dada ao setor. O BNDES liberou um financiamento de R$ 1,2 bilhão para a construção de quatro navios petroleiros.


Mais barreiras à venda de aço
EUA acusam de dumping e subsídio as exportações de laminados a frio. Os produtos siderúrgicos brasileiros enfrentam a ameaça de novas barreiras tarifárias nos Estados Unidos (EUA), além da salvaguarda de 30% adotada em março.

Uma investigação do Departamento de Comércio dos EUA afirma que a Usiminas e a Cosipa praticam "dumping" de 33,88% nas exportações de laminados a frio.

As duas empresas também teriam sido beneficiadas com subsídios de 13,99%. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) escapa da acusação de "dumping", mas, segundo o Departamento de Comércio, receberia subsídios de 7,99%.

Siderúrgicas de outros 14 países estão sendo acusadas de prática de "dumping" e subsídios no segmento dos laminados a frio. A aplicação das sobretaxas depende agora da decisão da Comissão Internacional de Comércio (ITC) dos EUA. O órgão tem até 7 de novembro para julgar se as apurações são procedentes e se as eventuais práticas causam danos à indústria local. Executivos da Usiminas disseram, contudo, que há entre os importadores americanos a expectativa de que a ITC negue a existência de danos à siderurgia daquele país.

Na semana passada, siderúrgicas de todo o mundo, inclusive do Brasil, se comprometeram na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a tentar eliminar os subsídios.

As empresas apoiaram a proposta de criação de normas comuns bastante rígidas contra as práticas de subsídio. A sugestão pode ser ratificada numa reunião em dezembro.


L. Vuitton quer dobrar a rede de lojas
A indústria francesa de bolsas e artigos de luxo Louis Vuitton está disposta a ampliar seus negócios na América Latina, sobretudo no Brasil, onde o número de lojas poderá dobrar para oito em três anos. "Há oportunidades e estamos crescendo, aqui, a um ritmo de dois dígitos ao ano", diz Marcello Bottoli, presidente mundial da Louis Vuitton Malletier.

Bottoli esteve em São Paulo, semana passada, para a inauguração da 43 "global store" do grupo, a primeira da América Latina. Uma "global store" oferece toda a linha de produtos da marca - das tradicionais bolsas de couro a roupas e jóias. O investimento foi de US$ 1,3 milhão. O grupo acaba de abrir o seu primeiro centro de distribuição no Brasil.

Ele afirma não temer uma vitória da oposição nas eleições presidenciais no Brasil. "O único aspecto negativo é o efeito pré-eleitoral, em que o consumidor, inseguro, se retrai", diz.

O alvo do grupo são os 17 milhões de brasileiros com renda para comprar artigos de luxo. "É um mercado enorme."


Argentina acredita em acordo rápido com o Fundo
O governo argentino acredita que está próximo de acordo com o Fundo Monetário Internacional, segundo o ministro da Economia, Roberto Lavagna, que se encontra em Washington.

Lavagna foi recebido por Anoop Singh, o executivo responsável pelo caso argentino, que está disposto a fechar um programa de financiamento de transição até o próximo governo, em maio.
O ministro mantém na capital norte-americana vários de seus assessores. Singh já anunciou um "acordo de transição" de 9 a 12 meses, a ser sucedido por outro, de até três anos, com o próximo governo. O G-7 (grupo das sete maiores economias do mundo) disse estar pronto a apoiar a Argentina, por meio do FMI, "no contexto de uma programa sustentável".


Colunistas

Eleição predomina na reunião do FMI
Maria Clara R.M. do Prado

A eleição presidencial brasileira, sua trajetória e suas implicações são, este ano, o principal tema dos debates paralelos que rotineiramente acontecem em Washington por ocasião da reunião anual do FMI e do Banco Mundial.

São eventos que reúnem bancos, investidores, economistas, consultores, cientistas políticos, enfim, a nata da "intelligentsia" internacional mais identificada com as questões financeiras.

Na verdade, o foco no momento político que o Brasil atravessa começou esta semana com uma série de encontros e seminários em Nova York.

O Latin Source, uma entidade que reúne um grupo de consultores independentes, especializados em América Latina, realizou na quarta-feira, em Manhattan, um grande seminário sobre a situação dos vários países da América Latina.

No painel dedicado ao Brasil, sob o genérico título de "Future Challenges and Reforms" ("Desafios Futuros e Reformas"), dois palestrantes: um cientista político, Murillo Aragão, da Arko Advice, com sede em Brasília, e um economista, Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central que, nesta semana, teve seu nome arrolado como possível sucessor de Armínio Fraga em um governo Lula.

É, obviamente, mais um boato de mercado. Se confirmado, seria a prova concreta de que com a globalização tudo é possível, até mesmo supor que um ortodoxo como Pastore possa se encaixar em um eventual governo do PT.

Mas o ponto está na ordem d o dia e tende a ganhar terreno ainda mais na medida em que se aproxima o primeiro turno das eleições, imaginando que Lula continue reforçando sua posição de primeiro lugar na preferência dos eleitores.

Aragão falou ontem de Nova York, por telefone, com esta colunista e deu seu testemunho das conversas que tem tido com gente do mercado internacional nessa viagem.

Há uma enorme preocupação dos bancos com uma possível vitória de Lula no primeiro turno porque se considera que isso "encheria muito a bola do PT", para colocar a questão em linguagem bem direta.

Teme-se que Lula saia demasiado fortalecido e que isso venha a legitimar uma atitude mais arrogante do PT, dispensando a hipótese de aliança com outros partidos, definindo a equipe de governo dentro de seus quadros e relaxando na sinalização de uma política econômica que o mercado reputa como "séria".

Essa é, vale notar, uma avaliação das pessoas que estão direta ou indiretamente ligadas ao sistema financeiro.
Os políticos, que pensam o mundo de forma diferente, têm outro tipo de consideração.

Gente influente desse meio, o da política institucional, acha que, se é para o Lula ganhar, que ganhe no primeiro turno.

Primeiro porque encurtaria o chamado "período de agonia", em que o país vive em razão da incerteza eleitoral.

O raciocínio é o seguinte: se o Lula vai ganhar de qualquer jeito, um segundo turno só contribuiria para alongar a pressão cambial com os conhecidos efeitos danosos que isso traz sobre a inflação e a atividade econômica.

Segundo porque estão convencidos de que seja no primeiro, seja no segundo turno, a vitória de Lula implicará amplo arranjo político, algo que costure em torno do PT o apoio do PSDB e do PMDB.

Aragão ouviu de Lula, há cerca de um mês, em encontro que teve a participação de terceiros, o compromisso de que vai reunir um grupo de economistas de peso para discutir alternativas para a estabilização da economia, se eleito.

Isso ocorreria antes mesmo de sua posse.

Mas o próprio Aragão tem dúvidas sobre a "consistência" das intenções econômicas de Lula. A conta que o mercado já está fazendo procura medir o tamanho do débito econômico e político de Lula no dia 1º de janeiro de 2003.

Ainda que essa conta carregue pendências do atual governo, fica claro que não haverá colher de chá.

Lula e seu governo teriam de estar preparados com uma boa dose de sangue frio para agüentar logo de cara a carga a que serão submetidos dia e noite pelo mercado, até que se considere haver prova suficiente das boas intenções econômicas do novo presidente e seu governo. Mas não é só isso.

Há questões de ordem mais prática. Por exemplo, os empregos que tenderiam a desaparecer no mundo das finanças internacionais com corte de operadores e consultores que, nestes últimos anos, dedicaram tempo e atenção ao Brasil.

Todo o esforço alocativo perderia sentido em se tratando de um país que não conseguiria atrair investimentos, que não manteria a mesma rentabilidade financeira, que não conseguiria crescer e onde o social, aparentemente, passasse a predominar sobre o econômico.

"O mercado financeiro internacional está muito preocupado com os empregos que tendem a desaparecer se Lula ganhar, na crença de que essa hipótese levaria os bancos a cortar postos nas mesas dedicadas à América Latina, a ponto de o tema ter sido levantado na conferência do Latin Source", no relato de Aragão.

Dois grandes seminários, um do JP Morgan e outro da Merrill Lynch, vão reunir a partir deste sábado, em Washington, especialistas econômicos de todo o mundo. Aragão vai participar de ambos. De novo, o interesse é sobre as eleições no Brasil.


Editorial

PERSISTÊNCIA DA EXCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL

Um dos problemas mais sérios para a difusão e promoção do desenvolvimento tecnológico nos países mais pobres é a distância que vai das intenções aos atos. Os governos dos países em desenvolvimento têm consciência da necessidade de se capacitarem na sociedade da informação, que é uma das formas de intensificar a sua inserção no mercado global, mas, sendo os seus recursos escassos, freqüentemente deixam de dar a essa área o apoio que ela requer. Muitas vezes ocorre que dotações orçamentárias em volume razoável são destinadas a iniciativas voltadas para a redução da exclusão digital, por exemplo, mas, surgindo dificuldades na execução do orçamento, as verbas com esse fim acabam sendo cortadas.

Uma das maneiras de minimizar esse obstáculo é por meio da integração de países em estágio de desenvolvimento semelhante, como ocorre com as nações da América Latina e do Caribe. Não só esforços comuns podem economizar recursos, como o trabalho para essa integração dá origem a compromissos internacionais que muitas vezes funcionam como uma forma de proteção contra o corte indiscriminado de verbas.

Nesse sentido, o fórum internacional "América Latina e o Caribe na Sociedade da Informação", promovido na semana passada no Rio de Janeiro pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo governo federal, deu sua contribuição não só pela troca de experiências entre os participantes como também pelo compromisso tácito de desenvolvimento de ações coordenadas nessa área.

Para a Unesco, o objetivo da reunião do Rio de Janeiro foi levantar dados da região sobre aspectos éticos e socioculturais da sociedade da informação e sobre medidas que incentivem o acesso aos recursos e serviços de base digital. As conclusões finais do fórum serão levadas à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, a ser realizada em 2003, na Suíça.

A reunião do fórum ocorreu em um momento singular para o Brasil, que se destaca como um dos principais países no uso da informática, principalmente na área do governo, e ao mesmo tempo convive com um enorme contingente de vítimas do novo tipo de exclusão, causada pelo analfabetismo digital.

As vitoriosas experiências digitais do governo foram expostas na I Conferência Internacional de Governo Eletrônico na Era da Sociedade da Informação, realizada em Recife no ano passado. O destaque ficou por conta do sistema das eleições eletrônicas, considerado o maior e o mais moderno programa de votação digital do mundo. Além disso, temos a declaração do Imposto de Renda pela internet e o julgamento a distância, no qual as audiências nas varas criminais são realizadas por videoconferência, em que os acusados são ouvidos sem a necessidade de removê-los do presídio para o fórum, evitando-se assim riscos como tentativas de fuga. Sem contar que a digitalização permite aumentar o número de audiências por dia, agilizando o trabalho da Justiça.
Na iniciativa privada distingue-se a informatização dos bancos, que administram 45 milhões de contas correntes que podem ser acessadas pela internet ou movimentadas com cartões nos caixas eletrônicos.

Apesar de todo esse avanço, fica fora do sistema grande parcela da população brasileira. Conforme levantamento realizado para o Fórum do Rio de Janeiro, o Brasil situa-se em 12 lugar, entre os países da América Latina e Caribe, na relação da porcentagem de usuários individuais da internet, com 7,74% sobre o total da população do País.

Mesmo na área do governo, principalmente municipal, a exclusão digital é expressiva. Os especialistas calculam que, dos 5.561 municípios brasileiros, apenas 400 têm prefeituras com tecnologia de ponta.

É urgente uma grande ação conjunta para reduzir esses índices de exclusão digital. Há dois anos, o governo federal lançou programa de universalização de acesso à internet. Para isso foi criado o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), com 1% sob re o faturamento das empresas de comunicação.

Até agora, dois anos depois, o projeto não saiu. Primeiro, a verba foi congelada. Agora, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está elaborando a regulamentação que vai permitir à iniciativa privada operar uma rede digital de serviços integrados e aplicar, entre outros, o programa de acesso à internet nas escolas públicas. Essa regulamentação substitui a anterior, cujo edital foi justamente anulado por objeção do Tribunal de Contas da União (TCU). Enquanto isso, escolas ficam sem computador e os alunos, fora da sociedade digital.


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09/30/2002


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