Machismo está por trás de exploração sexual de crianças e adolescentes, diz especialista
A cultura do machismo foi apontada como responsável pela exploração sexual de crianças e adolescentes, em audiência pública realizada nesta quinta-feira na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A avaliação foi feita pelo coordenador do Centro de Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e Adolescentes (Cecria), Vicente Faleiros.
- É preciso entender a exploração de crianças e adolescentes no contexto do mercado do sexo. É uma atividade fundamentalmente econômica, e esse serviço sexual é tolerado pela sociedade porque está vinculado à cultura do machismo, à ideia de que se pode usar o corpo da mulher – disse.
Faleiros observou que o mercado da exploração é clandestino e extremamente diversificado. Envolve aliciadores que estão ao lado de escolas, taxistas, agentes de turismo, gestores de hotéis, vendedores de praia. As vítimas, em sua maioria, informou, são meninas negras, de 12 a 17 anos, vinculados à situações de pobreza e falta de escolaridade.
- São frutos do descaso do Estado e da violência que começa na família e que, na rua, vem, muitas vezes, dos próprios policiais – disse.
Disque Direitos Humanos
Representante da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Angélica Goulart disse que há uma preocupação grande por parte do governo em relação aos estados do Norte e Nordeste, onde a rede de proteção ainda é frágil. Ela citou o exemplo de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, em que denúncias recentes deram conta de que meninas indígenas têm sido vítimas de pedofilia.
- Essas pessoas estão entregues à própria sorte, sofrendo todo tipo de ameaça para que silenciem – disse.
Por causa de situações como essa, os participantes reforçaram a importância de se comunicar a ocorrência de casos de abusos às autoridades, através de canais como o Disque 100 (Disque Direitos Humanos). De acordo com Goulart, há mais de 400 operadores de plantão durante 24 horas, em todo Brasil, prontos para receber as denúncias e dar a elas o devido encaminhamento.
Ainda segundo a representante da SNDH, o governo também está em alerta em relação às regiões de fronteira, às cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 e aos locais onde estão sendo realizadas obras de construção de usinas hidrelétricas.
Mapeamento de rodovias
Márcia Freitas Vieira, da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Polícia Rodoviária Federal, explicou como funciona o projeto Mapear, que há dez anos faz o mapeamento dos pontos vulneráveis à exploração sexual nas rodovias.
De acordo com ela, existe, atualmente, uma estabilização da quantidade de pontos considerados vulneráveis (suscetíveis à ocorrência de exploração sexual, devido à localização, consumo de bebida alcoólica etc), o que é considerado positivo, já que houve um aumento da malha rodoviária, do número de veículos circulando e dos estabelecimentos comerciais à beira das rodovias.
Os pontos considerados de nível crítico, por sua vez – locais onde há, de fato, ocorrência de exploração sexual - , foram reduzidos em 12%. Márcia Vieira atribuiu esses bons resultados ao trabalho repressivo da polícia, às políticas públicas voltadas à prevenção da pedofilia e, especialmente, à conscientização da sociedade.
- Hoje, se você diz ao proprietário de um posto de gasolina que seu estabelecimento é um ponto classificado como vulnerável, ele vai adotar medidas para que aquele local não se torne efetivamente ponto de exploração – disse.
Vínculo e auto-estima contra o abuso
Durante a audiência, a psicóloga clínica Marise Pinheiro Abranches reforçou a importância do vínculo afetivo entre mãe-filho na idade de 0 a 1 ano como forma de reforçar a auto-estima, o que funcionaria como uma prevenção ao abuso tanto da parte do abusador quanto do abusado. Ela observou que os abusadores, geralmente pessoas próximas às vítimas, tendem a ser indivíduos com histórico de fragilidade psíquica. Assim, segundo ela a criança abusada, se não for devidamente acolhida, tem grandes chances de perpetuar o abuso na vida adulta.
06/12/2012
Agência Senado
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