Magno Malta diz que resultados do trabalho da CPI da Pedofilia criam precedente de importância mundial



Instalada em março deste ano, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia conseguiu vários feitos inéditos, como a quebra de sigilo de álbuns do site de relacionamento Orkut que continha material com pornografia infantil. E há duas semanas foi assinado na CPI termo de ajustamento de conduta entre o Google Brasil e o Ministério Público Federal para estabelecer um sistema de filtro que deve prevenir a publicação de material ilícito no Orkut. A CPI, segundo seu presidente, senador Magno Malta (PR-ES), também quer aprovar leis que combatam o crime ainda durante a vigência da comissão, que teve os trabalhos prorrogados por 180 dias, a partir de 4 de agosto. Magno Malta, que propôs a criação da comissão, fala sobre o trabalho para os próximos meses e o que ainda precisa ser feito para combater os pedófilos. Para o senador, os resultados do trabalho da CPI criam precedente de importância mundial. 

Jornal do Senado - A CPI tem mostrado que o acesso a conteúdos pedófilos é muito grande. Os casos de pedofilia no Brasil estão crescendo ou está havendo maior visibilidade? 

Magno Malta - Visibilidade. Já existia a pedofilia, mas quem é que sabia que o Brasil era o maior consumidor de pedofilia pela Internet, de material pornográfico de criança? Então, [a visibilidade] vem crescendo porque as pessoas vêm se encorajando a denunciar a partir da CPI. A sociedade se mobilizou, se encorajou. A CPI conseguiu quebrar o sigilo, trazer à tona a miséria dos álbuns fechados. A Internet foi um grande mal para as famílias, neste quesito pedofilia e criança, mas foi um grande bem quando fez revelar aquilo que estava oculto. Eles [os pedófilos] achavam que estavam escondidos nos álbuns fechados, no sigilo da Internet que nunca seria quebrado. 

Apesar de todo esse acesso a conteúdos pedófilos, poucas pessoas foram presas ou responderam por esse crime. O que precisa ser feito?

O problema é que no Brasil não te­mos lei para a pedofilia. Não temos a tipificação de crime de pedofilia e, para prender alguém, tem de citar os artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente [o primeiro define como crime a produção ou direção teatral, televisiva, cinematográfica, fotográfica ou de qualquer outro meio visual, utilizando criança ou adolescente em cena pornográfica, de sexo explícito ou vexatória; o segundo, a produção, divulgação e venda de fotografias ou imagens com pornografia ou cenas de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente], o atentado violento ao pudor, o estupro. Ou seja, você sai juntando um monte de artigos para tentar segurar o indivíduo e, quando consegue prender, é uma pena muito branda. Um, dois terços cumpridos, ele vai embora para a rua. E ainda há a impunidade. Para o crime cibernético, a lei diz que a pessoa só responde se for pega teclando, baixando ou enviando material pedófilo. Na Operação Carrossel [realizada pela Polícia Federal para coibir o crime de pedofilia na Internet], em muitos casos a Justiça vai ter de devolver o computador dos pedófilos. 

Conseguir abrir os álbuns do Orkut e remover do site conteúdos pedófilos é algo inédito. Isso poderá se dissipar para outros países e outros provedores?

A repercussão nos meios de comunicação aconteceu do Ocidente ao Oriente. Do New York Times ao El País. Nos mais importantes sites do mundo a notícia dizia que "Senado do Brasil põe Google no banco dos réus". A Índia é o segundo maior consumidor de Orkut no mundo e não consegue pegar seus pedófilos. Nós os encontramos aqui na quebra de sigilo feita no Brasil e vamos entregar para a embaixada daquele país. O precedente foi aberto com a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta [assinado pelo Google Brasil e o Ministério Público Federal na CPI da Pedofilia] no Brasil e agora fica necessariamente escrito que eles terão de abrir as portas para outros países. Essa luta em favor da criança é uma causa mundial. Foi uma vitória do Brasil, uma vitória da CPI, que tem poder de polícia, algo que o Ministério Público vinha tentando conseguir havia quatro anos e nunca conseguiu. 

Além de uma legislação mais rígida, como é possível combater os pedófilos? Eles deveriam ser tratados em espaços psiquiátricos ou devem ir para a prisão?

Na minha concepção, pedofilia é cinco por cento de doença e noventa e cinco por cento de safadeza. Eles têm de pagar, ir para a prisão. O Estado tem de oferecer tratamento, se eles precisarem, se assumirem que são doentes, mas isso não vai invalidar a pena. E precisa preservá-los na sua integridade física, porque, do jeito que as coisas vão, as pessoas vão matá-los no meio da rua. Mas acho que pedofilia é muito de safadeza do indivíduo que, para satisfazer sua tara sexual, invade as emoções de uma criança, seu psicológico, desmoraliza a família e cria lesões por todo o resto de suas vidas. 

O que a CPI propõe de legislação?

Tipificar o crime em trinta anos sem progressão de regime, mais rastreamento eletrônico até a morte, classificando-o como hediondo. Estamos mudando a tipificação de conduta, com alterações nos artigos 240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Que o réu primário que abusar de crianças perca o privilégio da primariedade. Para quem tem curso superior, a perda dos privilégios nos casos de abuso de criança e com agravante de pena. Estamos estudando ainda uma série de outras legislações para poder fechar as portas. Aguarda votação do Plenário a proposta que dá perdimento dos bens para os indivíduos que praticam pedofilia. Ou seja, veículos, casas, restaurantes onde as crianças foram usadas e abusadas. E ainda o governo precisa atentar para o atendimento ao abusado, que é tratado no Plano Nacional de Combate à Exploração Sexual Infantil. 

A CPI foi prorrogada por mais 180 dias. O que vocês ainda esperam conseguir?

São tantos casos e nós precisamos viajar pelo Brasil todo para mapear a pedofilia. Existem investigações em andamento. Há muita gente para ser atendida, mas ainda precisamos da Microsoft, do Terra, do IG, sentar com todos e firmar termos de conduta. E a CPI não se encerrará antes que toda a legislação seja votada. Vocês não vão escrever: CPI fez seu relatório propondo isso e aquilo. 

O senhor quer aprovar tudo durante a CPI?

Exatamente. Essa é a primeira CPI que aprova lei no meio dos seus trabalhos. 

Ações educativas e informativas nas escolas podem moldar os cidadãos para combater práticas desse tipo?

Eu acredito, sim. Mas eu acredito mais na família. Porque a escola é o reflexo da família. A escola entra no trabalho preventivo que deve ser ação de todos nós, do governo, das empresas, das operadoras de Internet, dos provedores. Vamos propor que todo o material do governo tenha a frase "Pedofilia é crime", como um selo para as cartas. Especialistas dizem que se o Brasil não tomar uma providência, com o índice de pedófilos que temos, dentro de dez a quinze anos teremos uma sociedade completamente mutilada nos seus valores e na moral.

Paula Pimenta/ Jornal do Senado
(Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)



14/07/2008

Agência Senado


Artigos Relacionados


Magno Malta comemora resultados das atividades da CPI da Pedofilia nos Estados Unidos

Magno Malta destaca trabalho de procuradores na CPI da Pedofilia

Magno Malta abre reunião da CPI da Pedofilia

Magno Malta reafirma sua missão contra a pedofilia

Magno Malta toma depoimentos de denunciados por pedofilia em MG

Magno Malta relata visita da CPI da Pedofilia a Luziânia