MALAN: CRISE NÃO PASSOU E MEDIDAS VISAM REDUZIR VULNERABILIDADE DO PAÍS
A percepção do governo é que o contexto internacional mudou para pior, de modo que a crise não passou e exige do país "uma resposta adequada e apropriada", afirmou hoje (dia 22) o ministro da Fazenda, Pedro Malan, durante sua exposição inicial na sessão extraordinária do Congresso Nacional, à qual compareceu, juntamente com o ministro Antônio Kandir, do Planejamento, para prestar esclarecimentos sobre o ajuste fiscal.
As medidas fiscais tomadas até agora pelo governo, reforçadas pela aprovação da reforma administrativa na Câmara dos Deputados, são "a melhor resposta, na verdade, a única", para reduzir a vulnerabilidade do país, expressa num déficit fiscal consolidado de 4,6% do PIB, "excessivamente elevado", acrescentou.
O ministro explicou que esse déficit fiscal alimenta o déficit em contas-correntes, ambos exprimindo o desequilíbrio entre poupança e investimentos que caracteriza a economia brasileira, sujeitando-a à necessidade de financiamento externo.
Conforme Malan, o controle desses déficits é condição para atingir os três objetivos macroeconômicos que orientam as ações do governo: manutenção da trajetória de queda da inflação, criação de condições para um crescimento sustentado da economia e, pressupondo os anteriores e "fundamental", a incorporação de um número crescente de brasileiros ao mercado, com "ampliação do espaço da cidadania".
Para o ministro, uma taxa de crescimento do PIB da ordem de 4% ao ano, durante cinco anos consecutivos, "não é brilhante, mas não é desprezível nesse país e em nenhum lugar do mundo". Semelhante continuidade só teria ocorrido, recentemente, na segunda metade dos anos 70, comparou.
Quanto à crise internacional, Pedro Malan assegurou que a saída "ainda não é perceptível", mas não justifica "uma posição de vítima", pois o país tem condições de responder a ela. No começo, disse, a crise parecia restrita aos países emergentes do Leste asiático, assim como a crise de 1995, que atingiu o México e obteve rápida resposta da Argentina e do Brasil, restringiu-se à América Latina.
O fato, continuou, é que, após a queda das bolsas de Taiwan, Hong- Kong e Nova York, o dia 28 de outubro foi "de enorme turbulência", na qual "o Banco Central utilizou US$ 8,3 bilhões de suas reservas" e o governo aumentou a taxa de juros. A nova realidade deixou claro "que a resposta não podia ficar limitada às medidas da autoridade monetária", daí as medidas fiscais, que representam uma mudança "na estratégia gradualista de redução do déficit público consolidado e do déficit das contas correntes", disse.
Ainda segundo o ministro, não se trata de controlar aqueles déficits "para mostrar à comunidade financeira internacional, mas a nós mesmos, que o país tem condições de reduzir sua vulnerabilidade".
Referindo-se às inúmeras manifestações de que o Plano Real, desde o início, colocava o país em condição vulnerável, Malan foi taxativo: "Se alguém teve mesmo capacidade de prever, contratem-no". Para ele, hoje alguns alegam terem previsto o que acabou acontecendo, mas, na verdade, o fizeram "depois do fato ocorrido".
22/11/1997
Agência Senado
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