Malan nega qualquer envolvimento no caso Marka/FonteCidan



O ministro da Fazenda, Pedro Malan, negou ontem categoricamente ter tido participação ou qualquer conhecimento da operação de socorro feita pelo Banco Central aos bancos Marka e FonteCindan, em janeiro de 1999, por ocasião da mudança da política cambial do país, e que poderia ter custado ao governo US$ 1,6 bilhão. Revelou que, na ocasião, no auge da crise, chegou a apresentar carta ao presidente da República, pedindo o seu afastamento do comando da economia. Malan explicou que a demissão de Francisco Lopes da presidência do BC não teve nada a ver com a operação de socorro aos bancos, ou com uma possível chantagem do banqueiro Salvatore Cacciola, mas sim com uma iniciativa do governo para tentar recuperar sua credibilidade junto aos agentes do mercado.

O ministro disse que, por causa do desgaste provocado pelo malogro da chamada "banda diagonal endógena", criada pelo professor na busca de uma política cambial entre a fixa e a flutuante, que após funcionar por dois dias evidenciou-se um fracasso, provocando sérias repercussões no mercado, interna e externamente, é que teria pedido demissão do cargo e sugerido ao presidente demitir também o presidente do Banco Central. O presidente, contudo, convenceu-o a permanecer no posto e a mudar rapidamente a política cambial. Para tentar recompor a credibilidade do governo decidiu-se, então, demitir o professor Francisco Lopes e chamar o atual presidente, Armínio Fraga para assumir o BC.

As explicações do ministro Pedro Malan foram dadas nesta quinta-feira (dia 31) perante as Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Fiscalização e Controle (CFC) do Senado, durante uma reunião que durou mais de sete horas. O ministro foi questionado pelos senadores e teve de responder também a perguntas sobre a atual política econômica, fora do tema estipulado no convite, feito para que o ministro explicasse se ele tinha ou não conhecimento da operação de socorro montada aos bancos Marka e FonteCindan e se dela havia participado de alguma forma.

O possível conhecimento do ministro sobre o assunto - ou alguma forma de participação dele no caso - foi sugerido em recente reportagem da revista Veja. O ministro leu a carta de três páginas que enviou à revista, negando categoricamente sua participação ou mesmo haver sido informado sobre o episódio, citando, ainda, uma retratação publicada pela Folha de S. Paulo sobre o mesmo assunto, reconhecendo que o jornal errara ao confiar em fontes que afirmavam ter o ministro conhecimento prévio da operação.

Citando Joseph Goebbels, assessor de Hitler para assuntos de propaganda, Malan disse que "uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade". Ao longo do seu depoimento ele citaria várias vezes essa frase, para depois alterá-la: "Uma mentira pode ser repetida mil vezes e, ainda assim, não se converterá em verdade", disse referindo-se ao seu desconhecimento total sobre a operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan.

Pedro Malan passou também boa parte do seu depoimento defendendo a existência de um risco sistêmico, que teria motivado a operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan. Para ele, hoje é fácil falar, mas na ocasião o clima era de pânico, com ameaça de corrida de saques nos bancos e boatos de confisco.

Mencionou vários casos internacionais de ações de governos na tentativa de evitar uma quebradeira geral no sistema financeiro, entre eles o dos Estados Unidos, onde o governo gastou mais de US$ 300 bilhões para impedir a quebra da Associação de Poupança e Empréstimo e outros tantos bilhões de dólares para impedir a quebra do Continental Illinois, o nono maior banco no ranking norte-americano.

A França e a Itália também fizeram operações semelhantes e o Japão talvez tenha de colocar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões para salvar seu sistema financeiro da bancarrota , previu Malan.

O ministro também contestou o cálculo que atribui um prejuízo de US$ 1,6 bilhão na operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan, que simplesmente multiplica os valores dos papéis cambiais dos dois bancos beneficiados por US$ 0,66 centavos que é a diferença cambial entre o câmbio do dia da operação, em meados de janeiro (R$ 1,32 por dólar) e o do final daquele mês (R$1,98 por dólar).

- Ora no dia da operação ninguém poderia supor qual seria a cotação do dólar no final do mês - observou.

O ministro disse preferir, contudo, que na próxima semana, em sua vinda ao Senado, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, esclareça melhor esse assunto e explique a forma correta de se estimar o custo real do socorro prestado.

31/05/2001

Agência Senado


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