Malan nega qualquer envolvimento no caso Marka/FonteCidan
O ministro disse que, por causa do desgaste provocado pelo malogro da chamada "banda diagonal endógena", criada pelo professor na busca de uma política cambial entre a fixa e a flutuante, que após funcionar por dois dias evidenciou-se um fracasso, provocando sérias repercussões no mercado, interna e externamente, é que teria pedido demissão do cargo e sugerido ao presidente demitir também o presidente do Banco Central. O presidente, contudo, convenceu-o a permanecer no posto e a mudar rapidamente a política cambial. Para tentar recompor a credibilidade do governo decidiu-se, então, demitir o professor Francisco Lopes e chamar o atual presidente, Armínio Fraga para assumir o BC.
As explicações do ministro Pedro Malan foram dadas nesta quinta-feira (dia 31) perante as Comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Fiscalização e Controle (CFC) do Senado, durante uma reunião que durou mais de sete horas. O ministro foi questionado pelos senadores e teve de responder também a perguntas sobre a atual política econômica, fora do tema estipulado no convite, feito para que o ministro explicasse se ele tinha ou não conhecimento da operação de socorro montada aos bancos Marka e FonteCindan e se dela havia participado de alguma forma.
O possível conhecimento do ministro sobre o assunto - ou alguma forma de participação dele no caso - foi sugerido em recente reportagem da revista Veja. O ministro leu a carta de três páginas que enviou à revista, negando categoricamente sua participação ou mesmo haver sido informado sobre o episódio, citando, ainda, uma retratação publicada pela Folha de S. Paulo sobre o mesmo assunto, reconhecendo que o jornal errara ao confiar em fontes que afirmavam ter o ministro conhecimento prévio da operação.
Citando Joseph Goebbels, assessor de Hitler para assuntos de propaganda, Malan disse que "uma mentira repetida mil vezes, torna-se verdade". Ao longo do seu depoimento ele citaria várias vezes essa frase, para depois alterá-la: "Uma mentira pode ser repetida mil vezes e, ainda assim, não se converterá em verdade", disse referindo-se ao seu desconhecimento total sobre a operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan.
Pedro Malan passou também boa parte do seu depoimento defendendo a existência de um risco sistêmico, que teria motivado a operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan. Para ele, hoje é fácil falar, mas na ocasião o clima era de pânico, com ameaça de corrida de saques nos bancos e boatos de confisco.
Mencionou vários casos internacionais de ações de governos na tentativa de evitar uma quebradeira geral no sistema financeiro, entre eles o dos Estados Unidos, onde o governo gastou mais de US$ 300 bilhões para impedir a quebra da Associação de Poupança e Empréstimo e outros tantos bilhões de dólares para impedir a quebra do Continental Illinois, o nono maior banco no ranking norte-americano.
A França e a Itália também fizeram operações semelhantes e o Japão talvez tenha de colocar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões para salvar seu sistema financeiro da bancarrota , previu Malan.
O ministro também contestou o cálculo que atribui um prejuízo de US$ 1,6 bilhão na operação de socorro ao Marka e ao FonteCindan, que simplesmente multiplica os valores dos papéis cambiais dos dois bancos beneficiados por US$ 0,66 centavos que é a diferença cambial entre o câmbio do dia da operação, em meados de janeiro (R$ 1,32 por dólar) e o do final daquele mês (R$1,98 por dólar).
- Ora no dia da operação ninguém poderia supor qual seria a cotação do dólar no final do mês - observou.
O ministro disse preferir, contudo, que na próxima semana, em sua vinda ao Senado, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, esclareça melhor esse assunto e explique a forma correta de se estimar o custo real do socorro prestado.
31/05/2001
Agência Senado
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