CONSULTOR NEGA INTERFERÊNCIA NO BC PARA SALVAR BANCO MARKA



O consultor econômico Rubens Novaes negou nesta quarta-feira (dia 28), em depoimento na CPI do Sistema Financeiro, que seja o elo de ligação entre um possível informante do Banco Central e o ex-dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola, como chegou a ser noticiado. "Não tive qualquer interferência no Banco Central e nem tenho convivência com a cúpula do Banco", afirmou.Novaes confirmou ser amigo de Cacciola há mais de 30 anos e viajou com ele a Brasília, no dia 13 de janeiro último, a pedido do próprio empresário, "que estava desesperado e podia perder seu banco". Disse nada ter recebido por isso e nem deixou o aeroporto de Brasília naquele dia, pois "não tinha nada a fazer no Banco Central". Ele disse ter viajado a Brasília num avião fretado pelo ex-dono do Marka e voltou no início da noite do mesmo dia, em avião de carreira.Interrogado pelo relator da CPI, senador João Alberto (PMDB-MA), o consultor afirmou que só ficou sabendo da extensão dos problemas do Banco Marka, que apostara na manutenção da política cambial, quando se encontrou com Cacciola, no mesmo dia 13 de janeiro. João Alberto questionou Rubens Novaes porque este negou à imprensa conhecer Cacciola, ao ser procurado pela primeira vez. Para ele, o repórter que o procurou "não entendeu direito" suas explicações. "Eu disse que desde 1990 não prestava consultoria formal ao Marka", explicou. Novaes afirmou ter ouvido do então dono do Marka que ele apostara no real levando em consideração que o governo brasileiro estava fechando um pacote de ajuda internacional, liderado pelo FMI, no valor de US$ 40 bilhões.Respondendo à senadora Emília Fernandes (PDT-RS), o consultor disse que seu telefone celular foi usado por outra pessoa que viera no mesmo avião com Cacciola, o economista Luiz Augusto Bragança, amigo do então banqueiro e também amigo de Francisco Lopes. Garantiu não ter feito qualquer ligação de seu próprio celular para o Banco Central.Interrogado pelo senador Jader Barbalho (PMDB-PA), o consultor afirmou que o economista Luiz Augusto Bragança participou de café da manhã com Francisco Lopes, no dia 14 de janeiro, mas teria levado "um passa-fora" do ex-presidente do BC ao tratar dos problemas do Marka. A expressão, disse, foi usada pelo próprio Bragança.Novaes garantiu à CPI que não tinha participação no Banco Marka, mas admitiu possuir "de 100 mil a 200 mil" de reais em cotas do Banco FonteCidam, do qual foi diretor. O FonteCindam também pôde comprar dólares a preços favorecidos do Banco Central, junto com o Banco Marka. Entre os fatos investigados pela CPI está a venda desses dólares a preços abaixo da cotação do dia.O senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) perguntou ao consultor se ele não achava estranho que apenas dois bancos, o Marka e o FonteCindam, estavam sozinhos no mercado com grandes contratos para entrega de dólar no futuro a preço baixo, às vésperas da mudança cambial e no auge da saída de dólares do país. "Eles ficaram sozinhos apenas nos últimos dias", observou Rubens Novaes. De acordo com notícias publicadas pela imprensa, Cacciola teria insistido em manter contratos futuros de dólar a preço baixo por não ter sido alertado da mudança cambial a tempo por um informante, o qual seria do Banco Central. Um dos fatos que vêm sendo investigados pela CPI é a denúncia de existência de tal informante.

28/04/1999

Agência Senado


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