Márcia Cristina Santos da Silva, mestre de obras
Em uma profissão marcada pela esmagadora presença masculina, ela encontrou seu espaço. A mestre de obras Márcia Cristina Santos da Silva já foi garçonete, cuidou de idosos, trabalhou em casa de famílias e também no comércio, mas diz que o seu fascínio é pela construção civil.
“Meu pai sempre trabalhou em obras e quando eu tinha cerca de 10 anos, minha mãe me enviava ao canteiro para levar o almoço dele. Imediatamente me interessei por aquele mundo onde um terreno baldio virava uma edificação, e comecei a ajudá-lo em alguns serviços pequenos”, conta a carioca, mais velha de três irmãos.
Mesmo apaixonada pela área, ela passou por outros empregos até conseguir se firmar na construção. No começo, trabalhava por conta própria fazendo consertos de azulejos, contrapisos, pintura, telhados e alvenaria, entre outros. Com um pouco mais de experiência, foi admitida como encarregada em prestadoras de serviços, em que aprendeu a exercer cargos de liderança em ambientes quase exclusivamente masculinos.
Por alguns anos, Márcia foi funcionária de uma empreiteira de pequeno porte, prestadora de serviços para empresas maiores. Foi quando, inesperadamente, recebeu um convite especial. “Uma grande companhia do ramo da construção pôde analisar o meu trabalho, acreditou no meu potencial e me contratou como mestre de obras. A emoção maior foi contar a novidade ao meu pai, que chorou e disse que eu era o seu orgulho.”
Dentro do canteiro de obras, Márcia tem a responsabilidade de coordenar todos os funcionários, desde o pedreiro até o operador de máquinas. E não aceita trabalho mal feito.
“Sigo o exemplo do meu pai, que sempre disse ‘quem manda tem que saber fazer’. Se falo que um serviço está errado, tenho que mostrar na hora o jeito certo”. Márcia fez curso de técnico em edificações, que lhe deu base para lidar com os detalhes das plantas de uma construção.
Mas a experiência prática, ensina a mestre de obras, é imprescindível para quem quer seguir esta profissão.” O negócio é literalmente colocar a mão massa.”
Apesar de estar sempre de capacete e rodeada de poeira, Márcia faz questão de se arrumar. “Você nunca vai me ver em um canteiro com o cabelo bagunçado, sem maquiagem, sem brinco e unha pintada. Às vezes na hora do almoço eu paro para lavar o rosto, reforçar o protetor solar e dar um retoque no batom”, afirma.
Sobre as possíveis piadas e comentários dos funcionários, ela afirma que acontecem menos do que geralmente se imagina. “Por incrível que pareça, o fato de uma mulher ter conquistado este cargo de liderança emana um poder muito grande entre os homens. Acredito que eles pensem que, por ter chegado aonde cheguei e fazer tudo o que faço, não sou qualquer uma. O respeito deles vem com as minhas atitudes diárias, do bom relacionamento que procuro travar com todos”, assegura Márcia.
Segundo dados do Ministério do Trabalho (MTE), a participação feminina no ramo da construção civil vem aumentando no Brasil. Entre 2007 e 2009, o número de mulheres admitidas em construtoras cresceu 44,5%.
Para Kleber Recalde, integrante do Conselho Administrativo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), as inovações tecnológicas no setor contribuíram para a maior participação da mulher no setor. “À medida que introduzimos processos produtivos que exigem menos esforço físico e mais habilidade e capacidade intelectual, é natural que as mulheres tenham um potencial muito grande de desenvolvimento dentro do ramo”, analisa.
Recalde considera a história de Márcia uma inspiração para mulheres que queiram trabalhar como mestre de obras e estejam em um estágio menos avançado. “Todo bom exemplo estimula as pessoas a tentar alcançar este patamar. Tem que ser enaltecido e usado para mostrar que, mesmo que agora não seja comum, é possível atingir postos mais altos nesta carreira”, garante.
Há três anos na mesma corporação, Márcia comanda obras importantes como a construção de moradias populares para o programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. “Enquanto não consigo construir a minha própria casa, fico feliz só de saber que pessoas iguais a mim, pobres iguais, a mim vão ter o direito de ter uma moradia. Por isso que eu capricho bastante, faço cada casa como se estivesse fazendo a minha, porque me vejo no lugar dessas pessoas”, conta.
Quando não está trabalhando, a mestre de obras gosta passar tempo com a família, ler, ouvir música e escrever poesias. “Acabo tirando do canteiro a inspiração para escrever, fazer minhas poesias.”
Para ela, a maior recompensa do trabalho é contemplar um local que antes não tinha nada e agora existe algo que ela ajudou a construir. “Às vezes passo por obras que já fiz e meus olhos se enchem de lágrimas, porque penso ‘nossa, tem muito suor meu neste lugar, muito cansaço, muitas varizes nas minhas pernas’. Por mais árduo que seja, é muito gratificante”, finaliza.
Fontes:
Ministério do Trabalho
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
Programa Minha Casa, Minha Vida
05/04/2012 17:10
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