Marco Maciel: Euclides foi um profeta da realidade brasileira



O senador Marco Maciel (DEM-PE) disse, na tarde desta terça-feira (18), que Euclides da Cunha foi mais do que um engenheiro, escritor e jornalista. Ao reunir suas habilidades na elaboração do clássico Os Sertões, acabou por atuar como um profeta, antecipando cenários futuros, como o da desertificação de certas áreas do território brasileiro e o da integração latino-americana.

Marco Maciel falou durante a sessão de homenagem a Euclides da Cunha, organizada pelo Senado para marcar o centenário de sua morte. Disse acreditar que, de alguma forma, o escritor poderia ser reunido àqueles que sonharam com aquilo que hoje é o Mercosul.

O senador por Pernambuco ressaltou que Euclides da Cunha dedicou-se integralmente ao Brasil numa época em que os intelectuais se inspiravam, em grande parte, nos modelos europeus, tanto na literatura quanto nas ciências sociais. Embora tivesse conhecimento da produção intelectual européia, recriava-a criticamente no Brasil, disse Marco Maciel.

- Os profetas não morrem. Eles transmitem as suas percepções às gerações seguintes. A passagem de centenário do falecimento de Euclides da Cunha convoca-nos a buscar realizar as suas profecias de um Brasil justo e desenvolvido, fiel à nossa vocação histórica - disse o senador.

Marco Maciel exaltou as qualidades de Os Sertões, classificando-o de "um livro exemplar" da síntese das três vertentes em que atuou Euclides da Cunha. Dividido em três partes fundamentais: o homem, o meio e a luta, o relato destaca, em sua primeira parte, o que o senador chamou de trabalho sociológico e antropológico pioneiro e culmina com a dramaticidade literária. Entre ambas, Euclides oferece minuciosa descrição do ambiente geográfico, climático e mesmo geológico do sertão nordestino.

- Ele fez a primeira enumeração dos ciclos da seca - destacou Marco Maciel.

O parlamentar mencionou como de grande importância a análise da obra feita pela professora Walnice Nogueira Galvão, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Walnice, que é professora de Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo (USP) ressaltou em seus estudos a clássica passagem de Os Sertões, na qual o escritor molda uma nova abordagem do sertanejo, "(...) um forte, cuja energia contrasta com o raquitismo exaustivo dos mestiços enervados do litoral", embora sua aparência sugira, a princípio, o contrário.

O senador também recordou as observações feitas pelo escritor pernambucano Oliveira Lima sobre a capacidade estratégica de Euclides, ao participar como engenheiro, da delimitação das fronteiras do Brasil no Alto Purus e Juruá, na fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru, onde ainda estão as marcas por ele fixadas pessoalmente, enfrentando os perigos da selva.

Euclides da Cunha teria sido o primeiro brasileiro, e um dos primeiros do mundo, a entender o clima tropical-equatorial, antes apenas caluniado; a defender os seringueiros; e a antever a importância e mesmo a urgência da presença do Brasil no Pacífico, alcançável pela construção da estrada trans-acreana dentro de um plano de "viação sul-americana", estendendo-se pela Bolívia, Peru e afluentes do Rio Prata.

- São de tanta profundidade e extensão as propostas euclideanas, que podemos considerá-las um projeto para o Brasil ainda a ser realizado - disse Marco Maciel, citando Oliveira Lima.

O senador lembrou que Euclides foi membro da Academia Brasileira de Letras, na vaga deixada por Afrânio Peixoto, e fez questão de homenagear O Estado de S. Paulo, jornal que publicou as reportagens de Euclides da Cunha sobre a Guerra de Canudos - mais tarde consubstanciadas em Os Sertões - e recentemente ofertou a seus leitores criteriosos estudos sobre a vida e a obra de Euclides.



18/08/2009

Agência Senado


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