Mário Martins: vida pública entre a imprensa e o Parlamento
O ex-senador Mário Martins (1913-1994) dividiu sua atuação política entre a imprensa e o Parlamento, conforme permitiam as condições políticas em cada momento histórico. Entrincheirado no jornalismo ou combatendo na política institucional, o fluminense de Petrópolis esteve sempre ao lado das instituições democráticas.
Foi o que motivou o jovem de 20 anos a fundar em Nova Friburgo, o jornal A Esquerda, destinado a apontar os problemas do município serrano. Fechado o pequeno jornal, Mário Martins mudou-se para a capital federal, para trabalhar em O Radical. A oposição ao Estado Novo, de Getúlio Vargas, custou a primeira prisão, em 1937.
Com o fim da Ditadura Vargas e os primeiros ventos democráticos, Mário Martins tentou uma vaga na Assembleia Constituinte de 1946. Derrotado, foi trabalhar como adido comercial na Argentina, de onde retornou, aos 37 anos, em 1950.
A primeira vitória eleitoral veio no ano seguinte, quando conquistou uma vaga na Câmara de Vereadores do então Distrito Federal. Em 1955, elegeu-se deputado federal, pela União Democrática Nacional (UDN), partido de oposição ao trabalhismo de Vargas.
Em 1961, retornou ao jornalismo. Embora udenista, defendeu a posse do João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961. A posição provocou o afastamento do principal líder da oposição, Carlos Lacerda, de quem voltou a se aproximar, por ocasião do Golpe Militar de 1964.
As primeiras cassações e prisões de adversários pelos militares receberam críticas de Mário Martins, que ingressava no MDB, partido pelo qual chega ao Senado, em 1966. Se reaproximou de Carlos Lacerda e participou da frente ampla, que reuniu políticos perseguidos pelo regime.
Mário Martins usou a tribuna do Senado para denunciar a corrupção e os atentados à liberdade perpetrados pela Ditadura. Em fevereiro de 1969, foi um dos primeiros parlamentares cassados pelo AI-5, ato institucional baixado pelo governo Costa e Silva, que suprimiu o que restava de garantias democráticas.
Era o fim da atuação parlamentar. Mário Martins mudou-se para Vitória e só voltou ao Rio de Janeiro em 1981, quando a Ditadura já dava sinais de esgotamento. Com a abertura e o fim do bipartidarismo, ingressou no PMDB e disputou a última eleição, para o Senado.
Derrotado por Saturnino Braga, não abandonou a política. Como conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) participou do Movimento das Diretas Já. Com a derrota da emenda Dante de Oliveira, juntou-se à campanha pela eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Na redemocratização, assessorou o ex-senador Afonso Arinos e participou da Comissão de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, como representante da ABI.
Mário Martins faleceu em 1994, aos 81 anos, em Vila Velha (ES). Teve onze filhos, entre eles a escritora e atual presidente da Academia Brasileira de Letras, Ana Maria Machado, e o jornalista e ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, no governo Lula, Franklin Martins.
19/12/2012
Agência Senado
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