Meirelles reafirma a necessidade de prudência na decisão sobre os juros



Ao apresentar a comissões técnicas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal o resultado das políticas monetária, de crédito e cambial do primeiro semestre, nesta terça-feira (30), o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, justificou a necessidade de prudência na fixação dos juros. Ele afirmou que a decisão deve ser orientada, primordialmente com base em informações ou incertezas em relação ao futuro. Na sua avaliação, a inflação passada e atual em nada influi sobre tal decisão.

Mesmo sem mencionar diretamente a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na última reunião, quando a taxa Selic - juros de referência da economia - foi mantida em 11,5%, depois de sucessivas quedas em dois anos, Meirelles observou que o "mérito de decisões atuais" só pode ser corretamente avaliado no segundo semestre ou mesmo em 2009.

- Julgar decisões com base em inflação contemporânea induz substanciais erros - reforçou.

Os juros no país são fixados pelo Copom, integrado pelo presidente do BC e demais diretores do órgão, com vistas ao cumprimento da meta inflacionária definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para esse ano e os dois próximos anos, essa meta é de 4,5%, com tolerância de dois pontos, para mais ou menos. Meirelles garantiu que a política de inflação dentro da meta será mantida pelo BC.

Meirelles foi também indagado sobre a expansão dos gastos públicos e de seus efeitos sobre o alcance da meta de inflação, limitando-se a dizer que o debate sobre a política fiscal (fixação de receitas e despesas públicas) talvez seja o mais importante do momento. Sem avançar no mérito da discussão, acrescentou que, para o BC, importa considerar que o governo cumprirá, a longo prazo, a meta de superávit primário (economia para pagamento dos juros da dívida pública).

- O superávit será cumprido da mesma forma que nos anos anteriores e nós temos que entregar a inflação na meta - sustentou.

Ao analisar o cenário econômico do país, o presidente do BC observou que o Brasil, com seu setor financeiro, passou muito bem pela crise de insolvência provocada pelas quebras no mercado imobiliário norte-americano. Salientou que o país não está completamente imune aos "solavancos" do setor externo, mas ainda assim apresenta resistência para enfrentar processo de desaceleração mundial que acredita estar a caminho em 2008.

Sobre o desempenho do BC no primeiro semestre, Meirelles comentou que a instituição fechou balanço com prejuízo de R$ 1,085 bilhão, resultado como reflexo do custo do carregamento em seus ativos dos recursos que integram as reservas internacionais e pelas chamadas operações de swaps cambiais. Observou que o resultado negativo é gerado pela valorização do real frente às moedas estrangeiras, mas tem como contrapartida benefícios para as contas do Tesouro Nacional, detentor dos passivos cambiais.Para o presidente do BC, o custo de carregamento das reservas ser entendido como parte dos objetivos de política que, por meio da formação de ativos atrelados.

Solicitado a avaliar impactos monetários e fiscais diante da hipótese de não-renovação da CPMF, o presidente do BC afirmou que, para o setor público deixa de contar com essa fonte de receita, haverá necessidade obrigatória de rever as despesas. Ele descartou a hipótese de que, à falta da CPMF, o governo acabe por sacrificar a política de superávit. Segundo ele, o superávit é condição para que a dívida pública continue a cair na proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e, assim, evitar mais adiante a elevação dos juros.

O presidente do Banco Central foi ouvido por senadores e deputados em reunião conjunta da Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização (CMO) com as Comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e de Assuntos Econômicos (CAE), do Senado, além de outras comissões técnicas da Câmara dos Deputados. A prestação de contas é uma imposição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

30/10/2007

Agência Senado


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