Meirelles traça cenário para uma eventual queda na taxa de juros no Brasil
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, destacou nesta terça-feira (20) que os juros permanecem em trajetória descendente. Em audiência realizadana Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), ele classificou como um "mal entendido" a preocupação demonstrada com eventuais movimentos de alta da taxa básica de juros (Selic), determinados pelo Conselho de Política Monetária (Copom).
Conforme Meirelles, essas correções para mais na taxa Selic são necessárias em algum momento justamente para manter a tendência de queda continuada das taxas.
- É importante que se suba para manter a inflação dentro da meta e garantir queda das taxas de juros no longo prazo, em função da melhor previsibilidade para a economia - explicou.
O presidente do BC traçou o cenário para uma eventual queda nas taxas de juros: com a manutenção da estabilidade da economia, há maior previsibilidade e alongamento do horizonte de planejamento das empresas, causando uma queda nos prêmios de risco e o surgimento de investidores dispostos a aplicar por prazo maior e a taxas menores.
- À medida que tudo isso for se concretizando, a tendência natural é uma queda nas taxas de juros - insistiu.
Meirelles disse que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana deve atualizar os dados sobre inflação, inclusive captando a desaceleração registrada em abril, cuja previsão - de 0,48%, conforme o IPCA-15 - é coerente com a estimativa de 0,47% do Banco Central.
Aumento
Os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Antonio Carlos Junior (DEM-BA) manifestaram temor de que o Copom, na próxima reunião, seja obrigado a aumentar fortemente a taxa de juros, por não ter feito isso em março.
O presidente do Banco Central considerou técnica e isenta de influência política a decisão do Copom em março, quando a Selic (taxa básica de juros) foi mantida em 8,75%.
Meirelles disse que a política monetária realiza-se em uma sequência de ações e, por isso, é importante que as reuniões do Copom sejam realizadas a cada 45 dias. Ele considerou normais "divergências na margem" entre uma e outra reunião.
Afirmou também que a projeção de crescimento econômico para 2010, de 5,8% - citada como um dos fatores que obrigariam o governo a iniciar um ciclo de aumentos da taxa básica de juros -, já era do conhecimento do Banco Central desde dezembro do ano passado.
Balança comercial
Os senadores Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e José Agripino (DEM-RN) manifestaram preocupação com a evolução da balança comercial e com a tendência de queda no superávit. Meirelles disse que a previsão do Banco Central para 2010 é de um saldo positivo de US$ 10 bilhões - inferior aos dos últimos anos.
O presidente do Banco Central explicou que o Brasil, que se recuperou rapidamente da crise internacional de 2008, exporta para países que saem de maneira mais lenta das dificuldades. Portanto, segundo Meirelles, é natural que as importações brasileiras tenham crescido mais do que as exportações.
O crescimento do investimento estrangeiro direto líquido, previsto pelo Banco Central em US$ 45 bilhões em 2010, também causa impacto nessas contas, conforme Meirelles. É que muitos desses recursos, aplicados em atividades produtivas, são usados para aquisição de máquinas no mercado externo.
Política fiscal
Arthur Virgílio e Antonio Carlos Junior disseram que a política fiscal do governo - com gastos crescentes - é incoerente com qualquer esforço para redução das taxas de juros. Arthur Virgílio observou que, nos últimos sete anos, enquanto o crescimento econômico ficou em 27%, os gastos correntes do governo aumentaram 75%.
Meirelles respondeu que uma das normas de governança de bancos centrais independentes é não opinar sobre políticas de outros órgãos do governo.
Djalba Lima / Agência Senado
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20/04/2010
Agência Senado
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