Memória: História da saúde pública paulista será recuperada em parceria inédita



257 rolos de filmes e 5 mil fotografias registram o cotidiano dos profissionais da saúde no início do século 20

A população paulista poderá conhecer a história da saúde pública paulista do final do século 19 até o início do século 20. Parceria firmada entre a Cinemateca Brasileira e a Secretaria da Saúde, por intermédio do Instituto de Saúde, pretende recuperar 257 rolos de filmes e 5 mil fotografias da primeira metade dos anos 1900. A Cinemateca realizará ainda este mês um diagnóstico sobre os materiais que poderão ser recuperados. Após o resultado dos testes, os filmes serão transformados em DVD.

Os filmes registram, basicamente, os trabalhos de controle de doenças, como tuberculose, malária, Mal de Chagas e hanseníase, atendimento no Hospital Psiquiátrico do Juquery, práticas de enfermagem e inauguração de novos serviços. As 5 mil fotografias retratam o combate à hanseníase no Estado, o atendimento médico na época, a vida dos pacientes dentro dos sanatórios, já que a internação de hansenianos era compulsória.

As imagens, embora não tenham se perdido, apresentam reações químicas por conta da ação do tempo e das condições inadequadas de arquivo e por isso passarão por um processo de recuperação. Outros registros de vigilância sanitária também passarão por processo semelhante de tratamento.

Preservação da memória

O trabalho, que inclui a recuperação de documentos, objetos e imagens, faz parte da reorganização do Centro Técnico de Preservação da Memória da Secretaria.

As obras de restauro no Museu Emílio Ribas, localizado no bairro do Bom Retiro, estarão prontas ainda no primeiro semestre. Com a conclusão das obras, o Museu deverá ser reaberto ao público ainda neste semestre.

Antigo Desinfetório Central, o prédio foi construído em 1893 e tombado pelo patrimônio histórico na década de 80. O Museu guarda verdadeiras relíquias, como fotos do Hospital de Isolamento (hoje Emílio Ribas), de 1902, Instituto Butantan, também de 1902, autoclaves usadas no Desinfetório Central em 1893, e fotos de equipes de desinfetadores.

O Centro Técnico de Preservação da Memória terá uma central de documentação histórica (audiovisual), uma biblioteca histórica e um centro de pesquisa. A partir das exposições que serão montadas no Centro de Memória haverá atividades pedagógicas para a população em geral, pesquisadores e profissionais da área de saúde. Serão realizados, ainda, ciclos de filmes e debates sobre as principais práticas de saúde e de controle de doenças.

A Unicamp cuidará da recuperação do acervo documental, incluídos os registros dos profissionais de saúde. Antes da criação dos conselhos regionais (Conselho Regional de Medicina e de Odontologia), todos os profissionais da área eram registrados no Estado, explicou Alexandre Grangeiro, diretor do Instituto de Saúde. Entre os registros estão o do médico Adolfo Lutz e do sanitarista Emílio Ribas. “Com a recuperação do acervo, poderá ser realizada uma pesquisa que mostrará a evolução do perfil do profissional que atua na área de saúde”, explicou Grangeiro.

A Piremi (Federation of Earth Science Information Partners), especializada em sistemas de biblioteca na área de saúde, cuidará do acervo bibliográfico do Centro de Memória.

Acervo raro

Os aparelhos usados para aplicar vacina contra a varíola (década de 1960), para desinfecção (1894), instrumento usado para contagem de glóbulos sanguíneos (década de 60), estufa de madeira usada no Instituto Adolfo Lutz (1940) e aparelho francês para medir a pressão, do final do século 19 estão entre as raridades que compõem o acervo do museu.

"A saúde pública paulista tem um histórico muito rico. Os documentos fazem parte da cultura do Estado e, por isso, queremos resgatar o maior número de documentos possível e torná-lo disponível para toda a população", finaliza Granjeiro.

Maria Lúcia Zanelli

Da Agê

02/24/2006


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