Coleção Paulista resgata a memória política e a história de São Paulo



Primeiros livros trazem alguns dos principais autores do século 19 e início do século 20

A Fundação de Desenvolvimento Administrativo (Fundap) e a Imprensa Oficial do Estado lançaram no último dia 30 a Coleção Paulista. Composta por volumes, a coleção é formada por livros e autores que discutem a história de São Paulo e do Brasil, sob diversos aspectos: econômico, social, político e cultural. As obras são edições fac-símile, reprodução exata da edição original. Cada edição conta com páginas introdutórias elaboradas por historiadores contemporâneos.

Os livros que compõem a série estavam esgotados há muitas décadas e serão publicados em edição fac-similar. Cada volume traz uma apresentação assinada por um especialista. As primeiras obras a serem publicadas darão prioridade ao final do século 19 e todo o século 20. No futuro, poderão ser incluídos títulos clássicos do período colonial e a primeira metade do século 19.

De acordo com o organizador da coleção, Marcos Antonio Villa, e autor do livro Discursos Parlamentares (de José Bonifácio de Andrada e Silva), a Coleção também tem como objetivo “provocar polêmica, pois, a história da Província de São Paulo é marcada pelo debate político. Não podemos esquecer que a discussão sobre as grandes questões nacionais, como abolicionismo e República, surgiram em São Paulo. A criação do Partido Republicano, as lutas operárias, a questão do voto secreto nos anos 1920, a participação do MDB na luta democrática são alguns dos fatos que ocorreram em São Paulo e que tomaram vulto no cenário nacional”.

Villa ressaltou, enquanto historiador, que “a Coleção visa a acabar com o mito de que todo político paulista tem o ranço do conservadorismo e desmascarar a história de que resgatar o discurso político paulista é conspiração da elite do Estado de São Paulo”.

Geraldo Biasoto, diretor-executivo da Fundap, ressaltou a importância da parceria entre a sua instituição e a Imprensa Oficial, para o lançamento da coleção. “Não podemos esquecer que as questões de São Paulo sempre visaram as nacionais. Na verdade, o nosso objetivo é levar ao público, obras que lancem luzes sobre a história do País”.

Húbert Alquéres, diretor-presidente da Imprensa Oficial, explicou que “a Coleção está inserida num projeto maior de recuperar a memória da história do Estado de São Paulo e que terá sua conclusão com a criação de um Centro de Documentação e Memória”. Também ressaltou que as obras têm como objetivo levar ao público em geral, incluindo estudantes de ensino médio, a história de São Paulo e de seus personagens que influenciaram a história brasileira”. 

Resgate – Para Sidnei Beraldo, secretário de Gestão Pública, o lançamento da Coleção Paulista coincide com um momento histórico, no qual o País passa por uma fase democrática. “Ela mostra a importância do resgate do discurso político.”

Beraldo disse que a criação de um portal para difundir o conteúdo dessas obras e de toda a historiografia do Estado de São Paulo é outro passo que está sendo dado. “A Internet é, hoje, uma ferramenta importante para a divulgação do conhecimento”. O secretário citou o exemplo de um aluno de ensino médio que utilizou o Acessa São Paulo para prestar o vestibular. “Ele disse que 70% das pesquisas que realizou foram feitas pela web e que isso o ajudou a driblar os seus concorrentes e conseguir uma vaga em Matemática na USP”.

Maria Cecília Homem, escritora e pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, acredita que o lançamento dessa coleção projeta luz sobre vários temas que estão esquecidos na memória dos paulistas, principalmente, das novas gerações. Vários temas devem ser revistos, como a Revolução de 1924, sobre a qual há um número de pesquisas bem pequeno.

Norma Batista Norcia, chefe do setor de Pesquisa Documental e da Biblioteca da Fundap, acredita que a coleção fará com que os leitores passem a ter uma consciência política mais crítica, ao conhecer os fatos que surgiram a partir da então Província de São Paulo.  

Centro de Memória – Villa disse que a parceria entre as duas instituições também prevê a criação de um Centro de Memória e Documentação de São Paulo, baseado nos moldes do Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro (leia o boxe). “O público terá a seu dispor, documentários, arquivos pessoais, depoimentos e imagens”. A perspectiva para a conclusão do novo centro é até 2009. Além do Centro de Memória, está prevista a criação de um Museu da História Paulista, no bairro da Mooca. 

Durante o lançamento da Coleção Paulista, ocorreu o Seminário Memória Paulista - Novos temas e novas perspectivas da história de São Paulo e do Brasil. O debate contou com a participação dos organizadoresdos primeiros cinco volumes da coleção Paulista: A Província de S. Paulo (Tânia Regina de Luca); Discursos Parlamentares Marc o Antonio Villa); Manifestos e Mensagens (Júlio Pimentel Pinto); Cartas Sertanejas/Procellarias (José Leonardo do Nascimento) e Agora Nós! (Boris Fausto).  

Maria Lúcia Zanelli
12/04/2007


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