Mercadante diz que Banco Central poderia ter evitado escândalo do Opportunity



O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), senador Aloizio Mercadante (PT-SP), disse, nesta terça-feira (15), durante audiência pública com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que estranhou o fato de o BC não ter adotado medidas para evitar o escândalo do Banco Opportunity. Para Mercadante, se o BC tivesse acionado a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as fraudes poderiam ter sido evitadas.

Em resposta, Meirelles disse que não houve descuido por parte do BC quanto a essa questão, e que a instituição, como a maioria dos bancos centrais de todo o mundo, realiza ações administrativas somente quando detecta que determinado banco pode prejudicar a saúde financeira do sistema, do próprio BC ou ainda colocar em risco os depositantes. Meirelles disse também que a Diretoria de Fiscalização do BC é independente e trabalha de forma sigilosa.

Ao comentar o escândalo do Banco Opportunity, que resultou na prisão de diretores da instituição e do próprio presidente do grupo, Daniel Dantas, Mercadante defendeu a abertura de um amplo debate para que o país tenha meios mais eficazes no combate à corrupção no meio financeiro.

Ainda em resposta ao questionamento de Mercadante, o presidente do BC disse que a instituição trabalho em sintonia com a Polícia Federal.

- O Banco Central trabalha em perfeita sintonia com a Polícia Federal e demais órgãos fiscalizadores, como o Ministério Público Federal. Sempre quando o BC é solicitado, presta todas as informações necessárias, excluindo o sigilo bancário - disse Meirelles.

Inflação

Mercadante também considerou um desafio o governo conter a inflação e continuar, ao mesmo tempo, mantendo a economia em crescimento, além de realizar pesados investimentos no setor social. Uma das saídas propostas pelo senador para combater a inflação é a adoção de maior rigor no superávit primário.

- Essa é a pressão inflacionária mais forte das últimas décadas - alertou Mercadante, que também defendeu a convergência dos bancos centrais de todo o mundo para combater a crise.

O senador observou que essa crise tem raízes no crescimento das economias acima da média anual de 5% e na redução drástica dos estoques de alimentos, especialmente as commodities (mercadorias em estado bruto ou produtos primários, como café, chá, trigo, arroz e açúcar, entre outros).

Para Mercadante, além da crise dos alimentos, o processo inflacionário foi agravado em virtude do aumento do preço do barril de petróleo, que praticamente dobrou do ano passado para cá.

Os demais senadores presentes à reunião também manifestaram preocupação com o possível retorno do processo inflacionário, a exemplo do senador Antonio Carlos Júnior (DEM-BA). Para ele, apesar de o Banco Central estar tomando medidas no sentido de manter a inflação sob controle, o fato é que a importação da inflação externa, com a elevação brutal dos preços das commodities, vem causando um mal-estar na economia.

O senador Marco Antonio Costa (DEM-TO) observou que a inflação atinge principalmente os mais pobres, enquanto Flexa Ribeiro (PSDB-PA) alertou que "o dragão da inflação volta a assustar". Flexa Ribeiro disse também que estranhou o fato de o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) ter mudado a metodologia de cálculo que mede a inflação de trimestral para anual.

Já o senador Osmar Dias (PDT-PR) pediu ao presidente do BC medidas urgentes para que os preços dos insumos agrícolas que entram no país, a exemplo dos fertilizantes, sejam controlados. Ele informou que esses preços tiveram acréscimo de quase 90% este ano com relação ao ano passado.

Em resposta, Meirelles disse que o aumento dos custos dos insumos é de caráter internacional. Mas tentou tranqüilizar o senador, informando que é intenção do governo aumentar a produção nacional de insumos agrícolas. Também participaram dos debates na CAE os senadores Jefferson Praia (PDT-AM), Eduardo Suplicy (PT-SP); Adelmir Santana (DEM-DF) e Francisco Dornelles (PP-RJ).



15/07/2008

Agência Senado


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