Mesa do paulistano tem mais doces e embutidos e menos frutas e legumes



Nutricionista da USP acredita que tendência deve piorar devido ao apelo publicitário e ao barateamento dos produtos industrializados

O paulistano come menos produtos básicos como arroz, feijão, verduras e legumes e mais industrializados, entre eles refrigerantes, biscoitos, doces e embutidos. Pesquisa que compara o consumo dos anos 1970 com o final da década de 1990 revela dados alarmantes: aumento do consumo de refrigerante (219%), biscoitos e bolachas (295%), doces (400%), embutidos (119%), caldos e molhos (314%) e diminuição de cereais e massas (21%), leguminosas (38%), feijão (37%), frutas (36%), e verduras (53%).

“O preço dos processados caiu no período em relação ao salário. Hoje, custam bem menos que nos anos 1970. O valor do alimento básico também é menor, mas ainda assim os industrializados são mais baratos”, informa o nutricionista Rafael Moreira Claro, doutorando da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), um dos autores do trabalho.

A expectativa é de que nos próximos anos a mesa dos paulistanos receba ainda mais produtos prontos. Segundo o nutricionista, é fácil acreditar nessa tendência diante do crescente apelo publicitário e da variedade de marcas dos produtos. Ele cita um exemplo: “Na década de 1970, havia uma ou duas opções de refrigerante; hoje, são 10 ou 15”. Diz que é muito mais fácil comer bolacha do que fruta, pois esta precisa ser lavada e descascada. O biscoito é saboroso, mas esconde excesso de gorduras e açúcares prejudiciais à saúde.

Muito sal – As conseqüências mais freqüentes são obesidade, doenças cardiovasculares crônicas, diabetes tipo II e hipertensão arterial (pressão alta). De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na década de 1970 apenas 3% da população adulta tinha excesso de peso. Em 2003, esse índice saltou para 40%.

O médico Celso Amadeo, chefe da Seção de Hipertensão e Nefrologia do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, informa que as doenças cardiovasculares (derrame e doenças do coração como infarto e insuficiência cardíaca) matam no Brasil cerca 300 mil pessoas por ano.

Para destacar a gravidade da conseqüência da má alimentação, o cardiologista informa que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a moléstia cardiovascular responde pela primeira causa de morte do planeta.

Dos pacientes internados no Sistema Único de Saúde (SUS) por problemas cardiovasculares, 80% apresentam hipertensão arterial, provocada pelo consumo exagerado de sal. Ele informa que 35% da população adulta brasileira é hipertensa, mas só metade tem conhecimento.

Em 2002, os hospitais do SUS internaram cerca de 1,2 milhão de pessoas por problemas cardiovasculares ao custo de R$ 1 bilhão: “Hoje, com a tecnologia dos equipamentos, o custo do tratamento é bem mais alto. Prevenção evitaria esses gastos”.

Amadeo explica que o organismo necessita de 3 gramasde sal por dia, mas as pessoas ingerem de 12 a 15 gramas. Por exemplo: um pão francês contém 1 gramade sal. Não é difícil comer mais de três por dia e ultrapassar o limite para manter a saúde.

Menos tevê – “A hipertensão arterial começa na infância com os maus hábitos dos pais. Na frente da televisão ou do computador muitas horas do dia, as crianças comem salgadinhos e acumulam riscos de futuras doenças cardiovasculares”, alerta o cardiologista. No lugar da tevê, recomenda exercícios físicos e reeducação alimentar.

Mas ele admite que a tarefa não é fácil porque, na sociedade competitiva, os adultos vivem estressados e ingerem alimentos calóricos, gordurosos e excessivamente salgados para aliviar a tensão. Sem contar o abuso de álcool e cigarro. Não servem de modelos para os pequenos.

“As empresas gastam fortunas com propaganda de industrializados no horário nobre. Nossa luta em favor dos hábitos saudáveis é desigual”, observa o médico.

Viviane Gomes

Da Agência Imprensa Oficial

(L.F.)



03/30/2008


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