Museu da Polícia Civil revela 55 anos de história de crimes em São Paulo



A história do crime e suas soluções no Estado de São Paulo

O ciúme motivou José Pistone a asfixiar a mulher Maria Féa Mercedes, grávida de seis meses. Depois do crime, o homem decepou os órgãos da esposa em pedaços e os depositou numa mala, levada ao Porto de Santos. O destino seria a França. Mas o plano não foi bem-sucedido porque o mau cheiro exalado no barco intrigou os tripulantes, que chamaram a polícia.

Esse caso ocorrido em 1928 abalou o País e ficou conhecido como Crime da Mala. Quem narra a história é o policial Eduardo Pretel, que atua como monitor na visita ao Museu da Polícia Civil, situado na entrada da Cidade Universitária, na USP. Além de ouvir o relato, o visitante também observa a mala original, apreendida pela polícia civil, uma das relíquias do museu.

Os 600 metros quadrados da instituição guardam fotos, documentos, armas, drogas, máquinas de azar, móveis e instrumentos utilizados pela polícia em décadas passadas.

O local abriga também armas usadas em crimes – facas, revólveres, espingardas, metralhadoras – , objetos inusitados feitos por criminosos, como solda empregada para produzir jaula que serviu de cativeiro.

Outros destaques: tatuagens feitas na cadeia, imagens de homicídios e suicídios e sala de simulação de crimes (aberta somente para o treinamento de futuros policiais). Vale a pena ver também as fotos de acidentes de trânsito clicadas nos anos de 1925 a 1975, quando ainda era possível contar nos dedos o número de carros que circulavam pelas ruas da cidade.   

Droga no sapato
Um dos assuntos que mais despertam a atenção dos escolares é a exposição das amostras de drogas: cocaína, maconha e crack. Há também uma curiosidade: um sapato apreendido na década de 20, usado para transportar droga.

De forma didática, um quadro indica as características de cada substância e suas consequências ao organismo. Pretel conta que durante a monitoria faz questão de destacar essa ala e mostrar aos visitantes o risco que o consumo representa.

O principal público do museu são os estudantes, professores, médicos, dentistas, policiais e interessados no assunto. São mil visitas por mês.

“Alunos são atraídos pelo tema que aborda drogas, pois é comum os educadores solicitarem trabalhos a respeito desse assunto. Médicos e dentistas preferem as exposições vinculadas à Medicina Legal”, avalia a responsável pelo museu, Armenui Herbella Fernandes.

O estabelecimento serve de apoio didático e técnico aos policiais civis que realizam cursos e treinamentos na Academia da Polícia Civil (Acadepol), instalada no mesmo local.  Todos os profissionais das 14 carreiras da corporação (que exigem ensino fundamental, médio ou superior) passam pela aula prática do museu. Os cargos são de delegado, perito criminal, médico-legista, escrivão, atendente de necrotério e auxiliar papiloscopista. 

Maníaco do Parque
“Aqui é muito mais que um espaço expositivo. Oferecemos clima de sala de aula e verdadeiro laboratório de ensino policial”, enumera o delegado do serviço de apoio técnico, Ricardo Stanev. Frisa que além de conservar o patrimônio da polícia civil, o espaço contribui para a formação de novos agentes.

A descrição do criminoso sexual, o motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido como Maníaco do Parque está no acervo da entidade. Ganhou o apelido porque atraía suas vítimas com falsas promessas de emprego até o Parque do Estado, na divisa entre São Paulo e Diadema. Lá elas eram violentadas e, algumas, assassinadas. O homem foi preso aos 30 anos, em agosto de 1998, e condenado por roubo, estupro e atentado violento ao pudor. 

Chico Picadinho
Outro caso de repercussão foi o de Chico Picadinho. A instituição exibe as fotos das prostitutas mortas e descarnadas após a ação do assassino. Este caso é um dos motivos pelos quais só é permitida a entrada de maiores de 16 anos.

Camilo Pastor Veiga faz o curso de formação de delegado na Acadepol e visita o museu pela segunda vez. “O que mais me chama a atenção é a disposição das fotos sobre homicídio, infanticídio e suicídio, deixando bem claro para os leigos o conceito de cada um”. O futuro delegado elogiou o didatismo do museu. “Vir aqui acrescenta muito na minha carreira profissional”.

Até meados de 2005, o local era chamado de Museu do Crime. Suas origens vêm dos anos 20, quando peças do cotidiano eram expostas em armários nas salas de aula da Escola de Polícia e serviam como ilustração às aulas ministradas. Em 1952, o acervo foi aberto ao público pela primeira vez. Dezoito anos mais tarde, o espaço se estabeleceu em seu endereço atual.  Em 2005, foi assinado decreto criando oficialmente o Museu da Polícia Civil. 

SERVIÇO
Museu da Polícia Civil
Praça Reynaldo Porchat, 219, Cidade Universitária, São Paulo, SP
Idade mínima: 15 anos
Visitação: De terça a sexta-feira, das 13h às 17h
Entrada franca
Não abre em feriados
É necessário agendamento para grupos acima de 10 pessoas
Telefone: (11) 3468-3360
Site www.policiacivil.sp.gov.br/academia/museu_policia.htm 

Viviane Gome

07/15/2007


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