Na intimidade, o lado doce e humano de Jefferson Péres



Conhecido e respeitado em todo o país pela conduta parlamentar marcada pela firmeza na defesa dos princípios éticos na política, Jefferson Péres (PDT-AM) era sempre lembrado pelos jornalistas nos muitos momentos em que os ocupantes de cargos públicos precisavam de "puxões de orelha". Como ombudsman informal do Parlamento, podia passar a muitos certa impressão de sisudez e, não escondendo o desencanto com a política, de amargor.

O Jefferson Péres que a reportagem da Agência Senado encontrou na memória de algumas das cerca de 3.000 pessoas que passaram por seu velório nesta sexta-feira (23) e neste sábado (24), em Manaus (AM), - especialmente na daquelas que puderam conviver com ele - muito pouco tinha de semelhante com as características citadas.

Às lágrimas, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), amigo e colega de bancada, falou do companheiro de conversas sobre cinema e música. O suplente, Jefferson Praia (PDT-AM), lembrou do professor de Economia com quem aprendeu algumas das lições que mais preza na vida. Também emocionada, a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) rememorou as muitas vezes em que o parlamentar intercedeu em sua defesa.

A esposa, Marlídice Peres, falando à Agência Senado neste sábado (24), também enfatizou o lado terno da personalidade do senador, por trás da aparência de severidade. Segundo ela, era muito penoso para ele relatar processos no Conselho de Ética contra colegas.

­- Ele era duro, mas aquilo o violentava, porque ele gostava das pessoas. Para ele, era difícil pedir a cabeça de um colega. Mas ele não recuava diante de um dever - afirmou.

Para alguns jovens do PDT amazonense que homenagearam o senador na tarde desta sexta-feira, Jefferson Peres, mais que um amigo ou conselheiro, era como um pai.

- Ele se reunia com todos os movimentos do partido nos sábados. Era um orientador, um paizão. Dava palestras, conversava. Não havia barreiras. Ele representava uma linha, uma direção - contou Madalena Silva, da ala ambientalista.

Lana Gomes, da Juventude Socialista, citou uma das lições apreendidas desses encontros.

- Ele ressaltava, nas reuniões, a importância da educação integral. Dizia que pode ser difícil mudar a cabeça de um adulto em relação à ética, mas que uma criança é como uma plantinha - disse.

Entre os funcionários e assessores do gabinete do senador, o susto se misturava à dor. A maioria acompanha o parlamentar desde o início de seu primeiro mandato, em 1995, e não observou mudança alguma em sua rotina. Apesar do feriado de Corpus Christi, Jefferson Peres relatou uma matéria na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) ainda na quarta-feira (21) e marcou presença na tribuna, como era hábito, na semana que passou.

Costumava caminhar todas as manhãs e se recolhia cedo. O infarto contrariou a lógica das recomendações médicas. A esposa lembrou os hábitos saudáveis do marido.

- Há anos, ele tomava, todos os dias, guaraná em pó com mel. E, no café da manhã, era sempre frugal: torradas com geléia, frutas e sucos. Também sempre dava preferência para peixes - lembrou.

Ela observou, contudo, que nos últimos tempos, Jefferson Péres, "andava meio preguiçoso" para as caminhadas matinais e que ela precisava ficar "monitorando" e incentivá-lo.

Diversos parlamentares são esperados na manhã deste sábado no Palácio do Rio Negro, entre eles o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho. O sepultamento ocorrerá às 16h, no cemitério São João Batista, também em Manaus.



24/05/2008

Agência Senado


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