"Não aceitamos um falso nacionalismo", afirma FHC









"Não aceitamos um falso nacionalismo", afirma FHC
Presidente critica setores que sugerem outro modelo de desenvolvimento

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez ontem, na abertura da Expo Abras (a feira anual do setor supermercadista), um discurso de ataque ao que ele chamou de "falso nacionalismo" de setores que querem outro modelo de desenvolvimento.

"Não aceitamos um falso nacionalismo que leve o país para trás. O nosso nacionalismo é o de um país que quer ser grande para o seu povo, e não para alguns aproveitadores de slogans", afirmou.

Em pouco mais de meia hora de discurso, FHC não citou nomes, mas enfatizou que o modelo econômico para o país não pode "olhar para o passado só" e nem trazer de volta mecanismos de política econômica baseados em barreiras tarifárias para proteger a indústria nacional.

Em entrevista publicada ontem pela Folha, o empresário Eugênio Staub, 60, um dos mais conhecidos defensores da adoção de mecanismos de política industrial, declarou seu apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

CRÍTICAS INFUNDADAS - "Ficamos muito satisfeitos em poder ter acompanhado o desenvolvimento do setor de supermercados (...) É uma demonstração do dinamismo da nossa economia (...) Isso é um bom antídoto para tantas críticas infundadas, tanta demonstração de ignorância sobre o que acontece realmente na economia brasileira a que a gente assiste a cada dia, até com certa, eu diria, pena, de ver repetirem-se uma série de jargões que não correspondem absolutamente aos processos reais."

ESCASSEZ - "É claro que em matéria econômica é sempre possível apontar problemas. Aliás, economia é a ciência da escassez (...) Se tivéssemos que administrar a abundância, não haveria o que fazer."

CEGUEIRA - "Uma coisa é a divergência honesta sobre qual é o melhor caminho a seguir. Outra coisa é manipulação de dados para mostrar que não há caminho, que está tudo indo mal, que está tudo piorando (...) Pode-se até divergir sobre os fatos. O fato em si mesmo não explica muito a coisa. É preciso contextualizá-lo (...) A única coisa que não ajuda é a cegueira. É quando se põe poeira na frente dos olhos. E o pior: quando se põe poeira na frente dos olhos do povo, e fica uma sensação de que não estamos caminhando."

CRESCIMENTO - "O crescimento da economia não foi o que se desejava. Que não foi o que se desejava, é verdade, mas não foi por causa da inflação, foi por outros fatores. Ainda assim, de 1993 a 2001, é só fazer os cálculos, o crescimento acumulado foi de 31%. Ninguém faz cálculos quando é a favor (...) Porque a média foi 2,7%, 3%... É baixa para o que nós queremos, mas foi contínua."

OUTRO LADO - "Até há quem fale de um outro modelo. Que modelo seria esse? Com obstáculos ao desenvolvimento? O que estamos fazendo é retirar os obstáculos ao desenvolvimento. Querem colocar? Querem um modelo desfavorável ao investimento? Como é que cresce, se o modelo não for favorável ao investimento? Querem aumentar a exclusão? Porque nós estamos é aumentando a inclusão (...) Não há um só indicador social, de acesso por parte da população, que não vá na direção da universalização."

NACIONALISMO - "Não aceitamos um falso nacionalismo, que leva o país para trás. O nosso é o nacionalismo de um país que quer ser grande para o seu povo e não grande para alguns aproveitadores de slogans."

INFLAÇÃO - "É fundamental manter a inflação sob controle. Se se imagina um outro modelo no qual a inflação não esteja sob controle, pobre povo! Porque quem paga o descontrole da inflação é o mais pobre. Só que paga sem saber o que está pagando. É o sofrimento diário. E aí é fácil expandir gastos sem nenhum controle."

INVESTIMENTO - "Recebemos, nos anos do real, US$ 150 bilhões sob a forma de investimentos diretos no setor produtivo. Quando eu era ministro da Fazenda (1993/ 1994) nós recebíamos US$ 1 bilhão no primeiro ano e US$ 2 bilhões no segundo (...) É uma mudança qualitativa extraordinária."

QUASE SUICÍDIO - "Sem dúvida, seria um quase suicídio pensar em fechar a economia outra vez, em fazer barreiras tarifárias e fazer com que haja algum setor protegido no Brasil. Protegido para quê? Para enriquecer o dono da empresa e empobrecer o trabalhador, que vai ter que comprar o produto mais caro e de pior qualidade. Esse tipo de desenvolvimento não quero para o Brasil."

PASSADO - "O Brasil precisa ter força própria. E força própria é capacidade de discernir, de escolher, mas não pode ser a capacidade de olhar para o passado só. O passado nos inspira para que possamos guardar o que dele foi bom e corrigir o que dele foi ruim. Mas ele não pode ser um peso para impedir que o Brasil enfrente o desafio do mundo atual."

IGNORÂNCIA - "A ignorância é a mão da pobreza. Não é possível avançar sem competência. Não é possível avançar sem que se tenha coragem de dizer as coisas como elas são."


Serra perde pontos em ranking do melhor na TV Tucano segue em 2º, Lula lidera e Garotinho sobe, mostra pesquisa por telefone

Na semana em que intensificou os ataques ao PT, o candidato José Serra (PSDB) perdeu pontos em ranking elaborado pelo Datafolha de qual candidato está fazendo a melhor propaganda no horário eleitoral gratuito na TV. No período, o único a ganhar pontos foi Anthony Garotinho (PSB).

O ranking faz parte do rastreamento eleitoral do Datafolha, uma série de pesquisas feitas por telefone para medir a opinião dos cerca de 54% dos eleitores brasileiros que têm o aparelho em casa.

Após pesquisa concluída anteontem, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) segue em primeiro no ranking. É considerado o melhor na TV por 36% dos entrevistados uma semana antes, era tido como o melhor por 34%.
No período, Serra caiu de 24% para 20%, e Ciro Gomes (PPS) ficou com 7%; Garotinho subiu de 6% para 10% e tende a se isolar em terceiro no ranking. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.

Numa comparação com as intenções de voto nos candidatos, verifica-se que as duas curvas de melhor na TV e de intenção de voto- têm tendências semelhantes.

Ou seja, quando um candidato melhora na TV, tende a melhorar sua taxa de intenção de votos.

No caso de Garotinho, sua melhora na TV não teve influência até aqui em seu desempenho nas intenções de voto. A pesquisa do domingo mostrou, inclusive, que sua tendência de alta nas intenções de voto parou.
Com as pesquisas desta semana, será possível ver se Garotinho consegue aproveitar o bom momento de sua imagem na TV e subir nas intenções de voto.


Serra diverge de Nizan sobre ataques ao PT
Em reunião, tucano e marqueteiro se desentendem e FHC intercede para apaziguar; candidato terá mais controle sobre programas de TV

Estagnado nas pesquisas há mais de duas semanas, o tucano José Serra decidiu fazer correções no programa de TV, interferindo nas decisões do marqueteiro de sua campanha presidencial, o publicitário Nizan Guanaes.
A Folha apurou que houve um desentendimento entre Serra e Nizan sobre a dosagem do ataque a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na TV. Nizan não gostou de Serra ter iniciado consultas a políticos, empresários e até a outros marqueteiros sobre a conveniência prática de continuar a atacar Lula pesadamente ou não.

Uma discussão teria ocorrido anteontem à noite, quando o candidato se reuniu em São Paulo com o publicitário Nelson Biondi, o coordenador de comunicação da campanha, João Roberto Vieira da Costa, e o cientista político Antônio Lavareda, que analisa pesquisas, além de Nizan.

O marqueteiro-chefe da campanha ficou contrariado com as críticas e com as consultas de Serra, vistas por como uma desautorização a seu trabalho. Tanto Nizan como Serra negaram ontem o desentendimento.
A Folha apurou que o presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado e intercedeu pessoalmente ontem para apaziguar os ânimos na campanha tucana.

Nizan foi o pai da estratégia de bombardeio pesado a petistas para atingir Lula, expediente criticado pela ala política da campanha -inclusive por FHC, que foi o maior fiador da entrada de Nizan na campanha de Serra.
FHC disse em conversas reservadas que foi um erro deixar o debate programático com Lula e partir para ataques diretos ao presidente do PT, o deputado José Dirceu (SP), e abordar diretamente a falta de diploma universitário do petista. Para FHC, Serra reforçou o carimbo de destruidor e não o de mais preparado.

Desde o meio da semana passada, quando aliados políticos de Serra manifestaram dúvida sobre a eficácia do bombardeio pesado a Lula, o clima começou a piorar. A última pesquisa Datafolha agravou as divergências. O levantamento mostrou aumento da chance de Lula vencer no primeiro turno. Lula subiu para 44%; Serra oscilou negativamente para 19%; Anthony Garotinho (PSB) atingiu 15% e Ciro Gomes (PPS) oscilou negativamente para 13%.

Agora, a campanha de Serra estria dividida entre atacar mais, opção defendida por Nizan, ou fazer uma propaganda mais propositiva, sem abandonar críticas dosadas a Lula. No sábado à noite, o tucano mudou o tom adotado anteriormente e foi propositivo.

Segundo um tucano próximo a Serra, a influência do candidato sobre o programa de TV tende a aumentar. Até a semana passada, Nizan tinha praticamente carta branca devido ao cacife conquistado com a forte campanha negativa que derrubou Ciro Gomes (PPS) do segundo lugar.

Atrito negado
A assessoria de imprensa da campanha negou ter havido atrito com Nizan. Segundo os auxiliares, ocorreram "discussões normais", e o programa de TV terá mudanças "pontuais".

Nizan não foi trabalhar ontem, quando Serra e auxiliares reestruturavam o programa que vai ao ar hoje, porque está doente e febril, informou a assessoria.

Além da correção de rumos na TV, Serra concentrará os últimos dias da campanha nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas e Rio. Objetivo: diminuir a diferença que tem em relação a Lula e a Garotinho.


Agenda sofre com atrasos e cancelamentos
Nos últimos quatro dias, José Serra deixou aliados e eleitores de Palmas (TO) aguardando em vão por mais de quatro horas num calor de 40C, cancelou na véspera uma visita que faria a três cidades de Minas Gerais e mudou na última hora roteiro de viagens programado para anteontem.

Ontem, Serra iria para Araxá, Uberaba e Patos de Minas para encontros políticos. Na noite anterior, quando a equipe de apoio de sua campanha já estava nas cidades, o comitê avisou que a viagem seria transferida para quinta-feira.

Maior foi o transtorno causado no Tocantins. O governador Siqueira Campos (PFL) mobilizou cerca de cem prefeitos e 2.000 pessoas para aguardar o tucano no aeroporto da capital desde às 12h de sexta-feira.

Somente às 17h, Serra telefonou para o governador e disse que o trânsito estava parado em São Paulo e que ele não poderia garantir quando chegaria.

A campanha de Serra havia elaborado uma agenda de viagens para anteontem que incluía quatro cidades do Rio Grande do Sul e terminaria em Campo Grande (MS). No sábado, o roteiro divulgado era outro: Serra foi para Guaxupé, Alfenas e Varginha.


PT obtém direitos de resposta contra tucano
O PT obteve no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) dois direitos de resposta no programa do presidenciável do PSDB, José Serra. Uma das decisões é favorável ao candidato petista à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, e a outra, ao presidente do PT, José Dirceu. Elas dependem de confirmação do plenário do tribunal.
O ministro-auxiliar José Gerardo Grossi autorizou a aparição de Lula no programa de Serra por causa da parte da propaganda tucana que comenta a exigência de diploma de curso superior para concurso de fiscal de rua realizado pela Prefeitura de São Paulo.

A outra decisão é do ministro-auxiliar Caputo Bastos, beneficia Dirceu e foi motivada pela exibição de uma declaração dele, dada em 2000, seguida de cenas de grevistas agredindo o então governador de São Paulo, Mário Covas, que morreu em 2001.

A expectativa do advogado do PT José Antonio Toffoli é que, no primeiro caso, Dirceu tenha duas respostas, de um minuto e 33 segundos cada uma, e Lula, um minuto. O número de aparições depende da quantidade de vezes em que o ataque foi feito.

Os dois ministros consideraram que, da forma como foram veiculados, os ataques implicaram ofensa ao Lula ou a Dirceu.

No caso do diploma, Grossi levou em conta a frase que foi dita em seguida pelo locutor: "Lula: ou ele esconde o que pensa, ou não sabe o que diz".

A exibição das cenas de Dirceu e das agressões a Covas já havia sido proibida por Bastos, mas a campanha de Serra divulgou uma versão modificada. A pedido de Dirceu, o presidente do TSE, ministro Nelson Jobim, reiterou a proibição, neste final de semana.

Desde 17 de setembro, quando a campanha do presidenciável tucano começou a atacar Lula no horário eleitoral gratuito, o PT moveu inúmeras representações no TSE. Foram contestados cinco dos seis programas de TV veiculados até sábado.

Serra está proibido, por liminar, de repetir a inserção que mostra cenas de Lula na campanha de 1998 prometendo criar 15 milhões de empregos, também acompanhadas da frase "Lula: ou ele esconde o que pensa ou não sabe o que diz".


Garotinho usa Rosinha em sua campanha no Sul
O presidenciável Anthony Garotinho (PSB) levou ontem sua mulher, Rosinha Matheus, para fazer campanha ao seu lado no Rio Grande do Sul. Foi a primeira vez que Rosinha, candidata do PSB que lidera as pesquisas ao governo fluminense, acompanhou o marido em eventos fora do Rio.

Ele justificou a presença de sua mulher dizendo: "Estava chovendo no Rio e ela não pôde fazer campanha. Se ela quiser vir comigo outra vez, será um prazer".

Com 15% da preferência do eleitorado e a quatro pontos percentuais de José Serra (PSDB), Garotinho pretende investir nas regiões Sul e Nordeste, onde apresenta seu pior desempenho eleitoral, mas continuará mantendo visitas periódicas a São Paulo e a Minas Gerais. Na região Sudeste, ele já aparece empatado com Serra na preferência do eleitorado.

Na visita ao Sul do país, Garotinho centrou suas críticas ao tucano. Para fustigar o peessedebista, Garotinho definiu a atual administração federal como "o governo Fernando Henrique/José Serra" e elencou uma série de estradas federais que considera em estado precário no Rio Grande do Sul: "As rodovias federais que cortam a região estão em uma situação deplorável. Todas destruídas. Isso é obra do governo do PSDB". O ex-ministro dos Transportes Eliseu Padilha (PMDB) é um dos principais coordenadores da campanha de Serra no Estado.
Assessores do presidenciável acreditam que ele se beneficiou dos pesados ataques de Serra a Lula na semana passada: "Garotinho passou a ganhar credibilidade. Hoje é o candidato mais capaz para enfrentar Lula no segundo turno", afirmou o deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ), coordenador financeiro da campanha.
Para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, a queda da rejeição a Garotinho e seu crescimento nas pesquisas são resultados diretos da exposição do candidato nos programas de TV e nos debates: "Conseguimos superar a campanha de desqualificação que a grande imprensa fez contra nossa candidatura e mostramos que Garotinho tem viabilidade eleitoral".

Mostrando que sua intenção é atacar o tucano para chegar ao segundo turno, Garotinho declarou ontem ter "o maior respeito pelo sr. Luiz Inácio Lula da Silva".

Garotinho elogiou o Datafolha. Segundo ele, é o único instituto con fiável por não vender pesquisas para bancos e entidades. Garotinho afirmou também ter solicitado uma auditagem sobre as pesquisas eleitorais para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Quando chegou ao Rio Grande do Sul, ainda na noite de anteontem, Garotinho citou um dos principais problemas gaúchos para fazer uma proposta que normalmente é sugerida para desenvolvimento das regiões Norte e Nordeste do país: disse que concederá incentivos fiscais à chamada ""Metade Sul" do Estado.
Típica de candidatos ao governo, que conhecem a realidade local, a proposta foi feita durante comício em Pelotas, a principal cidade da "Metade Sul".

A região é considerada um caso a parte no desenvolvimento do Estado, vista normalmente como um desafio. Pouco industrializada e mais afeita à pecuária e à agricultura, a "Metade Sul" é a parte mais pobre do Rio Grande do Sul.

A respeito das críticas feitas pela governadora do Rio, Benedita da Silva (PT), que acusou Garotinho e Rosinha de terem usado idéias do PT na campanha, o candidato do PSB disse não ter "resposta a dar a uma candidata que está tão pequenininha nas pesquisas".


Paulinho mudou para ser meu vice, afirma Ciro na TV
O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem, durante entrevista ao ""Jornal Nacional", que, para ser seu vice, o sindicalista Paulo Pereira da Silva (PTB), admitiu que a idéia de flexibilização da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) é ""errada".

""Sou a favor de modernizar a CLT, mas flexibilização podem entender como sinônimo de enfraquecer o poder dos trabalhadores", declarou Ciro. "[Paulinho] era [a favor], mas, para ser vice, inclusive concordou que essa era uma idéia errada", disse ao ser questionado sobre o tema.

O PDT de Leonel Brizola, um dos partidos da Frente Trabalhista que dá sustentação à candidatura Ciro, é contrário à flexibilização. A defesa de Paulinho da idéia era um dos principais impedimentos para que o pedetista concordasse com a indicação do sindicalista para a chapa.

Para ser aceito, Paulinho assumiu com o ex-governador o compromisso de promover uma "profunda discussão" antes de "qualquer alteração" na legislação trabalhista e de submeter eventuais mudanças a plebiscitos caso a população demonstrasse estar dividida sobre o assunto.

O sindicalista negou ontem constrangimentos pela declaração de Ciro. "Achei bom [o que disse o pepessista]. Modernização é exatamente o que eu quero, e essa é uma discussão que nem existe mais", afirmou Paulinho.
O presidenciável, que, segundo o Datafolha, ocupa a terceira colocação na preferência do eleitorado, também disse estar "cheio de cicatrizes de pancadas, mas vivo e animado" na disputa. Ainda atribuiu a fama de "pavio curto" a ataques e "impertinências" de adversários, criados com o objetivo de "desorientar" o eleitor.

Voltou também a lembrar que o presidente Fernando Henrique Cardoso se referiu aos aposentados como "vagabundos", afirmando ter sido "mal compreendido" pelas declarações polêmicas que, de acordo com seus aliados, custaram-lhe o segundo lugar nas pesquisas. "A forma como eu fui criado, no interior do Ceará, me dá uma linguagem que talvez no Sul ou no Sudeste não seja muito compreendida."

"O que acho, entretanto, é que essa fase passou. Agora, que o povo está caminhando para a decisão, rapidamente as pessoas estão percebendo que ninguém me atacou a honestidade, a seriedade das nossas propostas, a nossa competência", completou.

Afirmou acreditar, com base em levantamentos próprios, que há hoje um empate "muito tenso" por uma vaga para o segundo turno. Defendeu também o voto obrigatório e o ensino voluntário de religião nas escolas.
A entrevista rendeu média de 37 pontos de audiência à TV Globo, com picos de 38, segundo dados preliminares do Ibope. Cada ponto corresponde a 47 mil telespectadores na Grande São Paulo.

É a mesma audiência obtida com a entrevista concedida pelo pepessista em julho. A média do telejornal ontem foi de 36 pontos.

Após a entrevista, em uma churrascaria do Rio, o candidato disse que "a desvalorização do real é febre de uma infecção extensa, que está puxando de volta a inflação para o país", ao referir-se à alta recorde do dólar.
Nem a presença da mulher, da filha, da irmã, da mãe e da tia do presidenciável conseguiu empolgar uma caminhada do candidato pelo centro de São Paulo ontem.

O grupo passava sob gritos de "Lula, Lula" ou "Patrícia Pillar [mulher de Ciro], linda, eu te amo, mas voto é no Lula".


Para Alckmin, efeito Lula pode ser decisivo
PSDB acredita em subida do PT

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) admitiu ontem que o bom desempenho do presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas de intenção de voto poderá ser decisivo para a campanha em São Paulo.
Com 44% na última pesquisa Datafolha, Lula lidera a corrida rumo ao Planalto. Os tucanos paulistas acreditam que esse bom desempenho deverá motivar novo crescimento de José Genoino (PT) na reta final da disputa.

Questionado sobre a possibilidade de Lula "transferir" seus índices para Genoino, Alckmin mostrou preocupação: "Eu acho que tudo não, mas é evidente que ajuda. O PT tem um voto partidário, mas nós vamos cuidar da nossa campanha", disse o tucano.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra Alckmin com 31%, contra 29% de Paulo Maluf (PPB) e 22% do candidato do PT.

No PSDB, o maior temor é que Lula vença no primeiro turno e o segundo turno estadual seja disputado entre Alckmin e Genoino.


Após perder 11 pontos, Maluf vê estagnação
Ao analisar o resultado da última pesquisa Datafolha, Paulo Maluf, candidato do PPB ao governo paulista, fez ontem uma previsão otimista, apesar de aparecer com 29% das intenções de voto, 11 pontos a menos do que ele tinha em agosto. "Não vou cair mais", disse o candidato.

Nas pesquisas anteriores, do começo do mês e de agosto, Maluf tinha 35% e 40%, respectivamente. As percentagens garantiam a ele o primeiro lugar. Agora, Geraldo Alckmin (PSDB) aparece numericamente na frente.

Apesar do desempenho de Genoino, Maluf diz não crer na possibilidade de ter que disputar com ele uma vaga ao segundo turno.

Para o pepebista, se Genoino oscilar positivamente, ele tirará votos de Alckmin.

"O meu [desempenho] está estabilizado. O eleitor malufista é mais fiel, mais antigo, mais estático", disse o candidato pepebista.

O otimismo de Maluf, afirma o próprio candidato, vem de pesquisas encomendadas pelo partido. É baseado nelas que Maluf diz que vai ao segundo turno e que não tem que mudar nada na campanha.


Genoino vai manter os ataques contra tucano
A frente de campanha de José Genoino, candidato petista ao governo de São Paulo, não mudará de tática na reta final da disputa. O alvo petista continuará sendo só o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição.

A avaliação no PT é que atacar Paulo Maluf (PPB) não traria resultados práticos, pois os dissidentes do pepebista tendem a rumar para a candidatura tucana, que definiu por um discurso direitista para atrair esses votos.

De acordo com o presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, "a chegada de Genoino na casa dos 30% vai garantir sua passagem ao segundo turno, o que vai acontecer". Segundo ele, as críticas a Alckmin vão permanecer concentradas nos oito anos de administração tucana no Estado, "sem entrar na questão pessoal".
Ontem, durante panfletagem na zona sul de São Paulo, Genoino traçou os próximos passos de sua campanha. "Nós temos condições de crescer no eleitorado que vota no PT, no que escolheu o Lula para presidente da República e no que considera as administrações do PT com uma avaliação boa e ótima."


Artigos

Não dá para entender< /b>
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Eu, se fosse você, tomaria com o máximo de cuidado toda e qualquer análise sobre o cenário eleitoral, inclusive as minhas.

Explico: não dá para entender o tal de povo brasileiro, em especial a maneira como decide o seu voto.
Veja-se o caso de Luiz Inácio Lula da Silva. Na opinião quase consensual dos analistas, uma de suas principais vulnerabilidades é não ter formação escolar ou, para simplificar, diploma universitário.

Aí, vem o Datafolha e mostra que, no segmento que, sim, tem diploma universitário, Lula está com 53% das intenções de voto. Ou seja, quem já foi chamado estupidamente de "encanador" pelos adversários supostamente cultos (na eleição de 1994) seria, desde já, o presidente do Brasil, se só votassem os portadores de diploma universitário.

É verdade que Hélio Schwartsman, editorialista desta Folha que entende de quase tudo, diz que tal resultado é natural: nesse andar, o preconceito seria menor, porque a informação é maior.

Pode ser, mas a tendência natural de quem tem um dado nível de formação é a de querer como "chefe" alguém com um grau educacional/ cultural pelo menos igual.

Não é tudo: na eleição paulista, 20% dos eleitores que acham o governo Geraldo Alckmin "ótimo/bom" se dispõem a votar em Paulo Maluf. Esse dado nem o Hélio explica.

Por que diabos um cidadão que acha um governo tão bom não vota no titular desse governo, se ele é candidato? Pior: vota em Maluf, que diz que é uma droga o governo que o eleitor acha "ótimo/bom".
Seria fácil e tentador concluir, como o grande sociólogo Edson Arantes do Nascimento, que o brasileiro não sabe votar. Desconfio que é outra coisa: o andar de cima e o andar de baixo não falam a mesma língua. Podem, eventualmente, até coincidir no nome do candidato, mas chegarão a ele por motivações diferentes, às vezes até conflitantes.


Colunistas

PAINEL

Só falta você
Dirigentes petistas telefonaram para ACM no fim de semana a fim de sondar o pefelista sobre a possibilidade de ele apoiar Lula já no primeiro turno. O ex-senador disse que continuará oficialmente com Ciro, mas que pedirá publicamente voto a Lula caso haja segundo turno.

Direita bem-vinda
ACM afirma que votará em Lula no segundo turno se ele enfrentar Serra ou Garotinho. O cacique baiano prometeu ainda que seu grupo político -que pode eleger um governador, dois senadores e até 25 deputados- poderá dar apoio ao eventual governo petista.

Sinais
A coligação liderada por ACM fez uma carreata com cerca de 500 carros no último domingo em Salvador (BA). Muitas bandeiras e camisetas de Lula foram vistas entre os carlistas.

Guerra santa
Panfleto distribuído por evangélicos reclama que Brasília "está se transformando em um terreiro de candomblé", pois estátuas de orixás foram colocadas em um parque. Para mudar isso, diz o documento, só há uma solução: (eleger) Garotinho para presidente e Benedito Domingos (PPB-DF) para governador.

Fora do ar
Além de não ter surtido o efeito esperado, a estratégia de atacar Lula pesadamente no horário eleitoral gerou um temor no comitê de Serra: e se o petista obtiver direito de resposta e tirar o presidenciável da TV bem na reta final da campanha?

Efeito Lalau
Maria Aparecida Pellegrina, nova presidente do TRT-SP, procurará hoje Marco Aurélio (STF) e Francisco Fausto (TST) a fim de entregar a eles um documento com diagnóstico nada animador sobre as condições dos fóruns de SP. Pedirá apoio para a liberação de recursos para a obra do Fórum Trabalhista.

Esquadrilha do pó
A Polícia Federal reteve neste mês e está inspecionando 230 aviões suspeitos de estarem sendo usados pelo narcotráfico no Norte do país. Com autorizações judiciais, todos estão sendo examinados com um espectrômetro que consegue detectar vestígios de cocaína.

Força aérea
Dos 40 primeiros aviões investigados, 18 tinham traços de cocaína e foram apreendidos pela PF. Os proprietários serão processados criminalmente. O trabalho integra a Operação Cobra, que combate o tráfico na fronteira entre Brasil e Colômbia.

Nos tribunais
A 2ª Vara Federal do DF determinou a Ciro que explique a acusação de que há "corrupção generalizada" no Ministério da Saúde, feita durante o debate dos candidatos na TV Record. Após ser notificado, ele terá 48 horas para responder.

Futuro próximo
Desanimado com o desempenho de Ciro na campanha, o PTB já agendou reunião para o dia 8 de outubro, em Brasília, a fim de discutir qual posição adotará no caso de haver segundo turno na eleição presidencial.

Enigma
De Márcio França (PSB), coordenador da campanha de Anthony Garotinho, sobre Lula: "Ninguém mais sabe quem é e o que pensa o candidato do PT".

Esforço televisivo
O apresentador Ratinho, que tem pedido voto para Antônio Cabrera no horário eleitoral, também vai fazer campanha de rua. Participará hoje em Rio Preto de carreata do candidato do PTB ao governo paulista.

Visita à Folha
O deputado federal Celso Russomanno (PPB-SP) visitou ontem a Folha.

TIROTEIO

De Horácio Lafer Piva, presidente da Fiesp, sobre a disparada do dólar em razão do suposto efeito Lula (PT):
- Não tem sentido esse grau de tensão. Lula não deu nenhuma indicação sobre ruptura de contratos, ao contrário. Ele sabe muito bem que vai ter de respeitar o mercado e que o país de hoje não é o de 1994. O que está acontecendo com o dólar é uma insanidade.

CONTRAPONTO

Fumaça eleitoral
Fumante desde a adolescência, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, costuma colocar entre suas prioridades pessoais abandonar o vício.
Atualmente, o presidenciável fuma, em média, um maço de cigarros por dia. Já chegou a consumir três por dia.
Preocupado com a imagem, o ex-ministro da Fazenda faz questão de nunca se deixar fotografar ou filmar fumando.
Há cerca de dez dias, Ciro participou com correligionários de uma caminhada no Mercado Municipal de São Paulo.
Enquanto percorria as barracas, o candidato avistou uma eleitora que segurava um cigarro. Ciro não teve dúvida. Aproximou-se da eleitora e, tentando ser simpático, sugeriu:
- Vamos abandonar o cigarros juntos?
A eleitora retrucou na hora:
- Eu não. Estou muito feliz assim.


Editorial

PROTEÇÃO AO MANDATO

Após as eleições, o Congresso deve discutir a extensão do foro privilegiado para ex-autoridades. Ao que consta, o presidente Fernando Henrique Cardoso teme que, a partir do momento em que tiver deixado o cargo, se transforme em vítima de uma multiplicidade de processos em primeira instância motivados por questões políticas ou por vingança.

O temor tem fundamento. FHC, por exemplo, negou vários pedidos de aumento salarial a juízes. Mas instituir total proteção jurídica a um ex-presidente vai de encontro aos princípios republicanos. Tudo o que fizer após o fim do mandato deve receber da Justiça o mesmo tratamento dispensado a um cidadão comum.

O que faz sentido é encontrar uma fórmula de garantir que processos que versem sobre ações praticadas no exercício do cargo recebam sempre o mesmo tratamento. Não importa que a ação seja proposta contra um ex-presidente: se a peça questiona atos praticados enquanto presidente, caberia à Justiça se comportar como se processasse o próprio chefe do Executivo, com todas as garantias concedidas ao ocupante do cargo. Trata-se apenas de uma extensão lógica do princípio legal que já existe.

Há na Câmara um projeto de lei que pretende fazê-lo pela alteração do Código de Processo Penal. Há dois aspectos nessa proposição que podem gerar arestas jurídicas. A Constituição não menciona expli citamente a proteção a ex-autoridades; e restringe a proteção aos crimes comuns, enquanto o projeto quer estendê-la às ações de improbidade.

O meio mais eficaz de contornar essas dificuldades seria a aprovação de uma emenda constitucional. Mas, como dificilmente haverá condições políticas para fazê-lo até o final do ano, a solução mais prática será aprovar a mudança em lei ordinária e esperar que o Supremo não a derrube. Afinal, a extensão da proteção de foro a ex-autoridades -desde que relativa a atos praticados no exercício do cargo- é perfeitamente compatível com o espírito da Carta.


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09/24/2002


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