O fim de uma rebelião de doze dias
O fim de uma rebelião de doze dias
Com votos do PFL ''independente'', governo consegue aprovar com folga a prorrogação da CPMF na Câmara
Brasília - Durou 12 dias o rompante oposicionista do PFL. Ontem, depois de muitos sinais de recuo no afã antigovernista, o partido deu os votos necessários à aprovação da emenda que prorroga a CPMF até 2004. Por volta das 21h o painel eletrônico marcou 384 votos favoráveis, 55 contra e uma abstenção. Levantamento do líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), entregue à tarde ao ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Arthur Virgílio, mostrava que 86 dos 95 deputados do partido votariam com o Planalto. O placar antecipado provocou um diálogo entre os dois que em muito lembrava a boa convivência de pouquíssimo tempo atrás. ''Parabéns, Inocêncio. Quando acabar, vou aí lhe dar um abraço'', disse um amável Virgílio.
Pressionada por parlamentares de menor expressão, a cúpula do PFL não teve outra alternativa senão apoiar a votação da CPMF. As bancadas, interessadas em preservar recursos de emendas parlamentares e cargos federais, não estavam dispostas a continuar enfrentando o Planalto. Ameaçavam ir contra o comando - cena rara na história do disciplinado PFL.
Por conta dessa pressão, o PFL desistiu da CPI do Grampo, que investigaria denúncias de espionagem. Tampouco aceitou a o rótulo de representante da minoria no Conselho da República. E o senador José Sarney, pai de Roseana, amenizou o tom do discurso previsto para hoje no Senado. O ex-presidente ainda pediu ao PFL que não votasse o projeto da Lei da Mordaça - que estabelece punições para procuradores que vazam informações. Tudo em um só dia. Muito para um partido que há apenas duas semanas jurou ódio ao Planalto.
Inocêncio fora convidado pelo presidente da Câmara, Aécio Neves (MG) a ocupar o cargo de líder da oposição no Conselho da República. Pensativo, anunciou: o PFL não é governo, mas não é oposição. É independente. ''Estamos vivendo um impasse circunstancial. Não vamos radicalizar'', justificou.
O recuo em relação à Lei da Mordaça foi influenciado pela mobilização da Associação Nacional dos Procuradores. O projeto está no Congresso há três anos e voltou à tona pelo senador maranhense Bello Parga, aliado do clã Sarney. O ex-presidente pediu ao colega que deixasse a relatoria e divulgou nota condenando a proposta de punição ao Ministério Público.
O governo comemorou . Negociou de tudo um pouco. Além de verbas e cargos, acertou a retirada de pauta do projeto de lei que altera a CLT. Pode até convencer o PSDB a tentar mudar, no Congresso, a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que exige simetria nas coligações partidárias nacionais e estaduais.
A prova do fim da rebelião aconteceria pouco antes das oito horas, quando a Câmara aprovou o texto final da primeira votação da CPMF. Foram 362 a favor e 53 contra. Era simbólico, mas suficiente. Uma emenda constitucional precisa de 308 votos de deputados para passar.
O PFL promete novas parcerias com o governo: o pacote de medidas para a segurança pública, o fim da cumulatividade dos impostos e a volta da fidelidade partidária. Pauta definida pelo Planalto. O partido tenta, contudo, manter a pose. O líder no Senado, Agripino Maia (RN), recusou a redução dos prazos para a votação da CPMF no Senado. E apresentará emendas à poposta. O governo acredita que vencerá as resistências até amanhã. Pretende votar a emenda no Senado em duas semanas.
PT tropeça no caminho das parcerias
BRASÍLIA - O PT deve chegar à eleição de outubro abraçado aos ''companheiros'' de sempre. A disposição do candidato Luiz Inácio Lula da Silva de formar alianças como estratégia para evitar as derrotas dos últimos 13 anos é firme, mas os principais dirigentes petistas não sabem onde começar a buscar apoio.
''Não dá para ir com o PL. Teremos de justificar uma aliança, coisa que o PT nunca fez'', diz o deputado Walter Pinheiro (BA), ex-líder do partido na Câmara. Pinheiro acredita que antes de recorrer ao PL, o PT deveria procurar ''caminhos naturais''. Esse é o drama dos petistas. Tais caminhos estão trancados.
Ontem à tarde, enquanto o deputado baiano falava em alianças, o presidente do PDT, Leonel Brizola, vice de Lula em 1998, divertia-se com números das eleições municipais de 2000. Mostravam que os partidos da Frente Trabalhista (PDT, PPS e PTB) fizeram, juntos, cinco vezes mais prefeitos que o PT (851 contra 185). ''Somando os votos, fizemos 15 milhões. E o PT ficou nos 12 milhões'', comparava Brizola. ''Não precisamos do PT.''
O PSB do governador do Rio, Anthony Garotinho, outro que sempre esteve ao lado do PT, também parece distante. Garotinho adiantou que só pretende fazer alianças num eventual segundo turno.
O PT, como as demais legendas, está amarrado à determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que obriga os partidos a repetir nos Estados as coligações presidenciais. Só depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmar ou não a validade da regra, o partido tentará uma aproximação. ''Alianças de primeiro turno estão complicadas, mesmo com o PSB. Precisaríamos nos acertar em 27 estados'', desanima-se o deputado Aloizio Mercadante.
Jarbas diz o ''sim'' para Serra hoje
Governador de Pernambuco aceitará ser candidato a vice na chapa do tucano. PSDB e PMDB vão firmar a aliança
BRASÍLIA - O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, reúne-se hoje com o candidato tucano José Serra para anunciar que está disposto a compor a chapa do PSDB como vice. Quer, contudo, que o partido cumpra um ritual e formalize o convite até 5 de abril - data-limite para deixar o cargo, seja para concorrer à reeleição, seja para se juntar à campanha de Serra.
Jarbas acredita que o PFL voltará a integrar a base parlamentar do governo. Por isso, se disputar a Vice-Presidência, cederá ao PFL a cabeça de chapa ao governo de Pernambuco, além de uma vaga ao Senado - posto com candidato certo, o atual vice-presidente, Marco Maciel. Ontem, Jarbas almoçou com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), reuniu-se com Maciel e com o presidente nacional do PSDB, deputado José Anibal (SP).
Se os entendimentos avançarem em Pernambuco, a coligação para a sucessão de Jarbas será mantida com o PMDB, PFL, PSDB e PPB. Apesar de o Tribunal Superior Eleitoral ter obrigado os Estados a respeitar as alianças nacionais, Jarbas garantiu que em Pernambuco fará ''coligação branca, azul, ou roxa''.
Condições - Antes do sim definitivo, exige mais firmeza dos tucanos. ''Há perspectiva real de aliança com o PSDB, mas não adianta só o presidente Fernando Henrique ficar falando nos bastidores que deseja meu nome'', observou. ''Queremos o convite oficial.'' O presidente do PMDB também insiste no cumprimento de um calendário. Primeiro, convite oficial em solenidade pública. Depois, a Executiva Nacional do PMDB examinaria o convite. Só então o partido consultaria os presidentes dos diretórios regionais e municipais e realizaria uma convenção em maio para dar o sim à composição. E em junho, outra convenção formalizaria a aliança.
Apesar disso, nem todos no PMDB estão satisfeitos. O senador Roberto Requião (PR) admitiu ontem que poderá ser candidato do PMDB à Presidência para evitar a ''comercialização da legenda''. Hoje, o grupo oposicionista da legenda se reúne, em Brasília, para pressionar o governador de Minas, Itamar Franco, a decidir se concorrerá ao Planalto ou à reeleição.
Os oposicionistas temem que Itamar aceite ser vice de Serra. Os dois vêm conversando com freqüência nos últimos tempos. ''Faz bem ao coração de Itamar quando Serra cita o seu nome em discursos atribuindo-lhe responsabilidade pelo Plano Real'', contou o senador Pedro Simon, outro interessado no PMDB em disputar o Planalto.
Serra e o líder do PMDB, Geddel Vieira Lima, comemoraram aniversário ontem. A coincidência motivou brincadeiras sobre a identidade dos dois partidos. ''O destino nos une até no aniversário, mas cabe a Anibal dar a benção final'', brincou Geddel.
Remédios sob alerta
Governo divulga lista de medicamentos que podem até matar doentes de dengue
BRASÍLIA - Quase três meses depois do início da epidemia de dengue, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu condicionar a veiculação da publicidade de cerca de 100 medicamentos vendidos no Brasil à divulgação de um alerta sobre o risco do consumo por pessoas infectadas pela dengue. Algumas das marcas mais populares do País, vendidas sem receita médica, estão na lista dos remédios que contém o ácido acetilsalicílico na fórmula. Essa substância reduz a agregação das plaquetas do sangue, o que faz aumentar o risco de hemorragias.
Aspirina Infantil, Doril, Coristina D, Engov, Buferin e Sonrisal estão nesse caso. A maioria deles é usada para tratar sintomas semelhantes aos da dengue, como dores no corpo e febre, provocados por gripes e resfriados. Pela determinação da Anvisa, os laboratórios só poderão veicular propagandas quando incluírem o alerta sobre o perigo da ingestão nos casos de dengue. A medida foi considerada correta, porém tardia. ''A dengue está aí há mais de dois meses e só agora a Anvisa decidiu tomar providências'', critica Antônio Barbosa, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Distrito Federal.
''O número de pessoas internadas com hemorragias no País é muito grande, esses remédios só deveriam ser vendidos com prescrição médica como acontece em outros países'', diz Barbosa. A Agência determinou que as campanhas publicitárias que mencionem sintomas semelhantes aos da dengue contenham, em destaque, a advertência vital aos consumidores. Mesmo assim o presidente do Conselho não acredita em nenhum impacto sobre o consumo desses produtos.
Em portadores do vírus da dengue, a ingestão pode causar hemorragia. Nos casos em que a manifestação da doença já é hemorrágica, provoca a morte. Na televisão, os comerciais deverão exibir a advertência sobre os riscos em fundo preto com letras brancas. Em rádios, uma locução diferente da utilizada na propaganda deve fazer o alerta logo depois do término do anúncio.
Os limites das coligações
Brindeiro dá parecer favorável à aliança para partidos sem candidato a presidente
BRASÍLIA - O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, defende a liberação de partidos políticos para formalizar alianças estaduais, desde que não tenham lançado candidato próprio à Presidência da República e não integrem coligação com outras legendas no plano nacional. Brindeiro encaminhou seu parecer ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No mês passado, o tribunal tornou obrigatória, por meio de resolução, a manutenção das alianças costuradas para a Presidência nas eleições estaduais.
A opinião de Brindeiro já chegou às mãos do ministro Fernando Neves, relator das consultas sobre o pleito de outubro, no TSE. É ele quem vai responder às consultas feitas pelo PPB e por um grupo de sete pequenos partidos (PHS, PSDC, PGT, PSL, PTN, PT do B e PST). A posição de Geraldo Brindeiro só será analisada depois de amanhã, em uma sessão administrativa do mais elevado tribunal eleitoral do País.
O chefe do Ministério Público também se manifestou a respeito de outras dúvidas relacionadas com a obrigação de respeitar as coligações nacionais no plano estadual. Para o procurador-geral, se um partido tem candidato próprio a presidente e não participa de nenhuma coligação de âmbito nacional, pode realizar livremente alianças com partidos diferentes nos Estados.
Isso vale tanto para as eleições majoritárias (governadores e senadores) quanto para as proporcionais (caso dos deputados federais, estaduais e distritais). Segundo Brindeiro, a Lei das Eleições, elaborada no ano de 1997, ''não estabelece nenhuma vedação'' a esse tipo de coligações. Pelo contrário. ''Antes faculta a diversidade das coligações nas eleições proporcionais, dentro da mesma circunscrição''.
Na opinião do procurador-geral da República, os partidos que fazem parte de alianças para as eleições presidenciais podem formar coligações distintas nas eleições proporcionais (deputados federais e estaduais) com partidos que compõem o grupo majoritário nos Estados e no Distrito Federal. Neste caso, Geraldo Brindeiro discorda da resposta-decisão do TSE.
''Não nos parece possível forçar os partidos a lançar candidatos a governador'', opina. ''Assim, os partidos políticos que participam de coligações para as eleições presidenciais podem, nos Estados e no Distrito Federal, ao reproduzir tal coligação para as eleições majoritárias, lançar candidatos apenas ao Senado Federal''.
Ministro critica general do Exército
Único negro em tribunais superiores lamenta decisão de oficial que não puniu racismo porque crime não consta do Código Militar
BRASÍLIA - O ministro Carlos Alberto Reis de Paula, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) - único negro integrante de um tribunal superior brasileiro - considera ''surpreendente e lamentável'' a afirmação do general Paulo Roberto Laranjeira, comandante da 1ª Divisão de Exército, de que não lhe cabe apurar denúncia de racismo, ''porque o Código Penal Militar (CPM) não tipifica esse crime''.
O JB revelou ontem que o capitão do Exército Ailton Moraes Barros - negro - denunciou ao Ministério Público Federal oficiais da Força por racismo. Para o ministro Reis de Paula, o capitão Ailton ''fez muito bem''. ''Racismo é crime previsto na Constituição, e regulamentado no Código Penal'', disse. ''A circunstância de o CPM não tipificá-lo não significa que o Ministério Público não tenha obrigação de apurá-lo''.
O ministro explica que crimes contra a ordem pública, como o racismo, devem ser denunciados ao MP por quem tomar conhecimento deles. ''Quem não informa age como alguém que sabe de um homicídio e não o comunica.'' Reis de Paula considerou ''infeliz'' a observação do general de que ''temos até general negro''. ''O Exército deve se sentir honrado em ter um general negro - Jorge Alves de Carvalho, que servia com o general Alberto Cardoso, no Gabinete de Segurança Institucional da Presidência -, mas deveria se interrogar por que tem apenas um general negro''.
Para Reis de Paula, dizer que no Brasil não existe racismo ''é uma visão sociológica vinda de Gilberto Freyre, hoje totalmente superada''. Laranjeira disse que, em sua opinião, não há racismo no País.
Artigos
Vazamento ou retaliação
Carlos Frederico Santos
A propósito das recentes notícias jornalísticas questionando a possibilidade de vazamento de informações sobre a busca e apreensão ocorrida na sede da empresa Lunus, na cidade de São Luís (MA), é imperioso observar que é despropositada qualquer tese no sentido de que fontes do Ministério Público Federal teriam fornecido à imprensa dados sigilosos sobre a diligência.
O sigilo da medida era, como de fato foi, essencial para o seu resultado. O eventual ''vazamento'' da diligência poderia comprometer sua efetividade, em prejuízo do trabalho desenvolvido pelo Ministério Público Federa, o que seria absolutamente incompatível com a pretensão apresentada à Justiça Federal pela Procuradoria da República no Tocantins.
Quanto ao resultado da diligência, faz pouco sentido impor-se o sigilo, até porque a própria decisão judicial que determinou a busca e apreensão assinalou que, tão logo fosse efetuada a medida, ficaria reti rado o caráter sigiloso da demanda.
Ora, não se deve confundir o sigilo da diligência - essencial à sua realização - com o sigilo quanto ao conteúdo das caixas que ora se encontram lacradas na sede da Procuradoria Geral da República. Cumprida a medida judicial de apreensão, não há mais sigilo.
Em linhas gerais, os autos de busca e apreensão não se submetem a sigilo após a efetivação das medidas judiciais, salvo em situações excepcionais determinadas pela própria Justiça.
É exatamente por isso, a título de exemplo, que nada há de irregular na corriqueira divulgação de imagens de armas e entorpecentes produzidas após operações policiais. O mesmo princípio se aplica às imagens do dinheiro encontrado na Lunus.
Não é demais se reafirmar que todas as investigações relativas às fraudes contra a Sudam estão sendo feitas à luz do princípio da legalidade. A sociedade tem o constitucional direito de manter-se informada sobre os acontecimentos que dizem respeito ao destino do dinheiro público, de acordo com os limites legais da publicidade, os quais estão sendo rigorosamente respeitados pelo Ministério Público Federal.
Em meio à celeuma estabelecida em torno do caso, pode-se perceber, sim, as atitudes de segmentos políticos interessados em cercear, desacreditar e silenciar as ações dos procuradores da República.
Coincidência ou não, após os recentes acontecimentos, ficou no ar o tom de retaliação ao Ministério Público Federal, com o surpreendente retorno da tramitação do projeto de lei que impõe silêncio fúnebre aos agentes públicos, em detrimento dos interesses da sociedade de manter-se informada e ciente dos fatos relacionados com a coisa pública, projeto esse conhecido popularmente como ''Lei da Mordaça''.
O povo brasileiro não merece ser penalizado com uma lei que contribua para a impunidade no país e que foi apresentada como resposta aos trabalhos desenvolvidos pelos procuradores da República na defesa do patrimônio público e na busca da punição de autoridades que não honram os cargos que exercem e que desenvolvem suas funções de forma criminosa e ímproba.
A Associação Nacional dos Procuradores da República, atenta ao desenrolar dos acontecimentos, continuará defendendo a livre atuação do Ministério Público Federal, com a mesma postura isenta e estritamente profissional com a qual atuam os procuradores da República.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
O altar da divindade
Por mais inadequados e extemporâneos que tenham sido os motivos do senador Eduardo Suplicy para insistir em disputar, em prévias, a indicação do PT para concorrer à Presidência da República, e por mais expressiva que seja a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, a ser anunciada hoje, uma mudança na ordem das coisas petistas esse fato provocou: Lula desceu do altar das divindades intocáveis ao ficar explícito, em números, que ele não é uma unanimidade no partido.
Se, de um lado, o naco de votos que obteve Suplicy arranha pouco o mito, de outro imprime certo toque de normalidade ao PT, pois, convenhamos, que é meio estranha essa história de um partido passar a vida na dependência de uma única liderança. Ainda mais um partido que dispõe de quadros suficientemente competentes espalhados hoje por governos, prefeituras e poderes legislativos, tanto estaduais quanto federal.
Não fosse a certa embolada que o senador Suplicy fez entre o profissional e o pessoal, ao atribuir à cúpula do partido parcela de responsabilidade por sua separação da prefeita Marta Suplicy e vir a retomar o assunto da disputa quando a candidatura de Lula já estava consolidada, a iniciativa do embate seria em tudo e por tudo saudável.
O problema é que ele deixou transcorrer mais de ano entre o momento em que manifestou pela primeira vez publicamente a vontade de testar a liderança de Lula e a sua própria, e a operacionalização dessa intenção. Foi esta que veio tardiamente e provocou péssimas reações internas contra o senador.
Mas, como já está feito, mais útil que examinar razões do coração alheio é analisar conseqüências objetivas da política. E estas foram positivas. Notadamente porque abriram a trava do constrangimento, que sempre tomou conta dos possíveis postulantes ao cargo de concorrente ao Planalto.
Há uma expressão bastante grosseira para definir essas coisas que acontecem pela primeira vez, mas, exatamente pela grosseria da referida, deixemo-la de lado. Mas, de toda forma, foi o que aconteceu.
O algo exaltado estado de espírito do senador talvez tenha tido o condão de impedir - caso Lula perca mais uma vez - que se repita a cena ocorrida em 1999, uma reunião entre José Dirceu, Cristovam Buarque, Tarso Genro, José Genoíno, Aloísio Mercadante, o próprio Lula e a memória agora claudica a respeito da presença ou não de Eduardo Suplicy. Não importa.
Mas o fato é que há duas versões a respeito desse encontro. A contada por José Dirceu dá conta de que ali Lula abriu aos outros a possibilidade de postularem a indicação e ouviu de cada um a preferência por outros projetos. Tarso Genro e José Genoíno, no entanto, entenderam diferente: ficaram com a nítida impressão de que na realidade não havia espaço para nada disso, e encolheram-se todos diante da evidência de que Lula queria mesmo era continuar sua carreira de candidato.
Como, aliás, continuou, sempre dizendo que estava à disposição do partido, mas que sua decisão dependia de certas condições de clima e temperatura interna e externa. A externa foi diferente todas as vezes, e nem por isso Lula abriu mão. A interna, a partir de agora e a depender de seu desempenho nessa campanha, por ter sofrido pequena alteração, não deixou de apresentar mudança significativa.
O partido, ficou evidente, sai dessa prévia diferente do que entrou. O decorrer e o resultado da campanha demonstrarão se Lula se adapta à nova situação ou se continua o mesmo, estático em sua condição de divindade.
Filho único
Ao completar 60 anos ontem, José Serra permaneceu em São Paulo enquanto em Brasília o PMDB e o PSDB negociavam a mil a vaga de vice, cujo candidato preferencial - dele e das torcidas de ambos os partidos - é o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos.
Para quem estranhava sua ausência da capital em momento tão importante, Serra informava: ''Não esqueçam de que é meu aniversário, sou filho único e minha mãe não pode viajar.''
De mais a mais, a decisão sobre o vice depende única e exclusivamente de Jarbas. O que Serra tinha de dizer para que ele aceite o convite já foi dito há muito.
Socorro acadêmico
Uma das mais tradicionais instituições no ensino de pós-graduação em Sociologia e Ciência Política, o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - Iuperj - está à beira do colapso financeiro.
Depois de 30 anos, os professores do instituto, ligado à Faculdade Candido Mendes, se vêem na contingência de considerar a hipótese de fechar as portas. Além dos salários atrasados, ainda não viram a cor do 13ø do ano passado e muito menos têm notícias de que estejam sendo feitos os depósitos do FGTS.
Como haverá concursos públicos para universidades federais, a direção do Iuperj teme inevitável êxodo de professores.
Editorial
CORAGEM DE MUDAR
No rol das concessões feitas pelo governo para aprovar a CPMF foi incluído o adiamento da votação no Senado das mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho. O projeto já foi aprovado na Câmara mas enfrenta resistência dos partidos de oposição, que convenceram o governo a empurrar com a barriga a decisão final sobre a CLT. ''Somos a favor de reformar a CLT mas temos de reconhecer que a oposição veio com algo ideol ógico, não veio com nenhuma barganha. Foi muito correta'', justificou-se o secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio Neto. A oposição pode ter sido correta, mas o adiamento é oportuníssimo. Conta com a simpatia da esquerda e também da situação.
Neste ano de sucessão presidencial, eleição de governadores e renovação de mandatos de senadores e deputados, a flexibilização da CLT é tema incômodo para quem terá de sair às ruas atrás de votos. A maioria dos parlamentares reconhece que a legislação em vigor está ultrapassada, mas ninguém está disposto a pôr o guizo no pescoço do gato. Acredita-se que a opinião pública não está convencida das vantagens de atualizar a legislação que se tornou a marca registrada da Era Vargas. Afinal, pela iniciativa que garantiu direitos básicos aos trabalhadores, Getúlio Vargas até hoje desponta em pesquisas como o melhor presidente que o país já teve. Deu um tiro no peito e assegurou lugar na História.
Véspera de eleição pode não ser o melhor momento para desafiar o fantasma de Vargas. Entende-se, portanto, o consenso em torno do acordo que transfere a votação da CLT para depois de outubro. Mas o ideal é que se aproveite o adiamento para conquistar a parcela da sociedade refratária à necessidade de mudar a legislação trabalhista. Ao invés de temer reações negativas, o governo e a classe política deveriam expor a questão com toda a clareza. O país se modernizou e não pode ficar com mãos e pés atados a um conjunto de normas que tem origem na década de 40. O excesso de exigências trava o mercado de trabalho. Se todos defenderem as mudanças com a coragem do presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, as resistências certamente cairão por terra. ''É vontade do povo brasileiro mudar a CLT. Não estamos diminuindo ou acabando com direitos, e sim flexibilizando algo que está assim há 50 anos'', diz o metalúrgico Paulinho.
Parece exagero da Força Sindical, porém, mesmo na seara da Central Única dos Trabalhadores (CUT), dirigentes sindicais começam a pender para a flexibilização. A retórica esquerdista está cedendo lugar à realidade da economia. Em São Paulo, negociações diretas entre patrões e empregados têm salvado milhares de empregos. São muitos os casos em que o enfoque menos rígido da jornada de trabalho e do 13° salário, além de preservar a mão-de-obra, garante ganhos de produtividade. Graças à visão realista, as empresas progridem e os trabalhadores também. Acima de qualquer ideologia, a missão de um sindicato é defender o interesse da categoria profissional que representa.
Se os efeitos da flexibilização da CLT são positivos (e a prática está mostrando que sim), a CUT trai seus objetivos estatutários ao marchar na contramão dos fatos. Tem razão o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte de Campinas, Mário de Oliveira Santana, que fala em nome de 25 mil associados e tomou a decisão de se desligar da CUT: ''Eles só criticam e não apresentam solução''.
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03/20/2002
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