Candidatos exploram rebelião na campanha
Candidatos exploram rebelião na campanha
Marqueteiros dos principais candidatos ao Planalto pretendem exibir a violência no presídio carioca durante horário eleitoral. Comando petista tenta afastar repercussão negativa do episódio da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva
Às 9h15, quando Fernandinho Beira-Mar hasteou uma bandeira no telhado de Bangu 1, cardeais da política brasileira já percebiam que o motim tinha tudo para virar caso eleitoral. O carmim do tráfico poderia ser misturado ao vermelho petista — ou a qualquer outra cor, bastaria definir um alvo.
Em pouco tempo, a violência da rebelião transformou-se em munição para políticos na campanha eleitoral. Marqueteiros dos quatro principais candidatos ao Planalto passaram o dia de ontem reunidos para avaliar a melhor forma de tratar — e evitar — o tema no horário eleitoral gratuito.
Em Brasília, assessores do candidato governista José Serra (PSDB) reuniam material sobre a violência carioca para o programa eleitoral. Se a munição for usada, o alvo principal será Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a partir da atual administração petista de Benedita da Silva, no Rio.
Em entrevista, ontem, Serra disparou: ‘‘A criminalidade está ganhando espaço no Rio porque o Estado assim o quis.’’ Ele não especificou se o governo estadual seria o culpado pela violência em Bangu 1. ‘‘(Mas) não há motivo para permitir que bandidos usem celular e dirijam o crime das cadeias.’’
A estocada de Serra faz parte da estratégia de marqueteiros tucanos, que pretendem polarizar a campanha com Lula. Mas, ao mesmo tempo em que atacava, Serra foi obrigado a defender o governo federal. ‘‘(A rebelião) é resultado da legislação, que obrigou a transferência de Beira-Mar de Brasília para o Rio.’’
Transferência
Outro que antecipou os golpes foi o ex-governador do Rio e atual candidato ao Planalto, Anthony Garotinho (PSB). Ele criticou os governos federal e estadual. ‘‘Enquanto fui governador, o Ministério da Justiça não teve coragem de transferir o Beira-Mar de Brasília para o Rio de Janeiro.’’
Garotinho afirmou que a transferência do bandido, que estava na Superintendência da Polícia Federal no final da Asa Sul, foi feita sem o conhecimento de Benedita. ‘‘Foi ela quem me disse. Irresponsabilidade dos dois, de quem mandou e de quem aceitou Beira-Mar.’’
Mas Garotinho também pode sofrer acusações por parte dos petistas, afinal administrou o governo do Rio por três anos. Ontem, porém, os petistas estavam mais preocupados com a repercussão do episódio na campanha de Lula. O comando do partido discutiu ao longo do dia os possíveis desdobramentos da rebelião. Lula, sem muito o que fazer ontem, defendeu a invasão do presídio.
Recomendação
No final da manhã, uma recomendação foi repassada à governadora Benedita: era necessário um equilíbrio preciso na ação da polícia. Ela não poderia parecer frouxa com a situação, mas também não poderia exagerar na violência na repressão à rebelião em Bangu 1. O maior pesadelo para os petistas era a possibilidade de repetição de um cenário semelhante ao do massacre do Carandiru em São Paulo, ocorrido em 1992.
Líder das pesquisas de intenções de votos para o governo do Rio, Rosinha Garotinho (PSB) não poupou Benedita. ‘‘Há uma grande omissão e uma falta de comando na atual administração do Rio de Janeiro’’ atacou. ‘‘Essa falta de comando ficou clara quando se permitiu que trouxesse o traficante Fernando Beira-Mar para Bangu 1.’’
Benedita foi diplomática. Determinou que a Polícia retomasse o controle do presídio de segurança máxima Bangu 1, dez horas depois do início da rebelião. Depois, comunicou a decisão ao presidente Fernando Henrique Cardoso. No mesmo momento, os marqueteiros de Ciro Gomes (PPS) avaliavam a forma para expor a rebelião no programa eleitoral.
Polícia investiga briga em comício
Oito pessoas ficaram feridas durante evento promovido por Benedito Domingos em Riacho Fundo. Elas acusam militantes de Joaquim Roriz de provocar o tumulto. Delegado vai intimar funcionários da Administração Regional
A Polícia Civil começa a ouvir hoje os oito cabos eleitorais do candidato Benedito Domingos (PPB) agredidos na noite de terça-feira no Riacho Fundo. Os militantes dizem que simpatizantes do governador Joaquim Roriz (PMDB) provocaram a pancadaria. A confusão começou às 21h, durante um comício de Benedito Domingos no estacionamento da Administração Regional da cidade.
Nenhum dos oito feridos durante o incidente mora no Riacho Fundo. São cabos eleitorais recrutados pelo comitê para divulgar comícios e outras atividades do candidato. Os agredidos foram Marcos Paulo Barbosa, 18 anos; Melkson Cesário da Silva, 24; Adriano Ferreira dos Santos, 22; Gustavo Fernandes Cruciol, 17; Carlos dos Santos Souza, 23; Maria Cleide Bastos, 35; Sheila Maria Figueiredo, 26; e Josiel Canuto Júnior, 37.
O motorista Josiel Canuto foi o mais atingido pelas agressões. Sofreu fratura de costelas, luxação no braço direito e hematomas no rosto. Os outros sofreram escoriações leves. Depois de ser atendido no Hospital de Base, Josiel foi ao Instituto Médico Legal para fazer exame de corpo de delito.
O motorista passou o dia de ontem deitado, com dores nas costas. Durante a manhã, urinou sangue duas vezes. ‘‘Eles me deram uma rasteira, e eu caí no chão. Depois me encheram de socos e chutes nas costas e na boca. Acertaram meus rins, e vou voltar para o hospital.’’
Josiel deve ser testemunha importante para a polícia. Ele diz ser capaz de reconhecer dois dos agressores como agitadores de bandeiras que trabalham para o comitê de Roriz no Riacho Fundo. ‘‘De tarde, eles vestiam camisas com o nome do governador e agitavam bandeiras. À noite, trocaram de roupa e foram lá bater na gente’’, lembra.
O delegado-chefe da 29ªDP, João Emílio Ferreira de Oliveira, ainda não tem elementos suficientes para determinar os autores da agressão. ‘‘É preciso ouvir as vítimas para que elas apontem pistas sobre os responsáveis.’’
Disputa
Cabos eleitorais dos dois candidatos trocaram provocações e xingamentos durante a tarde. A confusão começou por volta das 16h. Enquanto aliados de Joaquim Roriz irritavam os opositores com bandeiras e palavras de ordem, simpatizantes de Benedito Domingos usavam um carro de som para chamar o governador de corrupto.
Pouco antes das 18h, os dois grupos chegaram a distribuir pedradas na área próxima à Administração Regional. A turma do deixa disso conseguiu acalmar os militantes.
Cada grupo foi para seu lado. Mas — segundo integrantes do comitê de Benedito — os apoiadores de Roriz prometeram voltar para acabar com a festa. O argumento seria de que Riacho Fundo é território eleitoral do governador. Ainda segundo o comitê pepebista, 30 pessoas teriam participado do espancamento.
O comitê de Roriz na cidade nega participação na pancadaria. ‘‘Houve um desentendimento no final da tarde, mas tudo foi contornado sem violência. Não temos envolvimento na agressão’’, garante Raimundo Machado dos Santos. Ele é integrante do comitê rorizista na cidade e servidor da Administração Regional.
A ocorrência policial registrada na 29ª DP traz o nome de Machado e de outras três funcionárias da Administração do Riacho Fundo como supostos participantes no incidente. Eles negam a acusação.
Serra vira segundo sem sair do lugar
A queda de Ciro faz o candidato do PSDB ultrapassá-lo. Serra mantém, no entanto, o mesmo percentual da rodada anterior. Melhor para Lula, que cresce em primeiro, e para Garotinho, que entra na briga para passar ao segundo turno
Muito mais pelos problemas do candida to do PPS, Ciro Gomes, do que por seus próprios acertos, o candidato do PSDB, José Serra, chega ao segundo lugar na pesquisa de intenção de voto Vox Populi/Correio. Serra ultrapassou Ciro sem sair do lugar. Tecnicamente, porém, os dois permanecem empatados. Na nova rodada, realizada nos dias 10 e 11 de setembro, Serra manteve os mesmos 19% da pesquisa anterior, dos dias 1 e 2. Ciro Gomes caiu três pontos, passando de 20% para 17%. O fato de Serra ter chegado ao segundo lugar estacionado no mesmo patamar torna ainda mais confortável a situação do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que subiu de 36% para 39%. Além dele, subiu também Anthony Garotinho, do PSB, de 9% para 12%.
A pesquisa do Vox Populi repete um dado que já demonstravam as últimas pesquisas dos institutos Ibope e Datafolha: Serra parece ter dificuldades de se afastar dos 20%. O percentual mais alto conquistado por ele foi 23% na rodada de março do Vox Populi, beneficiado principalmente pelas denúncias contra a então candidata do PFL, Roseana Sarney. ‘‘Aquela, era, portanto, uma condição especial para ele. É claro que nada é definitivo, mas os 20% parecem ser uma barreira para Serra’’, afirma o presidente do Vox Populi, Marcos Coimbra.
Para Coimbra, o dado é significativo principalmente se comparado à ascensão de Lula. Como também cresce o quarto colocado, Anthony Garotinho, do PSB, não é impossível que Lula termine o primeiro turno assistindo a um empate triplo entre os seus adversários. ‘‘Comparando as três pesquisas desta semana e a evolução dos percentuais, Lula já se consolidou em uma posição em torno dos 40%’’, afirma.
Para Coimbra, ‘‘afirmar que Lula tem possibilidades de vencer a eleição no primeiro turno já não é mais um mero exercício acadêmico’’. Se isso parecia improvável há algumas semanas, agora, na avaliação do presidente do Vox Populi, já é uma possibilidade real. Alguns dados importantes ajudam a consolidar essa impressão. Na pesquisa espontânea (aquela em que o eleitor diz o nome que lhe vem à cabeça, sem que o entrevistador apresente a lista dos candidatos), Lula aparece com 35% (antes, tinha 32%) contra 15% de Serra, 13% de Ciro e 9% de Garotinho. ‘‘A soma dos outros candidatos, nesse caso, é 37%. Já existe, portanto, no caso da pesquisa estimulada, um empate técnico entre os votos de Lula e os votos dos seus adversários’’, observa. Um candidato vence no primeiro turno se tem mais votos que todos os demais juntos.
Coimbra alerta que o crescimento de Garotinho também não deve ser ignorado. ‘‘Não é pequena a possibilidade de que ele, Ciro e Serra empatem no segundo lugar’’, afirma. Garotinho foi o candidato que mais cresceu nesta rodada — quatro pontos percentuais. Considerados apenas os votos das capitais, Serra, Ciro e Garotinho estão em empate técnico (Serra com 17%, Ciro com 16% e Garotinho com 15%). ‘‘A situação apontada nos grandes centros costuma se irradiar nas pesquisas seguintes para os municípios menores’’, lembra Coimbra.
A pesquisa do Vox Populi mostra que o percentual de Ciro é mantido principalmente em razão da posição que ele sustenta nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Aí, ele continua tendo vantagem sobre José Serra. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, tem 23% contra 15% de Serra. No Nordeste, 22% contra 18%. Na região Sul, a vantagem de Serra sobre Ciro é bem grande: 24% contra 14%. No Sudeste, Serra tem 20% e Ciro 13%. É nessa região que Garotinho tem seu melhor desempenho: 16%. O pior é no Sul: 7%. Lula tem liderança praticamente igual em todas as regiões: 38% no Sul, no Norte e no Centro-Oeste, e 39% no Nordeste e no Sudeste.
Nas simulações de segundo turno, Lula vence qualquer um dos seus adversários. Seu pior desempenho é contra Serra: 51% contra 34%. Contra Ciro, ele tem 53% contra 32%. Contra Garotinho, 54% contra 29%. O petista aumentou a vantagem que tinha nas pesquisas anteriores e reverteu uma tendência de queda na sua diferença contra Serra.
O Vox Populi ouviu, nos dias 10 e 11 de setembro, 2.491 eleitores em 155 municípios de todo o país. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.
Atrás de votos na terra de JK
Lula, Ciro e Garotinho vão a Minas para homenagens ao centenário de nascimento do criador de Brasília. Só Serra ficará fora da festa. FHC descerrará placa com nome de ex-presidente no Alvorada
O centenário de nascimento do ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), comemorado hoje, será homenageado por políticos e candidatos das mais variadas tendências ideológicas. Nos últimos 50 anos, ele tem sido reverenciado tanto pela direita como pela esquerda, e seu projeto desenvolvimentista é parâmetro para os principais presidenciáveis. José Serra (PSDB) não participará de homenagens ao centenário de JK, mas seus adversários Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) estarão em diferentes cidades de Minas Gerais, principal base política de JK, tentando faturar votos com a data.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, que sempre associou sua imagem à de JK nas suas campanhas presidenciais, fará homenagem ao governante com uma solenidade no Palácio da Alvorada. Em mais um evento com clima de despedida, Fernando Henrique discursará exaltando a importância de JK para o Brasil e descerrará uma placa nos jardins do Alvorada como homenagem ao responsável pela criação de Brasília. Uma orquestra de seresteiros tocará a música do folclore mineiro Peixe-Vivo, preferida de Juscelino.
Em Diamantina (MG), cidade natal de JK localizada no vale do rio Jequitinhonha, as homenagens ao ex-presidente serão comandadas pelo governador de Minas, Itamar Franco. Ele usará a data para colocar lado a lado os dois candidatos que apóia nestas eleições: o petista Lula e o deputado Aécio Neves (PSDB), que concorre ao governo mineiro. Longe de Diamantina, Ciro Gomes e Anthony Garotinho também irão explorar politicamente o centenário de nascimento do ex-presidente. Em Araxá, no Triângulo Mineiro, Ciro participará de um showmício à noite ‘‘com homenagem a JK’’. Garotinho, que se apresenta nos seus programas eleitorais à frente de imagens de Juscelinio, estará na periferia de Belo Horizonte.
Medalhas
A solenidade organizada por Itamar Franco prevê a distribuição de uma medalha que leva o nome do ex-presidente. Lula, que receberá a Grande Medalha, irá se encontrar com o ex-vice-presidente da República Aureliano Chaves, integrante do último governo militar. Aureliano poderá anunciar seu apoio ao petista. A memória de JK também juntará Lula e Francisco Gros, presidente da Petrobras. Ele está entre os homenageados, mas em um grau abaixo ao do petista — vai receber a Medalha de Honra. Gros fez críticas a Lula nesta campanha, após o petista ter dito que a estatal privilegia contratos no exterior em prejuízo da geração de empregos no Brasil.
O eleitor quer saber
‘‘No último ano, fui prejudicada por greves na rede pública de ensino e no transporte público. Como o novo governo vai se preparar para enfrentar eventuais greves, sem prejuízo para a população?”
BENEDITO DOMINGOS (PPB)
A greve dos professores tem prejudicado muito a cidade, os alunos e os pais, uma vez que alterando o calendário escolar, todos da família ficam prejudicados. Isso se dá mais devido à classe estar insatisfeita com o salário e as condições de trabalho. Segundo ponto é que falta diálogo, pois o governo tem se fechado, às vezes, ao entendimento com os sindicatos, por uma questão política e ideológica que tem falado mais alto que os interesses da classe e da própria comunidade. Em nosso governo, iremos procurar dar melhoria de salário, de condições de trabalho, e mais segurança para o educador. Ao mesmo tempo, não fecharemos as portas para os trabalhadores, vamos dialogar com toda a transparência pos sível. A greve é um direito que eles têm para pressionar por acordos coletivos, salários e condições melhores de trabalho.
GUILHERME TROTTA (PRTB)
Sem sombra de dúvida o ensino e o transporte público não andam bem. Os professores reivindicam o justo aumento do piso salarial e nós já informamos que em nosso programa de governo o piso inicial do plano de carreira dos professores será de R$ 600. Em relação aos transportes, vamos acabar com o monopólio em Brasília. Com a nossa proposta de um Distrito Federal independente e a independência das cidades-satélites, com o povo elegendo seus prefeitos, o número de escolas se duplicará, melhorando consecutivamente a qualidade e o aumento de salas de aula. Quanto ao transporte, imagine você quantas concessões de linhas de ônibus e vans as futuras prefeituras poderão conceder, e isso fará com que o preço das tarifas diminuam.
EXPEDITO MENDONÇA (PCO)
O PCO entende que as greves são motivadas pelos baixos salários e também pelas precárias condições de trabalho. Quando os trabalhadores se mobilizam e paralisam as suas atividades, o fazem como último recurso, pois não vêem outra saída senão cruzar os braços diante da intransigência dos patrões e do governo. Uma forma de evitar as greves é o atendimento das reivindicações dos trabalhadores. No governo do PCO, atenderemos a todas as reivindicações de todas as categorias, pois somos defensores da idéia de que os trabalhadores podem e devem governar.
GERALDO MAGELA (PT)
Como governador, irei tratar com muito respeito todos os trabalhadores. Antes de se iniciar uma greve no serviço público no Distrito Federal, vou dialogar e negociar permanentemente com os sindicatos, para evitar que se chegue à greve. Minha atuação será de máximo respeito e de permanente negociação com os servidores do Distrito Federal. Especialmente na educação, tudo farei para evitar greves.
JOAQUIM RORIZ (PMDB)
A greve é direito do trabalho; assim as considero e respeito. Mas há limites a seu exercício, estabelecidos em lei. Por exemplo: a manutenção de percentuais razoáveis de prestação dos serviços, como na educação e nos transportes. E isso também tem de ser respeitado. Nos últimos três anos, ocorreram greves de motoristas de ônibus que infringiram a lei, e resultaram de conluio para forçar aumento dos preços das passagens. E houve greves de professores motivadas por interesses político-eleitorais de dirigentes sindicais. Coisas como essas não podem ser admitidas. Meu governo as combateu, e continuará a fazê-lo no próximo período.
RODRIGO ROLLEMBERG (PSB)
O motivo das greves na educação pública é a falta de valorização do professor. Por isso, adotaremos o Plano de Cargos e Salários, garantindo o aumento gradual da remuneração dos educadores. Além disso, um governador comprometido com o ensino vai à mesa de negociações com os professores antes de qualquer paralisação. Para deter as greves no transporte público, é necessário um amplo entendimento entre governo, empresários e rodoviários. Nosso governo promoverá a fiscalização rigorosa do transporte pirata, que oferece riscos à população e retira renda do transporte convencional, ameaçando o emprego de milhares de motoristas e cobradores.
CARLOS ALBERTO (PPS)
A greve é um instrumento de luta para fazer valer os direitos de uma categoria. O que você assistiu, minha cara Orlanice Nunes, no ano passado, foi mais o reflexo da falta de compromisso do governo com a população. Construíram-se cidades, investiu-se em construção civil, sem olhar para as políticas públicas necessárias ao conforto da população. Resultado: Brasília não tem uma política de transportes, nem de educação que contemple as necessidades da população. No meu governo, implantaria uma política para baratear o transporte coletivo e integrar o metrô com os ônibus, e um sistema de transporte alternativo para a classe média. E a educação seria tratada com um programa de respeito aos professores e ao plano de cargos e salários.
Artigos
Rio+10, nem tudo é má notícia
Roberto Smeraldi
Prevalecem o pessimismo e a desilusão sobre os resultados da Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável em Johannesburgo. De fato, os compromissos acordados entre os chefes de Estado são modestos e os avanços em relação à Cúpula de 1992 do Rio de Janeiro, praticamente inexistentes. A opinião pública mundial esperava fatos e recebe apenas algumas genéricas promessas. Porém, falar em fracasso da Cúpula está errado e pode induzir a equívocos.
A Cúpula em si, na realidade, não fracassou. Ela meramente refletiu as tendências prevalecentes no cenário internacional nos últimos anos. Assim como a Cúpula do Rio foi o resultado de quatro anos de negociações sobre clima e biodiversidade e do nascimento da ecodiplomacia nos corredores das Nações Unidas, a de Johannesburgo transcorreu num clima nitidamente desfavorável para atingir qualquer avanço. Lembremos do Protocolo de Quioto sobre clima ainda no papel, do ativismo pró-petróleo da administração Bush e principalmente do peso dos megassubsídios agrícolas norte-americanos (que superaram hoje os europeus) e que representam um verdadeiro veto a qualquer tentativa de implementar políticas de sustentabilidade planeta afora.
Nesse contexto, a Cúpula até surpreendeu por alguns compromissos específicos assumidos e principalmente por não ceder às tentativas de reverter os avanços do passado. Eis alguns pontos que merecem ser analisados:
— as conclusões firmam o objetivo de reduzir pela metade — até 2015 — o número de pessoas no mundo sem acesso a saneamento básico. O grande problema é que não se diz como, e principalmente falta uma estimativa dos recursos que será possível e necessário mobilizar para esse fim. Porém, é um compromisso novo e mais avançado do que jamais fora negociado até hoje.
— também se prevê o estabelecimento de áreas de proteção dos recursos marinhos, incluindo ‘‘redes suficientemente representativas‘‘ até 2012. Cabe questionar o que é ‘‘suficientemente representativo’’ para garantir, por exemplo, a sustentabilidade da pesca nos oceanos e grandes rios, mas vale registrar o compromisso, inclusive para futura referência.
— a grande maioria dos países mostrou disposição sem precedentes para estabelecer normas internacionais vinculando as grandes empresas a respeitar alguns padrões mínimos globais na área ambiental e forçar as mesmas a não atuar como verdadeiros poderes públicos, frente à incapacidade dos mesmos de exercer o devido controle. Um texto chegou a ser aprovado para tanto, e apenas uma ‘‘norma de interpretação’’ imposta pelos EUA poderá esvaziar a proposta. Mas ficou claro que a comunidade internacional está adotando essa tendência.
— mesmo que não faça parte dos acordos, a Cúpula criou as condições para que a Rússia e o Canadá anunciassem finalmente a ratificação do Protocolo de Quioto sobre mudança climática. Isso vai permitir que ainda em 2002 o mecanismo possa funcionar legalmente e que os EUA estão agora oficialmente isolados no âmbito da comunidade internacional.
Após os destaques globais, cabe comentar sobre a atuação do Brasil na conferência. O protagonismo presidencial de FHC sobre essas questões constitui um precedente importante, a ser levado em consideração inclusive pelos candidatos à sua sucessão. O Brasil encampou na conferência a mais objetiva e racional proposta colocada na mesa de negociação, isto é, o mínimo de 10% de fontes energéticas renováveis em cada país. A proposta não foi adotada, mas o Brasil saiu como vencedor moral perante a opinião pública mundial. É uma pena que a atitude pró-ativa do nosso presidente tenha sido em parte ofuscada por uma decisão no mínimo intempestiva do Ibama, que, na vésp era da Cúpula, deu licença prévia para uma ameaça sem precedentes à floresta amazônica (o oleogasoduto Porto Velho Urucu). Isso deixou a impressão de que o Brasil se omite em seu dever de casa. Mas é um fato que FHC inaugurou uma nova diretriz na diplomacia brasileira, baseada na consciência de que o país precisa valorizar e defender seus imensos ativos ambientais, que o colocam em posição privilegiada na busca do desenvolvimento sustentável.
Editorial
O PODER DO CRIME
A ousadia do tráfico e do crime organizado atinge níveis assustadores. A rebelião comandada por Fernandinho Beira-Mar em Bangu 1 constitui mais um exemplo. No confronto, duas facções do crime organizado. De um lado, integrantes do Comando Vermelho. De outro, do Terceiro Comando. Dois agentes penitenciários e seis trabalhadores de uma obra foram feitos reféns pelos bandidos. Até o fim da tarde, várias mortes ensangüentavam as dependências do presídio de segurança máxima do Rio.
No dia anterior, outro espetáculo espalhava terror pela antiga capital do Brasil. Policiais militares e traficantes do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, enfrentaram-se com assustadora violência. Em protesto contra a morte de dois bandidos, traficantes armados acompanhados de moradores da favela desceram o morro e levaram pânico ao asfalto. Incendiaram dois ônibus, apedrejaram lojas e carros, deram tiros para o alto e explodiram uma granada. O comércio fechou as portas. Os moradores, assustados, refugiaram-se em abrigos mais próximos. Temiam ser atingidos por balas perdidas.
Casos de violência como esses multiplicam-se com crescente freqüência. Raro é o dia em que os cariocas não presenciam atos de truculência que lhes põem em risco a própria vida e a dos familiares. Ir ao supermercado, levar os filhos à escola, parar no sinal de trânsito deixaram de ser ações corriqueiras. Na guerra civil em que se transformou a vida no Rio, tornaram-se condutas temerárias cujo desfecho a todos assusta.
Cresce na população a consciência de que está perdendo a guerra contra o crime. A desesperança procede. Os bandidos movimentam enormes somas. São os grandes empregadores dos morros. Dispõem de armamentos modernos, sofisticada tecnologia de informação e conivência de autoridades corruptas. Controlam não só as bocas-de-fumo, mas também a comunidade e seu entorno. Determinam se o comércio deve ou não funcionar, se as escolas devem ou não abrir, se os ônibus devem ou não circular.
O envolvimento da polícia com os marginais preocupa e assusta. A entrada de celulares e armas em um presídio de segurança máxima é prova da parceria entre o aparato de segurança e os fora-da-lei. Não se distingue, hoje, o mocinho do bandido. A promiscuidade torna o cidadão indefeso e suspicaz. O Estado precisa reconquistar a confiança perdida. Só assim a população terá condições de se aliar a ele no combate aos Fernandinhos Beira-Mar.
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09/12/2002
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