FHC tenta debelar rebelião pefelista







FHC tenta debelar rebelião pefelista
BRASÍLIA – Avisado pelo vice-presidente, Marco Maciel (PFL), e pelo secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio (PSDB), da gravidade da situação, o presidente Fernando Henrique antecipou sua volta do Panamá com a missão de tentar debelar a mais difícil crise política de seu Governo, a rebelião do PFL.

Para garantir a governabilidade, uma parcela do PFL e parlamentares do próprio PSDB defendiam a antecipação da reforma ministerial, inevitável a partir de 6 de abril, com a saída dos políticos que vão se candidatar. Pela proposta, o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, alvo maior dos ataques pefelistas, seria mantido, mas, desconfortável com a exoneração de seus pares, teria espaço aberto para pedir demissão. A idéia, porém, fomentaria uma rebelião no PSDB, que correu para abortar a operação.

FHC chegaria nesta madrugada e deverá tomar sua decisão ainda hoje. “Mas a antecipação da reforma sequer está descartada, porque nem foi cogitada pelo presidente”, disse o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga.

O PSDB se recusou a admitir a possibilidade de demissão coletiva sob a alegação de que garantiria uma vitória ao PFL: a entrega da cabeça de Aloysio.

Ontem, no Panamá, FHC negou que teria conhecimento da operação da Polícia Federal de busca e apreensão de documentos no escritório da empresa Lunus, de propriedade da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). “É mentira”, assegurou. “O que eu recebi e transmiti ao senador Bornhausen (presidente do PFL), ainda na noite de sexta-feira, foi o despacho do juiz com o fundamento legal da ação da Polícia Federal. Eu não podia aceitar que a polícia agisse por conta própria”, justificou ele.

FHC também não crê que o PFL deixe o Governo. “Espero que não”, comentou, depois de observar que não acredita que Roseana tenha ameaçado desistir de sua candidatura à Presidência, caso o seu partido não rompesse com o Governo. “Não creio que ela tenha dito isso, a não ser no calor da hora.”


Presidente do STF critica “prestação de contas” da PF
Brasília – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello, disse ontem que a Polícia Federal “não deveria ter prestado contas” ao presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a busca e apreensão na empresa Lunus, de propriedade da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), e de seu marido, Jorge Murad. “A Polícia Federal deve se reportar tão somente à autoridade judiciária (o juiz que determinou a realização da operação)”, afirmou Marco Aurélio. “Não cabe prestação de contas a outrem”, completou o ministro.

O presidente do Supremo afirmou que é “necessário esclarecer o caso”. “Mas prefiro acreditar que houve um erro na digitação do número do telefone”, ironizou o presidente do STF, ao referir-se ao fato de a Polícia Federal ter enviado um fax a Fernando Henrique durante a ação na Lunus.

Marco Aurélio criticou o vazamento das informações sobre o inquérito para a imprensa. O ministro lembrou que o processo deveria tramitar em segredo de Justiça e, portanto, “seu conteúdo não poderia ter sido divulgado para jornalistas”.


Polícia Federal afirma que FHC não foi informado sobre a ação
BRASÍLIA – A Polícia Federal afirmou ontem, por meio de nota oficial, que o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu por fax “apenas uma cópia do mandado de busca e apreensão que sustentou a operação na empresa Lunus, não um relatório com detalhes sobre a operação”.

À tarde, o ministro Arthur Virgílio (Secretaria-Geral da Presidência) desistiu de divulgar o fax que foi recebido na Presidência na sexta-feira passada, alegando sigilo judicial. No final da tarde, a Polícia Federal enviou à imprensa uma cópia do mandado original.

Segundo a PF, todo mandado de busca e apreensão é sigiloso para não comprometer a operação, “mas o sigilo termina ao término da operação”. O mandado divulgado não cita a governadora Roseana Sarney (PFL-MA), e seu marido, Jorge Murad, sócios da Lunus.

O documento determina “a apreensão dos objetos, arquivos e documentos relacionados aos processos sobre desvios de recursos do Fundo de Investimentos da Amazônia (Finam) ou irregularidades do caso Sudam.


Fora do Governo, PFL perde seus cargos fortes
Além da demissão de três ministros, ao consolidar hoje o rompimento com o presidente Fernando Henrique Cardoso o partido deve perder cerca de 70 cargos federais que indicou nos estados

BRASÍLIA - O PFL tem muito a perder caso cumpra a ameaça de sair do Governo. A decisão implica na demissão dos ministros José Jorge (Minas e Energia), Carlos Melles (Esporte e Turismo), e Roberto Brant (Previdência). Ontem, dirigentes do PFL disseram que também vão deixar seus cargos os presidentes da Caixa Econômica Federal, Emílio Carrazai, de Furnas, Luiz Carlos Santos, e da Companhia do Desenvolvimento do Vale São Francisco (Codevasf), Airson Lócio.

O líder do Governo no Congresso, deputado Heráclito Fortes (PFL-PI), também deve deixar a função. Fora do Governo, os pefelistas ficam ameaçados de perder 70 cargos federais nos Estados, de um universo de 300 cargos mais cobiçados da administração. “O PFL se desobrigou dos cargos, mas o Governo é quem vai ter que demitir. A Secretaria Geral da Presidência tem num disquete o ocupante de cada cargo e o nome de quem indicou”, lembrou o vice-líder do partido, Pauderney Avelino (AM).

Os pefelistas dominam os principais cargos dos ministérios do Meio Ambiente, onde 14 diretores regionais do Ibama foram indicados pelo ex-ministro Sarney Filho, e na Previdência, onde tem 13 superintendentes regionais do INSS. Também comanda nove superintendências regionais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), quatro diretores regionais da Fundação Nacional da Saúde, quatro Delegacias do Trabalho, três superintendentes dos Correios (ECT), três diretores do DNOCS e da Codevasf nos estados.

“O PFL vai entregar os cargos em cima e pretende ficar com os cargos nos estados. E o Governo precisa dos deputados do PFL nas votações”, disse um líder governista. Esta situação já existe hoje na Bahia. O ex-senador Antonio Carlos Magalhães rompeu com o Governo, levando a demissão dos ministros Rodolpho Tourinho e Waldeck Ornellas, mas manteve os cargos na Fundação Nacional da Saúde, no DNER, na Conab, no DNOCS e na Codevasf. A diferença é que desta vez o rompimento não é de uma liderança isolada, mas institucional, e esta posição está sendo apoiada por sua bancada no Congresso.


Bancada estadual do partido vai acatar decisão da nacional
O PFL de Pernambuco acredita que a executiva nacional do partido decide hoje pelo rompimento com o Governo Fernando Henrique (PSDB), e se preocupa com a situação delicada na qual se encontra o vice-presidente da República, Marco Maciel. O líder do PFL na Assembléia Legislativa, Augusto Coutinho, disse ontem que Maciel está tentando “administrar” a crise política com o Palácio do Planalto para evitar o rompimento. Porém, o partido considera que há evidências de que houve uma ação premeditada para atingir a candidatura de Roseana Sarney. No caso, a Polícia Federal teria agido com motivação política ao invadir a empresa Lunus, da qual são sócios a governadora e o seu marido Jorge Murad.

“Há indícios de havia jornalistas no avião quando a Polícia Federal partiu para realizar a operação. Sabe-se, também, que o advogado de Roseana foi ao Tocantins e esperou 9 horas para ser recebido pelo juiz que expediu a ordem. Comprovada a má fé, o PFL tem de romper e entregar os cargos”, ressaltou Coutinho. Ele lamenta o episódio por entender que o partido “sempre fo i leal ao Governo, às vezes, até mais que o PSDB”.

A líder do Governo, Teresa Duere, também acredita ser difícil a manutenção da aliança. “A posição de Roseana é clara: ela somente será candidata se o PFL romper com o Governo”, justificou. Teresa disse que a bancada pefelista do Estado está solidária à governadora maranhense e que vai acompanhar a decisão da maioria da executiva nacional. “O PFL não é contra a investigação da Lunus, que acontece desde 1997, mas o que não se explica é ter vazado informações de um processo que corre em segredo de Justiça, e em um momento em que a Roseana consegue os maiores índices de pesquisas”, protestou.

A crise foi o principal tema dos debates na Assembléia, com o deputado tucano Pedro Eurico (PSDB) saindo em defesa do Governo FHC. “Acusar o presidente ou o senador José Serra (presidenciável) por um parecer do TSE ou por vazamento de um processo que corre em segredo de Justiça é injusto. O Governo não usa golpes baixos para torpedear aliados. Temos de nos adaptar aos novos tempos, de transparência. Este Governo está passando o País a limpo”, respondeu Eurico. O líder do PTB, André Campos, disse que FHC conseguiu “instituir uma ditadura-democrática”, pois “interfere no Judiciário e premedita o mal contra os próprios aliados”.


Jarbas quer reunir aliados para discutir racha no PFL
O governador Jarbas Vasconcelos defendeu ontem a realização urgente de um encontro das direções do PSDB, PFL e PMDB para discutir a crise que se estabeleceu com a ameaça do PFL de romper a aliança que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso e dá sustentação ao Governo. “A crise poderá ser debelada de forma mais rápida se os três partidos discutirem saídas”, afirmou.

Jarbas pregou moderação e afirmou que o PFL não pode deixar a base do Governo, sob pena de prejudicar o trabalho de recuperação do País que a aliança vem realizando. “É necessário que o partido reflita sobre isso antes de tomar qualquer decisão mais drástica”, afirmou.

Para o governador, foi a falta de moderação – explicável devido às tensões de um ano eleitoral – que levou um assunto que poderia ter resultados bem menos danosos a transformar-se em uma crise que pode causar problemas não só aos partidos envolvidos, mas ao País. E exemplificou com o adiamento da votação da CPMF, “que já vem causando transtornos à economia”.

Ele lembrou ainda que os grandes jornais estrangeiros noticiaram a crise política, o que poderá gerar inquietação nos investidores nacionais. “Sem um entendimento nos próximos dias, estes problemas vão se agravar”, disse, acrescentando que um esfacelamento da base governista só interessa aos partidos de oposição que estavam enfraquecidos com o crescimento das preferências dos pré-candidatos governistas. “Não creio que a base do Governo deseje interromper o trabalho que vem sendo feito”, complementou. “Por isso, espero que os moderados assumam o processo.”


Garotinho confirma candidatura
A executiva do PSB divulgou ontem nota reafirmando a candidatura do governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, e explicando que o partido entrará com uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal contra a decisão de Tribunal Superior Eleitoral de restringir as candidaturas. O partido confirma que fará consulta formal ao TSE para esclarecer as dúvidas em relação aos partidos que não fecharem coligações nacionais. O PSB reafirma a intenção de lançar candidatos a governador no maior número de Estados.


Colunistas

PINGA FOGO - Inaldo Sampaio

O PFL na oposição
Se os seus líderes políticos não estiverem blefando, o PFL tomará hoje a sua mais importante decisão desde a sublevação contra a candidatura presidencial de Paulo Maluf em 1985: o rompimento com o presidente Fernando Henrique Cardoso por conta das diligências feitas pela Polícia Federal no escritório de uma empresa da governadora Roseana Sarney e do seu marido Jorge Murad.

Como se diz nos corredores do Congresso em tom de chacota, o PFL não tem “DNA” de oposição, sendo, portanto, um sacrifício para o partido ter que devolver ao presidente da República os cerca de 2 mil cargos que ocupa na administração pública federal. Ademais, sendo o pefelista Marco Maciel o vice-presidente da República, que tipo de oposição fariam ao governo lideranças como Jorge Bornhausen e Inocêncio Oliveira que sempre defenderam as teses de Fernando Henrique em nome da “governabilidade”?

Para o PFL pernambucano esse rompimento será um desastre. O partido perderá de uma vez só a presidência da Caixa, o Ministério das Minas e Energia e a superintendência da Codevasf, entre outros cargos relevantes. Para quê? Para defender a “honra” desse Jorge Murad, de quem se fala mal desde o governo do sogro.

E agora, José?
A secção pernambucana do PSDB foi a única do país que entregou a José Serra no pré lançamento de sua candidatura presidencial um documento contendo sugestões para o desenvolvimento do Nordeste. Quinze dias depois, aparece o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA) defendendo a transferência da Chesf para Paulo Afonso. Roberto Magalhães (PSDB) considera isso uma “provocação” a Pernambuco. Jarbas Vasconcelos e Marco Maciel consideram o quê?

O maior perdedor
Osvaldo Coelho (PFL) será o líder político pernambucano mais prejudicado com o rompimento do seu partido com FHC. Além de perder a Codevasf, que é um verdadeiro ministério, ficará também sem um senador. Com a saída de José Jorge do Ministério das Minas e Energia, seu mano mais velho, José Coelho, retornará à condição de suplente.

Um dia de luta
O Dia Internacional da Mulher (08/03) não passará em brancas nuvens em Igarassu. Amanhã à tarde, o prefeito em exercício Severino Sousa Silva (PSB), o “Ninho”, comandará uma passeata dos quatro partidos de esquerda que governam o município para protestar contra a flexibilização da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Deputado do PPS defende prefeito do PMDB
Ranílson Ramos (PPS) ensaia uma reaproximação com o prefeito de Lagoa Grande Jorge Garziera (PMDB). Considerou “precipitado” e “sem fundamento” o pedido de afastamento do prefeito feito pela Câmara Municipal ao TJ.

TSE complica ainda mais as eleições de 6/10
O TSE divulgou as instruções das eleições de 6/10 mas inexplicavelmente silenciou sobre dois pontos relevantíssimos: “coligações brancas” e situação do partido que não lançar candidato a presidente da República.

Esforço pra nada
Jarbas tem razões até de sobra para estar irritado com Michel Temer. Ajudou-o a conquistar a presidência do PMDB para impedir que o partido tivesse candidato próprio à sucessão de FHC, mas seu esforço foi por água abaixo. Pelo placar da convenção de domingo, em SP, a ala “anti-FHC” já teria o controle do partido.

Marcação cerrada
Preocupado com a saída do PFL do governo, Marco Maciel fugiu ontem da imprensa como o diabo da cruz. Mas mandou dizer por sua assessoria que está empenhado na aprovação pelo Congresso da MP que transformou a SUDENE em ADENE. Segundo ele, a Agência terá os mesmos poderes da sua antecessora.

O “Jornal do Brasil” informou ontem que FHC fora informado previamente da devassa feita pela Polícia Federal no escritório da empresa de Roseana/Murad (MA). Eleitora dela, o deputado Maurílio Ferreira Lima (PMDB) não se conteve: “O presidente perdeu a compostura, desrespeitou a liturgia do cargo. Nos EEUU, seria caso de impeachment”.

O prefeito Fernando Rodovalho (PSC) determinou ao presidente da Empresa de Transportes de Jaboatão, Armando Feitosa, que casse a concessão das empresas de ônibus que não apresentarem até amanhã a documentaçã o exigida pela prefeitura. Já o cerco às kombis ilegais terá início na próxima 2ª.

Do vereador Liberato Costa Júnior (PMDB) sobre o rompimento do PFL com o governo FHC: “Só acredito quando vir porque esse povo não sabe fazer oposição. Além do mais, como é que Roseana vai arranjar 27 candidatos a governador para fazer a campanha dela nos estados? Nem em Pernambuco, que é a base de Marco Maciel, ela conseguirá”.

Não será fácil para o prefeito de Paulista Antonio Speck (PMDB) mandar para a Assembléia Legislativa o seu secretário de desenvolvimento econômico Nena Cabral. Dez dos 20 vereadores da sua base de sustentação negam-se a apoiar o secretário. Querem como candidato o vereador Cláudio Russel (PSL).


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03/07/2002


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