O maior desafio do SUS é que o envelhecimento aumenta a utilização do serviço e dos gastos, diz especialista



Apesar de considerar o envelhecimento populacional como uma espécie de "prêmio" pela aplicação de políticas públicas adequadas, o Brasil - e particularmente o Sistema Único de Saúde (SUS) - enfrentará o aumento no número de doenças crônicas e incapacitantes e a ampliação da utilização dos serviços públicos e dos gastos em saúde. A afirmação foi feita pela médica Elisa Franco de Assis Costa, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SGBB), em audiência conjunta das comissões de Assuntos Sociais (CAS) e de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta terça-feira (26). A audiência ouviu vários especialistas em saúde do idoso.

- Se compararmos o Brasil com o Canadá, o Brasil tem três vezes mais hipertensos, três vezes mais diabéticos. Hoje estamos em uma situação muito mais difícil que o Canadá - observou, ao explicar que enquanto o último tem um contingente de dois milhões de pessoas com doenças crônicas não transmissíveis, o Brasil tem seis milhões nessas condições.

Elisa Costa manifestou preocupação especial com a população dos idosos com idade igual ou acima de 80 anos, que, segundo ela, cresceu 65% nos últimos anos. Os gastos com saúde das mulheres acima dos 60 anos presentam, segundo a médica, "um desafio de política pública". Ela ressaltou que o SUS é deficiente na chamada atenção primária ao idoso, atendimento no qual poderiam ser detectados problemas e evitadas internações, especialmente no caso do muito idoso que, à falta de diagnóstico, acaba tendo sua incapacitação aumentada, e a internação prolongada, com maiores custos.

A especialista apontou que entre 2005 e 2008 houve aumento de 8% nos casos de fratura do fêmur em idosos, o que elevou os gastos do SUS em 20%. Ela informou que pesquisa sobre Tendência à Mortalidade indicou também que "grande porcentagem" dos idosos acima de 80 anos de idade morrem sem assistência médica, dado que considera "assustador".Ela declarou que a "grande falha" do SUS que precisa ser superada é a falta de conexão entre as diversas áreas de atendimento - da atenção básica à urgência.

Capacitação

A médica observou ainda a necessidade de capacitar 15 mil profissionais para atender aos idosos, quando o Brasil dispõe atualmente de 744 geriatras habilitados.

- A reabilitação não é prioridade no SUS. O centro de referência [do idoso] não cabe na rede SUS.A fragilidade [do idoso] é reconhecida, mas não há parâmetros claros para detectá-la - disse, ao enumerar os problemas existentes.

Para Elisa Costa, os gestores precisam de "dados confiáveis" para implantar "programas eficazes, com recursos escassos".



26/05/2009

Agência Senado


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