Equilibrar contas e gastos sociais é desafio, dizem economistas na CAE



Os economistas ouvidos nesta segunda-feira (7) em audiência pública da Subcomissão Permanente para tratar dos Temas Estruturais e de Longo Prazo da Economia Brasileira, vinculada à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), saudaram os gastos sociais do governo, mas salientaram o desafio que as contas públicas apresentam para as políticas de investimento do país.

A necessidade de aumento da produtividade foi reiterada pelo professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Ellery, que lembrou que todos os países com uma rede de proteção social aprimorada tiveram que financiar o aumento desses gastos através da elevação da produtividade.  Para ele, o Brasil tem investido pouco em comparação com os vizinhos da América Latina e em face de sua condição de país em desenvolvimento.

- Se quisermos ter uma economia de bem-estar com altos gastos sociais, vamos ter que trabalhar com produtividade. Ou se resolve o problema por produtividade, ou o Brasil vai cair na estagnação - alertou.

Roberto Ellery chamou atenção para a incerteza dos investidores, que não se sentem seguros com as regras da economia brasileira, e com a dificuldade para abrir e manter empresas no país, o que considera um fator de intimidação de empreendedores. Ele considera a educação como fator central na agenda econômica, mas criticou o problema estrutural da qualidade do gasto no setor: para ele, a ampliação do orçamento em educação não tem revertido em qualificação da população para o mercado de trabalho.

Representando o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o técnico de Pesquisa e Planejamento Mansueto Almeida abriu o debate chamando atenção para a discrepância entre a renda média no país e a carga tributária "de país desenvolvido": segundo as estatísticas que apresentou, o gasto público no Brasil, incluindo os juros, se eleva a 40% do PIB - a média na América Latina é de 25%. Mansueto considera difícil reduzir o gasto público diante da decisão política de aumento do gasto social nos últimos anos.

Apesar de criticar o elevado déficit em conta corrente, o economista frisou que a relação entre importação e PIB ainda faz do Brasil um dos países mais fechados do mundo. Ele ainda avaliou que a fase de "bônus demográfico" não tem revertido em aumento da poupança interna, o que fará o país depender cada vez mais da captação de recursos externos para fazer frente ao aumento dos gastos decorrentes do envelhecimento da população.

Presidente da subcomissão, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) contrastou em seus comentários os depoimentos de Roberto Ellery e Mansueto Almeida com a "euforia" apresentada pelas autoridades do Ministério da Fazenda, do Banco Central e do BNDES diante do cenário econômico. Em sua opinião, o Brasil deve buscar uma saída no longo prazo, mas sem demorar para tomar as primeiras providências. A Constituição, disse ele,  deveria exigir dos governantes o cumprimento de critérios de responsabilidade econômica e orçamentária.



07/10/2013

Agência Senado


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